A economia do Estado espanhol vai melhor!
A mensagem que está
a transmitir a elite governante á cidadania, é que Espanha vai melhor
economicamente, que já se está iniciando a recuperação e que estamos medrando
mais que os nossos competidores da zona euro.
Imbuída desta
propaganda oficial faz uns dias dizia-me uma pessoa que Espanha vai muito
melhor, ao tempo que afirmava que esta política evitou que Espanha for
resgatada, e ficou surpreendida quando lhe disse que vai pior e que foi
resgatado o sector bancário com umas conseqüências tão daninhas como se fosse
toda a economia. Todos somos conscientes que, por efeito do quem alguns
denominam São Draghi, a prima de risco baixou mui substancialmente e que isso
permite que o Estado espanhol se financie muito mais barato, o qual é uma
notícia excelente, porque permite detrair dinheiro que deveria ir destinado a
pagar juros a outras finalidades. Mas para responder á pergunta de se a
economia espanhola vai bem, temos que descrever que é isso da economia e que se
entende por Estado espanhol.
Falando em termos
singelos, a economia é a capacidade de eleger e possuir bens e serviços num
mundo de escassez. Neste sentido, a minha economia vai bem em 2014, se tenho
mais disposições crematísticas, e, também, em conseqüência, se estou menos
empenhado e/ou se ganho mais. A economia pode ser privada, que compreende as
famílias e as empresas privadas, ou pública, que integram as instituições de
poder e a empresa pública. Tendo em
conta estas premissas, cumpre realizar uma breve análise dos agentes econômicos
tanto privados como públicos para poder dilucidar se a economia vai bem.
As famílias
produzem bens e serviços e, por esta produção recebem uma compensação em
dinheiro fundamentalmente e em muita menor medida em espécie. A maior parte
das famílias trabalham por conta alheia, quer dizer, aquela pessoa que, “voluntária
e pessoalmente, está obrigada a realizar, ou efetivamente realiza, uma
atividade retribuída por conta e dependência alheias” (ET, art. 1), para um
empresário, quer privado quer público, e uma parte menor por conta própria, que
compreende “toda pessoa natural residente no país da que os ingressos
provenham numa proporção igual ou superior a um oitenta por cento (80 %) da
realização duma das atividades econômicas sinaladas no Capítulo II do Título V
do Livro I do Estatuto Tributário”. Além dos grupos anteriores, existe um
grupo mui importante de pessoas que já não trabalham mas aos que se lhe detraiu
uma parte do seu salário entretanto estiveram ativos, para pagar-lhe uma
remuneração sob forma de pensão. Dos que trabalham por conta alheia, uns
2.990.000 prestam serviço nas administraões públicas e o resto até os 16.550.00
trabalham para o sector privado. As condições laborais no sector público são
muito melhores enquanto a estabilidade no emprego, autonomia pessoal e
retribuição econômica. Como conseqüência da crise, os primeiros têm o seu
salário congelado desde faz já uns anos, e os segundos viram diminuídas as suas
retribuições e minguados, até limites impensáveis faz uns anos, os seus
direitos laborais, acossados por uns empresários que aproveitam a situação de
crise para submetê-los a uma dura exploração.
As crises
econômicas, antes da desafortunada adesão ao euro, resolvia-se com a desvalição
do câmbio da moeda frente ao exterior, desprezando o seu valor. Tinha a
vantagem de que os produtos que vendemos resultam mais baratos, e, por tanto,
incrementa as exportações bens e serviços com o exterior, ao tempo que os
produtos que compramos resultam mais caros e, por tanto, traduze-se em
incremento dos preços interiores. Contudo, os cidadãos sempre suportaram melhor
as crises que se resolveram com desvaliações monetárias que não implicaram
tanto paro, dor, despejos, etc., que a atual crise, que já dura desde 2007,
mais da metade do tempo em vigor do euro. Alguns diziam que esta crise, ao não
poder desvaliar a moeda, polo corpete importo polo euro, havia que resolvê-la
por uma desvalição interna, isto é, não mediante a desvalição da moeda, senão mediante
a desvaliação de preços e salários. Na realidade, tão-pouco se recorreu a esta
via, senão a uma desvaliaçao de salários e um incremento constante de preços e
de tributos, que terminaram por afogar aos cidadãos das classes médias e
baixas, ao tempo que favoreceu o poder extrativo das grandes empresas, e
conseqüentemente das oligarquias, criando umas desigualdades sociais
escandalosas..
