18 nov 2014

Espanha vai melhor!



A economia do Estado espanhol vai melhor!


A mensagem que está a transmitir a elite governante á cidadania, é que Espanha vai melhor economicamente, que já se está iniciando a recuperação e que estamos medrando mais que os nossos competidores da zona euro.

Imbuída desta propaganda oficial faz uns dias dizia-me uma pessoa que Espanha vai muito melhor, ao tempo que afirmava que esta política evitou que Espanha for resgatada, e ficou surpreendida quando lhe disse que vai pior e que foi resgatado o sector bancário com umas conseqüências tão daninhas como se fosse toda a economia. Todos somos conscientes que, por efeito do quem alguns denominam São Draghi, a prima de risco baixou mui substancialmente e que isso permite que o Estado espanhol se financie muito mais barato, o qual é uma notícia excelente, porque permite detrair dinheiro que deveria ir destinado a pagar juros a outras finalidades. Mas para responder á pergunta de se a economia espanhola vai bem, temos que descrever que é isso da economia e que se entende por Estado espanhol.

Falando em termos singelos, a economia é a capacidade de eleger e possuir bens e serviços num mundo de escassez. Neste sentido, a minha economia vai bem em 2014, se tenho mais disposições crematísticas, e, também, em conseqüência, se estou menos empenhado e/ou se ganho mais. A economia pode ser privada, que compreende as famílias e as empresas privadas, ou pública, que integram as instituições de poder e a empresa pública.  Tendo em conta estas premissas, cumpre realizar uma breve análise dos agentes econômicos tanto privados como públicos para poder dilucidar se a economia vai bem.

As famílias produzem bens e serviços e, por esta produção recebem uma compensação em dinheiro fundamentalmente e em muita menor medida em espécie. A maior parte das famílias trabalham por conta alheia, quer dizer, aquela pessoa que, “voluntária e pessoalmente, está obrigada a realizar, ou efetivamente realiza, uma atividade retribuída por conta e dependência alheias” (ET, art. 1), para um empresário, quer privado quer público, e uma parte menor por conta própria, que compreende “toda pessoa natural residente no país da que os ingressos provenham numa proporção igual ou superior a um oitenta por cento (80 %) da realização duma das atividades econômicas sinaladas no Capítulo II do Título V do Livro I do Estatuto Tributário”. Além dos grupos anteriores, existe um grupo mui importante de pessoas que já não trabalham mas aos que se lhe detraiu uma parte do seu salário entretanto estiveram ativos, para pagar-lhe uma remuneração sob forma de pensão. Dos que trabalham por conta alheia, uns 2.990.000 prestam serviço nas administraões públicas e o resto até os 16.550.00 trabalham para o sector privado. As condições laborais no sector público são muito melhores enquanto a estabilidade no emprego, autonomia pessoal e retribuição econômica. Como conseqüência da crise, os primeiros têm o seu salário congelado desde faz já uns anos, e os segundos viram diminuídas as suas retribuições e minguados, até limites impensáveis faz uns anos, os seus direitos laborais, acossados por uns empresários que aproveitam a situação de crise para submetê-los a uma dura exploração.

As crises econômicas, antes da desafortunada adesão ao euro, resolvia-se com a desvalição do câmbio da moeda frente ao exterior, desprezando o seu valor. Tinha a vantagem de que os produtos que vendemos resultam mais baratos, e, por tanto, incrementa as exportações bens e serviços com o exterior, ao tempo que os produtos que compramos resultam mais caros e, por tanto, traduze-se em incremento dos preços interiores. Contudo, os cidadãos sempre suportaram melhor as crises que se resolveram com desvaliações monetárias que não implicaram tanto paro, dor, despejos, etc., que a atual crise, que já dura desde 2007, mais da metade do tempo em vigor do euro. Alguns diziam que esta crise, ao não poder desvaliar a moeda, polo corpete importo polo euro, havia que resolvê-la por uma desvalição interna, isto é, não mediante a desvalição da moeda, senão mediante a desvaliação de preços e salários. Na realidade, tão-pouco se recorreu a esta via, senão a uma desvaliaçao de salários e um incremento constante de preços e de tributos, que terminaram por afogar aos cidadãos das classes médias e baixas, ao tempo que favoreceu o poder extrativo das grandes empresas, e conseqüentemente das oligarquias, criando umas desigualdades sociais escandalosas..  


