Imos estabelecer
um confronto entre a situação prévia ao estalido revolucionário na França e a
situação crítica atual, por considerar que ha muitos elementos comuns a ambos.Vai em galego
reintegrado por considerar que a nossa língua coincide com o chamado português
e que somente por razões políticas se explica a tendência a afastá-los na prática para
debilitar a língua nascida na Gallaecia. Este fato contribui á difusão da mensagem e facilita os problemas de correção ortográfica.
I.- Fatores políticos
1.- Prolegómenos da revolução francesa
A.- Situação real
B.- As novas idéias
a.- Regime constitucional e
divisão de poderes
b.- Estado mínimo
c.- Organização centralista do
Estado
d.- Soberania nacional
e.- Defesa do parlamento como
sede da soberania nacional
f.- Direito de autodeterminação
g.- Internacionalismo e
cosmopolitismo
2.- Etapa de crise atual
A.- Situação real no estado de crise
atual
a.- Poder omnímodo do monarca
b.- Serviço ao povo mais sem o
povo
c.- Identificação do monarca com
o Estado
d.- Corrupção
B.- Ideologia subjacente na etapa de
crise atual
a.- Regime constitucional e divisão
de poderes
b.- O Estado mínimo
c.- Organização centralista do Estado
d.- Soberania nacional
e.- Defesa do parlamento como
sede da soberania nacional
f.- Direito de autodeterminação
g.- Internacionalismo e
cosmopolitismo
II.- Fatores
socioeconômicos
1.- Prolegómenos da Revolução Francesa
A.- Situação real na França e a
Espanha
B.- Idéias do liberalismo econômico
do século XVIII
a.- Propriedade privada dos meios
de produção.
b) Liberdades econômicas
individuais.
c.- Individualismo
d) Livre concorrência.
2.- A economia na etapa de crise atual
A.- Situação real da economia
a.- Crise econômica.
b.- Bancarrota nos países
mediterrâneos
c.- Forte concentração do capital
d.- Recortes seletivos
antipopulares e anti-sociais
e- Imposição fiscal pro
oligárquica e clerical
III.- Fatores
culturais
1.- Prolegómenos da Revolução Francesa
2.- A cultura no tempo atual
IV.- Desenlace
|
I.- Fatores políticos
1.- Prolegómenos da Revolução Francesa
O século XVIII foi o século de epílogo do despotismo
iluminado e de eclosão e assentamento
das novas idéias iluminadas.
A.- Situação real
![]() |
Imagem da Revolução Francesa |
Durante o Antigo Regime o rei unifica os seus reinos e, apoiando-se nos
Concelhos, vai acumulando cada passo mais poder em detrimento da nobreza
latifundiária, que se converte em ociosa e cortesã. Duma monarquia autoritária
no século XVI, passamos a uma monarquia absoluta no XVIII. O rei não tem nenhum
dever para com os súbditos senão só direitos, tem um poder omnímodo, é dono da
vida e fazenda, sem estar limitado por nenhuma lei nem sequer pola própria lei
que o príncipe promulgue -salvo a lei divina-, rex, lex, (o rei é a lei), e,
por tanto, acumula um poder absoluto, tanto legislativo como executivo e
judicial, eliminando toda divisão de poderes, ainda que, influído polo iluminismo,
procurasse o bem dos súbditos, todo para o povo mas sem o povo (Despotismo
ilustrado). O representante mais destacado deste poder absoluto é Luís XIV de
França (1643-1715), o Rei Sol, com a sua célebre fórmula, ĺÊtat c’est moi. Pode
dispor dos bens dos súbditos, que só têm deveres mais nenhum direito para com o
Rei, que está por acima da lei, que só representa sua vontade. Duma monarquia
que considerava a cidadania como súbdita e servidora do rei, passamos a uma
concepção do rei como servidor do Estado, representada por Federico II de
Prússia (1740-1786), um dos máximos expoentes do despotismo ilustrado e,
segundo Kant, o príncipe que melhor representava o espírito da Ilustração, “o
nosso tempo é a época da ilustração ou «o século de Federico»”1,
que se condensa no uso público da razão, frente á obediência cega: “ouço
exclamar onde quer: não razoes! O oficial di não razoes, adestra! O financista:
não razoes e paga! O pastor: não razoes, tem fé! Um único senhor di no mundo:
razoai todo o que queirais e sobre o que queirais, mais obedecede!”2,
ao tempo que afirmava que «O Rei é o primeiro servidor do Estado». Segundo
Federico, um príncipe que aspirasse ao “ideal de humanidade” deveria ter em
conta, em primeiro lugar, o bem e a felicidade dos seus súbditos. Em política
exterior pretendia dotar a Prússia dum rol relevante entre as potências
européias.
O rei, que o era pola graça de Deus, controla pessoal
e imediatamente a administração, para o
qual precisa a cada passo mais funcionários. que em vez de ser nomeados, como
outrora polas cidades e corporações, o serão desde agora polo Rei, criando uma
organização uniforme e fortemente centralizada. O modelo centralista francês
criou um sistema macrocefálico concentrando todas as energias do país em Paris,
e massacrou todos os fatos diferenciais -foi quiçá o mais etnocida do mundo-,
arrasou línguas e culturas e afastou as decisões dos cidadãos.
O projeto de Luís XIV era que os Bourbon reinassem na
Europa e com essa finalidade contraiu matrimônio com Maria Teresa, filha de
Felipe IV, e o seu predileto para reinar na Espanha era o seu neto Felipe V,
sucessor também de Luís XIV ao trono da França, mais como isto rompia o
equilíbrio europeu, as potências
européias, Áustria, Holanda, Inglaterra, unidas na Tripla Aliança,
puseram-se de lado do arquiduque Carlos e desencadeou-se a guerra com os
Bourbon. Com a morte do imperador José I em 1711, o arquiduque converteu-se no
seu herdeiro, mudando a situação geopolítica em benefício de Áustria, rachando
o equilíbrio, esta vez, em favor dos austríacos, o qual provocou a ruptura de
Tripla Aliança, que foi seguida pola renúncia de Felipe V ao trono de França,
para ter expedito o caminho para reinar na Espanha.
Á chegada de Felipe V, a situação em Espanha era de
ruína da Fazenda pública, deficiente preparação e desorganização no exército,
corrupção na Administração e desprestígio exterior. Para corrigi-la,
estabeleceu novos impostos para fazer mais equitativa a carga fiscal e fomentou
a intervenção do Estado na economia. Com objeto de favorecer a agricultura e
impulsar as manufaturas reais, importou de França o modelo centralista de
Administração que seria gerida pola Coroa, e por intendentes ao estilo francês
nomeados por ela, e confiada a funcionários profissionais nomeados pola sua
preparação e competência, e ascendidos por méritos. Deveriam ser bem
retribuídos para evitar a corrupção. O modelo francês de administração
centralizada, negador dos direitos coletivos, produziu também um etnocídio
cultural no Estado espanhol, ao implantar a consigna de Felipe V de “reduzir
todos os meus reinos da Espanha á uniformidade dumas mesmas leis, usos, costumes e tribunais, governando-se
igualmente todos polas leis de Castela, tão louváveis e plausíveis em todo o
Universo”3. Os decretos de Nova Planta de Aragóm, Valência,
Catalunya e Malhorca, abolindo as suas instituições, leis, usos, línguas e
tradições, são a sua conseqüência lógica, e traduziu-se no triunfo do modelo
vertical de Administração, uniformizador, homogêneo e vertebrado em torno a um
polo único com centro em Madrid, sobre o modelo horizontal, plural e diverso,
respeitoso com os fatos diferenciais, com pluralidade de polos de poder. São as
políticas dos que crêem que encarregando-se eles das cousas já todo vai melhor,
trasladam os ninhos da corrupção duns pontos para outros, em benefício de
parte, incrementando-a e terminando á longa por fracassar, e isto foi o que
aconteceu, como o demonstra o motim de Esquilache.
