29 sept 2016

Debandada no PSOE, adiante Podemos, júbilo no PP




O PSOE, irreconhecível para a mãe que o pariu, começou uma deriva cara a sua própria autodestruição. Não sabemos se os seus aderentes chegarão á luta física corpo a corpo, como já lhe temos visto a este partido na cidade de Vigo, mas os ódios e as tensões são já irreconciliáveis. Nunca se vira até o momento que se chegara a tais níveis de assédio ao máximo líder duma formação política, e, surpreendentemente, precisamente por aqueles que o nomearam, e que parece que só pretendiam ter um boneco de pantalha ao que poder derrubar enquanto se considere que as conveniências particulares o aconselhassem. 

A máxima responsável do nomeação de Sánchez foi a líder andaluza Susana Diaz á que parece que alguns a consideram, critério compartilhado por ela mesma, como um gênio da política, apesar de que até o momento não tiver feito nada de especial relevância e se dedica-se a espalhar trivialidades urbi e orbe. Caracteriza-se por ser da tendência mais conservadora e jacobinista do partido, e por amostrar uma grande animosidade contra Podemos. É, sem dúvida, a mais favorável a pôr em marcha a grande coligação, seguindo as diretrizes de Felipe González.   

Eu nunca fui partidário de Pedro Sánchez, mas si observei que o partido ia á deriva sem rumo a nenhuma parte, mas, reconhecendo que ele fosse o responsável da desfeita, a primeira á que pediria responsabilidades é a líder andaluza, porque eu considerava que Madina era um candidato melhor para dirigir o partido. Pediria também responsabilidades ao Comitê Federal por ter-lhe posto um corpete a Pedro Sánchez, na reunião do 19 ou 30 de dezembro de 2015, para que não pudesse pactuar nem com populismos, eufemismo malévolo para referir-se a Podemos, nem com o PP, nem com independentistas, ou seja, para que bloqueasse qualquer saída institucional aos resultados eleitorais do 20 D.  De ai véu que o PSOE pactuasse com C’s um governo inviável e que tivesse que recorrer á propaganda para premir a Podemos para que o aceitasse o prato pré- cozinhado ou, em caso contrário, convertê-lo no máximo culpável da repetição das eleições.

Também pediria responsabilidades a Zapatero por ter dado uma viragem de 180 graus na política espanhola para acomodá-la ás diretrizes das oligarquias européias e dos seus gerentes políticos, a tróica e, em especial, a Sra. Merkel, sumindo, deste modo, na miséria e no paro a milhões de pessoas. Também lhe pediria responsabilidades por tomar a iniciativa para reformar, a velocidade de vertigem, o artigo 135 da constituição, e todo isto sem consulta prévia á cidadania, para congraçar-se com os setores oligárquicos, e com grande regozijo do seu máximo representante em Espanha, o Sr. D. Mariano Rajoy.

Esta política hostil ás maiorias sociais foi a que propiciou o surgimento e ascenso de Podemos, obedecendo a uma necessidade de ferro e não a brincadeiras ou cabriolas da cidadania, que vai competir eleitoralmente para ocupar o espaço que abandonou o PSOE. Isto, unido á corrupção vigorante durante a última etapa dos governos de Felipe González, propiciou, também como uma necessidade de ferro o descenso eleitoral do PSOE, e inclusive muitos nos perguntamos como foi capaz de resistir tanto, á vista das políticas aplicadas e quando os inquéritos lhe eram muito mais desfavoráveis.

No caso da Galiza, o PSOE seguiu uma linha de fustigação com todos os seus potenciais coligados, e mui especialmente com o BNG. Eu lembro que já lhe telefonara a este respeito ao então deputado autonômico pela Corunha, Enrique Tello para dizer-lhe que os pactos com o PSOE estavam a ser um cancro para o BNG, que não tardaram em produzir a sua deriva eleitoral. Foi bem eloqüente também o que passou durante o governo do bipartito, no que o conselheiro Pachi Vázquez se dedicou a combater o concurso eólico promovido pelo BNG. Agora tampouco a colaboração com Em Maré deixa muito que desejar.  