Tendo em conta o anterior, imos analisar os diversos agentes econômicos para ver como suportam a crise. Polo que diz respeito ás famílias, cada uma deve, em primeiro lugar, analisar-se a si mesma para ver se vai melhor, e a seguir analisar o nosso entorno, e, a partir de ai, considerar se o que passa na nossa família e no nosso entorno ou nicho  econômico se pode extrapolar aos demais. Polo que a mim se refere, acho que a minha pensão segue, um ano mais, congelada e, por tanto, que, por incremento do IPC (Índice de Preços ao Consumo) e o incremento dos impostos tanto diretos como indiretos, estou a perder poder aquisitivo, e isso mesmo lhe acontece á minha esposa e a todos os que somos pensionistas neste país, ou seja, um total de 9 milhões dous centos cinqüenta mil em 2014. Alem disso, o número de pessoas ocupadas quotizantes, que são as que pagam as pensões atuais, não se incrementa senão que tende a diminuir ou manter-se estável, ou, no melhor dos casos, medrar mui moderadamente, ao tempo que se incrementa cada ano o número de pensionistas. Do qual resulta que a relação entre quotizantes, neste momento de 16.523.000,  e pensionistas, a esta altura de 1,79 quotizantes por pensionista, tende a diminuir. Isto tem como conseqüência que se não se detrai dinheiro doutras partidas ha que recorrer a outras vias de financiamento das pensões ou deixá-las em queda livre. Uma das alternativas é o recurso á ucha das pensões, que, em julho de 2013, contava com 59 mil milhões de euros, dos que devem detrair-se o que se sacou a finais de 2013 e neste ano de 2014. É um colchão limitado e que tende a desaparecer se o ciclo econômico não muda, e, por tanto, ha que complementá-lo ou substituí-lo por outra fonte distinta, a um prazo breve de tempo, salvo que opte pola segunda alternativa e se deixem as pensões em queda livre, com efeitos nefastos para todos os que somos pensionistas, e ao nosso direito de ser compensados pola nossa contribuição pecuniária ao sistema entretanto trabalhávamos. Por tanto, uns 9 milhões e médio de pessoas estão pior.

Os perto de 13 milhões quatrocentos mil, que têm a sorte de trabalhar por conta alleia, estão observando que o seu soldo está, ou bem congelado, como é o caso do sector público, ou em processo de diminuição, como acontece na empresa privada, e que os preços de todos os produtos estão a aumentar, do qual se segue que se vem numa situação de afogamento. Empiora esta situação uma reforma laboral que os deixou sem direitos e a mercê do arbítrio empresarial, que os pode despedir em qualquer momento, impedindo-lhe o mantimento da família e/ou a planificação dum projeto vital minimamente digno. Isto tem como conseqüência que miles e miles de pessoas se vem obrigadas a perder a sua vivenda, deixando a miles de famílias á intempérie, como efeito duma política de austeridade homicida. No primeiro semestre deste ano já perderam a vivenda umas 26 mil quinhentas pessoas ou famílias. É certamente dramático para qualquer país que se preze. A última  ocorrência para afogar ainda mais á classe trabalhadora, proveniente dos gurus do BBVA consiste em obrigá-los a contribuir a pagar a indenização do seu próprio despedimento, ou seja, facilitar que o empresário poda prescindir ainda mais facilmente dos seus serviços e se veja abocado ao paro. Estes gurus sempre buscam como rapinar em casa alheia para preservar as suas enormes ganâncias em vez de analisar a própria casa e as retribuições multimilionárias do seu staff diretivo. É escandaloso que muitos dos presidentes destas entidades, posta a dedo muitas vezes polo poder político, tenham salários de vários milhões de euros, que não se justifica por nenhum conceito, acompanhados de indenizações também multimilionárias em caso de abandonar o cargo e de suculentas pensões vitalícias.  Esta é uma ofensa ao entendimento e á cidadania. É ainda muito mais grave se temos em conta que as mencionadas retribuições não se ligam nem á solvência da entidade nem aos benefícios conseguidos polos acionistas, e que foram fixadas por decisões dos próprios órgãos corporativos, aproveitando-se do seu controlo da entidade.   