No Estado espanhol, o monarca iluminado por excelência
foi Carlos III (1759-1788), o terceiro filho de Filipe V, admirador de Federico
II de Prússia, pessoa corrente, segundo Pinedo e alii, “educado á espanhola,
quer dizer, buscando cuidadosamente apagar nele qualquer destelho de
inteligência e de personalidade independente”4, que aprovou as
reformas impulsadas polo seu secretário de Fazenda, Marqués de Esquilache, que
deram lugar aos levantamentos que se produziram em muitas cidades do Estado,
entre elas, Madrid, A Corunha, Cuenca, Zaragoza, Ovieu, Santander, Bilbo, Barcelona,
Cádiz e Cartagena. Em Madrid o motim de Esquilache de 1766 dirigia-se contra o
governo do Estado enquanto que nas outras capitais as protestas tinham como
alvo as autoridades locais, o qual é indicativo de que existia um clima geral
de descontento derivado da corrupção e incompetência das autoridades. O
detonante dos protestos cidadãos foram as medidas de liberalização do comércio
dos cereais que se traduziu num acrescentamento dos preços dos produtos de
primeira necessidade, o incremento da pressão fiscal para fazer frente aos
dispêndios originados pola Guerra dos Sete Anos e a ordem de obrigar os
madrilenhos a cambiar a capa longa e a aba larga do chapéu, pola capa curta e o
sombreiro de três picos, com objeto de poder detectar a comissão de crimes durante
a noite. Isto propiciou a substituição de Esqulache polo Marquês de Aranda, a
importação de cereais para conter os preços e a presença, entre os
concelheiros, de deputados eleitos por sufrágio polo estado lhano.
Luís XVI (1774-1789), neto de Luís XV, era um rei com
pouca personalidade e estava desprestigiado. Governa de fato sem parlamento,
pois não convocava a Assembléia de Notáveis nem os Estados Gerais, que não se
reuniram desde 1614. No século XVIII, surgem as idéias que vão enterrar a monarquia
absoluta: parlamento, divisão de poderes, democracia, igualdade. Montesquieu
rejeita a monarquia absoluta e de origem divina e advoga por uma monarquia
parlamentaria, com poderes limitados, na que o Parlamento é o órgão
legislativo, e estabelece a separação de
poderes em legislativo, executivo e judicial, como condição para o
estabelecimento dum regime democrático.
O absolutismo deu passo ao princípio de soberania
nacional e mais tarde ao de soberania popular. A fonte de todo poder não é a pessoa física do monarca senão a
nação, -que se traduz no sufrágio censitário-,
e, mais tarde, o povo, sufrágio
universal masculino e posteriormente feminino.
B.- As novas idéias
Durante a época do despotismo iluminado, s. XVIII,
consolidam-se as idéias ilustradas, superadoras e enterradoras do Antigo
Regime, que têm como traços mais destacados, no eido político, os seguintes:
a.- Regime
constitucional e divisão de poderes
Exigência dum regime constitucional com separação de
poderes: legislativo, executivo e judicial. que fixasse os direitos e limitasse
o poder real e o do governo, precisando o marco de atuação governamental.
Devido a que todo poder tende a corromper, sobre todo se é ilimitado, em todo
corpo político são tem que haver um sistema de freios e contrapesos. Os autores
que mais contribuíram a impulsar a divisão de poderes foram John Locke e
Montesquieu. Necessidade dos partidos
políticos como canais da opinião política.
b.- Estado
mínimo
Segundo a concepção liberal, própria do iluminismo, o
governo é um mal necessário para procurar a segurança e a liberdade dos
cidadãos. Segundo Adam Smith, deveria procurar a segurança, proteção frente á
injustiça e criar as instituições e obras públicas que não sejam lucrativas
para os indivíduos. O Estado é um aparato de coerção que tem como fim não a
promoção do bem-estar senão a repressão do mal, a busca da segurança: proteger
a vida, saúde e propriedade dos cidadãos, quer dizer, deve limitar-se a operar
como uma espécie de estado policia, sem intervenção de nenhuma classe na ordem
econômica e sem intromissões na vida privada dos cidadãos. Toda interferência
do Estado produz uniformidade, míngua a diversidade e o livre jogo das forças e
iniciativas dos indivíduos e dos grupos numa sociedade dada e é um obstáculo
para o desenvolvimento da individualidade.
Igualmente, a luta contra o despotismo estatal é um constituinte básico
de toda doutrina liberal. Como di Humboldt, "O Estado deve abster-se de
todo tipo de solicitude polo bem-estar positivo dos cidadãos e não deve dar
nenhum só passo mais dos estritamente necessários para a sua segurança e para a
defesa frente a inimigos exteriores. Nenhum outro objetivo lhe autoriza a
restringir a liberdade dos cidadãos"5.
Desde mediados do século XIX, o liberalismo foi
assumindo progressivamente que o Estado deve ter um certo grau de intervenção
na vida econômica com objeto de reduzir as desigualdades sociais e incrementar
a felicidade e o bem-estar geral. Podem estabelecer-se certas limitações na
liberdade de empresa se isso favorece o bem-estar social. O Estado pode
intervir para ajudar os mais necessitados e contribuir a uma melhora da
sanidade, educação e bem-estar geral, pois a sua ajuda procura graus superiores
de liberdade e segurança individuais.
c.-
Organização centralista do Estado
O liberalismo espanhol e galego acentuarão a soberania
do Estado espanhol, em detrimento dos ideais autonomistas, defensores duma
distribuição territorial do poder entre os diversos povos que são nações. Os
liberais galegos pregoam a uniformização do País basco com o resto de Espanha e
consideram o provincialismo como a causa de parte dos males do país.
d.-
Soberania nacional
A soberania nacional, de procedência roussoniana, deve
substituir a soberania real segundo a qual a base de toda soberania é a nação e
não o monarca. Para o autor genebrino, o pacto social dá ao corpo político um
poder absoluto sobre todos os seus membros, "e é este poder o que,
dirigido pola vontade geral, leva, como disse, o nome de soberania"6. A democracia
é também um requisito para o desenvolvimento econômico, porque a alternância
pacífica no poder permite o normal desenvolvimento da atividade produtiva.
e.- Defesa
do parlamento como sede da soberania nacional
Dado que, salvo em países mui pequenos, não é possível
a democracia direta, o Estado deve estar dotado de instituições
representativas, nas que as maiorias podam representar a totalidade. A
soberania absoluta, que era uma prerrogativa do monarca e exercida pola sua
pessoa física, agora passa ao povo, e é exercida polo parlamento. As
democracias atuais são democracias de partido e o partido que controla o
Parlamento controla a soberania popular, e se o chefe do partido controla o
governo e o parlamento exerce praticamente um poder absoluto. Neste caso, não
teríamos só um absolutismo de partido senão um absolutismo do chefe de partido.
A eleição do parlamento pode fazer-se por sufrágio censitário, no que somente
votam os ricos, como acontecia no liberalismo do século XIX, ou por sufrágio
universal, tanto masculino como feminino, como sucede no liberalismo
democrático atual.
f.- Direito
de autodeterminação
Direito de autodeterminação, para que os habitantes
dum território com um certo peso demográfico, a título individual, formem uma
nação ou se unam a alguma das existentes, idéia defendida explicitamente por
Marie-Jean-Antoine-Nicholas de Caritat, marquês de Condorcet (1743-1794). A
nível individual, como traço próprio da vontade humana, ou "faculdade
de determinar-se um a si mesmo a obrar consoante a representação de certas
leis", é unha característica distintiva da ética kantiana.