Outra constante na atuação do PSOE foi o reforço do seu espanholismo, que teve como principal inspirador a Felipe González. De ser um partido que defendera historicamente o direito de autodeterminação, desde a transição política de 1978 comparte as teses mais centralizadoras com o PP e converte um direito coletivo dos povos em linha vermelha para qualquer pacto, impedindo uma solução democrática ao problema territorial do Estado. Dizia ontem Emiliano Garcia Page que o PSOE deve traçar junto com o PP as linhas gerais da política espanhola, mas, se isto é assim, e isto foi o que véu fazendo na prática até agora, o único que poderiam acordar com os coligados da esquerda e com os nacionalistas seriam as miudezas, dando lugar a que os nacionalistas gritassem nas manifestações: “PSOE, PP, a mesma m... é”. O normal é que baixasse em todas as comunidades autônomas que a constituição chama nacionalidades, porque é também um partido alienígena que não dá assumido a realidade plurinacional do Estado. 

Não sei se movido pela defesa dos seus interesses pessoais, o caso é que o Felipe González é o máximo defensor da abstenção com o PP, e, por tanto,  da grande coligação, mas quiçá deveria pensar também os riscos que corre, porque isso justifica que se acuse ao seu partido, e, em concreto á socialdemocracia, de não ter política própria e assumir a política das oligarquias, e, como se sabe, nestes casos, é melhor seguir o original, quer dizer, a direita, e não uma cópia.

Tendo em conta todo o que levamos dito, creio que a responsabilidade dos resultados eleitorais é todo um partido á deriva desde faz muitos anos, que aplicou uma política oposta á que figurava nos seus programas e á que os seus eleitores esperavam dele. Considero que os resultados não são nem muito menos catastróficos, e que a surpresa e enfado dos socialistas se deve mais bem a uma falta de contacto com a realidade e a não querer aceitar que as decisões erráticas e erradas terminam por ter conseqüências, também para eles. Agora o votante da esquerda não tem outra alternativa que olhar cara a Podemos para ver se este é a solução, ao tempo que o PP já pode esperar a que os socialistas do PSOE, mentes se desolham privada e publicamente, lhe abram o caminho para governar outros quatro anos mais, e Rajoy já pode fumar tranquilamente outro puro mais mentes olha de esguelha a desfeita no campo inimigo.     

18 sept 2016

Opções de voto



Um nacionalista galego, e considero como tal a alguém que parta da defesa do direito de autodeterminação, ou seja, do direito a decidir o nosso futuro em liberdade e sem intromissões alheias, como qualquer país normal, tem opções mui limitadas de voto, se por opção se entende um projeto sólido com capacidade de mobilizar a um setor relevante da população e com capacidade de incidir no devir duma comunidade, sobre todo nesta fase em que parece que se avizinham câmbios institucionais importantes.

Um nacionalista galego não pode por menos de sentir-se mui arredado do PPG, sucursal dum partido sumido na corrupção, com escassa vocação democrática e com um programa para Galiza subordinado á sua organização matriz.  É bem ilustrativo desta subordinação a falta de impulso ao autogoverno durante os anos de mandado de Feijoo, que não só não teve interesse em dotar-se de novas competências, senão que nem sequer foi capaz de exercer as que já figuram no seu estatuto, como se pôs de relevo no que se refere ás caixas de aforro e na crise do setor ganadeiro. A política lingüística seguida pelo governo galego durante a etapa autonômica é também mui eloqüente deste sucursalismo. Seguindo as diretrizes marcadas desde a FAES empreendeu-se uma campanha contra a língua própria do país que teve efeitos nefastos de cara á sua recuperação social. Abeirou-se mesmo a legislação que estabelece que o objetivo é conseguir que exista uma igualdade real entre a língua oficial do Estado e a língua própria da Galiza, e, aproveitando-se da situação de desprestígio de que foi objeto o galego desde o século XV, impôs uma normativa que lhe impede progredir socialmente, recordando a regimes colonialistas, opõe-se á legislação internacional assinada pelo Estado espanhol e é um claro exemplo de desprezo para a língua própria do país. Este descalabro completou-se faz uns dias com a notícia de que ia blindar os direitos dos espanhóis falantes com a norma de que o governo da Xunta responderá na língua em que o cidadão se dirige á Xunta, o qual, tendo em conta que a percentagem de galegos que saibam falar e escrever na língua própria é minoritária, garantiria diminuir notavelmente a utilização do galego pelas administrações públicas. Frente a esta falta de compromisso com o país, a alternativa é envolver-se na sua bandeira e fazer demonstrações vãs de querença ao país, que a nada comprometem. A nível econômico foi a vanguarda dos recortes, que levou a que Guilherme Vázquez qualificasse ao chefe do governo galego de Alberto I, o austero. Sobre a política a aplicar na nova etapa, a nível institucional compromete-se a “afundar no autogoverno; fazer mais eficientes as instituições e a administração autonômica”, e no marco da defesa da atual constituição e estatuto, “a apoiar e defender todas aquelas medidas que contribuam a reforçar os valores democráticos e autonomistas incorporados a ambos os textos legais”. Esta posição já de por si bem raquítica, fica desvalorizada por uma praxe política em contra do autogoverno de Galiza e da própria língua galega e cultura.