Tendo em conta o
anterior, imos analisar os diversos agentes econômicos para ver como suportam a
crise. Polo que diz respeito ás famílias, cada uma deve, em primeiro lugar,
analisar-se a si mesma para ver se vai melhor, e a seguir analisar o nosso
entorno, e, a partir de ai, considerar se o que passa na nossa família e no
nosso entorno ou nicho econômico se pode
extrapolar aos demais. Polo que a mim se refere, acho que a minha pensão segue,
um ano mais, congelada e, por tanto, que, por incremento do IPC (Índice de
Preços ao Consumo) e o incremento dos impostos tanto diretos como indiretos,
estou a perder poder aquisitivo, e isso mesmo lhe acontece á minha esposa e a
todos os que somos pensionistas neste país, ou seja, um total de 9 milhões dous
centos cinqüenta mil em 2014. Alem disso, o número de pessoas ocupadas
quotizantes, que são as que pagam as pensões atuais, não se incrementa senão
que tende a diminuir ou manter-se estável, ou, no melhor dos casos, medrar mui
moderadamente, ao tempo que se incrementa cada ano o número de pensionistas. Do
qual resulta que a relação entre quotizantes, neste momento de 16.523.000, e pensionistas, a esta altura de 1,79
quotizantes por pensionista, tende a diminuir. Isto tem como conseqüência que
se não se detrai dinheiro doutras partidas ha que recorrer a outras vias de
financiamento das pensões ou deixá-las em queda livre. Uma das alternativas é o
recurso á ucha das pensões, que, em julho de 2013, contava com 59 mil milhões
de euros, dos que devem detrair-se o que se sacou a finais de 2013 e neste ano
de 2014. É um colchão limitado e que tende a desaparecer se o ciclo econômico
não muda, e, por tanto, ha que complementá-lo ou substituí-lo por outra fonte
distinta, a um prazo breve de tempo, salvo que opte pola segunda alternativa e
se deixem as pensões em queda livre, com efeitos nefastos para todos os que
somos pensionistas, e ao nosso direito de ser compensados pola nossa
contribuição pecuniária ao sistema entretanto trabalhávamos. Por tanto, uns
9 milhões e médio de pessoas estão pior.
Os perto de 13
milhões quatrocentos mil, que têm a sorte de trabalhar por conta alleia, estão
observando que o seu soldo está, ou bem congelado, como é o caso do sector
público, ou em processo de diminuição, como acontece na empresa privada, e que
os preços de todos os produtos estão a aumentar, do qual se segue que se vem
numa situação de afogamento. Empiora esta situação uma reforma laboral que os
deixou sem direitos e a mercê do arbítrio empresarial, que os pode despedir em
qualquer momento, impedindo-lhe o mantimento da família e/ou a planificação dum
projeto vital minimamente digno. Isto tem como conseqüência que miles e miles
de pessoas se vem obrigadas a perder a sua vivenda, deixando a miles de
famílias á intempérie, como efeito duma política de austeridade homicida. No
primeiro semestre deste ano já perderam a vivenda umas 26 mil quinhentas
pessoas ou famílias. É certamente dramático para qualquer país que se preze. A
última ocorrência para afogar ainda mais
á classe trabalhadora, proveniente dos gurus do BBVA consiste em obrigá-los a
contribuir a pagar a indenização do seu próprio despedimento, ou seja,
facilitar que o empresário poda prescindir ainda mais facilmente dos seus
serviços e se veja abocado ao paro. Estes gurus sempre buscam como rapinar em
casa alheia para preservar as suas enormes ganâncias em vez de analisar a
própria casa e as retribuições multimilionárias do seu staff diretivo. É
escandaloso que muitos dos presidentes destas entidades, posta a dedo muitas
vezes polo poder político, tenham salários de vários milhões de euros, que não
se justifica por nenhum conceito, acompanhados de indenizações também
multimilionárias em caso de abandonar o cargo e de suculentas pensões
vitalícias. Esta é uma ofensa ao
entendimento e á cidadania. É ainda muito mais grave se temos em conta que as
mencionadas retribuições não se ligam nem á solvência da entidade nem aos
benefícios conseguidos polos acionistas, e que foram fixadas por decisões dos
próprios órgãos corporativos, aproveitando-se do seu controlo da entidade.