A autodeterminação política, ou seja, a capacidade dum
povo “para poder decidir sobre o seu próprio futuro, sem ingerências
alheas"7, pode ser interna ou externa. A primeira
consiste na decisão dos membros da comunidade sobre a sua forma de governo, a
formação de governos representativos baseados no consentimento dos
cidadãos; a segunda, na decisão a respeito das relações com outros grupos, e
pode concretar-se na união, ex.: o caso de Porto Rico, de Itália,
Alemanha e Polônia no século passado; autonomia, caso da Itália atual; Federalismo,
caso dos EEUU de América; Suíça, México, ... ou independência, caso de
Estônia, Letônia, Lituânia, Eslováquia, República Checa, Eslovênia, Croácia,
Servia, ...
Este direito exerceu-se profusamente a partir da
Revolução Francesa. Está latente quando em 1790 se discute a questão de
Alsácia; em 1791 permite-lhe a França anexar Avignon e Venoussin, e, em 1792,
Saboia, Hainaut, Mulhouse e Renánia. O 7/06/1905 foi exercido polo Parlamento
de Noruega para proclamar a sua separação de Suécia; o 28/19/1918 polo Comitê
nacional checo para proclamar a independência de Checoslováquia do império
austro-húngaro; o 13/11/1918 por Hungria para separar-se de Áustria; e
igualmente por Sérvia, Croácia e Eslovênia para formar Iugoslávia. Ao longo do
século XX, utilizou-se para os processos de descolonização de diversos povos,
principalmente africanos e asiáticos, e a finais do século XX, permitiria a
independência da URSS de Lituânia (9/02/1991), Letônia (21/08/1991), Estônia
(20/08/1991), Rússia (8/06/1990), Moldávia (24/06/1990), Ucrânia (16/07/1990),
Armênia (23/08/1990), Geórgia (9/04/1991), Kazajiám (21/12/1991), Azerbaiiam
(21/12/1991), Chechena,... reunificação da Alemanha (3/10/1991); secessão de
várias nações de Iugoslávia: Eslovênia (26/12/1990), Croácia (25/06/1991), Macedônia (9/09/1991),
Bósnia (1/03/1992); e de Checoslováquia: República Checa (9/07/1991),
Eslováquia, ...
Unha vez concluída a primeira guerra mundial, sob a
inspiração do presidente estadounidense Woodrow Wilson, o direito de
autodeterminação, entendido como princípio das nacionalidades, quer dizer como
o direito duma nação a dotar-se dum estado próprio, foi assumido polos aliados,
baixo pressão dos soviéticos, dispostos a defende-lo e a incorporá-lo ao seu
texto constitucional, ainda que sem virtualidade pratica ao ficar as
nacionalidades despojadas de todo poder efetivo.
O sujeito do direito de autodeterminação são as nações
ou povos, ou seja, "todo grupo
ou coletividade humana que tenha por referência comum a uma cultura e a uma
tradição histórica própria, desenvolvidas no nome sobre um território
geograficamente determinado", e não entidades menores como as regiões
que se caracterizam por ser parte duma nação e pola relação de pertença a esta.
Mas é possível que uma região emirja e se construa como nação e, como tal,
reclame o seu direito de autodeterminação. Algumas interpretações restritivas e
interessadas deste direito democrático, por parte dos Estados nacionais,
pretendem identificar povo com Estado, e tal seria o sentido que lhe dão ao
Pacto internacional de direitos civis e políticos da ONU, que afirma que "Todos
os povos têm o direito de livre determinação".
g.- Internacionalismo
e cosmopolitismo
O liberalismo é um sistema com vocação supranacional,
como o demonstra o caso das multinacionais, do capital transnacional, etc. e o
home liberal considera-se um cidadão do mundo. Essa vocação internacionalista baseia-se
na divisão internacional do trabalho e na conseguinte interdependência entre os
diversos países e realiza-se pola concorrência pacifica entre todos os estados,
ao igual que no interior pressupõe competência pacífica entre os diversos
agentes econômicos, por considerar que as situações conflituosas deterioram o
normal desenvolvimento da atividade produtiva.
2.- Etapa de crise atual
A.- Situação real no estado de crise atual
Do apartado 1.- A, de I.- Fatores Políticos,
destacamos e comentaremos os seguintes aspectos:
a.- O poder
omnímodo do monarca
b.- O serviço
ao povo mas sem o povo.
c.-
Identificação do monarca com o Estado
d.- Corrupção
Se confrontamos cada um destes aspectos com o que
acontece na política atual, constatamos
similitudes importantes.
a.- Poder
omnímodo do monarca
O rei tem um poder de representação, mas não um poder
real e efetivo. Um presidente do governo de Espanha, ainda com maioria
absoluta, não tem um poder omnímodo em quanto que não pode dispor da vida e fazenda
dos seus cidadãos, senão que, teoricamente, está submetido não só a
Constituição senão também ás leis, incluídas as próprias que ele promulga. O
presidente atual, porém, é o presidente que acumulou mais poder na etapa
democrática, que lhe permite controlar o partido, o Governo, o Parlamento do
Estado e grande parte dos parlamentos das CCAA, o Tribunal Constitucional, o
Conselho Geral do Poder Judicial, o Tribunal de Contas, quase todos os mass
media impressos e a maior parte dos digitais, incluídas as televisões públicas
e, indiretamente, grande parte das privadas, etc. Em quanto que goza de grandes
apoios não é um político débil como Luis XVI, mas se bem sacou peito frente aos
obreiros, impondo-lhes condições leoninas de trabalho e subsistência, frente a
Europa aparece como político sumamente débil e submetido ao império da troika e
especialmente da chanceler alemã Angela Merkel.
Embora nenhum político ousa afirmar que está por acima
da lei si que se observa uma prática política, tanto no PP como no PSOE,
tendente a conculcar, violentar ou distorcer mui freqüentemente tanto o
espírito como a letra da Constituição e das leis, auxiliados neste labor polos
órgãos judiciais, proclives a inclinar as suas sentenças de acordo com a cor
política de quem os nomeou. A Constituição estabelece que “a riqueza das
distintas modalidades lingüísticas de Espanha é um patrimônio cultural que será
objeto de especial respeito e proteção”(art. 3.3), mas, após 36 anos de
ter-se aprovado este artigo não se promulgou medida alguma para o seu
cumprimento; o artigo 20.d consagra o direito a “comunicar ou receber
livremente informação veraz por qualquer meio de difusão”, enquanto se põe em prática uma política informativa para a
manipulação nos mesmos meios públicos, como acabam de denunciar desde a própria
TVE em referência ao caso Bárcenas, Diada, etc.; e desde a oposição a respeito
de RNE. O Comitê de empresa da TVG denunciou num comunicado, em fevereiro de 2013, a manipulação que,
uma vez mais, “padecem os
informativos do canal público” e advertiu das “pressões” e as “intervenções
sobre o seu trabalho” que estão sofrendo “de maneira quotidiana” os
trabalhadores do meio, que se agravou a raiz do caso Pokémon e Bárcenas. Isto
levou-nos a criar em abril de 2013, uma bitácora, com o nome «eunonmanipulo»
para combater estas práticas, pondo-as em conhecimento da cidadania, á qual
remitimos o leitor interessado. Segundo o Comitê de Empresa, o modo de realizar
a manipulação é a seguinte: “Diretores e editores escolhem as notícias que
se vão dar e, após encarregar-lhas aos jornalistas, indicam-lhe nos casos
conflituosos o que tenham que destacar”. "Incluem-se sempre
comentários ou declarações que deixam em bom lugar o PP e aos seus dirigentes.
Paralelamente, dos grupos da oposição destacam-se informações negativas,
polêmicas internas e problemas", explicam. Expõem o seguinte exemplo: “O
abandono do alcalde de Salceda de Caselas e de cinco concelheiros do BNG foi
tratado em vários informativos do canal público, enquanto que da marcha de seis
edis de Ames do Partido Popular somente se informou no boletim local de Compostela”8.
