O PSOE, irreconhecível para a mãe que o pariu,
começou uma deriva cara a sua própria autodestruição. Não sabemos se os seus
aderentes chegarão á luta física corpo a corpo, como já lhe temos visto a este
partido na cidade de Vigo, mas os ódios e as tensões são já irreconciliáveis.
Nunca se vira até o momento que se chegara a tais níveis de assédio ao máximo
líder duma formação política, e, surpreendentemente, precisamente por aqueles
que o nomearam, e que parece que só pretendiam ter um boneco de pantalha ao que
poder derrubar enquanto se considere que as conveniências particulares o
aconselhassem.
A máxima responsável do nomeação de Sánchez foi
a líder andaluza Susana Diaz á que parece que alguns a consideram, critério
compartilhado por ela mesma, como um gênio da política, apesar de que até o
momento não tiver feito nada de especial relevância e se dedica-se a espalhar
trivialidades urbi e orbe. Caracteriza-se por ser da tendência mais
conservadora e jacobinista do partido, e por amostrar uma grande animosidade
contra Podemos. É, sem dúvida, a mais favorável a pôr em marcha a grande
coligação, seguindo as diretrizes de Felipe González.
Eu nunca fui partidário de Pedro Sánchez, mas
si observei que o partido ia á deriva sem rumo a nenhuma parte, mas, reconhecendo
que ele fosse o responsável da desfeita, a primeira á que pediria responsabilidades
é a líder andaluza, porque eu considerava que Madina era um candidato melhor
para dirigir o partido. Pediria também responsabilidades ao Comitê Federal por
ter-lhe posto um corpete a Pedro Sánchez, na reunião do 19 ou 30 de dezembro de
2015, para que não pudesse pactuar nem com populismos, eufemismo malévolo para
referir-se a Podemos, nem com o PP, nem com independentistas, ou seja, para que
bloqueasse qualquer saída institucional aos resultados eleitorais do 20 D. De ai véu que o PSOE pactuasse com C’s um
governo inviável e que tivesse que recorrer á propaganda para premir a Podemos
para que o aceitasse o prato pré- cozinhado ou, em caso contrário, convertê-lo
no máximo culpável da repetição das eleições.
Também pediria responsabilidades a Zapatero por
ter dado uma viragem de 180 graus na política espanhola para acomodá-la ás
diretrizes das oligarquias européias e dos seus gerentes políticos, a tróica e,
em especial, a Sra. Merkel, sumindo, deste modo, na miséria e no paro a milhões
de pessoas. Também lhe pediria responsabilidades por tomar a iniciativa para
reformar, a velocidade de vertigem, o artigo 135 da constituição, e todo isto sem
consulta prévia á cidadania, para congraçar-se com os setores oligárquicos, e
com grande regozijo do seu máximo representante em Espanha, o Sr. D. Mariano
Rajoy.
Esta política hostil ás maiorias sociais foi a
que propiciou o surgimento e ascenso de Podemos, obedecendo a uma necessidade
de ferro e não a brincadeiras ou cabriolas da cidadania, que vai competir
eleitoralmente para ocupar o espaço que abandonou o PSOE. Isto, unido á
corrupção vigorante durante a última etapa dos governos de Felipe González,
propiciou, também como uma necessidade de ferro o descenso eleitoral do PSOE, e
inclusive muitos nos perguntamos como foi capaz de resistir tanto, á vista das
políticas aplicadas e quando os inquéritos lhe eram muito mais desfavoráveis.
No caso da Galiza, o PSOE seguiu uma linha de
fustigação com todos os seus potenciais coligados, e mui especialmente com o
BNG. Eu lembro que já lhe telefonara a este respeito ao então deputado
autonômico pela Corunha, Enrique Tello para dizer-lhe que os pactos com o PSOE
estavam a ser um cancro para o BNG, que não tardaram em produzir a sua deriva
eleitoral. Foi bem eloqüente também o que passou durante o governo do
bipartito, no que o conselheiro Pachi Vázquez se dedicou a combater o concurso
eólico promovido pelo BNG. Agora tampouco a colaboração com Em Maré deixa muito
que desejar.
Outra constante na atuação do PSOE foi o
reforço do seu espanholismo, que teve como principal inspirador a Felipe
González. De ser um partido que defendera historicamente o direito de
autodeterminação, desde a transição política de 1978 comparte as teses mais
centralizadoras com o PP e converte um direito coletivo dos povos em linha
vermelha para qualquer pacto, impedindo uma solução democrática ao problema
territorial do Estado. Dizia ontem Emiliano Garcia Page que o PSOE deve traçar
junto com o PP as linhas gerais da política espanhola, mas, se isto é assim, e
isto foi o que véu fazendo na prática até agora, o único que poderiam acordar
com os coligados da esquerda e com os nacionalistas seriam as miudezas, dando
lugar a que os nacionalistas gritassem nas manifestações: “PSOE, PP, a mesma
m... é”. O normal é que baixasse em todas as comunidades autônomas que a
constituição chama nacionalidades, porque é também um partido alienígena que
não dá assumido a realidade plurinacional do Estado.
Não sei se movido pela defesa dos seus
interesses pessoais, o caso é que o Felipe González é o máximo defensor da
abstenção com o PP, e, por tanto, da
grande coligação, mas quiçá deveria pensar também os riscos que corre, porque
isso justifica que se acuse ao seu partido, e, em concreto á socialdemocracia, de
não ter política própria e assumir a política das oligarquias, e, como se sabe,
nestes casos, é melhor seguir o original, quer dizer, a direita, e não uma
cópia.
Tendo em conta todo o que levamos dito, creio
que a responsabilidade dos resultados eleitorais é todo um partido á deriva
desde faz muitos anos, que aplicou uma política oposta á que figurava nos seus
programas e á que os seus eleitores esperavam dele. Considero que os resultados
não são nem muito menos catastróficos, e que a surpresa e enfado dos
socialistas se deve mais bem a uma falta de contacto com a realidade e a não
querer aceitar que as decisões erráticas e erradas terminam por ter
conseqüências, também para eles. Agora o votante da esquerda não tem outra
alternativa que olhar cara a Podemos para ver se este é a solução, ao tempo que
o PP já pode esperar a que os socialistas do PSOE, mentes se desolham privada e
publicamente, lhe abram o caminho para governar outros quatro anos mais, e
Rajoy já pode fumar tranquilamente outro puro mais mentes olha de esguelha a
desfeita no campo inimigo.
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