Um nacionalista galego não pode tampouco aderir ao PSdG, um partido sucursalista do PSOE, que participou na elaboração da LOAPA, junto com a UCD e que a nível galego acorda o marco geral de atuação política com o PP, e, ao igual que este, nega-lhe á Galiza a personalidade própria, e, conseqüentemente, os direitos coletivos como povo, por exemplo o direito a decidir. O único povo que tem direitos é o povo espanhol e os demais povos são negados. Na atualidade está sumido em lutas internas entre os diversos setores que problematizam o seu futuro. Defende a reforma do estatuto galego para dotar a Galiza dum estatuto do primeiro nível, frente aos que a converteram numa comunidade de segunda categoria. “Um Estatuto que reconheça a identidade nacional galega, recolhida nos símbolos de Galicia”. A nível educativo defende um modelo plurilíngüe no que “o alunado alcance competências plenas tanto em galego, língua própria de Galícia, como em castelhano, e onde a capacitação em línguas estrangeiras seja também uma realidade”, que nos lembra a política seguida pelo PPG.

A formação Em Maré é uma conjunção de espanholismo e nacionalismo galego que acordou primar o problema social sobre o problema nacional como se fossem dous problemas incompatíveis. Atualmente a sua matriz espanholista, que está formada por Podemos e Izquierda Unida, está numa situação de refluxo eleitoral e pode que os seus sonhos dum câmbio na estruturação do Estado espanhol se vejam postergados no tempo. Além disso, cumpre ter presente que todo indica que terá que pactuar com partidos jacobinistas como o PSOE e é mui difícil que as suas aspirações máximas se vejam satisfeitas. Nestes momentos a incidência do nacionalismo galego nesse projeto é mais bem limitada por ter ganhado as primárias Podemos por ampla maioria. O programa incide principalmente no eido social ainda que também reconhece os direitos nacionais da Galiza nos seguintes termos: “A Maré Galega reconhece o caráter nacional da Galiza e o direito da cidadania galega a decidir livremente como organizar-se internamente, como gerir os seus recursos e como relacionar-se com outros povos. Queremos que este direito a decidir se exerça para construir, sobre bases de estrita igualdade, um marco de convivência entre os diferentes povos peninsulares”. Como vemos, a opção pela que vão lutar é o federalismo peninsular, renunciando, como aspiração, á independência, e, por tanto, á construção duma república galega independente. Tampouco precisa quais são os distintos povos do Estado espanhol que se federariam: trata-se das quatro nações: Catalunya, Euscadi, Galiza e Espanha, ou das dezessete autonomias, tal como defende o PSOE e inclusive UPyD e Cidadãos. Esta última alternativa foi rejeitada por Castelao por considerar que implicaria uma Espanha multiplicada pelo sobre-peso dos povos espanhóis, que deixaria em clara desvantagem os povos-nações. Um estado federal pode funcionar mui bem, e creio que Suíça é um bom exemplo disso, ou ser um instrumento de uniformização de todos os povos que se federam. Em geral, a experiência diz-nos que o federalismo tende á uniformização, pela tendência do governo federal a acaparar competências em detrimento dos estados federados, que foi o que passou no Estado espanhol. Em Maré defende para Galiza poder decidi-lo todo, que o povo galego poda decidir sobre a sua vida em comum e o seu futuro, uma banca pública, fazenda galega, soberania alimentar, soberania cultural. Por tanto, aqui está implícito o direito de autodeterminação, mas tanto Podemos como IU já disseram claramente que eles excluíram a alternativa da independência.