Acrescenta o Comitê que se chegaram a modificar textos escritos polos
jornalistas da TVG `para ocultar a afiliação política dos imputados do PP, ao
tempo que se ressalta este dado quando são da oposição. Críticas neste mesmo
sentido são emitidas tanto pola oposição como polos mesmos jornalistas.
O artigo 35, 1, estabelece o “dever de trabalhar e
o direito ao trabalho, á livre eleição de profissão ou ofício, á promoção a
través do trabalho e a uma remuneração suficiente para satisfazer as suas
necessidades e as da sua família” e, não obstante, o que se está a produzir
é o reconhecimento dos privilégios dos banqueiros e das grandes fortunas, os paraísos
fiscais, os indultos a defraudadores, a ocultação de patrimônios ganhados
indevidamente, ao tempo que se envia ao paro a milhões de pessoas, se impulsam
de direito ou de fato os minijobs, se impõem salários de miséria, se elimina a
proteção dos trabalhadores e a sua capacidade de pactar os convênios, ... Se em
vez de olhar a Constituição olhamos para o programa do PP de 2011, a contradição entre o
refletido e o posto em pratica não pode ser maior: “Propomo-nos alcançar
como reto iniludível um mercado de trabalho justo, seguro e flexível inspirado
nas melhores experiências dos países europeus que viram passar a crise sem
perda de emprego. Será uma reforma integral á altura do reto planeado por quase
cinco milhões de desempregados”. Oferecem impulsar um trabalho justo e
impulsam um maior desequilíbrio e injustiça nas relações laborais; oferecem um
trabalho seguro e favorecem os despedimentos e os ERES, e o único que garantem
é um trabalho mais flexível, entendido como mais precário, mais desprotegido, e
em definitiva mais inseguro.
O artigo 47 reconhece aos espanhóis o direito “a
desfrutar duma vivenda digna e adequada. Os poderes públicos promoverão as
condições necessárias e estabelecerão as normas pertinentes para fazer efetivo
este direito”, mais o único que se garantiu foi o direito dos bancos,
incluídos os resgatados com fundos públicos,
a poder despejar as pessoas que não são capazes de fazer frente á sua
hipoteca, deixando-os sem casa e com a obrigação de continuar pagando o importe
duma hipoteca que eles mesmos taxaram por acima do valor real da vivenda. O
artigo 50 determina que “Os poderes públicos garantirão, mediante pensões
adequadas e periodicamente atualizadas, a suficiência econômica aos cidadãos
durante a terceira idade”, mas o que se faz é legislar precisamente para
que as pensões perdessem valor aquisitivo e se convertam precisamente em
pensões de miséria. Após todo isto, temos ainda que escutar dos governantes,
que realmente não nos representam, que a Constituição está plenamente vigente e
que não se deve cambiar e em todo caso ha que fazê-lo com o mesmo consenso com
o que se aprovou, com objeto de fazer inviável qualquer reforma na que eles não
estejam de acordo.
Depois de tanto tempo de ter-se aprovado o Estatuto
basco, fica ainda sem cumprir, apesar de ser uma lei orgânica do Estado; o
mesmo podemos dizer do Estatuto de Catalunya; a política penitenciária segue a
penalizar os presos etarras com uma ampliação de condena pola política de
dispersão; aplica-se uma política de indultos para favorecer os amigos e
poderosos; o governo in-cumpre a sua própria lei de morosidade no pagamento a
provedores e investidores e também a lei para fixar a tarifa elétrica. O
3/07/2014, UPyD acusa o Governo de in-cumprir a lei de transparência por não ter
publicado o decreto polo que deve aprovar-se o Estatuto Orgânico do Conselho de
Transparência, o que impediria que estivesse vigente a finais de ano; a lei de
dependência em vez de cumpri-la o que se fixo foi desconstruí-la, ... De todo isto segue-se que a impressão que nos
oferecem certos grupos políticos é que a lei está para ser violada, como
cruamente afirmou Castelao Braganho. Este fato supôs-lhe a cessação quiçá por
dizê-lo em público, mas não por aplicá-lo, como o seu partido. No tocante ás
sentenças judiciais, citamos algumas das mais soadas: as que deram lugar á
doutrina Parot, á doutrina Atutxa, á doutrina Botim, etc.
Depois de todos estes in-cumprimentos surpreende que
desde o Governo do PP e dos corífeus tertulianos se pretenda identificar democracia
com o cumprimento da lei, quando lhes interessa para desacreditar o eventual
referendo catalão, mas, a todas luzes, constata-se que são noções totalmente
distintas. A lei é a regulação estabelecida por um poder político, seja
democrático, oligárquico, monárquico, ditatorial, etc. enquanto que a
democracia é um dos sistema, por certo mui recente, de organização do poder
político baseada na vontade popular, tanto na eleição dos seus representantes
como na legislação emanada dos poderes políticos. Além disto, numa sociedade
democrática e quase justa, em certos casos, dentro da fidelidade á lei, pode
estar legitimado moralmente desobedecer a lei, quando as autoridades deixam de
ser fieis aos pactos assumidos e em casos de colisão com os direitos humanos
dos afetados pola norma. No caso do Governo do PP que in-cumpre claramente o
seu programa, alguém poderia suster que a desobediência civil está justificada
moralmente, dentro dum clima de respeito á lei, por não aplicar o programa
político com o que se apresentou ás eleições, por ter perdido a legitimidade
de exercício, que deslegitima para
governar por muita legitimidade de origem que tenha e que não se questiona.
b.- Serviço
ao povo mais sem o povo
Creio que nesta máxima ha muito de hipérbole pois em
realidade nunca se intentou em sério cumprir o lema de «tudo para o povo» ainda
que si o de «sem o povo», porque em realidade as elites extrativas continuaram
a desfrutar do favor político, tanto na França como na Espanha, se bem se viram
obrigadas a compartir o seu rol com um novo estrato emergente com força, a
burguesia, desigualmente desenvolvidas nestes dous países, enquanto que as
massas trabalhadoras, coalizadas num
primeiro momento com a burguesia, se
converteriam nas grandes perdedoras deste processo. Agroma, porém, um novo
ideal, a nível incipiente, de luta pola felicidade da população, reduzido
inicialmente a um sentimento humanitário sem virtualidade prática, que entra em
contradição, aliás, com o rol assinalado ao estado mínimo, mas que progressivamente se vai instalando com mais
força como objetivo dos dirigentes políticos, quer dizer, surgem os alicerce
ideológicos do estado do bem-estar, conceito este que substituirá o de
felicidade.
Um observador imparcial sacaria hoje -2014- a conclusão
de que o lema que se está a aplicar é a de todo para as elites privilegiadas e
extrativas, com objeto de que vejam garantidos a sua situação econômica e os
seus privilégios e o mínimo para o povo, que ja tem bastante com votar cada
quatro anos, previamente, isso si, bombardeado, manipulado e intoxicado pola
fábrica de mentiras governamental e partidárias, convenientemente apoiada pola
intelectualidade orgânica de turno, com via larga de acesso aos meios, e regado
o processo eleitoral com contribuições «voluntárias» e «generosas» á Caixa do
partido. Na atualidade, principalmente os políticos da direita, não se privam
de afirmar que ha que reduzir o estado do bem-estar, ou seja, que ha que
desconstruir o que se tem conseguido nas últimas décadas por ser -dizem-
inviável na prática apesar de que a riqueza do país se tem incrementado
notoriamente.
