Quando se
comparam os resultados das eleições na Galiza e no País Basco, um não pode por
menos de sentir inveja, não sei se sã ou malsã. Por uma parte, um povo,
Euskadi, com uns índices econômicos mais favoráveis, pois o PIB da Galiza somente
representa 67 por cento do PIB do País Basco; o índice de paro é cinco pontos
menos, ou seja, um 41 por cento menos; maior percentagem de exportações em
relação com o seu PIB; com maior taxa de natalidade e fecundidade e maior
esperança de vida. Além disso, Euskadi é um povo com maior consciência da sua
singularidade nacional e maior orgulho de pertença a uma comunidade
diferenciada. Mentes no País Basco as forças próprias alcançaram o 61 e pico
por cento da representação, na Galiza essa percentagem, contando Anova e mais o
BNG não ultrapassa o 12 por cento . Já gostaria eu de que na nossa terra tivéssemos
uns resultados semelhantes.
O resultado
das eleições do dia 25/09/2016, foi, por tanto, de novo insatisfatório para
Galiza, com respeito ao ideal que nos pode servir de referência, que, no nosso
caso, é Catalunya e Euskadi. A respeito destes resultados, imos fazer umas
reflexões que consideramos significativas.
O PP teve um
êxito notável, mas isto não equivale a que o obtivesse Galiza. É difícil
suster, salvo fazendo apologia do suicídio coletivo que o bem da Galiza se
identifica com o do PP e o seu programa, e isto nem por razões técnicas nem por
razões ideológicas. Um partido que leva governando Galiza desde que se aprovou
o Estatuto de Autonomia no ano 1981, salvo as breves interrupções do Tripartito
de Lage, Barreiro, Marinhas (2 anos e quatro meses) e o bipartito de Troitiño e
Quintana (4 anos), dum total de 36 anos de autonomia, ou seja, o 82,42 por
cento frente ao 17,58%, e não foi capaz de sacá-la do seu atraso econômico e
dotá-la dum autogoverno digno de tal nome, dificilmente se pode considerar que
é o partido indicado para dirigir o país. O governo dum partido que não inculca
na cidadania o orgulho de sermos galegos e de apreçarmos a sua língua e
cultura, e que não só não promove uma lei ambiciosa de normalização do idioma
próprio senão que promove a sua subordinação ao espanhol e inclusive anula os
consensos alcançados entre todas a forças políticas galegas e conculca as
resoluções dos organismos internacionais, é igualmente difícil que se considere
o partido idôneo para governar um pais.
Mas se
governa no nosso país, deve-se a que foi votado pela cidadania, e acaso não é
isso democrático? Se por democracia se entende, tal como se vem entendendo muitas
vezes nos nossos dias em ocidente, o voto majoritário da população, dificilmente
se pode afirmar que não atua democraticamente, mas se consideramos que, como já
deixaram claro os teorizadores da democracia, não basta só o voto das maiorias,
senão que é preciso «o voto das maiorias, mas com respeito das minorias», e,
eu diria, também dos indivíduos, pois não se pode afirmar que seja democrático
que o povo decida sacrificar a um indivíduo em aras do bem-estar geral, e muito
menos sacrificar a todo um povo, como pretendeu e, em grade parte, o logrou
Hitler com os hebreus e os ciganos, já é mais problemático dizer que é
democrático. No Estado espanhol não se aniquilou fisicamente a todo um povo,
mas si se desenhou uma política focada a destruir os seus sinais de identidade:
língua, cultura, instituições específicas, e a negar, como em muitos outros
estados, o direito a decidir o seu futuro, o direito ao seu autogoverno, o
direito a controlar a sua riqueza e as suas fontes de energia,...
A que se
deve, então, esse apoio mui majoritário do povo galego? Em 1916 e 1917, alguns
intelectuais perguntavam-se se o povo galego era um povo de escravos, um povo
que, em vez de sacudir o jugo das suas cadeias, as abraça, e algo parecido foi
o que diz faz uns dias Fernan Velho, e que provocou uma forte contestação
social. Para responder cumpre ter presente alguns dados do que passou o domingo
passado. No município de A Límia, onde o 95 por cento da população fala galego,
o PP foi apoiado pelo 70 por cento da população, enquanto que o BNG somente
obteve o 5,26 por cento dos votos. Isto indica que a população não considera
que a legislação hostil para o galego do governo do PP seja um perigo, entre
outras cousas, porque ouve os seus aderentes falar em público nesta língua e se
abraçam á bandeira de Galiza como os que mais. Igualmente, o mesmo facto de
falar tão majoritariamente em galego, não lhe faz perceber que exista um perigo
real de desaparição para esta língua, entre outras cousas porque os meios de
comunicação da Galiza não estão interessados em alertar sobre o deterioro da
língua, porque estão instalados na uniformidade e na deriva em favor do
espanhol. Aliás, o avultado resultado do 60 por cento que obteve o PP nas zonas
rurais, indica que as pessoas de menor nível cultural da população e os de
zonas menos dinâmicas e avelhentadas são as que com maior freqüência apóiam o
PP, e, por mais que falem muito em galego, têm pouca sensibilidade pela língua
do país. Assistimos, a maiores, a um bombardeio constante dos meios de
comunicação em espanhol e a uma exposição raquítica aos meios em galego, que
propicia que a relevância da nossa língua de cara ao futuro do país fique
afogada e a relevância do espanhol magnificada. Não creio, pois, que o povo
galego tenha nenhuma tara especial, senão que os resultados se devem á carência
da lucidez necessária para sacudir-se o jugo da colonização abafante que sofre
o país com o sistema autonômico, que é o que realmente deveria problematizado. Mutatis
mutandis, diria que acontece com a nossa língua e autogoverno um pouco
semelhante ao que acontece com a corrupção. O PP tem garantida uma percentagem
de votos mui significativa apesar do imenso oceano de corrupção em que está
imerso, e não considero que seja devido a uma tara especial, mas si a carecer
da sensibilidade necessária para valorar a sangria de dinheiro que se perde por
semelhante estado de corrupção e de imoralidade.
