Crítica do anti-regionalismo
da Monarquia
No artigo anterior «A monarquia
em Ortega (II)», vimos que o seu posicionamento passou da apoiar a monarquia,
também durante a ditadura de Primo de Rivera com a contemporizou, a
descolgar-se dela para não ficar isolado e em 1929 deu um giro de cento oitenta
graus e decreta em tom solene «Delenda est monarquia», cumpre borrar a
monarquia. A partir desse momento manifesta-se critico com ela e adere á causa
republicana, mas tampouco durará, nesta ocasião, a sua fidelidade com a República.
Para focar as afirmações de
Ortega sobre a monarquia durante a II República cumpre ter presente que o seu
bisavó materno, o pontevedrês Eduardo Gasset Artime, foi governador civil de
Pontevedra, ministro de Ultramar no governo de Ruiz Zorrilla e fundador do
jornal El Imparcial; o seu tio, Rafael Gasset Chinchilla foi diretor de El
Imparcial, deputado por Padrão e ministro em vários governos da Restauração;
o seu pai, José Ortega Munilla foi também deputado por Padrão, diretor de El
Imparcial e membro numerário da Real Academia Espanhola: o seu tio, Eduardo
Gasset Chinchilla foi deputado por Noia; outro dos seus tios, Ramón Gasset
Chinchilla, foi deputado por Arzua, e José Gasset Chinchilla, por Ordes. Rafael
e José Gasset Chinclhilla eram acionistas da Sociedade Editorial de Espanha,
vulgarmente conhecida como o «trust», que publicava, além de El Imparcial, El
Liberal e Hertaldo de Madrid.
Espanha depende hoje -fevereiro
1931- das províncias, mas a política da Monarquia consistiu em inutilizar os
esforços, entusiasmos e inquietações dessas grandes capitais, aproveitando
contra elas a inércia provincial; pensava que esmagaria a hostilidade das
grandes capitais onde havia eleição autêntica com a docilidade da província
onde os votos eram ficção. Se soubesse que nos distritos rurais se ia votar com
independência e dum jeito consciente não se permitiria a violação de todas as
leis e o abuso de todos os usos. Agora mesmo -vésperas das eleições do dia 14
de abril- que as províncias referendam os candidatos do Ministério da Governação1,
as suas críticas contra a Monarquia ressoam fortes e rijas, mas dá a impressão,
igual que com a Ditadura, de que fossem instituições que começassem a
prevaricar recentemente, que não tivessem uma história detrás, porque Ortega
que conviveu com ela deveria ter visto todas estas tropelias com anterioridade
e denunciá-las em aras de profissão da verdade, que ele destaca como caraterística
do filósofo. "Compreendeis que a vida pública contemporânea são a
representação e as eleições que a criam o sacramento radical da vida civil.
Abusar dele, burlá-lo, envilecê-lo, é, pois, o sacrilégio maior que dentro da
esfera humana se pode cometer. Pois bem, isso fez conscienciosamente, uma e
outra vez, durante cinquenta anos o Poder público da Monarquia. E se fez isto
naquele ponto da atuação civil que é raiz sagrada de toda a legalidade estatal,
calcule-se o que fez ao manejar todas as demais leis. Conta-se a um estranho e
não o crê: que o Poder público, ele mesmo, empregue abusivamente as suas próprias
leis, as desvirtue, vilipendie e prostitua- é cousa, com efeito difícil de
crer, mas é a história do Estado espanhol durante meio século"2.
Estas duras acusações contra os atos reiterados da Monarquia, cometidos durante
tanto tempo, sendo ele Expectador privilegiado da vida nacional, que até
datas recentes flerta publicamente com o Regime, quando muitos dos seus
companheiros o denunciam publicamente e são duramente represaliados por isso,
denota uma personalidade acomodatícia que busca sacar talhada da circunstância
política e nunca uma ânsia profética de denuncia séria duma situação de corrupção
generalizada, que foi a tônica predominante no Estado espanhol.