c.-
Identificação do monarca com o Estado
Na atualidade nenhum político ousaria afirmar, como
Luís XIV, l’êtat c’est moi, identificando a pessoa física do monarca com o
soberano, concepção que seria substituída no século XIX pola soberania nacional
de procedência roussauniana, ou seja, que o Estado se identifica com a nação, e já a finais deste século pola
soberania popular, convertendo-se o povo em soberano exclusivo e identificado
como o Estado, passando o ser o rei um representante do Estado e, por tanto, da
soberania popular, quer dizer, do conjunto de habitantes que constituem a nação
Os partidos dominantes a nível do Estado espanhol
consideram o Estado como o seu patrimônio particular e exclusivo, a sua parcela
privada, com direito a impor as suas condições a todos os demais povos que convivem dentro das suas
fronteiras, negando a sua identidade nacional, ou assumindo um reconhecimento
puramente nominal, e ficando reduzidos os seus povos a uma espécie de
inquilinos morosos e molestos que ha que suportar, controlar e dominar. Não
foram capazes de superar o beco sem saída de Ortega quando afirmava que o
problema dos nacionalismos não cumpre resolve-lo senão com-levá-lo, proposição
absurda que expressa a inanidade da política e, conseqüentemente, dos
políticos, e o mesmo Ortega tem demonstrado sobradamente a sua inépcia a este
respeito, como pode constatar qualquer pessoa que conheça as atuações do seu
partido político «Agrupación al Servicio de la República». E enquanto o
problema do Quebec está claramente posicionado em termos políticos
democráticos, ao igual que o de Escócia, o de Catalunya, Euskadi e Galiza, não
se pode solucionar porque aqui, polo que se vê, não cabe um posicionamento
político e democrático semelhante.
d.-
Corrupção
Entende-se por corrupção a ação ou omissão de pessoas
em quanto indivíduos, sejam ou não membros de organizações, ou de pessoas em
quanto atuam em nome e representação de instituições como tais, consistente em
aproveitar-se dos meios públicos ou privados em benefício próprio ou do grupo
ao que representam, em prejuízo do resto dos cidadãos. Se os indivíduos atuam
em nome e representação de instituições como tais, seja em benefício destas ou
alheio, a corrupção chama-se sistêmica. O benefício que se procura pode ser
econômico ou eleitoral, como o obtido por meio do controlo dos meios de
comunicação de massas, especialmente a televisão.
A corrupção na Espanha, endêmica durante os reinados
dos Áustrias e Bourbons, alcançou o zênite durante o reinado de João Carlos I.
Qualquer observador imparcial ficaria abraiado e admirado ao contemplar o
panorama atual. A impressão que tem a cidadania é que todas as instituições do
Estado estão manchadas e que todas as elites, por chamá-las dalgum modo, se
dedicaram a roubar e a tapar-se mutuamente as suas desvergonhas, começando pola
Casa Real. Tem-se falado muito do escândalo produzido pola caça de elefantes,
mais isto, que é mui significativo, não deixa de ser um assunto menor, se bem é
indicativo da dobre moralidade do seu protagonista porque preside associações
ecológicas e dedica-se a matar ursos borrachos ou animais mui inteligentes e
protegidos, como são os elefantes, abandonando Espanha num momento de enorme
crise econômica rodeado da sua amante, para gozo pessoal. É um assunto menor
porque não é equiparável com o roubo de dinheiro público que os meios lhe
atribuem, ao assinalar-lhe uma fortuna de perto de 2 mil milhões de euros,
impossível de amassar com um trabalho honrado. Aliás, está a corrupção do seu
genro e filha, que os meios interpretam por vezes como uma praxe mimética do
que lhe vem fazer ao monarca. A justiça retributiva só se pode reparar com a
restituição do dinheiro retraído aos seus legítimos donos, que são os sofridos
contribuintes, e com uma praxe de transparência no próprio proceder.
O Tribunal Constitucional emite sentenças al libitum
do seu amo, ou seja, dos que nomeiam aos magistrados por «cupo», que representa
uma espécie de direito de pernada jurídica, que, entre outras cousas, produziu
o engendro da sentença contra o Estatuto de Catalunya, origem do atual conflito
político catalão, emitida por um Tribunal com um mandado caducado desde
novembro de 2010, o que levou á demissão de três membros do Tribunal - Eugeni
Gay, Elisa Pérez e Javier Delgado- em junho de 2011, alegando o primeiro não
poder continuar num Tribunal seqüestrado.
E o resultado de sentenças deste cariz é ao que chamam democracia e
estado de direito, os seus protagonistas PP e PSOE.
O Tribunal Supremo também sofreu fortemente na sua
reputação quando o seu Presidente, Carlos Dívar Blanco, se viu abrigado a
demitir do seu cargo em junho de 2012
a conseqüência de malversação de dinheiro público por
ter realizado uma série de viagens a Marbelha vários fins semana, sem a devida
justificação, abonados com cargo ao erário público. Um dos seus vogais, Pasqual
Estevill foi condenado por prevaricação por extorquir a acusados com objeto de
conseguir que lhe ingressassem dinheiro na sua conta a cambio de favores
penitenciários.
Os partidos políticos dominantes competem mutuamente
em lançar-se acusações de corrupção política, com uma história que poderia ser
exemplificadora da perda dos valores morais. Cingindo-nos ao momento presente,
o PP está mergulhado numa corrupção que os meios descrevem muitas vezes como
sistêmica, por abranger ás mesmas elites que ostentam ou ocupam o poder executivo do Estado. O PP vê-se
salpicado pola Gürtel, Caso Bárcenas, Pokemom, Noos, ... O PSOE nos ERES de
Andaluzia e na Pokemom. O surpreendente é que os mesmos que nos mergulharam no
lixo são os que se auto-proclamam competentes para redimir-nos e regenerar-nos,
ao igual que se amostram adais da transparência os que mentem, ocultam e obstruem
o labor da justiça. O controlo dos meios de comunicação de massas, mui
especialmente da televisão, por parte dos partidos governantes foi uma
constante tanto na Espanha como na Galiza, de tal modo que não se pode falar de
televisão como serviço público senão de televisão governamental.
Estão imersas na corrupção também as fundações ligadas
aos partidos políticos, que se converteram numa espécie de mecanismo para
arrecadar fundos públicos teoricamente para realizar estudos sobre a realidade
do país, mas que na prática serviram para aproveitar-se deles em benefício
próprio e para utilizá-las como mecanismos de propaganda eleitoral. A utilidade
social dos seus estudos não se vê por nenhures, como a amostra o fato de que os
políticos espanhóis realizaram sempre políticas curto-prazista para fazer
frente á crise, sem terem desenvolvido nunca prognósticos sérios da evolução da
economia, sociedade, cultura, etc. dignos de tal nome, e pola imprevisão e
incompetência dos dirigentes dos partidos dos que dependem. Entre as que mais
fundos arrecadam figuram a FAES, presidida por Aznar, com mais de sete milhões
de euros por ano, e as ligadas ao PSOE com mais de seis milhões, seguidas a
muita distância da Josep Irla, próxima a ERC, e a fundação privada catalanista
e demócrata Trias Fargas, na órbita de CDC. ...
Os sindicatos e organizações empresariais também se
viram salpicadas pola corrupção no tocante aos cursos de formação por terem
detraído somas importantes de dinheiro público para cursos não guiados ou, o
mais freqüente, retribuídos ao pessoal que os guiou por uma soma inferior á da
subvenção recebida do Estado, ficando no seu poder o restante. E provável que a
administração, tanto estatal como autonômica, fossem conscientes disso porque
de fato prepararam o sistema que o fazia possível. É, pois, difícil crer que o
governo de turno não se inteirasse do que estava a ocorrer e que o silêncio não
for cúmplice, quiçá com a pretensão de obter compensações crematísticas ou ser
correspondido com o silêncio em situações nas que eles eram os favorecidos.
As deputações foram historicamente um ninho de
corrupção por parte dos que as geriram, neste caso principalmente o PP, ao
tempo que um instrumento do centralismo mais jacobinista e do clientelismo
político em favor dos seus interesses. Agora, parece que em vez de corrigir
este desaguisado vão ser recompensadas com umas competências muito maiores, ao
encomendar-lhe várias das funções que na atualidade vêem desempenhando os
concelhos.
