Fazendo honor ao seu nome, Trump =
baça e triunfo, Trump triunfou contra todo prognóstico nas eleições
presidenciais dos Estados Unidos, sem que isto implique que triunfaram os
Estados Unidos. Intentarei no presente artigo oferecer a minha interpretação
pessoal desta vitória.
Este triunfo cumpre enquadrá-lo na
imensa maré de indignação que ecoa como resultado do processo de globalização
ideado pelas elites oligárquicas e executado pelos seus gerentes que são os
sistemas políticos decisivos na escala internacional e os seus obedientes
satélites, muitos deles sumidos em oceanos de corrupção, de apropriação dos
bens públicos em benefício pessoal, e numa conivência escandalosa com os
poderes econômicos, do que é um exemplo bem eloqüente o que está passando na
Espanha de hoje. Esta conivência entre política e oligarquia econômica
deteriorou até limites incríveis o sistema democrático, que defini algumas
vezes como sistema oligárquico com eleições, muitas vezes fraudulentas e
financiadas ilegalmente. O eco da indignação popular materializou-se no berro «Não nos representam»,
e que agora no caso de Trump se concreta em «Não é o meu presidente».
A democracia dos Estados Unidos é de
mui baixa qualidade, devido, especialmente ás seguintes razões: a) O seu
sistema eleitoral é um sistema majoritário, no qual quem vence num Estado leva
todos os votos eleitorais desse Estado, e isto provoca, como neste caso, que o
perdedor em votos pode ser o ganhador das eleições. É um sistema, por tanto, que
desincentiva a pluralidade de oferta, a pluralidade de opções partidárias,
porque unicamente têm opções reais de obter representação os dous partidos
majoritários, e setores de amplas capas da população não estão representadas
politicamente. b) Incluso dentro destas duas opções majoritárias, é muito
restrita a possibilidade de que poda candidatar-se alguma pessoa do comum, e
somente os que dispõem de grande quantidade de recursos pessoais podem, na
prática, apresentar-se e sair elegidos. Existe, pois uma crivação econômica no
direito de ser elegido. c) Na nomeação do candidato funciona legalmente a
conivência oligarquico-política porque se permitem as doações privadas para as
campanhas e quem paga faz-lo com a esperança de ser recompensado pelo seu
esforço crematístico, obedecendo ao princípio «quem
paga, manda». d) Inexistência duma autêntica divisão de poderes,
que, como disse Montesquieu, é condição imprescindível para que exista um
regime democrático. Estes dias declarou Trump que ia encarcerar ou expulsar os
imigrantes delinqüentes, arrogando-se também a capacidade de julgar as infrações
das leis. A reação ante esta situação foi a inibição política, que já vem sendo
habitual nos Estados Unidos, e que, neste caso, se concretizou numa
participação do 47,5 por cento de voto. Ante esta habitual inibição de grande
parte da população, as elites oligárquico–políticas não se deram por inteirados
e mantiveram imutado um sistema que incentiva a abstenção porque lhes
favorecia.
Além da crise política, os EEUU provocaram
e exportaram a todo o mundo uma crise financeira que teve como expoente mais
significativo a caída de Lehman Brothers, que
provocou uma massiva injeção de dinheiro dos cidadãos para salvar as elites incompetentes
e irresponsáveis. Esta crise financeira complementou-se com uma crise
imobiliária, provocada pelo tandem da oligarquia financeira e uma elite
econômica corrupta e irresponsável, que se traduziu em perdas de vivenda para
uma quantidade ingente da população, obrigada a contribuir com a alíquota parte
do seu esforço fiscal no resgate aos bancos, e, finalmente com uma crise
econômica, que se intentou solucionar em muitos países, entre eles Espanha, com
uma drenagem massiva de recursos públicos em favor das elites oligárquicas, e
com generosos benefícios fiscais, concretizados em baixada de impostos,
engenharia fiscal e facilidades para proteger-se dos vaivens da fortuna com as
facilidades impositivas em paraísos fiscais. Todo este sistema apropriador dos
recursos públicos obrigou ás classes médias a realizar um esforço fiscal suplementar
para manter o estado do bem-estar, e teve como corolário uma enorme
desigualdade social, favorável ás elites que provocaram o colapso.
A globalização traduziu-se na
deslocalização de empresas em busca de salários mais baixos, empregos menos
protegidos e condições fiscais mais favoráveis, que se traduziu, no país de
origem no cerramento de empresas e/ou salários mais baixos e mais precários e
na perda de direitos laborais como o de negociação coletiva, incremento da
jornada laboral, etc.. Esta insegurança laboral teve como efeito a insegurança
pessoal e o conseqüente descrédito dos que a causaram, ou seja, do sistema
político-oligárquico, que se amostrou incompetente para solucionar o problema.