Os empresários, com
a cumplicidade dos seus porta-vozes políticos, que são os governantes de turno,
convertidos em meros gestores dos seus interesses, em vez de dedicar-se a
procurar o saneamento das suas empresas, que lhe estão custando o olho da cara
aos cidadãos, pola sua incompetência e rapacidade, da sua viabilidade a longo
praço e de dar-lhe crédito a famílias e empresas, que é o seu cometido,
dedicam-se a especular e ver as maneiras de incrementar as suas contas de
benefícios em contra dos elementares direitos cívicos e laborais dos
trabalhadores. Isto mesmo foi o que fez o Banco de Espanha tanto na época de
Fernández Ordoñez como na de Linde. Estavam obsessionados em anular os direitos
dos trabalhadores e, especialmente com flexibilidade do sistema laboral que
nunca significou outra cousa que o seu despedimento fácil e barato, ao tempo
que se montavam uma couraça para blindar indenizações e pensões descabeladas,
não foram capazes de supervisar nem de prever nada, ainda que si de favorecer o
espólio das entidades polos seus diretivos. Isto implica que 13 milhões
quatrocentos mil em números redondos, estão pior. São vítimas de mais paro.
incremento de preços e tributos e menos ingressos e proteção social. Entre pensionistas
e quotizantes á Segurança social, levamos já uma cifra acumulativa de 22.616.137
pessoas que estão pior.
O número de
autônomos eleva-se a 3.090.838, dos quais perto do 79 por cento não têm nenhum
assalariado ao seu cargo frente a um 21 por cento com eles, muitas vezes
pequenas indústrias ou comércios com um ou dous empregados.
Miles de empresas atendidas por autônomos
viram-se obrigadas a fechar por efeito da crise, e miles delas estão agüentando
como podem em espera de tempos melhores, que se saldaram muitas vezes com
despedimentos de trabalhadores ao seu cargo. Uma sociedade de consumo, como é a
atual, não pode sair adiante se se elimina a capacidade de consumo interior e
essa diminuição não se ve compensada por um incremento paralelo semelhante nas
exportações. No Estado espanhol, por efeito da desvaliação de salários e da
incerteza de cara ao futuro, contraiu-se enormemente a capacidade aquisitiva,
ao tempo que essa foi acompanhada por um estancamento das exportações. Isto afetou a todos os sectores. No comércio,
ao não poder tirar da economia o sector interior, provocou-se uma contração das
compras e, em conseqüência das vendas, e uma míngua da atividade empresarial, e
um incremento dos despedimentos de pessoal laboral. Na construção, não se
construem vivendas e o trabalho escasseia, tanto para os armazéns de venda como
para os técnicos -arquitetos, aparelhadores, delineadores, ... O sector
turístico também viu como diminuíam o número de pernoitações e restaurações de
visitantes; etc que se traduziu numa baixada de preços e um congelamento do
número de instalações, ...; na agricultura, já não sabem que produzir: o preço
do leite que se paga ao produtor, apenas compensa o custo dos pensos; a carne
viu minguadas as suas exportações a partir de 2004, e os preços da carne em
origem mantêm-se inalterados praticamente, ao tempo que os gastos das
explorações se incrementam.