E continua o denominado por
alguns o «maior filósofo espanhol»: "Se as províncias eram inertes e não
sabiam exercitar o sacramento do voto, deveu a Monarquia reformar cem vezes o
procedimento eleitoral até conseguir que o espanhol se curasse da sua viciosa
desídia. Deveu fazer todo o imaginável antes que consentir a perduração desse
abandono, todo -menos acomodar-se a ele, menos contar com o vício e o desonra
do cidadão negligente e chegar inclusive a beneficiar-se dela. Por ter-se
conduzido assim, gravita sobre a Monarquia de Sagunto uma gigantesca
responsabilidade que não costuma ser perdoada polo Poder misterioso e excelso
que rege o sino da história"3. Este texto dá a sensação
de que ou Ortega não se inteirava de nada ou dá mostras dum cinismo
superlativo, porque toda a sua família esteve implicada, apoiou esse estado de
cousas e beneficiou-se dele. Creio que deveria evitar expressões como “o vício
e o desonra do cidadão negligente”, porque isso implica trasladar ao cidadão
os males que o regime corrupto da Restauração lhe produziu à própria cidadania,
pois se o cidadão não votava era porque o sistema, premeditadamente, não
contava com ele, além de ter estabelecido um procedimento eleitoral corrupto
que amanhava as votações no Ministério do Interior. Agora chega mais á ferida
do clássico abstencionismo provinciano, superando as pseudo-explicações que
vertera em La redención de las provincias, quando fazia radicar o
desinteresse dos cidadãos de província polo Parlamento espanhol, em aras de
fundamentar o regionalismo, no seu ruralismo, na incapacidade de compreender as
noções abstratas de liberalismo, tradicionalismo, democracia, conservantismo,
etc. fazendo dos provincianos seres antediluvianos incapazes de razoamento
abstrato e unicamente guiados por interesses concretos imediatos, fronte aos
ilustrados capitalinos e os seus assimilados das grandes urbes hispanas.
A República -diz Ortega-
significa não só a eliminação da Monarquia senão a reforma radical de todas as
demais instituições tradicionais, com objeto de que uma Espanha empreendedora e
triunfante entre no tempo novo que se está a preparar em todo o planeta. Se
antes tinha afirmado que o futuro é uma forma nova de Monarquia, agora tem que
reconhecer que media Europa -março 1931- se compõe de repúblicas recentíssimas,
ainda não seguras da sua perduração. Evidentemente que a espanhola não perdurará
precisamente pola traição de muitíssimas pessoas como ele. "Em
nenhuma etapa histórica caíram juntas mais Monarquias. Onde a
Monarquia se conservou, como em Itália, o câmbio de «forma de governo» foi
ainda mais radical, porque não é aceitável chamar «forma de governo» ao facto
de que subsista a figura dum Rei"4. Hoje Espanha quer
tomar na sua mão a direção dos seus destinos, pero isto não convém á instituição
monárquica "que não soube nunca fundir-se com a totalidade dos espanhóis
e é mais bem gerente duma sociedade de socorros mútuos formada polos altos dignitários
eclesiásticos..., pola alta banca..., polos hierarcas militares, polos «aristocratas».
Esses poucos centenas de pessoas pretendem que inteira uma raça antiga e
ilustre viva subordinada ao seu arbítrio, o qual, sobre ser egoísta, demonstrou
ser todo menos genial"5. Não sei se consciente ou
inconscientemente esqueceu as elites econômicas e mediáticas e os seus gerentes
políticos , entre os quais figuraram sempre a sua família.
Em abril, antes das eleições
municipais, o partido fundado por ele, a «Agrupación al Servicio de la República»
dirige-se aos eleitores de Madrid para solicitar o voto para a candidatura
republicana, porque o regime monárquico tem periclitado o seu ciclo, e não
"há probabilidade nenhuma para que o regime monárquico possa chegar a
criar uma nova ordem e uma nova paz no nosso país. Nenhuma inquietação popular
estorvou durante médio século a atuação da Monarquia. ...no futuro não poderá
ja suster-se senão como nestes últimos anos: apelando aos Poderes mais
anormais, acumulando violências, barbarizando a existência espanhola"6.
Advento da República
e crítica da Monarquia
Ortega aderiu entusiasmado à República
que conseguiu “A tranquilidade fertilíssima que hoje goza Espanha, a
plenitude de possessão histórica”7, por mais que reconhece
que pouco contribuiu à sua instauração8. Ante a queima dos
conventos de 11 de maio de 1931, a Asociación al Servício de la República emite
uma nota de condena na que manifesta que “Queimar, pois, conventos e igrejas
não demonstra nem verdadeiro zelo republicano nem espírito de avançada, senão
mais bem um fetichismo primitivo ou criminal que leva o mesmo a adorar as
cousas materiais que a destruí-las. O facto repugnante avisa do único perigo
grande e efetivo que para a República existe: que não acerte a desprender-se
das formas e retóricas duma arcaica democracia em vez de sentar-se desde logo e
inexoravelmente num estilo de nova democracia”9. Contudo, ainda no mês de junho considera que
o balanço da República é muito satisfatório. “A República espanhola tem a
estas horas no seu haver uma façanha enorme, fabulosa, inverossímil, única no
mundo, que devia ter bastado por si só para compensar quantos outros erros
menores possam ter-se cometido; esta façanha é a de Azaña: a redução radical do
Exército”10. Apesar da antipatia e hostilidade que
lhe professa Azaña, reconhece nele “um home de grande talento, dotado,
ademais, de condições magníficas para o governo”11.