No programa do BNG está muito mais presente o direito de autodeterminação. Defende uma Galiza soberana tanto para autogovernar-se como para decidir as relações com outros povos. Cumpre aclarar que soberania não é igual a independência senão que inclui o direito de autodeterminação para decidir livremente o próprio futuro, e essa decisão pode concretizar-se na independência ou no federalismo, ou inclusive no autonomismo, mas, em todo caso, ainda que tampouco precisa quais seriam os estados federados, si que exigem para Galiza capacidade de decidir sobre o nosso, de decidir em muitas áreas, como são, entre outras, a língua cultura, fazenda galega, banca pública galega, relações internacionais. Reclama também o reconhecimento do caráter plurinacional, plurilingüístico e pluricultural da EU e a autodeterminação dos povos sem Estado no seu âmbito. Ainda que passa por uma etapa problemática, da que desejamos que se reponha pronto, creio que é a opção que melhor se acomode ao ideário político que defende um nacionalista, e, por isso, também terá o meu apoio.


17 sept 2016

A quem votar?



            Ao formular a pergunta, a quem votar? pareceria que damos por suposto que devemos ir votar, mas isto é o que há que clarificar em primeiro lugar. Hoje o fastio e o nojo pela incompetência e a corrupção na política estão tão amplamente estendidas na sociedade espanhola que seguro que muitos se perguntarão se devem abster-se para que não se entenda que apóiam um sistema caduco e decrépito. A respeito desta atitude devemos dizer, em primeiro lugar que quiçá não lhes afete muito aos responsáveis deste desaguisado. Quem não têm vergonha para criar um modus operandi para apropriar-se do dinheiro das arcas públicas não se vai ruborizar porque os cidadãos acudam a votar em menor quantidade. Aliás, tem o inconveniente que pode prejudicar muito mais precisamente aos que menos participação tiveram nem na resolução da crise nem na corrupção sistêmica que padecemos e criar a falsa impressão que todos os políticos são iguais. Uma abstenção pode prejudicar muito mais a quem se abstém que aos que se vêem afetados pela abstenção.

            Em caso de que nos decidamos ir votar, a eleição das alternativas não é nada fácil. Aquele que seja de direitas e espanholista, que agora muitos cambiam pelo nome eufemístico de constitucionalistas para disfarçar a verdadeira realidade e quiçá acalmar a sua falsa consciência, as opções são PP e Cidadãos. Os votantes do PP é difícil que não sintam certa repugnância em votar a um partido que chegou a uma degradação das maiores de Europa por estar imerso num oceano de corrupção, além de que a superação da crise não acaba de chegar. A corrupção custa-lhe uma quantiosa quantidade de dinheiro aos cidadãos, que algumas fontes elevam a nada menos que 87.000 milhões de euros ao ano, dos quais uns 47.600 milhões corresponderiam a sobrecustos na administração do Estado, não só devido ao dous ou três por cento que têm que pagar os adjudicatários de contratos para que lhe sejam aceitados os seus orçamentos, senão pela quantidade em que elevam os seus importes para conseguir aproveitar-se duma contrata já pré-assignada. Os outros 40.000 milhões de euros viriam derivados das múltiplas formas que tem a corrupção. Ainda que somente fosse a metade da cifra indicada, a quantidade é astronômica e chegaria para evitar os recortes em sanidade, educação e dependência. A respeito da crise, podemos dizer que, apesar do enorme deterioro do estado do bem-estar, como conseqüência das políticas aplicadas, o país continua endividando-se a passos agigantados, alcançando sucessivamente recordes históricos. Por outra parte, o déficit da Segurança Social continua incrementando-se devido a que os cotizantes viram minguados os seus salários e, por tanto, cada dia pagam menos para a caixa das pensões, que podem ter problemas de sustentabilidade no tempo. Em todo caso, já estão congeladas indefinidamente.

            Cidadãos reforçou ainda mais que o PP o seu espanholismo, coincidindo com este partido na denegação do reconhecimento de qualquer direito aos povos que conformam o Estado espanhol, salvo os que se referem ao povo espanhol; os dous pretendem acomodar as realidades nacionais aos seus preconceitos em vez de acomodar os conceitos ás realidades nacionais, amostrando, por conseguinte, um déficit notório de democracia. No modelo de sociedade coincide basicamente com o PP, tanto no que afeta aos recortes como ás privatizações e o liberalismo. Tem a vantagem de que, de momento, não está tão denegrido pela corrupção como o PP.      