![]() |
Tomado da Ceaje (Confederação Espanhola de Jovens empresários) |
A crise do sector
do comércio autônomo viu-se incrementada paralelamente, com a instalação de
grandes superfícies que terminaram por arruinar a grande parte do comércio
local, que gozava anteriormente de grande vitalidade e dinamismo. Venderam-nos
este produto, afirmando que isso incrementaria o número de trabalhadores, mais
o que fez foi substituir um empregador por outro e diminuir o número total de
empregados. Por outra parte, as pequenas empresas tributavam na comunidade onde
tinham o seu negócio, enquanto que a grandes superfícies, se não evitam a
tributação pola engenharia fiscal, pagam os impostos afora. Tão pouco neste caso
podemos dizer que se melhorasse. Temos já uma cifra acumulada de 25.706.975
pessoas ou famílias que não vão melhor.
Um grupo mui
importante, e especialmente sangrante, é o dos parados. Segundo o inquérito da
EPA (Inquérito de População Ativa), no terceiro trimestre de 2014, o número de
parados elevava-se a 5.427.700 pessoas, das que 4.166.196 têm experiência
laboral, e destes, só cobram prestação por desemprego 2.524.715, ou seja, o
60,6 por cento, a cobertura mais baixa desde 2007, e com tendência a diminuir,
segundo dados oferecidos por CCOO: Prestações por desemprego. Evolução do gasto
em 2014, em www.ccoo.es/.../1894601-... Se em vez de tomar como referência o número de trabalhadores com experiência, tomamos o total de trabalhadores em paro, a cobertura descende ao 46,52 por cento. Isto tem como conseqüência um
incremento da desigualdade, injustiça social, e da pobreza, que já afeta
gravemente a mais de tres milhões de pessoas, duplicando a quantidade de
espanhóis que vivem com menos de 307 euros ao mês desde 2007, segundo o
Observatório da Realidade Social de Caritas. As pessoas atendidas por esta ONG
passaram de 1.900.000 em 2012
a 2.500.000 em 2013. Todo isto sucede ante a
inoperância, indolência, indiferença e
insensibilidade do governo do PP, que olha para outro lado, porque o único que
interessam são as oligarquias do país. Com este grupo dos parados acumulamos a
cifra de aqueles aos que afeta negativamente a marcha da economia a 31.134.675
pessoas. As pessoas compreendidas entre esta cifra e a população total de 46
milhões de espanhóis, está constituído fundamentalmente por pessoas maiores que
não cobram nenhuma pensão contributiva, menores de idade, pessoas inativas, ...
O PIB (Produto
Interior Bruto) diminuiu em Espanha desde o ano 2009, um 6,7, mas continua
sendo um país relativamente rico, se o comparamos com o de décadas anteriores,
mas a pobreza e, em geral, o poder aquisitivo das classes baixas e médias
diminuiu até extremos nunca observados neste país desde a década de 1960. Então
eu gostaria de que se me explicasse como apesar de que a riqueza acumulada é
muito maior que em décadas precedentes, a pobreza, a marginação e a exclusão
social é muito maior. Isto, ao meu juízo, somente pode explicar-se por um
incremento espetacular das desigualdades sociais, quer dizer, pola apropriação
da riqueza coletiva por parte de certos sectores e grupos, em concreto, polo
que se denominam as elites econômicas e políticas. As elites, propriamente
ditas, ou seja elites diretivas, projetivas e prospectivas sempre escassearam
no Estado espanhol mas proliferaram as elites extrativas -econômicas,
políticas, religiosas- e repressivas -o
exército e os corpos repressivos policiais-, que foram as que dominaram a cena
política. Isto explica que a história do Estado espanhol se poderia explicar
perfeitamente a partir do sistema de apropriação da riqueza polas elites
dirigentes citadas e da repressão exercida sobre a cidadania. Os louvores a
Espanha como uma grande nação provêm precisamente dos sectores extrativos da
sociedade.