Os empresários, com a cumplicidade dos seus porta-vozes políticos, que são os governantes de turno, convertidos em meros gestores dos seus interesses, em vez de dedicar-se a procurar o saneamento das suas empresas, que lhe estão custando o olho da cara aos cidadãos, pola sua incompetência e rapacidade, da sua viabilidade a longo praço e de dar-lhe crédito a famílias e empresas, que é o seu cometido, dedicam-se a especular e ver as maneiras de incrementar as suas contas de benefícios em contra dos elementares direitos cívicos e laborais dos trabalhadores. Isto mesmo foi o que fez o Banco de Espanha tanto na época de Fernández Ordoñez como na de Linde. Estavam obsessionados em anular os direitos dos trabalhadores e, especialmente com flexibilidade do sistema laboral que nunca significou outra cousa que o seu despedimento fácil e barato, ao tempo que se montavam uma couraça para blindar indenizações e pensões descabeladas, não foram capazes de supervisar nem de prever nada, ainda que si de favorecer o espólio das entidades polos seus diretivos. Isto implica que 13 milhões quatrocentos mil em números redondos, estão pior. São vítimas de mais paro. incremento de preços e tributos e menos ingressos e proteção social. Entre pensionistas e quotizantes á Segurança social, levamos já uma cifra acumulativa de 22.616.137 pessoas que estão pior.

O número de autônomos eleva-se a 3.090.838, dos quais perto do 79 por cento não têm nenhum assalariado ao seu cargo frente a um 21 por cento com eles, muitas vezes pequenas indústrias ou comércios com um ou dous empregados.

Tomado da Ceaje (Confederação Espanhola de Jovens empresários)


 Miles de empresas atendidas por autônomos viram-se obrigadas a fechar por efeito da crise, e miles delas estão agüentando como podem em espera de tempos melhores, que se saldaram muitas vezes com despedimentos de trabalhadores ao seu cargo. Uma sociedade de consumo, como é a atual, não pode sair adiante se se elimina a capacidade de consumo interior e essa diminuição não se ve compensada por um incremento paralelo semelhante nas exportações. No Estado espanhol, por efeito da desvaliação de salários e da incerteza de cara ao futuro, contraiu-se enormemente a capacidade aquisitiva, ao tempo que essa foi acompanhada por um estancamento das exportações.  Isto afetou a todos os sectores. No comércio, ao não poder tirar da economia o sector interior, provocou-se uma contração das compras e, em conseqüência das vendas, e uma míngua da atividade empresarial, e um incremento dos despedimentos de pessoal laboral. Na construção, não se construem vivendas e o trabalho escasseia, tanto para os armazéns de venda como para os técnicos -arquitetos, aparelhadores, delineadores, ... O sector turístico também viu como diminuíam o número de pernoitações e restaurações de visitantes; etc que se traduziu numa baixada de preços e um congelamento do número de instalações, ...; na agricultura, já não sabem que produzir: o preço do leite que se paga ao produtor, apenas compensa o custo dos pensos; a carne viu minguadas as suas exportações a partir de 2004, e os preços da carne em origem mantêm-se inalterados praticamente, ao tempo que os gastos das explorações se incrementam.



Tomado da Ceaje (Confederação Espanhola de Jovens empresários)

A crise do sector do comércio autônomo viu-se incrementada paralelamente, com a instalação de grandes superfícies que terminaram por arruinar a grande parte do comércio local, que gozava anteriormente de grande vitalidade e dinamismo. Venderam-nos este produto, afirmando que isso incrementaria o número de trabalhadores, mais o que fez foi substituir um empregador por outro e diminuir o número total de empregados. Por outra parte, as pequenas empresas tributavam na comunidade onde tinham o seu negócio, enquanto que a grandes superfícies, se não evitam a tributação pola engenharia fiscal, pagam os impostos afora. Tão pouco neste caso podemos dizer que se melhorasse. Temos já uma cifra acumulada de 25.706.975 pessoas ou famílias que não vão melhor.

Um grupo mui importante, e especialmente sangrante, é o dos parados. Segundo o inquérito da EPA (Inquérito de População Ativa), no terceiro trimestre de 2014, o número de parados elevava-se a 5.427.700 pessoas, das que 4.166.196 têm experiência laboral, e destes, só cobram prestação por desemprego 2.524.715, ou seja, o 60,6 por cento, a cobertura mais baixa desde 2007, e com tendência a diminuir, segundo dados oferecidos por CCOO: Prestações por desemprego. Evolução do gasto em 2014, em www.ccoo.es/.../1894601-... Se em vez de tomar como referência o número de trabalhadores com experiência, tomamos o total de trabalhadores em paro, a cobertura descende ao 46,52 por cento. Isto tem como conseqüência um incremento da desigualdade, injustiça social, e da pobreza, que já afeta gravemente a mais de tres milhões de pessoas, duplicando a quantidade de espanhóis que vivem com menos de 307 euros ao mês desde 2007, segundo o Observatório da Realidade Social de Caritas. As pessoas atendidas por esta ONG passaram de 1.900.000 em 2012 a 2.500.000 em 2013. Todo isto sucede ante a inoperância, indolência, indiferença  e insensibilidade do governo do PP, que olha para outro lado, porque o único que interessam são as oligarquias do país. Com este grupo dos parados acumulamos a cifra de aqueles aos que afeta negativamente a marcha da economia a 31.134.675 pessoas. As pessoas compreendidas entre esta cifra e a população total de 46 milhões de espanhóis, está constituído fundamentalmente por pessoas maiores que não cobram nenhuma pensão contributiva, menores de idade, pessoas inativas, ...