A Igreja cristã não assumiu os ideais
ilustrados senão que se enfrentou ao Iluminismo como a um inimigo que cumpre
combater e superar tanto polo que diz respeito á sua proclividade científica
como polo que se refere ao seu combate contra a superstição e o obscurantismo, a
defesa dos direitos do home e do cidadão, e contra o mantimento dos privilégios
herdados. Isto teve como conseqüência a sua oposição aos direitos humanos e o
afastamento da ciência e a opção polos mitos em que assenta a sua doutrina.
Hoje está fortemente corrompida nas suas finanças vaticanas e nos aspectos
referidos ao sexo: pederastia, pedofilia, subtração de crianças recém-nascidas,
... ao tempo que adoece duma falta total de transparência no seu funcionamento
e no destino que lhe dá aos fundos públicos que recebe abundantemente dos
contribuintes. É um celeiro de votos mui importante para o partido conservador
não só diretamente mediante o voto senão indiretamente mediante a sua
influência social a través da sua mensagem e a suas recomendações no confessionário,
segundo comentários dos próprios afetados.
B.- Ideologia subjacente na etapa de crise atual
Polo que respeita ao apartado 1.- B, de I.- Fatores Políticos, o confronto
permite-nos fazer as seguintes observações:
a.- Regime
constitucional e divisão de poderes
O Estado espanhol tem um regime constitucional que
ampara convenientemente os direitos individuais, ainda que o seu cumprimento na
pratica deixa por vezes que desejar, mais ignora os direitos coletivos, os
direitos dos povos. Os partidos políticos espanhóis proclamam a sua defesa duma
Espanha única e diversa, mais não pode ser diversa quando não reconhece nem
teórica nem de fato essa pluralidade. Quando ha nações diversas ha que
reconhecé-las e não intentar por todos os meios afogá-las, como foi a política
habitual neste país.
Esta Constituição estabelece a necessidade de maiorias
qualificadas de dous terços para reformá-la naqueles aspectos considerados mais
sensíveis, com o vantagem de que impede que um partido a reforme ele só mas
também com o inconveniente de que um dos partidos majoritários basta para
impedir a sua reforma ainda que a maioria da população o reclame, e, por tanto,
para servir de tampão ás aspirações populares.
Já temos exposto noutras entregas anteriores desta bitácora
a inexistência duma autêntica divisão de poderes no Estado espanhol
(2/07/2013), e o funcionamento da justiça ao serviço dos poderosos e do
espanholismo (15/10/2013), em alusão aos órgãos judiciais nomeados polos
partidos que controlam o poder político no Estado, e ás instâncias judiciais
sensíveis á pressão do clima político imperante.
b.- O
Estado mínimo
A ideologia hoje imperante na Europa é o
neoliberalismo mas corrigido polas políticas des-regulatórias de Margaret
Thatcher e Ronald Reagan, medidas que estão na origem da crise econômica atual.
É um liberalismo de tipo darwiniano, na que os mais fortes levam sempre as de
ganhar na luta pola subsistência, terminando por devorar os mais débeis. Este
neoliberalismo depredador, do que está imbuído a FAES liderada por Aznar, não
está interessada no estado do bem-estar senão na mantença da situação de
domínio e privilegio das elites dominantes, que não deve ver-se limitada por
contribuições ás massas desfavorecidas, pois se não estão melhor é só polo seu
pouco mérito e capacidade.
A política aplicada no Estado espanhol tanto por
socialistas como polos populares foi a de adelgaçar o Estado, privatizando as
suas empresas e serviços, mal vendendo-as ou assinalando-as a amigos ou
contribuintes á Caixa do partido, para assim solucionar problemas derivados
muitas vezes da sua deficiente gestão econômica. Utilizaram também este meio
como trampolim para conseguir umas generosas retribuições econômicas trás o
cesse e abrindo a via para o funcionamento das portas giratórias.
c.- Organização centralista do Estado
A esquerda atual afunda as suas raízes no jacobinismo
da Revolução francesa que foi quem impôs a organização centralista do Estado
francês, quiçá a mais centralista de toda Europa. A sua concepção da nação como
uma unidade indivisível levou-nos a reforçar o centralismo vigente em tempos da
monarquia mediante a nominação de representantes do governo nos diversos
departamentos e submetidos á ditadura tanto econômica como política de Paris.
Outro elemento que reforçou o centralismo da esquerda
e que ainda sobrevive, é o internacionalismo marxista, segundo o qual os
obreiros não têm pátria e devem unir os seus esforços para lutar contra o
capitalismo em todo o mundo e em prol duma sociedade mundial de trabalhadores,
frente aos capitalistas que lutavam por manter o espaço estatal para impor nele
as suas regras de jogo. Hoje a dinâmica mudou e são os capitalistas quem
advogam pola globalização econômica, em quanto que os trabalhadores dos países
desenvolvidos têm morrinha do espaço econômico estatal, que poderia protegê-los
do deslocamento de empresas, da competitividade dos trabalhadores dos países
sub-desenvolvidos sem proteções sociais e com um custo da vida muito menor.
Felipe V importou o modelo francês de Administração
centralizada, que foi assumido tanto pola direita como pola esquerda,
convertendo-o no seu catecismo político. Criou-se a partir dele um estado
macrocefálico com epicentro em Madrid, chuchando as energias dos diversos povos
em benefício especialmente da elite radicada na Corte, da sua indústria,
comércio e sector turístico. Foi um modelo historicamente fracassado, e que
levou a Espanha a uma situação de decadência que teve como fito significativo o
desastre de 1998 e como epílogo os governos da Restauração e a ditadura de
Primo de Rivera. A II República pretendeu abrir um caminho de cambio, mas as
forças centralistas e reacionárias não o permitiram e afogaram esse momento de
esperança. Estas elites, tanto as centralistas como as reacionárias, aceitaram
a descentralização na Constituição de 1978, como meio para lograr o
assentimento constitucional, especialmente dos bascos e catalães, re-criando o
Estado das Autonomias, mas, a sua renovada ideologia e praxe centralista,
estimulada e louvada polos corifeus tertulianos, sentou as bases para
desmontá-lo progressivamente com LOAPAS, leis de bases, pacto de adesão a
Europa, sentenças do Tribunal Constitucional, vaziando os estatutos de
competências e mudando o seu espírito, com a pretensão de continuar a história
da Espanha, uma, uniforme e centralista, tal como a entendia Lerroux,
reintegrando competências ao poder central capitalino, impondo os valores, leis
e instituições espanholistas a todos os demais povos peninsulares. Como cabalo
de Troia desta operação de acosso atua, a nível ideológico, a FAES que preside
o ex-presidente Aznar, e a nível executivo, o governo de Mariano Rajoy, com
leis que impõem a espanholização de Catalunya, Euskadi e Galiza ou eliminam
competências tanto estatutárias como cedidas, que deixam os poderes das CCAA
inermes e sem possibilidades de ação para resolver os problemas dos seus
habitantes. Pretextando direitos iguais
para todos, expressão da injustiça e chauvinismo espanhol, não toleram a
diferença e a pluralidade. Ficariam abraiados, escandalizados e adotariam tons
e poses apocalípticas se aqui se quisesse implantar uma pluralidade semelhante
a que existe nos diversos Estados dos EEUU de América e não digamos já na
Suíça.