O PSOE obteve
uns resultados discretos, que, dada a na situação concreta de que partia, com
grande divisão e contestação interna e uma situação na que contribuiu, junto
com o PP a bloquear uma saída política a uns resultados eleitorais dos que não
gostavam, e que se deteriorou muito mais com a suposta decisão do Comitê
Federal de dar via livre a Rajoy para que forme governo no Estado espanhol.
Alguém pode dizer que não se decidiu tal cousa, mas neste caso ainda se
entenderiam menos as rifas e altercados do dia 30 de setembro, que encheram de
vergonha a próprios e estranhos. É um partido dividido, tanto a nível galego
como estatal; jacobinista, que se nega pertinazmente a defender o direito de
autodeterminação dos povos, ainda com risco de bloqueio do governo de Espanha.
O seu candidato Leiceaga defendeu um sucedâneo descafeinado de nação para
Galiza que recupera o ideologismo de certos politólogos espanholistas de «nação
cultural« para disfarçar com eufemismos a realidade, porque uma
nação é nos nossos dias, aqui e em todas partes, um ator político
principalmente, além dum um ator também cultural, e não se pode rebaixar uma
naç4ao ao status duma simples etnia. Isto o que faz é contribuir ao confusionismo
geral e á desinformação da cidadania.
Em Maré não
se sabe mui bem que é e onde vai terminar este invento híbrido de espanholismo
e nacionalismo galego. Os seus insatisfatórios resultados têm que ver com a
improvisação com a que se criou o projeto que não permitiu que a gente conhecesse
devidamente o candidato Vilhares, a uma gestão muitas vezes decepcionante nas
cidades onde governa, a uma campanha hostil duns meios de comunicação convenientemente
favorecidos pólo poder com dinheiro público, que influem decisivamente nas
pessoas que contrastam pouco as informações e têm ainda a capacidade de derrubar
e pôr governos.
O BNG teve um
resultado mui positivo se temos em conta a situação de que partia e as
predições dos inquéritos. A sua líder demonstrou uma preparação e uma clareza
de idéias mui notória, acompanhada duma exposição clara e sossegada, que
constituiu uma surpresa positiva para muitas gente. São uns resultados, com
todo, claramente insatisfatórios e quando se emprega esta expressão sempre se
fala com respeito a um ideal, e, para mim é que um partido nacionalista governe
o país, porque é o único que realmente o pode fazer sem ataduras e sentindo as
cores da nossa equipa que é Galiza. Considero que tem que tem que refundar-se para
conseguir três objetivos clave: em primeiro lugar, evitar a duplicidade de
partidos no seu seio; em segundo lugar, centrar-se politicamente no modelo de
sociedade evitando a doença do esquerdismo estéril, e, em terceiro lugar,
abrir-se á sociedade fazendo-se atrativo para a maioria social.
C’s é um
partido que nos nossos dias em vez de facilitar a governabilidade e a solução
dos problemas véu a dificultá-las pela sua fobia a todo o que soe a facto
diferencial, porque consideram que todos devemos igual que um rebanho de
ovelhas. Isto expressam-no, tanto este partido como o PP e PSOE com o
ritualismo de que todos os espanhóis devem ter os mesmos direitos, quando a
justiça e os direitos se baseiam na diversidade e não na uniformidade. É
evidente que dous ou mais indivíduos ou povos que estão na mesma situação devem
ter os mesmos direitos, mas dous povos distintos, ao igual que dous indivíduos
distintos, devem ter diferentes direitos. Uma pessoa que rompeu uma perna deve
ser-lhe facilitado um sistema de acessibilidade que não precisa um são; uma
mulher deve ter direito gozar duma discriminação positiva para alcançar a
igualdade real,... O seu desconhecimento dos problemas do país e o seu desconhecimento
e desinteresse pela sua própria língua e cultura fez que fosse devidamente
castigado pela cidadania, e inclusive me surpreende que chegasse ao nível de
votos que obteve.
O fracasso de
Compromisso por Galiza creio que estava cantado por carecer de espaço político
e de um líder com certo carisma. Em caso de não ser capaz de buscar um espaço
político próprio no que operar, terá mui difícil evitar a sua desaparição.
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