22 jul 2019

Veto de Pedro Sanchez a Pablo Iglesias


            Não saio do meu assombro polas declarações de Pedro Sánchez a respeito do veto que lhe impôs a Pablo Iglesias para chegar a uma coligação de governo entre as  formações do PSOE e de Unidas Podemos, nas que, entre outras cousas, verteu acusações de grosso calibre contra quem pretende que seja o seu sócio de governo. Num primeiro momento considerei que se tratava pura e lhanamente duma censura da liberdade de pensamento e manifestação dum partido político do estado espanhol de tendência esquerdista e unionista, mas parece que não é assim porque, ao aceitar o PSOE a outros candidatos a ministros desse mesmo partido no governo, não afeta diretamente às ideias, senão que é um veto ad personam, um veto à pessoa física do líder dessa organização a título individual. Mas, se isto é assim, o que existe é uma incoerência entre esse veto ad personam e a explicação que deu Pedro Sánchez dos motivos polos que recusava a entrada de Pablo Iglesias no governo do Estado, pois disse claramente duas cousas: a) que o principal obstáculo para o governo de coligação entre as citadas formações é a pretendida entrada de Pablo Iglesias no governo; e b) que no governo não pode haver discrepância na ação de governo e não pode um defender a autodeterminação de Catalunha e, portanto, a celebração dum referendo para solucionar o problema das nacionalidades do Estado espanhol e outro coincidir totalmente com a direita mais centralista e espanholeira e defender a aplicação do artigo 155 para Catalunha, da que parece que se sente orgulhoso.

            Toda coligação, salvo em casos de cisões dum determinado partido, é entre formações dispares que concorrem desde a discrepância polo favor popular e não é legítimo obrigar-lhe a um partido a que renuncie aos seus posicionamentos e à sua manifestação pública. Na Galiza houve várias coligações da BNG com o PSOE tanto nos concelhos como na Xunta de Galicia, e sempre entraram os líderes de ambas as formações e nunca se pretendeu que um deles renunciasse ao seu ideário específico, muito diferente e irreconciliável enquanto ao modelo de estado. Então, porque o que é válido para as autonomias e concelhos não é válido para o governo de Espanha? É evidente que tem que produzir-se a confluência em determinados pontos concretos que constituem o programa do governo, que algumas formações têm recolhido nos seus estatutos que devem ser submetidos às bases, e não vejo porque alguém tem porque molestar-se se o faz, mas, além disso, cada qual deve ser fiel aos eleitores que votaram um determinado programa. Afirmar que Unidas Podemos não se pode coligar com o PSOE porque são formações dispares equivale a condenar a existência de coligações. O que não pode haver são discrepâncias nos pontos básicos recolhidos no programa de governo, mas em todo o demais cada um fica livre de manter defender e espalhar os seus posicionamentos.  

            Estas considerações conduzem a pensar que realmente o que teme Pedro Sánchez é a presença no governo dum líder de maior vigor intelectual e superior potência dialética como é Pablo Iglesias, que possa ensombrá-lo a ele pessoalmente, deixando-o em evidencia perante próprios e estranhos. Creio que nunca deveria tê-lo vetado e incluso deveria estar-lhe agradecido por tê-lo apoiado na moção de censura contra Mariano Rajoy sem pedir contrapartida de nenhuma classe e devia –cortesia obriga- dalgum modo devolver-lhe este favor, mas em vez disso, responde-lhe com um veto pessoal, Nunca melhor aplicado o refrão:galego: «Assim paga o demo a quem bem o serve». A atuação de Pedro Sánchez no processo para conformar governo esteve cheio de confusões, incoerências e contradições. Um dia permitia a presença de ministros e ao dia seguinte falava de carregos intermédios, mas sem chegar nunca ao nível de ministros, para volver de novo a cargos ministeriais ocupados por independentes, etc. Ninguém sabia realmente o que pretendia e por que desde o 28A não movera um dedo para avançar realmente nas negociações de formação de governo em vez de mover-se por taticismos estéreis. Ao meu juízo a estrela de Sãnchez esmorece perante a cidadania porque não é de recibo que se ponham vetos a pessoas nominalmente sem razões pessoais que o justifique, como pode ser um caso de corrupção e foi uma inovação deste político espanhol ao anais da história, pois nunca, que se saiba, foi vetado nenhum governante pessoalmente sem nenhuma tacha de indignidade ou corrupção pessoais.

