11 mar 2016

Os enredos lingüísticos do PSOE de Pedro Sánchez




 Dizia Wittgenstein, na sua segunda etapa, que a filosofia tem uma função terapêutica, que consiste em esclarecer as proposições vagas da linguagem, “de reforma para fins práticos particulares, de melhora da nossa terminologia destinada a previr os mal-entendidos na sua prática”. E resumia o seu pensamento do seguinte jeito: “qual é o teu objetivo em filosofia? Mostrar á mosca o orifício de saída da botelha”. Considera a filosofia analítica que os problemas metafísicos se originam por um uso inadequado da linguagem, e que estes problemas não há que resolvê-los, porque não são problemas autênticos, senão dissolvê-los, mostrando como se originaram.

O que a filosofia analítica aplica aos problemas metafísicos podemos extrapolá-lo aos problemas religiosos, políticos e econômicos, que compartem com a metafísica o traço de que não são ciências estritas, senão que encerram grande dose de valores. Todas defendem uns determinados fins, certos valores, e enredam o seu razoamento em malabarismos lingüísticos que, em vez de aclarar, o que fazem é camuflar os próprios objetivos, ofuscando a mente dos destinatários. Todas recorrem a uns métodos de persuasão próprios da mercadotecnia para procurar a fidelidade dos seus aderentes, que costumam acompanhar de ameaças tais como subas de preços, instabilidade social, terrores do inferno,... Cada passo se parecem mais as técnicas de política ás de venda de qualquer produto de consumo, como pode ser a de eletrodomésticos.

Um primeiro slogan que lançou o PSOE era que Podemos pretendia substituí-lo, o qual implicaria nada menos que o PSOE é um partido que não tem este objetivo e está para promover os seus adversários políticos. Disso concluir-se-ia logicamente que cumpre eliminar as eleições e substituí-las por sorteios. Uma vez que este slogan decaia, lançou-se o seguinte, que consiste em que as esquerdas não somam em contra dos seus desejos, e, por tanto, cumpre fazer uma política de centro que foi o que sempre fez o PSOE.

Em realidade, uma política de esquerdas autêntica é inviável no contexto histórico em que nos encontramos, porque o marco da globalização e o liberal europeu não o permitem. Em realidade, Podemos tão-pouco pretende aplicar uma política de esquerda radical senão de centro-esquerda tipo PSOE, mas corrigindo os vícios que este foi acumulando ao seu passo pelo governo. Em Portugal, a raiz da revolução dos cravos, o primeiro ministro Vasco Gonçalves pretendeu implantar uma política de esquerdas, mas já se encarregou rapidamente Alemanha de parar-se os pés indicando-lhe que essa política não era viável na Europa. Creio que é ilustrativo também o que lhe passou a Alexis Tsipras. O que si se pode fazer é uma política que evite o imenso oceano de corrupção em que estão imersos tanto o PP como o PSOE, que se incrementem até a média européia os ingressos públicos para reforçar o estado do bem-estar, que os não pagam ao fisco tenham que fazê-lo, aplicar medidas que desincentivem a deslocalização de empresas, que se suprima a conivência dos poderes econômicos e políticos, que se democratize a estrutura do Estado reconhecendo que não se pode manter os povos submetidos per saecula saeculorum pela força a um poder político que ignora os seus direitos a existir e decidir como governar-se e que relações querem manter com os demais. Não deixa de ser sintomático que o PSOE que historicamente sempre defendeu o direito de autodeterminação, como expusemos no artigo anterior titulado «Democracia para os nossos dias V», uma vez que pisou as moquetas dos palácios do Reino de Espanha, converte num tema tabu, não só defendê-lo, senão que outro partido permita que os povos podam pronunciar-se para saber que quer realmente a sua cidadania. Isto disfarça-se apelando a tópicos como que se defende o seu direito a decidir porque decidimos todos os espanhóis, que não o permite a Constituição Espanhola,...

Volvendo ao segundo slogan, se focamos a constituição dum governo em termos de esquerda e direita, é totalmente inviável um governo no Estado espanhol, mas se o focamos em termos de alternativas de direita e de centro direita, por uma parte, e de centro esquerda, pela outra, a cousa cambia. É evidente que os partidos de direita têm no Congresso mais deputados que os de Esquerda: PP: 123; C’s: 40; DiL: 8; PNV: 6. Total: 177, já sem contar Coligação Canária. Mas esta opção não é viável, salvo que se lhe una o PSOE, porque DiL nunca apoiaria um governo do PP pela obsessiva fustigação contra o seu autogoverno e por tê-lo convertido num apestado político, salvo que lhe ofereça contrapartidas que este não quer conceder, como poder celebrar um referendo. É evidente que o PSOE tem difícil unir-se ao PP e menos fazer presidente a Mariano Rajoy, porque seria já a sua defunção política. Aliás não seria já uma alternativa de direitas pura.

As esquerdas têm: PSOE: 90; Podemos: 69; IU: 2; ERC: 9. Total: 170. É evidente que não alcança os 176 precisos. Mas esta alternativa é viável se se lhe une o PNV, que daria 167 deputados, sempre que se abstenham ERC e DiL. Mas o PSOE nem sequer deseja intentá-lo porque não quer perder o pedigree do E do seu Logotipo, ou seja, o seu espanholismo até as nádegas. O resultado é que, como fruto da incapacidade dos partidos políticos para resolver os problemas, têm os habitantes de todos os povos do Estado espanhol num beco sem saída, e intentam disfarçar essa falta de vontade política com a propaganda contra os partidos que não querem desnaturalizar o seu projeto político, mantendo eles as linhas vermelhas do seu. Do que se trata é de premer o outro e apresentá-lo como o mau da película para procurar manter, mediante a manipulação e a intoxicação, o favor da cidadania. Isto explica a campanha hostil dalguns meios da capital do Reino contra a formação morada.        

        

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