O PIB (Produto Interior Bruto) diminuiu em Espanha desde o ano 2009, um 6,7, mas continua sendo um país relativamente rico, se o comparamos com o de décadas anteriores, mas a pobreza e, em geral, o poder aquisitivo das classes baixas e médias diminuiu até extremos nunca observados neste país desde a década de 1960. Então eu gostaria de que se me explicasse como apesar de que a riqueza acumulada é muito maior que em décadas precedentes, a pobreza, a marginação e a exclusão social é muito maior. Isto, ao meu juízo, somente pode explicar-se por um incremento espetacular das desigualdades sociais, quer dizer, pola apropriação da riqueza coletiva por parte de certos sectores e grupos, em concreto, polo que se denominam as elites econômicas e políticas. As elites, propriamente ditas, ou seja elites diretivas, projetivas e prospectivas sempre escassearam no Estado espanhol mas proliferaram as elites extrativas -econômicas, políticas, religiosas-  e repressivas -o exército e os corpos repressivos policiais-, que foram as que dominaram a cena política. Isto explica que a história do Estado espanhol se poderia explicar perfeitamente a partir do sistema de apropriação da riqueza polas elites dirigentes citadas e da repressão exercida sobre a cidadania. Os louvores a Espanha como uma grande nação provêm precisamente dos sectores extrativos da sociedade.  

Cumpre sublinhar, ao falar das empresas, em primeiro lugar, que a todos nos interessa que as empresas vaiam melhor, e os anos que eu trabalhei na empresa privada insistim ante os trabalhadores muito neste ponto, pois, se a empresa vai mal, os trabalhadores sempre sairão prejudicados. Por tanto, o trabalhador tem a obriga moral de trabalhar, tanto na empresa privada como na pública. O descrédito desta última obedece precisamente a que o trabalhador, se as circunstâncias são propícias, tenderá a abusar. Em segundo lugar, que a iniciativa privada deve ser protegida e incentivada, porque é uma fonte de energia e de impulso para qualquer país, sem que isto seja óbice para que reservem para o poder público sectores estratégicos da economia, como o ensino, sanidade, energia, comunicações, etc. 

A crise atual intentou-se superar por meio dumas políticas que favorecessem o processo extrativo por parte das elites a partir da apropriação da riqueza polas elites econômicas -Banca, as grandes empresas do IBEX e outras não tão grandes, com a vã esperança de que ao final do processo as migalhas do pastel chegariam ás classes médias e baixas. Efetivamente, as empresas do IBEX 35 vão muito melhor mas a bonança não chega aos que suportam realmente a crise. O governo obrigou a cidadania a pagar os excessos da Banca, que são as responsáveis principais da crise, com uma falta de prospecção assombrosa, mas que agora se apresentam com as receitas para superá-la. Esta cidadania terá que pagar também os resultados da reestruturação que se traduz num oligopólio que anula toda competência e favorece a maridagem do binômio economia-política, para incrementar o processo extrativo.