Sobrevinda a República o
14/04/1931, Ortega se reclui no seu rincão, ausenta-se “deliberadamente da
intervenção na marcha das cousas”12, para deixar o
protagonismo aos beneméritos do novo regime. Mas critica já partir de junho os
seus erros, entre os quais está que não fez notar que a nova democracia não é
uma “democracia individualista, de povo na pracinha, senão uma severa,
acerada democracia de Estado”13, uma democracia que
coloque o Estado por acima das insolências particulares. Agora, o Estado
prevalece na sua consideração sobre o indivíduo, numa perspectiva distante do
liberalismo, ideário que defendera em 1919.
Intervirá nas Cortes o 4/09/1931,
a propósito do projeto de Constituição republicana, em defesa dum sistema autonômico
de «café para todos», os dias 25 e 26/09/1931, opondo-se teimosamente á concessão
de qualquer resquício de soberania às comunidades autônomas, e o 30/10/1931 no
debate sobre o método para a eleição do Presidente da República, no que afirma:
“Uma quantidade imensa de espanhóis que colaboraram no advento da República
com a sua ação, com o seu voto ou com o que é mais eficaz que todo isto, com a
sua esperança, se dizem agora entre desassossegados e descontentes: «¡Não é
isto, não é isto!»”14. Espanha -setembro 1931- é um país
governamental, um país onde não houve nem há nunca oposição. Foi monárquica
enquanto a Monarquia significava o governamentalismo, mas isto não quer dizer
que desde 1500 se sentisse vitalmente unida aos seus reis. "A Monarquia, é dizer, o Estado,
achava-se sobre o povo espanhol, pesando sobre ele, mas sempre fora dele... A
Monarquia viveu sempre desnacionalizada, ainda naquelas horas em que um rei
como Carlos III quis de boa fá o bem da Nação -sempre, por suposto, que não
estorvasse a sua política internacional puramente familiar.... Sempre viveu
Espanha com uma duplicidade de interesses dificilmente harmonizáveis: as
necessidades da Nação e as da Monarquia"15. O empresário da
Restauração, Cánovas del Castillo, não podia viajar polas grandes capitais
espanholas sem que a gente lhe assobiasse, assobios que ia m dirigidos
simbolicamente á Monarquia. "A Restauração que faz sessenta anos impôs,
mediante pronunciamento, ao pai de Afonso XIII, foi uma grande falsificação
histórica. Baste dizer que o empresário de aquela obra, Cánovas del Castillo, não
pôde nunca viajar polas grandes capitais de províncias sem ser silvado"16.
As grandes capitais não foram monárquicas desde o ano 1873, e a tática da
Monarquia consistiu em esmagar a inquietação dessas grandes capitais com a inércia
provincial, na que não se votava, senão que se amanhavam as votações desde o
Ministério da Governação. Desde faz mais dum século começa Espanha, com a
lentidão dum tardígrado, a eliminar a Monarquia, e, desde então, o
antimonarquismo foi medrando progressivamente.
A esta altura diz Ortega que a Monarquia de Sagunto sucumbiu por não estruturar
Espanha em regiões, mas pronto o veremos convertido num valedor do mais rijo
centralismo.
Em novembro de 1931 reconhece os
seus poucos dotes para a política: “eu tenho veementíssimas suspeitas de que
não sirvo para a ação política, e estes meses de deputação a Cortes no fizeram
mais que nutri-las amplamente”17, ao tempo que se amostra
cada vez mais desencantado da República: “Eu não estou conforme com o tom
nem os modos que se deram à República”18, “gentes com almas não
maiores que as «usadas polos coleópteros, conseguiram em menos de dous meses
definhar-nos esta República menina e fazer-lhe perder o garbo aquele com o que
nasceu”19.