            Botou-lhe em cara Pedro Sánchez a Pablo Iglesias que não defendera a democracia espanhola, que não significa que ele, ou seja Pablo Iglesias, não seja democrata, senão que não defende a especificidade da democracia espanhola, que, no fundo não indica outra cousa que a maneira espanhola de gerir os assuntos públicos, discordante em muitos pontos cardinais com a democracia sem qualificativos. Ele veu a ligá-la com a defesa do 155, com negar a realidade de que uns políticos que foram encarcerados por questões políticas sejam presos políticos, senão que cumpre imitar aos políticos do 155 e deformar a realidade afirmando que somente são políticos presos, apesar de que ninguém foi capaz de observar o delito que cometeram. É evidente que não existe democracia espanhola, senão democracia, e falar de democracia espanhola por parte dos políticos espanholeiros somente pode querer indicar que há uma maneira específica de interpretar e limitar a democracia por parte deles, precisamente para negar todas as suas virtualidades. Falam de democracia avançada quando a cúspide do Estado é ostentado por um rei posto por um dos significados ditadores do século XX, o general Franco, e não permitem que seja convalidado polas urnas, não seja que o povo o licencie; duma monarquia da que ninguém pode investigar as suas corruptelas nem sequer saber em que emprega o dinheiro que os cidadãos sevem obrigados a entregar-lhe dum salário insuficiente.

            Considero que Unidas Podemos tem todo o direito de estar no governo se o considera oportuno, mas duvido que realmente lhe seja interessante estar nele. Os começos das negociações, cheios de incógnitas sobre os seus resultados, não são muito estimulantes e quiçá isto desilude ainda mais aos próprios seguidores de ambas as formações. Com Rivera chegara facilmente a um acordo em tempo recorde, mas agora todo são problemas. A companhia dum partido tão jacobino como o PSOE, que já parece que renunciou incluso a uma reforma da constituição em clave federal, vai influir muito negativamente na consideração do problema nacional no Estado espanhol por parte de Unidas Podemos, porque vai sempre preferir governar em Madrid que contribuir a solucionar o problema territorial do Estado. Se a correlação de forças entre PSOE e Unidas Podemos variasse quase seguro que o PSOE obrigaria ao seu sócio majoritário que não se avançasse no reconhecimento do direito de autodeterminação, e todo isto deveria constituir uma chamada de atenção para formações como Anova, que pretende que o problema territorial lho dêem solucionado os partidos estatais em vez de lutar com os outros nacionalistas para premir o estado a que se solucione duma vez.    


8 jul 2019

Anova, rara avis


                Anova é uma rara avis, um caso singular, no panorama nacionalista periférico espanhol e quiçá também a nível internacional. Em Marea, na que estava integrada ANOVA, atualmente em fase de clarificação, apresenta-se dividida em duas obediências, a villarista, na que desembocaram a maior parte das hostes da formação e que parece que se dotaram duma coesão interna e um programa coerente de obediência galega, e a de obediência beiro-sanchista, que pretende continuar dando tombos cara a nenhures. Esta cisão de Anova não é nova, senão que vem precedida na história da formação pola cisão, pouco depois da sua fundação, dos norieganos e os cernistas, cisão que reproduzir-se-ia de novo em AGE, entre o sector de ANOVA e o de EU (Esquerda Unida) que se saldou com a desaparição desta formação e a sua substituição pola de En Marea, coligação que terminou também como o rosário da aurora. Os que protagonizaram esta história não são o melhor referente de cara ao futuro.