Nos nossos dias, o cenário estatal fez-se-lhe pequeno
para as grandes empresas multinacionais e lograram impor a globalização do
capital em todo o mundo, condenando aos
obreiros á miséria e precariedade. São estes quem nos nossos dias estão mais
interessados em recuperar a soberania estatal para defender-se frente a um
capitalismo desregrado e sem fronteiras, darwiniano e depredador. Esta
soberania estatal deve ir acompanhada da descentralização socioeconômica,
política e cultural das diversas nações que convivem no seio do mesmo Estado.
d.- Soberania
nacional
A soberania única que se reconhece na Constituição é a
do povo espanhol e, por tanto, da nação espanhola, ao tempo que se nega a
soberania das outras nações que integram o Estado. Trata-se em realidade de
soberania estatal, e não nacional, e popular, porque é o povo e não o abstrato
nação o depositário da soberania, que a deposita nos seus representantes.
Esta soberania puxo-se em interdito com a reforma do
artigo 135 para dar prioridade ao pagamento da dívida dos bancos e entidades
supranacionais, sobre as necessidades da população do país, por tanto, do
soberano, e também pola subordinação das políticas governamentais ás decisões
da troika, e mui especialmente ás decisões de Merkel. O presidente do governo
cambiou o seu programa eleitoral e aplicou disciplinadamente todas e cada uma
das políticas que lhe exigiu a chanceler alemã.
e.- Defesa
do parlamento como sede da soberania nacional
Todo o mundo repete que o Parlamento é a sede da
soberania popular e o poder supremo, tal como defendera Locke. Segundo o art.
66.1, as Cortes representam o povo espanhol, não aos demais povos do Estado, e,
por conseguinte, são os representantes da soberania popular desse povo. O art.
8 da CE encomenda-lhe ao Exercito preservar a
“integridade territorial”de Espanha frente a um eventual intento de secessão de
qualquer povo, subordinando os direitos dos povos á integridade da pátria.
As Cortes têm a potestade legislativa e iniciativa
legislativa, mais como estão controladas polo partido que sustenta o Governo,
que é quem impõe os seus critérios, e as iniciativas que puder apresentar a
oposição tem poucas possibilidades de ter êxito, essa iniciativa legislativa
fica reduzida a mui pouca cousa, sendo monopolizada praticamente em exclusiva
polo Governo. Os legisladores têm que receber o visto bom dos dirigentes do
partido para figurar nas listagens eleitorais, nomeadamente do seu presidente,
e, por outra parte, estão submetidos a disciplina de voto partidária, com
objeto de impedir todo desvio, o qual significa que, de fato, na pratica, estão
submetidos a mandado imperativo de partido,.por mais que isto esteja proibido
polo art. 67.2 da CE. Hoje a soberania é soberania de partido que faz e desfaz
ao seu antolho, e mais em concreto, dos dirigentes que desempenham funções
governativas, especialmente do seu presidente.
Quando não intervêm na nomeação dos dirigentes do
partido os militantes, simpatizantes ou cidadãos em geral, senão que a nomeação
se faz por cooptação, como sucedeu com Mariano Rajoy, nomeado a dedo por Aznar,
o resultado é o mais parecido a um monarca-presidente absoluto, que só espera
receber o aplauso, aprovação e aclamação dos seus incondicionais.
Está-se a produzir uma fusão entre o executivo e o
legislativo e deste com o partidário, atentando gravemente contra a divisão de
poderes, que se vê agravado pola intromissão do legislativo nas nomeações dos
Presidentes do Conselho Geral do Poder Judicial, do Tribunal Constitucional, do
Tribunal de Contas, constituindo um insulto á cidadania que a CE prescreva que
gozarão de independência, quando mantiveram e mantêm uma clara filiação
partidária.
f.- Direito
de autodeterminação
Este é um direito de procedência liberal que é
ignorado totalmente na CE e negado persistentemente polos políticos da casta,
por utilizar uma expressão utilizada com profusão por Pablo Iglesias. Somente
reconhecem a autodeterminação do povo espanhol mais os direitos dos demais são
totalmente ignorados.
O nacionalismo galego defendeu com persistência este
direito democrático dos povos, paralelo ao direito á liberdade individual.
Vicente Risco escreveu no ano 1934: "O nacionalismo galego pede no nome
dos princípios fundamentais de autodeterminação e de liberdade das nações, de
direito imorredouro dos povos á sua vida, que se lhe reconheça a personalidade
de Galiza, que as suas características nacionais sejam respeitadas, que se lhes
dê liberdade para construir com elas uma cultura integral própria e enxebre,
que se dê poder sobre si mesma para ela resolver de seu os seus problemas da
maneira mais ajeitada ao seu modo de ser e mais benéfica para a sua vida
interna, para a sua prosperidade econômica e para o seu desenvolvimento
pacífico dentro e fora dos seus lindeiros naturais"9.
Castelao é o político mais representativo do nacionalismo
galego, e parece que tem um grande simpatizante nos nossos dias,
surpreendentemente, no presidente Núñez Feijóo, o qual, de ser certo,
representaria um fito histórico para a nossa tão avassalada nação, também por
el mesmo. Seria fiar em esperanças vácuas. O rianjeiro sempre defendeu o
direito de autodeterminação, embora estiver disposto a ceder parte da soberania
do povo galego para poder chegar a um pacto federal entre as quatro nações do
Estado: Catalunya, Galiza, Euskadi e Espanha, que sempre deveria incluir o
direito ao divórcio, por se o matrimônio não funcionar. O direito de
autodeterminação de Galiza fundamenta-o no seu fato nacional e deve abranger,
se assim o decidir, até a independência total. De aí que afirme em 1943 que
"Galiza, como Catalunya e Euscadi, é unha nação, e, ... não
reconhecer-lhe o direito de autodeterminação -inclusive para viver com absoluta
independência- será sempre um ato tirânico e antiliberal"10.
Como vai assumir uma proposta deste estilo o Presidente galego? Não tardaria
nem um segundo em ser notícia nos meios e ser posto em quarentena polo seu
partido. Em realidade isso obedece á carência de símbolos atrativos e
incitantes nas filas dos que são os seus antecessores políticos tanto na Galiza
como no Estado. Como vai pretender identificar-se com o Marquês de Figueroa,
Riestra, Bugallal, Albor, Fraga, ...? Com esses é com os que tem que
identificar-se e não apropriar-se e devorar os símbolos dos demais, para anular
as suas virtualidades políticas.
Em janeiro de 1945, critica aos ex-governantes
republicanos, que querem negar agora o direito de autodeterminação,
condenando-o como um delito, sendo assim que “o Partido Galeguista concertou
um pacto com «Izquierda Republicana», assinado por Azaña no que uma das bases é
a seguinte: «Autodeterminação política de Galícia»”11.
Em março de 1945, manifesta que o povo galego vive
esperançado e mais disposto que nunca a defender a sua personalidade. "Está
avassalado e tolhido para expressar livremente os seus anseios de restauração
democrática, de autodeterminação política e de união federativa; mas está
organizado e preparado para superar as obscuridades do tránsito"12.
Em junho de 1945 defende "o principio de autodeterminação para todos os
povos que souberam conservar, a través dos séculos a sua personalidade nacional, e, por
conseguinte, defendemos o direito de autodeterminação para Galicia, que
conserva todos os atributos duma verdadeira e autêntica nacionalidade; mas
consideramo-nos autorizados a restringir este direito ao que é
racionalmente justo, conveniente e possível, descartando de antemão o separatismo ... e advogando por uma
união pactada de todos os povos diferenciados de Espanha num Estado
plurinacional e republicano, capaz de atrair a Portugal"13. Como vai subscrever um texto como este Núñez Feijóo?
g.-
Internacionalismo e cosmopolitismo
Nos povos colonizados, o galego entre eles, o
colonizador, para justificar a imposição cultural ao colonizado, inocula-lhe os
estereótipos que destacam a superioridade dos valores do colonizador a respeito
dos do colonizado, que num princípio costumam provocar uma atitude de rejeição
neste mas que, á longa, chegarão a ser introjetados polo colonizado e assumidos
como próprios. Quantos não ha na Galiza que proclamam o espanhol como língua
própria simplesmente porque se converteu na sua língua de uso?