Em dezembro de 1931 reitera uma
idéia muito acertada que já expusera em abril deste ano de que Espanha, onde o
Poder público tem maior influxo porque a espontaneidade social é muito débil, a
Monarquia "era uma sociedade de socorros mútuos que formaram uns
quantos grupos para usar do Poder público, quer dizer, do decisivo em Espanha.
Esses grupos representavam uma porção mínima da nação; eram os grandes
capitais, a alta hierarquia do Exército, a aristocracia de sangue, a
Igreja"20. Como vemos, agora sim cita os setores
econômicos, mas deixa sem citar os seus gerentes, que são os políticos, e os
mediáticos, e não esqueçamos que El Imparcial era um jornal que punha e
sacava governos. O monarca era o gerente dessa sociedade nada mais e quando o
interesse real do país coincidia com o desses grupos, faziam grandes gesticulações
de patriotismo; "mas se a necessidade nacional entrava em colisão com a
conveniência dalgum deles, acudiam ao socorro todos os demais e era a nação
quem tinha que ceder, padecer e anular-se, para que o grupo ameaçado não
sofresse erosão"21. Em vez de estarem essas classes
subordinadas à nação, era a nação a que tinha que subordinar-se aos seus
interesses particulares. O povo espanhol era freado por esse Poder público,
justaposto á nação e com interesses divergentes dos interesses espanhóis. Por
um lado ia a Nação e por outro o Poder público. "Em soma, que a
Monarquia era o Poder público desnacionalizado, que irremediavelmente
falsificava a vida do nosso povo, desviando-a sem cessar da sua espontânea
trajetória"22.
O Estado atual necessita, por forçosidade
iniludível, a colaboração de todos; tem que fundir-se com a nação, e esta fusão
é a democracia. "... a República significa nada menos que a
possibilidade de nacionalizar o Poder público, de fundi-lo com a nação, de que
o nosso povo vaque livremente ao seu destino, de deixar-lhe fare da se,
que se organize a seu gosto, que eleja o seu caminho sobre a área imprevisível
do futuro, que viva ao seu modo e segundo a sua interna aspiração"23.
Palavras muito belas, mas incoerentes com o seu apoio desde os inícios á
aventura golpista dos generais Mola e Franco. Aliás, se o seu povo tem direito
a organizar-se, a fare da se, também lho devia reconhecer aos demais. O erro
que se cometeu nestes meses -diz- é que seja preciso reclamar a nacionalização
da República.
Progressivo afastamento da República
Em janeiro de 1932 já se encontra
muito afastado da República, à que acusa de ter como desejo unificador o desejo
negativo de oposição à monarquia, fuga de capitais, redução da arrecadação
fiscal, demagogia eleitoral, subordinação ao Pacto de São Sebastião, não lograr
criar um Estado nacional senão particularista,... Tenha-se em conta que no
Pacto de São Sebastião decidiu-se conceder a autonomia a Catalunya e, por
tanto, é muito significativo esse posicionamento em contra por parte de Ortega.
Perante o acosso dos poderes econômicos e religiosos contra a República, Ortega
não duvida em afastar-se dela, contribuindo a criar o caldo de cultivo para que
em agosto se produza o falido golpe de Estado do General Sanjurjo contra a República.
Espanha é, na sua quase
totalidade, antimonárquica, mas ainda não começou a ser republicana. Para criar
um novo Estado há que criar um novo espírito. "Com programas
particulares não se embarca a uma nação num novo Estado. É preciso que se faça
consistir a República num credo histórico de conteúdo tão indiscutível, que
tenha que aceitá-lo em secreto os mesmos que em público finjam combatê-lo. Este
credo só pode derivar-se de dous princípios: o princípio da Nação e o princípio
do Trabalho"24. Todo o mundo estaria de acordo a esta
altura com estas formulações gerais, mas o problema é como se concretiza isso
num programa de governo consistente que seja aceitado polas forças políticas e
a maioria social.
Se não vitalizamos a província
-abril 1932- não conseguiremos que Espanha chegue a uma plenitude de vida. A
Monarquia fomentou a grosaria que representa a caciquismo, "segura de
que com ele bastava para fazer impossível, para impedir que se articulassem
grandes movimentos políticos que lançassem Espanha ao livre mar da história,
onde havia de soçobrar a sua navezinha flordelisada"25.
A flor de Lis é o símmolo dos Bourbons. Ortega sabe que a província é uma
realidade centralista, e frente ás reivindicações catalãs, propõe a sua
revitalização.