A reação imediata foi um voto de castigo contra os que provocaram esta
situação, como já sucedeu noutros muitos países. Uma reação deste tipo foi a
que castigou ao PSOE no nosso país, deixando-o num estado agônico.
Ante esta situação de crise
permanente, que causou na cidadania estadunidense uma sensação de desassossego,
esta responde com o único que tem ás suas mãos, que é o castigo dos causantes
invisíveis deste enorme despropósito, que dalgum modo se concretiza no
établissement, que não é outra cousa que a mencionada conivência das elites
oligárquicas dirigentes e dos, formalmente, chamados representantes políticos
dos cidadãos, que, ademais, se auto-retribuem generosamente a expensas dos
recursos que deveriam proteger. Porém, esta reação indignada não garante que o
procedimento ao que acode seja o exitoso para aplacar um grito desesperado perante
situações pessoais dramáticas, quiçá acolhendo-se ao lema “de afogados ao rio”.
Todo parece indicar que a opção dos estadunidenses não só não vai solucionar a
sua situação senão que se pode converter numa nova frustração, para a que
dificilmente se lhe achará o remédio apropriado. Pode passar-lhe aos habitantes
deste país o que já lhe passou aos gregos, que buscando um futuro melhor com a
Syriza de Tsipras, agora parece que não têm futuro algum, e que o único que
conseguiram com a sua proposta foi converter-se num instrumento dócil em mãos
dos oligarcas representados pela troika, porque o Sr. Alexis Tsipras carecia
dum autêntico plano alternativo ás políticas de austeridade para conduzir o
país ao êxito.
Donald Trump é um político que
carece do carisma de Tsipras, mas isto seria secundário se defender umas
políticas que saquem o país da crise e ofereçam soluções aos retos com que se
enfrentam tanto os seus concidadãos como a humanidade. É um presidente eleto que,
pessoalmente, suscita mui poucas simpatias e si uma enorme rejeição entre
grandes capas da população, e precisamente as mais sensíveis, formadas e
comprometidas socialmente. A nível moral, suscita muitos interrogantes pelo seu
racismo cara os negros e os hispanos; pela sua xenofobia cara os muçulmanos;
pela sua misoginia que recorre a técnicas amatórias insolentemente embaucadoras
e que não duvida em considerar a mulher como puro objeto sexual; pelo seu
escasso respeito por outros povos, como o mexicano, que denotam um insuficiente
talante democrático; pela implicação em quantiosos casos judiciais, etc. Todo
isto indica que não é uma pessoa que suscite nenhum entusiasmo e si que levante
enormes dúvidas sobre a sua conduta futura.
Políticamente, parece que anda dando
tombos e semeando a incerteza entre os restantes dirigentes políticos mundiais que
estão expetantes por saber por onde quer tirar. Esta incerteza vai danar
grandemente as economias, entre elas as de EEUU, e já estão mui preocupados em
Silicon Valley. É mui eloqüente que o Tio Sam pretenda cancelar os tratados
comerciais internacionais subscritos pelo seu país quando foram precisamente os
seus setores oligárquicos quem as bendisseram e as mais favorecidas por eles,
ainda que não a cidadania. É difícil entender que um representante notório da
oligarquia como é Trump, vaia em contra dos setores oligárquicos mais
importantes do seu país. Por nós seria bem recebido que teimasse nesta via, mas
é dfícil que lhe deixem.
Promete também subir os aranzéis aos
produtos importados de China e sem dúvida também doutros países, mas o problema
é que os demais não vão ficar de braços cruzados em espera de dar-lhe baças
políticas ao dirigente americano, e já ameaçaram com tomar represálias com o
Iphone e outros produtos importados de EEUU. A promessa de construir um muro de
separação com México e que este o pague, utilizando a este efeito a chantagem e
a apropriação das remessas de imigrantes mexicanos em EEUU, é indicativo do
caráter imperialista deste dirigente político, que se situa alem de qualquer
regulação ou acordo entre as partes, pois no seu talante pessoal todo ressoa a
imposição de acordo ao seu bel-prazer. A regulação internacional fica para ele
subordinada á sua vontade e ao seu ego super-inflado. Isto onde melhor se traduz
é na sua promessa de invalidar o acordo de Paris sobre câmbio climático
anulando a contribuição econômica assumida pelo seu país para assim fazê-lo
inviável. O presidente Obama pediu perdão pelo dano causado por EEUU no
incremento da temperatura da terra, mas agora o seu sucessor não só não assume
culpa alguma senão que quer que os outros países financiem o dano causado por
EEUU. Isto é o que se chama a Lei do embudo. As suas pretensões infundadas são
um claro desafio ao princípio ético da solidariedade entre gerações para poder
transmitir aos nossos filhos um mundo minimamente habitável. E pensar que nas
mãos deste home está o gatilho que pode desencadear o grande apocalipse!
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