            Os espanholistas ou unitaristas de esquerdas têm como opções o PSOE e Unidos Podemos. O primeiro coincide com o PP e Cidadãos no modelo de Estado, amostrando também um déficit de democracia, e, pelo que diz respeito ao modelo de sociedade, ocupa um espaço de centro-esquerda, próximo a Unidos Podemos. Sem alcançar o nível do PP, está também mui afetado pela corrupção e pelas portas giratórias, ao tempo que condicionados por dependências das instituições financeiras. Atualmente sofre fortes tensões internas na sua cúpula entre os partidários de seguir o que pensam os militantes, mais bem partidários de confluir apresentar uma alternativa de governo de esquerdas, coligando-se com Unidos Podemos, e os que são partidários de passar á oposição e deixar que governe o PP. O seu líder, Pedro Sánchez, está mais atado em curto pelo Comité Federal que qualquer líder anterior e vê obstaculizada a tomada de decisões, principalmente por aqueles que o nomearam para o cargo. Não seria nada surpreendente que todo isto conduza á cisões na formação entre o setor mais progressista que se move na órbita de Pérez Tápias, e o setor mais conservador que se move na órbita de Felipe González, Vara, Susana Díaz,... que são os que controlam o Comité Federal.     

            Unidos Podemos move-se no espaço duma esquerda um pouco mais radical e, num clima de negação teimosa dos direitos dos povos, tem a valentia de defender abertamente o direito a decidir para solucionar democraticamente os problemas políticos, sem recorrer, como fazem os outros partidos espanholistas, á repressão. Tem também várias correntes internas e não está claro como vão estabelecer uma síntese harmônica entre elas.

            A nível galego incrementou-se, com respeito ao que vinha sendo tradicional na Galiza, o sucursalismo espanholista e diminuiu o peso do nacionalismo, que, ademais, só pretende ocupar o espaço da esquerda, deixando-lhe a via livre ao espanholismo na direita. Anova confluiu com Unidos Podemos, para constituir o partido instrumental Em Maré, mas o seu peso na coligação é claramente de satélite a respeito de Podemos e Esquerda Unida. Esta satelização vai fazer impossível que poda promover uma política de defesa do direito de autodeterminação aberto á opção da independência. Pode chegar a defender que o povo galego se pronuncie sobre esta opção, mas sempre que se mantenha na órbita da Espanha, e, por tanto, vão votar não á independência. O modelo de sociedade que defendem pode ver-se claramente afetado pela sua satelização no modelo de estado, e, por tanto, pela carência dos instrumentos políticos precisos para levar adiante as políticas sociais. Considero que peca claramente de ingenuidade ao crer que se vão solucionar os problemas da Galiza com ordens emanadas da capital do reino.  

            O BNG, pelo que diz respeito ao modelo de estado, é o único partido com opções de ter representação parlamentaria que defende claramente o direito de autodeterminação da Galiza e, por tanto, um direito fundamental dos povos a decidir livremente o seu futuro. Foi capaz de evitar qualquer satelização e manter um projeto político autônomo para a Galiza, ao tempo que se dotou duma líder que está a surpreender positivamente pela sua clareza mental, a sua facilidade expositiva e a sua serenidade. Entendo, com todo, que tem que melhorar o seu modelo de sociedade porque se quer chegar a governar o nosso povo não poderá fazê-lo desde posições de extrema esquerda, e guiado em exclusiva por um partido comunista. Espero que nesse processo de refundação que está em curso seja capaz de abrir-se decididamente á sociedade e tomar nota para evitar problemas do passado.

            Finalmente, Compromisso por Galiza defende um galeguismo manco e timorato, semelhante ao catalanismo da Unió Democrática de Catalunya, optando pelo autonomismo num momento em que a solução autonômica está claramente fracassada. Nega o soberanismo e muito mais a independência, e, por tanto, um direito de autodeterminação para a Galiza digno de tal nome. Teve a vantagem de não cair na satelização, e, por tanto, de manter um projeto político autóctone para Galiza. No modelo de sociedade cometeu o erro de ancorar-se, ao igual que os outros partidos nacionalistas, no espaço da esquerda e não aproveitar a sua fundação para criar um espaço político de centro na Galiza. Isto faz que se veja achicada pelo BNG e por Em Maré.