                ANOVA foi maltratada por Unidas Podemos de cara às eleições do 28/04/2019 que a deixaram sem possibilidade de escano na província de Pontevedra, em benefício de IU, o qual motivou que não se apresentasse às eleições ao Congresso. Assim lhe paga IU a quem o ressuscitou como ator político no panorama galego, proeza que lhe corresponde aos primeiros líderes de ANOVA. As eleições municipais do 26/05/2019 constituíram um duro varapau para os setores enfrentados, tanto o liderado polos alcaides de A Corunha, Ferrol e Santiago como o liderado por Villares. Nesta tessitura, o problema com o que se enfrenta ANOVA que rachou com o setor de Villares, é: cara a onde caminhamos? Esta pergunta querem resolvê-la este verão, mas os seus líderes já apontam algumas ideias ao respeito, sem ter feito previamente uma análise séria do corretivo da cidadania à sua maneira de proceder e às suas constantes rixas polo poder arejadas a través dos mídia. Não tem sentido nenhum vir agora a dizer que têm o vinte por cento de apoio não só no país senão nem sequer nas cidades que regiam.

                Consideram como prioritário rachar com o regime do 78 e, em consequência, lutar com os que se aprestem a trabalhar nesta direção a nível estatal, ou seja, cara a Unidas Podemos. Teoricamente não abandonam o soberanismo, mas na prática fica ferido de morte. Implicar-se na transformaç4ao dum estado pressupõe que se aceita este estado e, portanto, que o soberanismo é uma mera pose. É um claro erro de perspectiva considerar que, polo facto de que no Estado espanhol se instaure uma república, o problema galego deu um passo adiante cara a sua solução. Uma República como a francesa continua, intensificada agora com Macron, a repressão contra os povos que formam parte da República Francesa, como os corsos, bretões,occitanos,... Logo, a solução não virá de por si da república, senão em todo caso duma república determinada, duma república construída desde os povos e para isto estes devem devir autoconscientes dos seus problemas e fortes para poder impô-los a nível social. Por outra parte, parece uma jaimitada pretender derrubar um regime que neste momento não amostra sintomas de debilidade apesar dos problemas da enorme corrupção pestilente desde um pequeno partido periférico com um cento de afiliados pouco mais ou menos. Ademais, é que acaso vai ser mais decisivo na luta contra o regime do 78 ANOVA ou incluso Unidas Podemos que ERC ou Junts per La Republica, PNV, Bildu, BNG, etc. que são partidos netamente nacionalistas e que sabem a onde querem ir?

                Dizem os dirigentes deste partido que eles não estão para ser uma para mais do nacionalismo galego, ao que parece que olham com desprezo, mas em vez de pata do nacionalismo galego, convertem-se em rabo do nacionalismo espanhol de Unidas Podemos, um partido unionista, que por necessidade da sua estratégia política deixará na cuneta às primeiras de câmbio aos seus mini-sócios galegos. Hoje mesmo, 7-07-2019, acaba de sair na imprensa que Unidas Podemos se compromete por escrito perante o PSOE a ser bom rapaz e não discrepar da solução do deste partido do 155 para o problema catalão, com o qual teríamos ao partido de ANOVA convertido indiretamente em cúmplice da aplicação das políticas dos jacobinistas do 155 para o caso catalão.

                O anterior não é um relato exagerado nem de ficção, senão que o que passou já na legislatura anterior foi que estes soberanistas de ANOVA atuaram de comparsas de Unidas Podemos no Congresso dos Deputados, deixando a Galiza como um povo surdo e mudo nas Cortes do Estado. A confluência de novo com este partido de âmbito espanhol volveria a deixar sem voz e sem capacidade de decisão nenhuma a um minúsculo partido como ANOVA, que parece que quer demonstrar que só nasceu só para fazer seguidismo do unionismo rampante. Compromis pel País Valencià teve uma atuação muito coerente e com voz própria, enquanto que En Marea terminou por marear a todos, deixando sem voz aos seus próprios votantes, que esperavam que defendesse nas Cortes do Estado propostas específicas para o nosso país.