No discurso de Ovieu -abril 1932-
afirmou que os asturianos e castelãos representam a clareza de mente; foram os
que souberam superar o particularismo, e pregoa um regionalismo exemplar, que há
que opor aos lastrados de arcaísmos nacionalistas. “Será o vosso
regionalismo não do passado, senão futurista; não dum povo que foi, senão duma
região que há que fazer numa nação que há que fazer”26.
Intenta que se crie um regionalismo oposto ao nacionalismo, ou seja, oposto às
aspirações dos povos que quer regionalizar, e, por conseguinte, oposto á
democracia popular na que nunca creu. Define a nação como a obra comum que há
que fazer, a «facienda»; não é o passado, a história e a tradição. “A nação é
o afã dos que convivem num destino histórico; é, pois, o sistema de
possibilidades que há no presente para constituir o porvir”27.
Como vemos, para Ortega têm clareza de mente os povos com menos identidade
nacional, pois esta deve ser superada para constituir um regionalismo futurista
em contraposição ao arcaico dos nacionalistas. Naturalmente, segundo ele, o
povo colonizador é quem se preocupa do destino dos povos submetidos. A nação não
se baseia em identidades e, portanto, no passado e na história, senão num místico
destino histórico, traçado por uma espécie de providência trans-histórica que
coincide com o desenho do colonizador. Igual que Renan definiu a nação como um
plebiscito diário, caraterizado pola vontade de conviver, para anular as aspirações
unionistas pró-germânicas da Alsácia e a Lorena, de língua alemã, Ortega quer
construir a nação espanhola para anular as aspirações nacionalitárias de
Euskadi, Catalunya e Galiza, e, por tanto, as suas reivindicações
soberanistas.
Em abril de 1932 louva a
austeridade orçamentária da República, em contraste com o dispêndio durante a
Monarquia. "A República tem que ser a vontade de fazer as cousas bem.
Senão, não estaria justificado o seu advento. Seja ela uma nova política,
porque é uma nova moral, e levemos esta a todos os problemas"28.
É uma mágoa que Ortega não desenvolvesse essa ideia da nova moral e inclusive
que falasse da estrutura da república como realidade sócio-política com a
finalidade de criar uns princípios a partir dos quais se realize a crítica
deste sistema em contraposição com a monarquia. Isto é o que contribui a fazê-lo
oscilar de Caribdis a Escila. A superioridade da forma republicana sobre a
Monarquia é que tem que ser nacional, “que baixo ela o Estado tem que
fundir-se com a realidade nacional. ... A República não pode ser um fraude histórico,
como o foi tantas vezes a Monarquia”29. Para Ortega, o
rearme do nacionalismo espanhol foi uma ideia não só recorrente senão obsessiva
durante toda a sua vida, mas sem fazer nenhuma formulação precisa de para que
se quer o nacionalismo e como respeitar os direitos dos demais e a democracia.
Com ocasião do debate estatutário
catalão, -maio de 1932- confessa que o dia que se discutiu sobre a Constituição
duma República federal, “Então, aterrado, numa madrugada lívida, falei na Câmara
de soberania”30, que para ele poria em questão o
federalismo. A solução ao problema catalão consiste em diluí-lo mediante a
concessão da autonomia a todas as regiões, incluídas as que não a queiram, com
objeto de isolar o nacionalismo catalão, ideia que já defendera no livro España
invertebrada, e esta foi a finalidade da política da transição do café para
todos, que somente adiou a solução dos problemas.
Em maio de 1932, Ortega, junto
com Unamuno, Maura e outras personalidades, enviou a sua adesão a uma
assembleia de râncio nacionalismo espanhol celebrada em Palência contra o
Estatuto catalão, á que assistiram umas cinco mil pessoas, entre as que estavam
os deputados por Leão, Burgos e Palência, incluídos os deputados da Agrupação
ao Serviço da República, e que foi presidida polos alcaides de Burgos e de Palência,
o presidente da Deputação de Segóvia, um representante do Concelho de Sória, o
presidente da Deputação de Zamora, o alcaide de Salamanca, o presidente da
Deputação de Leão e representantes do seu Concelho. Como se pode ver, não se
trata duma mera assembleia local, senão de toda uma representação de Castela
que se enfrenta Catalunya, facto que se transluz também no discurso de Rafael
Sainz de Robles que manifesta que "si Catalunya ameaça a Castela, esta
saberá impor-se"31, e no do presidente da Deputação de Segóvia
que afirmou que "Castela se pusera em pé"32.