Cumpre sublinhar, ao falar das empresas, em primeiro lugar, que a todos nos interessa que as empresas vaiam melhor, e os anos que eu trabalhei na empresa privada insistim ante os trabalhadores muito neste ponto, pois, se a empresa vai mal, os trabalhadores sempre sairão prejudicados. Por tanto, o trabalhador tem a obriga moral de trabalhar, tanto na empresa privada como na pública. O descrédito desta última obedece precisamente a que o trabalhador, se as circunstâncias são propícias, tenderá a abusar. Em segundo lugar, que a iniciativa privada deve ser protegida e incentivada, porque é uma fonte de energia e de impulso para qualquer país, sem que isto seja óbice para que reservem para o poder público sectores estratégicos da economia, como o ensino, sanidade, energia, comunicações, etc.
Cumpre sublinhar, ao falar das empresas, em primeiro lugar, que a todos nos interessa que as empresas vaiam melhor, e os anos que eu trabalhei na empresa privada insistim ante os trabalhadores muito neste ponto, pois, se a empresa vai mal, os trabalhadores sempre sairão prejudicados. Por tanto, o trabalhador tem a obriga moral de trabalhar, tanto na empresa privada como na pública. O descrédito desta última obedece precisamente a que o trabalhador, se as circunstâncias são propícias, tenderá a abusar. Em segundo lugar, que a iniciativa privada deve ser protegida e incentivada, porque é uma fonte de energia e de impulso para qualquer país, sem que isto seja óbice para que reservem para o poder público sectores estratégicos da economia, como o ensino, sanidade, energia, comunicações, etc.
A crise atual
intentou-se superar por meio dumas políticas que favorecessem o processo
extrativo por parte das elites a partir da apropriação da riqueza polas elites
econômicas -Banca, as grandes empresas do IBEX e outras não tão grandes, com a
vã esperança de que ao final do processo as migalhas do pastel chegariam ás
classes médias e baixas. Efetivamente, as empresas do IBEX 35 vão muito melhor
mas a bonança não chega aos que suportam realmente a crise. O governo obrigou a
cidadania a pagar os excessos da Banca, que são as responsáveis principais da
crise, com uma falta de prospecção assombrosa, mas que agora se apresentam com
as receitas para superá-la. Esta cidadania terá que pagar também os resultados
da reestruturação que se traduz num oligopólio que anula toda competência e
favorece a maridagem do binômio economia-política, para incrementar o processo
extrativo.
Além do resgate á
banca com uma quantidade que o mesmo Governo não quer concretizar exatamente,
estas grandes empresas viram-se favorecidas por umas fabulosas subvenções desde
os inícios da crise. Como dizíamos num artigo anterior, num informe da Agência
Tributária de 2012, os inspetores de Fazenda sublinhavam que as grandes
sociedades tributam menos que um mileurista. Em 2007, as empresas obtiveram uns
benefícios históricos recorde mas quando declararam a Fazenda por esse ano a
arrecadação caiu um 39 por cento, principalmente nas empresas que cotizam no
IBEX, descenso que continuou em anos sucessivos, ajudado por decisões de
Zapatero que, após uma reunião na Moncloa em dezembro de 2010, permitiu que os
grandes grupos podam “aplicar-se em 2011 de golpe a liberdade de amortização
dos seus investimentos sem ter que manter emprego. Também se concedeu que, por
exemplo, as empresas espanholas podem investir no estrangeiro mediante filiais
e á vez girar esses custos financeiros á matriz na Espanha para deduzir-se
esses gastos e pagar menos”1. Isto fez que a arrecadação
no Imposto de Sociedades que no ano 2007 era de 44.824 milhões de euros,
passasse a 16.611 milhões em 2011, frente a umas rendas do trabalho desse ano
de 69.803 milhões de euros por IRPF. Considera a citada Agência que ha dous buracos
no Imposto de Sociedades que haveria que tapar: limitar a dedução de gastos
financeiros e a liberdade de amortização sem manter o quadro de pessoal.
A respeito do
primeiro caso, dizem os inspetores, que muitos ingressos exteriores estão
isentos do imposto ao tempo que podem deduzir os gastos financeiros realizados
para obter esses ingressos. Isto faz mais rentável o investimento exterior, “fomentando
a deslocação de empresas e a criação de emprego afora das fronteiras á custa
dos empregos espanhóis”2.