Além do resgate á banca com uma quantidade que o mesmo Governo não quer concretizar exatamente, estas grandes empresas viram-se favorecidas por umas fabulosas subvenções desde os inícios da crise. Como dizíamos num artigo anterior, num informe da Agência Tributária de 2012, os inspetores de Fazenda sublinhavam que as grandes sociedades tributam menos que um mileurista. Em 2007, as empresas obtiveram uns benefícios históricos recorde mas quando declararam a Fazenda por esse ano a arrecadação caiu um 39 por cento, principalmente nas empresas que cotizam no IBEX, descenso que continuou em anos sucessivos, ajudado por decisões de Zapatero que, após uma reunião na Moncloa em dezembro de 2010, permitiu que os grandes grupos podam “aplicar-se em 2011 de golpe a liberdade de amortização dos seus investimentos sem ter que manter emprego. Também se concedeu que, por exemplo, as empresas espanholas podem investir no estrangeiro mediante filiais e á vez girar esses custos financeiros á matriz na Espanha para deduzir-se esses gastos e pagar menos1. Isto fez que a arrecadação no Imposto de Sociedades que no ano 2007 era de 44.824 milhões de euros, passasse a 16.611 milhões em 2011, frente a umas rendas do trabalho desse ano de 69.803 milhões de euros por IRPF. Considera a citada Agência que ha dous buracos no Imposto de Sociedades que haveria que tapar: limitar a dedução de gastos financeiros e a liberdade de amortização sem manter o quadro de pessoal.

A respeito do primeiro caso, dizem os inspetores, que muitos ingressos exteriores estão isentos do imposto ao tempo que podem deduzir os gastos financeiros realizados para obter esses ingressos. Isto faz mais rentável o investimento exterior, “fomentando a deslocação de empresas e a criação de emprego afora das fronteiras á custa dos empregos espanhóis”2. A liberdade de amortização constitui um adiamento indefinido e contínuo do Imposto de Sociedades a pagar a custo zero quando se realizam investimentos, com grave quebranto para as arcas públicas que somente obtêm ingressos quando os investimentos diminuem. Isto beneficia ás mui grandes empresas que representam o 0,2 por cento e acumulam o 60 por cento das deduções, em prejuízo das pequenas e medianas empresas (pemes) que são as principais criadoras de emprego. Aliás a supressão do requisito de mantimento do quadro de pessoal fez que o Estado subvencione e financie os ERES das grandes empresas.

Podemos observar que o informe dos técnicos de Fazenda é demolidor e supõe uma desqualificação por incompetência e por contrários aos interesses nacionais, os governantes que permitiram esta situação. É um claro expoente do funcionamento das portas giratórias e de que a crise não é filha de pais órfãos senão que teve pais claramente reconhecíveis e identificáveis. Isto permite concluir claramente que a imposição fiscal espanhola é claramente oligárquica.

 O 13/10/2014, El País publica a notícia de que a Comissão Européia obrigará a Espanha a devolver  ajudas de vários miles de milhões de euros em deduções fiscais a grandes empresas espanholas -Telefônica, Santander, Iberdrola, AXA, Abertis- por ser ilegais e contrárias ás leis da competência. Isto indica que a cidadania está vendo recortados os serviços em educação, sanidade, cultura, proteção social, etc. Pola detração desses recursos para apoiar as Grandes Empresas. Para ajudar a grandes empresas que praticamente não pagam nada ao fisco e resguardam o seu dinheiro em paraísos fiscais, para fazer-se ainda mais grandes e criar um enorme problema para o país em caso de que as suas políticas, como sucedeu tão a miúdo, não sejam exitosas.

O 16/11/2014 publica El País que a Fiscalia Anticorrupção, atendendo uma demanda apresentada pola Plataforma para un Nuevo Modelo Energético, está investigando se o Governo do PSOE perdoou ás elétricas uma dívida de entre 2.500 e 3.500 milhões de euros por ter cobrado de mais aos consumidores polos Custos de Transição á Competência (CTC) apesar de que havia um informe favorável da Advocacia do Estado a que se reclamassem essas quantidades pagadas mais.  As CTC foram criadas em 1997 polo governo de Aznar para compensar as elétricas polos investimentos que lhes obrigou a fazer, de 36 euros por megavatio-hora produzido, com um tope de 8.600 milhões de euros, medida que foi criticada polo governo do PSOE na oposição, mas que ao chegar ao governo, numa clara maridagem entre economia e política da que os cidadãos pagam as conseqüências. O prazo para a reclamação desta dívida prescreveu em 2010.

A todas estas ajudas ha que incrementar as fabulosas quantidades percebidas polas empresas amigas inviáveis em forma de subvenções; a anistia fiscal para que pudessem lavar os resultados da sua apropriação os maiores chouriços do pais; as deduções tributárias, que fazem cair o grande peso dos os serviços públicos no lombo dos cidadãos; os incrementos de preços unidos á deflação dos salários. Todo um sistema montado para favorecer o processo extrativo.

