Um nacionalista galego, e considero como tal a alguém
que parta da defesa do direito de autodeterminação, ou seja, do direito a
decidir o nosso futuro em liberdade e sem intromissões alheias, como qualquer
país normal, tem opções mui limitadas de voto, se por opção se entende um
projeto sólido com capacidade de mobilizar a um setor relevante da população e com
capacidade de incidir no devir duma comunidade, sobre todo nesta fase em que
parece que se avizinham câmbios institucionais importantes.
Um nacionalista galego não pode por menos de sentir-se
mui arredado do PPG, sucursal dum partido sumido na corrupção, com escassa
vocação democrática e com um programa para Galiza subordinado á sua organização
matriz. É bem ilustrativo desta
subordinação a falta de impulso ao autogoverno durante os anos de mandado de
Feijoo, que não só não teve interesse em dotar-se de novas competências, senão
que nem sequer foi capaz de exercer as que já figuram no seu estatuto, como se
pôs de relevo no que se refere ás caixas de aforro e na crise do setor
ganadeiro. A política lingüística seguida pelo governo galego durante a etapa
autonômica é também mui eloqüente deste sucursalismo. Seguindo as diretrizes
marcadas desde a FAES empreendeu-se uma campanha contra a língua própria do
país que teve efeitos nefastos de cara á sua recuperação social. Abeirou-se
mesmo a legislação que estabelece que o objetivo é conseguir que exista uma
igualdade real entre a língua oficial do Estado e a língua própria da Galiza, e,
aproveitando-se da situação de desprestígio de que foi objeto o galego desde o
século XV, impôs uma normativa que lhe impede progredir socialmente, recordando
a regimes colonialistas, opõe-se á legislação internacional assinada pelo
Estado espanhol e é um claro exemplo de desprezo para a língua própria do país.
Este descalabro completou-se faz uns dias com a notícia de que ia blindar os
direitos dos espanhóis falantes com a norma de que o governo da Xunta responderá
na língua em que o cidadão se dirige á Xunta, o qual, tendo em conta que a
percentagem de galegos que saibam falar e escrever na língua própria é
minoritária, garantiria diminuir notavelmente a utilização do galego pelas
administrações públicas. Frente a esta falta de compromisso com o país, a
alternativa é envolver-se na sua bandeira e fazer demonstrações vãs de querença
ao país, que a nada comprometem. A nível econômico foi a vanguarda dos
recortes, que levou a que Guilherme Vázquez qualificasse ao chefe do governo galego
de Alberto I, o austero. Sobre a política a aplicar na nova etapa, a nível
institucional compromete-se a “afundar no
autogoverno; fazer mais eficientes as instituições e a administração autonômica”,
e no marco da defesa da atual constituição e estatuto, “a apoiar e defender todas aquelas medidas que contribuam a reforçar os
valores democráticos e autonomistas incorporados a ambos os textos legais”.
Esta posição já de por si bem raquítica, fica desvalorizada por uma praxe
política em contra do autogoverno de Galiza e da própria língua galega e
cultura.
Um nacionalista galego não pode tampouco aderir ao
PSdG, um partido sucursalista do PSOE, que participou na elaboração da LOAPA,
junto com a UCD e que a nível galego acorda o marco geral de atuação política
com o PP, e, ao igual que este, nega-lhe á Galiza a personalidade própria, e,
conseqüentemente, os direitos coletivos como povo, por exemplo o direito a
decidir. O único povo que tem direitos é o povo espanhol e os demais povos são
negados. Na atualidade está sumido em lutas internas entre os diversos setores
que problematizam o seu futuro. Defende a reforma do estatuto galego para dotar
a Galiza dum estatuto do primeiro nível, frente aos que a converteram numa
comunidade de segunda categoria. “Um
Estatuto que reconheça a identidade nacional galega, recolhida nos símbolos de
Galicia”. A nível educativo defende um modelo plurilíngüe no que “o alunado alcance competências plenas tanto
em galego, língua própria de Galícia, como em castelhano, e onde a capacitação
em línguas estrangeiras seja também uma realidade”, que nos lembra a
política seguida pelo PPG.
A formação Em
Maré é uma conjunção de espanholismo e nacionalismo galego que acordou primar o
problema social sobre o problema nacional como se fossem dous problemas
incompatíveis. Atualmente a sua matriz espanholista, que está formada por
Podemos e Izquierda Unida, está numa situação de refluxo eleitoral e pode que os
seus sonhos dum câmbio na estruturação do Estado espanhol se vejam postergados
no tempo. Além disso, cumpre ter presente que todo indica que terá que pactuar
com partidos jacobinistas como o PSOE e é mui difícil que as suas aspirações
máximas se vejam satisfeitas. Nestes momentos a incidência do nacionalismo
galego nesse projeto é mais bem limitada por ter ganhado as primárias Podemos
por ampla maioria. O programa incide principalmente no eido social ainda que
também reconhece os direitos nacionais da Galiza nos seguintes termos: “A Maré Galega reconhece o caráter nacional
da Galiza e o direito da cidadania galega a decidir livremente como
organizar-se internamente, como gerir os seus recursos e como relacionar-se com
outros povos. Queremos que este direito a decidir se exerça para construir,
sobre bases de estrita igualdade, um marco de convivência entre os diferentes
povos peninsulares”. Como vemos, a opção pela que vão lutar é o federalismo
peninsular, renunciando, como aspiração, á independência, e, por tanto, á
construção duma república galega independente. Tampouco precisa quais são os
distintos povos do Estado espanhol que se federariam: trata-se das quatro
nações: Catalunya, Euscadi, Galiza e Espanha, ou das dezessete autonomias, tal
como defende o PSOE e inclusive UPyD e Cidadãos. Esta última alternativa foi
rejeitada por Castelao por considerar que implicaria uma Espanha multiplicada
pelo sobre-peso dos povos espanhóis, que deixaria em clara desvantagem os
povos-nações. Um estado federal pode funcionar mui bem, e creio que Suíça é um
bom exemplo disso, ou ser um instrumento de uniformização de todos os povos que
se federam. Em geral, a experiência diz-nos que o federalismo tende á
uniformização, pela tendência do governo federal a acaparar competências em
detrimento dos estados federados, que foi o que passou no Estado espanhol. Em
Maré defende para Galiza poder decidi-lo todo, que o povo galego poda decidir
sobre a sua vida em comum e o seu futuro, uma banca pública, fazenda galega, soberania
alimentar, soberania cultural. Por tanto, aqui está implícito o direito de
autodeterminação, mas tanto Podemos como IU já disseram claramente que eles
excluíram a alternativa da independência.
No programa do BNG está muito mais presente o direito
de autodeterminação. Defende uma Galiza soberana tanto para autogovernar-se
como para decidir as relações com outros povos. Cumpre aclarar que soberania
não é igual a independência senão que inclui o direito de autodeterminação para
decidir livremente o próprio futuro, e essa decisão pode concretizar-se na
independência ou no federalismo, ou inclusive no autonomismo, mas, em todo
caso, ainda que tampouco precisa quais seriam os estados federados, si que
exigem para Galiza capacidade de decidir sobre o nosso, de decidir em muitas
áreas, como são, entre outras, a língua cultura, fazenda galega, banca pública
galega, relações internacionais. Reclama também o reconhecimento do caráter plurinacional,
plurilingüístico e pluricultural da EU e a autodeterminação dos povos sem
Estado no seu âmbito. Ainda que passa por uma etapa problemática, da que
desejamos que se reponha pronto, creio que é a opção que melhor se acomode ao
ideário político que defende um nacionalista, e, por isso, também terá o meu
apoio.
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