A liberdade de amortização constitui um adiamento
indefinido e contínuo do Imposto de Sociedades a pagar a custo zero quando se
realizam investimentos, com grave quebranto para as arcas públicas que somente
obtêm ingressos quando os investimentos diminuem. Isto beneficia ás mui grandes
empresas que representam o 0,2 por cento e acumulam o 60 por cento das
deduções, em prejuízo das pequenas e medianas empresas (pemes) que são as
principais criadoras de emprego. Aliás a supressão do requisito de mantimento do
quadro de pessoal fez que o Estado subvencione e financie os ERES das grandes
empresas.
Podemos observar
que o informe dos técnicos de Fazenda é demolidor e supõe uma desqualificação
por incompetência e por contrários aos interesses nacionais, os governantes que
permitiram esta situação. É um claro expoente do funcionamento das portas
giratórias e de que a crise não é filha de pais órfãos senão que teve pais
claramente reconhecíveis e identificáveis. Isto permite concluir claramente que
a imposição fiscal espanhola é claramente oligárquica.
O 13/10/2014, El País publica a notícia de que
a Comissão Européia obrigará a Espanha a devolver ajudas de vários miles de milhões de euros em
deduções fiscais a grandes empresas espanholas -Telefônica, Santander, Iberdrola,
AXA, Abertis- por ser ilegais e contrárias ás leis da competência. Isto indica
que a cidadania está vendo recortados os serviços em educação, sanidade,
cultura, proteção social, etc. Pola detração desses recursos para apoiar as
Grandes Empresas. Para ajudar a grandes empresas que praticamente não pagam
nada ao fisco e resguardam o seu dinheiro em paraísos fiscais, para fazer-se
ainda mais grandes e criar um enorme problema para o país em caso de que as
suas políticas, como sucedeu tão a miúdo, não sejam exitosas.
O 16/11/2014
publica El País que a Fiscalia Anticorrupção, atendendo uma demanda
apresentada pola Plataforma para un Nuevo Modelo Energético, está investigando
se o Governo do PSOE perdoou ás elétricas uma dívida de entre 2.500 e 3.500 milhões
de euros por ter cobrado de mais aos consumidores polos Custos de Transição á
Competência (CTC) apesar de que havia um informe favorável da Advocacia do
Estado a que se reclamassem essas quantidades pagadas mais. As CTC foram criadas em 1997 polo governo de
Aznar para compensar as elétricas polos investimentos que lhes obrigou a fazer,
de 36 euros por megavatio-hora produzido, com um tope de 8.600 milhões de
euros, medida que foi criticada polo governo do PSOE na oposição, mas que ao
chegar ao governo, numa clara maridagem entre economia e política da que os
cidadãos pagam as conseqüências. O prazo para a reclamação desta dívida
prescreveu em 2010.
A todas estas
ajudas ha que incrementar as fabulosas quantidades percebidas polas empresas
amigas inviáveis em forma de subvenções; a anistia fiscal para que pudessem
lavar os resultados da sua apropriação os maiores chouriços do pais; as
deduções tributárias, que fazem cair o grande peso dos os serviços públicos no
lombo dos cidadãos; os incrementos de preços unidos á deflação dos salários.
Todo um sistema montado para favorecer o processo extrativo.
A respeito das
contas públicas, ha um factor de enorme preocupação de cara ao futuro, que é
incremento espetacular da dívida pública. Na Espanha ha uma descompensação
histórica entre ingressos e gastos, salvo no período 2002-2007, em que se
nivelaram ou inclusive, nos primeiros anos de Zapatero, houve um ligeiro
superávit, que se caracteriza por uns ingressos por arrecadação fiscal no 2014
do 37 por cento, o mais baixo dos países desenvolvidos europeus, excetuando
Luxemburgo, frente a uns gastos, neste mesmo ano, do 45 por cento, também entre
os mais baixos de todos os países desenvolvidos europeus. Isto implica que não
se arrecada o suficiente para fazer frente aos gastos, que é o que provoca o
déficit e este a dívida pública. Isto pode solucionar-se da seguinte maneira:
a) diminuindo os gastos, mantendo os ingressos; b) aumentando os ingressos
mantendo constantes os gastos, ou c) aumentando os ingressos e diminuindo os
gastos.