A respeito das contas públicas, ha um factor de enorme preocupação de cara ao futuro, que é incremento espetacular da dívida pública. Na Espanha ha uma descompensação histórica entre ingressos e gastos, salvo no período 2002-2007, em que se nivelaram ou inclusive, nos primeiros anos de Zapatero, houve um ligeiro superávit, que se caracteriza por uns ingressos por arrecadação fiscal no 2014 do 37 por cento, o mais baixo dos países desenvolvidos europeus, excetuando Luxemburgo, frente a uns gastos, neste mesmo ano, do 45 por cento, também entre os mais baixos de todos os países desenvolvidos europeus. Isto implica que não se arrecada o suficiente para fazer frente aos gastos, que é o que provoca o déficit e este a dívida pública. Isto pode solucionar-se da seguinte maneira: a) diminuindo os gastos, mantendo os ingressos; b) aumentando os ingressos mantendo constantes os gastos, ou c) aumentando os ingressos e diminuindo os gastos.

O governo do PP atuou sobre ambos; sobre os ingressos, incrementando a arrecadação para compensar a brecha entre ingressos e gastos, mas em vez de atuar sobre o fraude, economia submergida e sectores que não ou infra-tributam, como as grandes empresas, grandes fortunas e a Igreja, recarregou de impostos aos de sempre, ou seja, ás classes médias, via IRPF e IVA, taxas, e aos trabalhadores mas desfavorecidos, via IVA e taxas. Elevou assim o esforço fiscal dos espanhóis ao primeiro rango europeu, convertendo-nos nos europeus que pagam mais impostos em proporção ao salário que recebemos. Convém não confundir a pressão fiscal com o esforço fiscal. A primeira mede-se dividindo a arrecadação tributária polo PIB, Pressão fiscal = Ingressos fiscais*/ PIB e, por tanto, está em função da  atividade econômica e não tanto da suba de impostos, enquanto que o esforço fiscal representa o sacrifício fiscal que têm que fazer os contribuintes tendo em conta o seu nível de ingressos. obtém-se dividindo a pressão fiscal pola renda per capita: Esforço fiscal = Pressão fiscal/ Renda per capita. Segundo os técnicos de Fazenda da Gestha, se consideramos os impostos que suporta um espanhol polo IVA e Impostos Especiais, a pressão fiscal elevar-se-ia  no 2008 desde o 37 por cento ao 47,01, podendo inclusive superar o 50 % se acrescentamos os pagos médios dos impostos de sucessões e doações. Nos nossos dias, o esforço fiscal, incluindo o salário e custos da Segurança Social, que se descontam do soldo, eleva-se ao 50,40 por cento.

 Houve uma diferença notória entre a atuação dos EEUU, baseada no impulso da economia com medidas que incrementassem a gasto público, que permitissem preservar o sistema produtivo, e as receitas européias e do FMI que o destruíram e incrementaram o paro até cifras inassumíveis, como são os seis milhões de parados espanhóis, que obriga a incrementar as prestações por desemprego, diminui a tributação fiscal, deixa a milheiros de pessoas sem meios de subsistência, incrementa a morosidade bancária, restringe o gasto, que se traduz em menos emprego e crise de empresas, pode provocar problemas á sustentabilidade das pensões e, last but não least, incrementa até limites mui dificilmente suportáveis o déficit e a dívida pública que pode criar problemas de default, pois na atualidade, apesar do gigante esforço ao que se submete á cidadania o Estado está-se endividando em 60 mil milhões de euros anuais, acumulando um montante total de perto do 100 por cento do PIB, e que ultrapasa já o bilhão de euros. Em 2015, o Governo prevé destinar 35.490 millones de euros para estes gastos financeiros, um 12% mais que em 2014, que supõe perto de 100 milhões, e isto a longo prazo, se não ha crescimento suficiente, é impossível de pagar, razão pola qual muitos economistas e algum partido político ja recomendam que se reestruture a dívida pública para que a economia espanhola poda recuperar-se.  

Por tanto, se por Estado espanhol se entendem as elites oligárquicas, que incrementaram substancialmente a riqueza e o poder, evidentemente que Estanha vai melhor, mas se por Espanha entendemos o conjunto dos cidadãos, também é evidente que estamos a vê-las vir.
 
Finalmente, que Espanha não foi resgatada só é uma verdade a médias porque si foi resgatado o sector bancário e foi obrigada pola troika a tomar medidas que tiveram incidência em toda a economia.  

  



1.  «Un ‘chollo’ fiscal para la gran empresa», El País, 23/03/2012, p. 36.
2.  «Un ‘chollo’ fiscal para la gran empresa», El País, 23/03/2012, p. 36.

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