22 ene 2015

Um Beiras patético

Beiras e Iolanda Díaz

Creio que á figura venerada de Beiras lhe sobrou amplamente o epílogo da sua etapa política. Cegou-o o seu anseio de protagonismo social e político e não soube retirar-se a tempo do primeiro plano da cena pública, e agora está dando umha uma imagem patética que nos enche de carragem a muitos por considerar que não está á altura das expectativas e consideração política que tínhamos depositado nele. Numa entrega anterior já expus o que pensava da sua grande transgressão, por utilizar as suas palavras, que consistiu em desprezar o pacto com as formações nacionalistas e arrimar-se e ressuscitar opções espanholistas faz tempo fenecidas. Remito a essa entrega ao leitor interessado nesta questão.

Na campanha das eleições para o Parlamento Europeu, um dos argumentos esgrimidos por José Manuel para coligar-se com EU em vez de fazê-lo com o BNG foi que isso lhes permitiria entrar em contacto com as esquerdas européias. Patético! Agora deveria expor-nos as vantagens que obteve para Galiza esse cacarejado contacto, se é que teve algum, mas o que si fez foi debilitar notoriamente o posicionamento da Galiza. Lídia Senra não representa a Galiza senão os interesses de IU e os espanholistas na Europa,

No dia de ontem, 21/01/2015 fizeram-lhe uma entrevista numa televisão galega, na que se abordou o modelo de sociedade e o modelo de Estado. A uma pergunta dum tertuliano, formulou o princípio básico: «Não pode haver libertação na Galiza se não ha libertação nacional», que subscrevo totalmente. Mas as esquerdas espanholistas não vão libertar a Galiza, porque os interesses do nacionalismo espanhol são diametralmente opostos aos do nacionalismo galego, tanto polos seus interesses como pola sua legitimidade e dinâmica próprias, que são mui distintas num e noutro caso. O nacionalismo espanhol sempre foi e sempre tenderá a ser expansivo e negador dos direitos dos povos que convivem na Espanha, embora que com matizes nas suas formas, nuns casos mais democráticas que noutros. Não é capaz de apresentar políticas que redundem nos interesses da Galiza porque isso precisaria medidas tomadas desde e para Galiza, e não desde Madrid e em benefício das oligarquias espanholas, incrementado polo fato de que o Estado espanhol foi sempre mui corrupto. Os interesses do nacionalismo galego orbitam na defesa dos direitos duma nação negada e empobrecida por umas políticas que a prejudicam em benefício alheio. Todo isto conhece-o mui bem o Sr. Beiras, e deveria extrair a conclusão de que a maridagem com ele é pouco recomendável a partir do princípio básico que ele assume, mas em vez disso, alegou, após reconhecer que o BNG chegou a uma síntese equilibrada entre a questão nacional e questão social, ou o que é o mesmo, entre o modelo de sociedade e o modelo de estado, que neste momento histórico de crise ha que inclinar a balança pola questão social, ou seja reforçar o nacionalismo espanhol de esquerdas que depois tem como conseqüência de que se faça inviável a libertação nacional.  Patético! Em declarações anteriores manifestara que chegara a convicção de que ir de ganchete com Izquierda Unida lhe permitiria alcançar o federalismo para Galiza porque a independência é inviável pola falta de apoio cidadão, mas parece que agora o problema é a crise, que ele utiliza como pretexto para o seu salto no vazio e cara a nenhures.

Pretende justificar a sua coligação com os de Esquerda Desunida apoiando-se na coligação do Partido Galeguista de Castelao e Bóveda com o Frente Popular, mas parece esquecer que a coligação propugnada por Castelao se realizou com uma alternativa que estava em disposição de conceder-lhe a Galiza o que prometia, que era a aprovação do Estatuto de Autonomia, como assim se fez, mentes que Izquierda Desunida não está em disposição de aprovar nada que favoreça a este país, e neste momento é já mais um projeto histórico e uma opção fracassada, pola irrupção de Podemos e polos méritos próprios de desunião e rifa constantes. Por outra parte, Castelao nunca postergou a coligação com opções galeguistas em aras do puro pragmatismo eleitoralista, como fez o Beiras, como se demonstra pola áceda crítica que lhe dirigiu a Nogueira quando pactuou com a Esquerda Unida de Anjo Guerreiro. Creio, por tanto, que não deveria pronunciar em balde o nome do ilustre e merecidamente venerado político rianjeiro.

José Manuel é um home tremendamente teimoso e continua a propugnar como opção de futuro a sua frente ampla, apesar de que, neste momento, a viagem com IU não soma senão que mais bem resta, de que contradiz o princípio básico fundamental acima expressado e de que Anova demonstrou sobejadamente que não é capaz de integrar nada, nem os quatro gatos que a integravam, com perdão para os gatos, e que não fez senão reproduzir mui incrementado o pior defeito do BNG que é o controle monolítico da organização e a exclusão do desviante. Os demais, como é natural, não estão dispostos a suicidar-se e a Deus graças.

Ontem alguns dos contertúlios manifestaram-lhe que lhe fez muito dano ao nacionalismo galego, e penso que com toda razão, pois não ha nada que o tiver prejudicado mais que o fato de que o seu antigo líder, parece que só por rabechas pessoais e por interesses eleitorais de curto alcanço, lidera-se uma cruzada, digna de melhor causa, em contra da sua antiga organização, e, de resultas contra todos os que luitamos porque na Galiza também brilhe o sol. No resto da sua vida tem mui difícil reparar o dano causado, fazer propósito de emenda e cumprir a penitência polo pecado de falhar-lhe a tantos que tanto o apoiamos e ajudamos a ascender ás mesmas proximidades do Olimpo.


  

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