O governo do PP
atuou sobre ambos; sobre os ingressos, incrementando a arrecadação para
compensar a brecha entre ingressos e gastos, mas em vez de atuar sobre o
fraude, economia submergida e sectores que não ou infra-tributam, como as grandes
empresas, grandes fortunas e a Igreja, recarregou de impostos aos de sempre, ou
seja, ás classes médias, via IRPF e IVA, taxas, e aos trabalhadores mas
desfavorecidos, via IVA e taxas. Elevou assim o esforço fiscal dos espanhóis ao
primeiro rango europeu, convertendo-nos nos europeus que pagam mais impostos em
proporção ao salário que recebemos. Convém não confundir a pressão fiscal com o
esforço fiscal. A primeira mede-se dividindo a arrecadação tributária polo PIB,
Pressão fiscal = Ingressos fiscais*/ PIB e, por tanto, está em função da atividade econômica e não tanto da suba de
impostos, enquanto que o esforço fiscal representa o sacrifício fiscal que têm
que fazer os contribuintes tendo em conta o seu nível de ingressos. obtém-se
dividindo a pressão fiscal pola renda per capita: Esforço fiscal = Pressão
fiscal/ Renda per capita. Segundo os técnicos de Fazenda da Gestha, se
consideramos os impostos que suporta um espanhol polo IVA e Impostos Especiais,
a pressão fiscal elevar-se-ia no 2008
desde o 37 por cento ao 47,01, podendo inclusive superar o 50 % se
acrescentamos os pagos médios dos impostos de sucessões e doações. Nos nossos
dias, o esforço fiscal, incluindo o salário e custos da Segurança Social, que
se descontam do soldo, eleva-se ao 50,40 por cento.
Houve uma diferença notória entre a atuação
dos EEUU, baseada no impulso da economia com medidas que incrementassem a gasto
público, que permitissem preservar o sistema produtivo, e as receitas européias
e do FMI que o destruíram e incrementaram o paro até cifras inassumíveis, como
são os seis milhões de parados espanhóis, que obriga a incrementar as
prestações por desemprego, diminui a tributação fiscal, deixa a milheiros de
pessoas sem meios de subsistência, incrementa a morosidade bancária, restringe
o gasto, que se traduz em menos emprego e crise de empresas, pode provocar
problemas á sustentabilidade das pensões e, last but não least, incrementa até
limites mui dificilmente suportáveis o déficit e a dívida pública que pode
criar problemas de default, pois na atualidade, apesar do gigante esforço ao
que se submete á cidadania o Estado está-se endividando em 60 mil milhões de
euros anuais, acumulando um montante total de perto do 100 por cento do PIB, e
que ultrapasa já o bilhão de euros. Em 2015, o Governo prevé destinar 35.490
millones de euros para estes gastos financeiros, um 12% mais que em 2014, que
supõe perto de 100 milhões, e isto a longo prazo, se não ha crescimento
suficiente, é impossível de pagar, razão pola qual muitos economistas e algum
partido político ja recomendam que se reestruture a dívida pública para que a
economia espanhola poda recuperar-se.
Por tanto, se por Estado espanhol se entendem as elites oligárquicas, que incrementaram substancialmente a riqueza e o poder, evidentemente que Estanha vai melhor, mas se por Espanha entendemos o conjunto dos cidadãos, também é evidente que estamos a vê-las vir.
Por tanto, se por Estado espanhol se entendem as elites oligárquicas, que incrementaram substancialmente a riqueza e o poder, evidentemente que Estanha vai melhor, mas se por Espanha entendemos o conjunto dos cidadãos, também é evidente que estamos a vê-las vir.
Finalmente, que
Espanha não foi resgatada só é uma verdade a médias porque si foi resgatado o
sector bancário e foi obrigada pola troika a tomar medidas que tiveram
incidência em toda a economia.
No hay comentarios:
Publicar un comentario