Na sua intervenção parlamentar de junho 1932, sempre numa
linha profundamente restritiva a respeito dos direitos e competências de
Catalunya, declara que o dito por ele não permite que ninguém o presente como
inimigo das aspirações catalães, que já escreveu um livro que interpreta a história
de Espanha em função do problema catalão, "para aclarar as cabeças dos
demais espanhóis com respeito a esse problema e fazer, na sua hora, possível a
sua solução; ... mas polo visto o esqueceram os catalães. A cousa não é
estranha nem é nova: a ingratidão tem uma história tão longa como a historia
mesma"33.
Mas inclusive vai além ao sentenciar em tom solene: “Não tolero, pois,
que nem a mim nem a ninguém se nos apresente como inimigos das aspirações catalães,
porque discutimos sobre o Estatuto catalão”34.
1. «Discurso em
Segovia», (14/02/1931), em OC, T. 11, p. 133.
2. «Discurso em
Segovia», (14/02/1931), em OC, T. 11, p. 134.
3. «Discurso em
Segovia», (14/02/1931), em OC, T. 11, p. 134.
4. «Sigue m los «Problemas
concretos»», em El Sol, (24/03/1931), OC, T. 11, p. 167.
5. «¡A los
electores de Madrid!», (11/04/1931), em OC, T. 11, p. 291.
6. «¡A los electores de Madrid!», (11/04/1931), em OC,
T. 11, p. 292.
7. «Rectificación de la República!», Crisol,
(23/04/1931), en OC, T. 11, p. 336.
8. «Rectificación de la República!», Crisol,
(02/06/1931), en OC, T. 11, p. 341. Cf. Ibidem, (31/07/1931), p.
349.
9. «Agrupación al Servicio de la República», El Sol,
(14/05/1931), en OC, T. 11, pp. 297-298.
10. «Rectificación de la República!», Crisol,
(02/06/1931), en OC, T. 11, p. 339.
11. «Rectificación de la República!», Crisol,
(02/06/1931), en OC, T. 11, p. 340.
12. «Rectificación de la República!», Crisol,
(02/06/1931), en OC, T. 11, p. 339.
13. «Rectificación de la República!», Crisol,
(06/06/1931), en OC, T. 11, p. 343.
14. «Rectificación de la República!», Crisol,
09/09/1931, en OC, T. 11, pp. 386 e 387.
15. «El sentido del cambio político espanhol», em Crisol,
(16/09/1931), OC, T. 11, p. 318.
16. «El sentido del cambio político espanhol», em Crisol,
(16/09/1931), OC, T. 11, p. 318.
17. «Pensar en grande», Crisol, (17/11/1931), en OC,
T. 11, p. 328.
18. «Pensar en grande», Crisol, (17/11/1931), en OC,
T. 11, p. 328.
19. «Rectificación de la República!», Crisol,
(02/06/1931), en OC, T. 11, p. 337
20. «Rectificació m de la República», (06-12/1931), em OC,
T. 11, XI, p. 407.
21. «Rectificació m de la República», (06-12/1931), em OC,
T. 11, XI, p. 408.
22. «Rectificació m de la República», (06-12/1931), em OC,
T. 11, XI, p. 408.
23. «Rectificació m de la República», (06-12/1931), em OC,
T. 11, XI, p. 409.
24. «Hacia u m partido de la nación», em Luz,
(07-01/1932), OC, T. 11, I, p. 419.
25. «Discurso em Oviedo», em El Sol,
(11-04/1932), OC, T. 11, p. 437.
26. «Discurso en Oviedo», (10/04/1932), en OC, T. 11,
p. 437.
27. «Discurso en Oviedo», (10/04/1932), en OC, T. 11,
p. 440.
28. «Discurso em Oviedo», em El Sol,
(11-04/1932), OC, T. 11, p. 440.
29. «Hay que reanimar a la República», em Luz,
(18/06/1932), OC, T. 11, p. 492.
30. «Discurso sobre el Estatuto de Cataluña», 13/05/1932, en OC,
T. 11, p. 464.
31. . «Asamblea magna en Palencia contra el Estatuto», en HEG,
nº. 79 (09/05/1932), p. 1.
32. . Asamblea magna en Palencia contra el Estatuto, en HEG,
nº. 79 (09/05/1932), p. 1.
33. «Discurso de rectificación», 02/06/1932, en OC, T.
11, p. 484.
34. «Discurso de rectificación», 02/06/1932, en OC, T.
11, p. 484.
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