Um dos expoentes do auto-ódio e desprezo do próprio é
precisamente o presidente da Xunta de Galiza, que ousou aproveitar-se do
auto-ódio que ainda persiste socialmente para sacar reditos eleitorais ao tempo
que inoculava mais auto-ódio e desprezo na massa social galega. Hoje ha muito
cosmopolita, muito traidor ao pais, Ha muitos nos nossos dias que justificam a
violência contra as mulheres e os homo-sexuais e num estudo publicado faz pouco
por duas investigadoras da Universidade de Granada destacavam que os meios
comunicação provocam que muitas pessoas justifiquem, ainda sem precatar-se, os
casos de violência de gênero que aparecem na imprensa. Quem pretendesse hoje
inocular socialmente justificações da violência de gênero ou da
homo-sexualidade sofreria, nas nossas sociedades, uma situação de ostracismo
social, mas não se esqueça que ainda ha muitos povos no mundo que penalizam com
a morte a homo-sexualidade e muitos outros que justificam abertamente a
submissão da mulher ao home e o seu castigo por parte deste. A FAES desatou uma
luta titânica contra toda a diversidade de língua, cultura, etc. bem secundada
polo Governo de Espanha, e o Governo galego buscou não já motivos senão
pretextos para poder marginar o galego no ensino e reforçar o espanhol,
acudindo ao imaginário cosmopolita ligado ao inglês, que passa a ter a mesma
proteção que a própria língua do país em perigo de supervivência, pola
imposição secular do espanhol. Castelao afirmava que matar uma língua é um
crime de lesa cultura, mas na nossa comunidade não só não o é senão que
inclusive é recompensado socialmente.
Castelao foi o autor da IV Declaração de Princípios do
Partido Galeguista que se titula: «Galícia, célula de universalidade.-
Anti-imperialismo, federalismo internacional, pacifismo», na que se estabelece
que "O reconhecimento da personalidade de Galícia e a arela de anovar a
sua autóctona cultura, a defesa da autodeterminação política do nosso povo, o
lavor pola potenciação da sua economia, serão angueiras estéreis e egoístas, se
não fossem inspiradas polo degoiro de harmonizar na cultura universal o
ressurgimento da nossa cultura, de integrar na comunidade dos povos a liberdade
do nosso povo, de coordenar, com a solidariedade da economia mundial, o
melhoramento da nossa economia, em suma, de que Galícia existindo, «vivendo a
sua vida», se capacite para ser um novo órgão da humanidade"14.
O internacionalismo não pode prescindir das nações porque seria o mesmo que
fugir da vida e da natureza, pois a pátria única não contaria mais que com
almas mortas e sensibilidades apagadas. Seguindo a Jean Jaurés15,
considera Castelao que o ideal da pátria universal só pode estabelecer-se sobre
a base das nações livres e autônomas, que serão os órgãos duma nova humanidade.
"Para este autor, a pátria universal não pode realizar-se mais que a
base das nações autônomas e reconciliadas. Querer suprimi-las de raiz, para
formar uma sociedade única, seria o mesmo que fugir da vida e da natureza,
caindo em verdadeiras abstrações.... ¿Em que ponto afincaríamos o combate
social e qual seria o resultado da vitória se a pátria única não contasse mais
que com almas mortas e sensibilidades apagadas? Não; o internacionalismo eficaz
não deserta das pátrias, senão que as transforma em órgãos duma nova
humanidade"16.
Cumpre coordenar o particularismo com o universalismo,
que constituem ambos os deveres de todo grupo nacional. "Os
universalistas não renegamos do amor á pátria nem á humanidade, compaginando
ambos amores em perspectivas possíveis, em frutos de paz. As nações faltariam
ao seu dever se não cultivassem com sagrado egoísmo, os elementos constitutivos
do seu gênio permanente; mas como membros da família humana, estão obrigados a
integrar-se num organismo de rango superior"17. Por conseguinte,
não se pode admitir um internacionalismo abstrato senão um internacionalismo
que conte com as sociedades presentes, onde os homes adquirem a sua identidade
grupal, e que lhe darão o seu selo próprio ao desejado futuro Estado mundial. O
internacionalismo abstrato semelha um novo Ícaro18, mais fictício que
o da mitologia grega. "Diga-se o que se queira, a sociedade futura terá
de criar-se pola conjunção das sociedades presentes, de modo que o Estado
mundial leve o cunho das pátrias que o integrem. Porque a pátria não tem por
fundamento exclusivo as categorias econômicas, apreixadas no estreito marco
duma propriedade de classes, pois conta com outra fundura orgânica e outra meta
ideológica. ... Abunda dizer que os indivíduos de cada grupo histórico, ainda
para aldraxarem-se entre si, utilizavam o mesmo idioma, que é um distintivo da
pátria. Cumpre afirmar que a presença do espírito coletivo em cada alma
individual engendra um estranho engrandecimento. As almas individuais
acrescem-se nas crises de dor ou de gozo coletivo. Este mistério ou prodígio
das almas faz-se patente nos intres de paixão nacional, quando se remove toda a
profundidade e extensão do grupo histórico. De supetão desencadeiam-se as
forças acumuladas da pátria, e a solidariedade social ultrapassa em grao
infinito á energia das consciências isoladas. Resulta, pois, evidente que só na
aprendizagem da vida coletiva e da sensibilidade humana se pode afincar a idéia
duma sociedade superior"19.
II.- Fatores socioeconômicos
1.- Prolegómenos da Revolução Francesa
No seio do sistema econômico do Antigo Regime agromam
os alicerces dum novo modo de produção: o sistema capitalista, com grande
potencialidade para criar e amontoar riqueza e com mui pouca vocação
distributiva, que vai substituir o sistema de produção feudal anterior.
A.- Situação real na França e Espanha
A sociedade
francesa era no século XVIII uma sociedade estratificada em Nobreza, Clero, e
Terceiro Estado ou Estado Lhano. O estrato do Terceiro Estado constituía o 95
por cento da população e estava integrado polos camponeses e a burguesia, á que
pertenciam os artesãos/obreiros, comerciantes e plebe urbana, com grandes
diferenças de renda tanto entre os camponeses proprietários e os jornaleiros
como entre a burguesia baixa e alta, que obteve benefícios importantes do
comércio principalmente. Era uma sociedade desigualitária, pois uma minoria,
nobreza e clero, que representa o 2 % da população possuía o 70 por cento das terras,
ocupa todos os cargos públicos e está isenta de tributar ao fisco, isenção que
incrementa quota que deviam pagar a maioria, que não goza de privilégios mais
se vê obrigada a pagar os impostos. A Igreja com leis e tribunais próprios,
possuía riquezas fabulosas e não pagava ao fisco. Os senhores (nobreza e clero)
incrementam a pressão tributária sobre os camponeses, restaurando tributos já
abolidos, semeando o mal-estar na população rural. Isto não é óbice para que a
nobreza intensifique a sua situação de decadência, enquanto que a burguesia se
converte na classe dinâmica e motor da economia.
França tinha unha economia atrasada e ligada á
agricultura de caráter extensivo -no campo vivem entre um 85 e um 90 por cento
da população-, se bem agromam também algumas formas de capitalismo incipiente.
Entre um 80 e um 90 por cento das terras estavam em mãos da Nobreza e do clero, que vivia da renda que lhes
proporcionava o seu aluguer. Continuavam a existir os grêmios nos que estava
ausente a idéia de benefício e competência.
Assistimos, a esta altura, a um incremento
demográfico, que pressionava sobre os alimentos, acompanhado duma racha de más
colheitas, que incidem no incremento dos preços, que tem como resultado a
escassez de alimentos para a população, traduzido em mal-estar e tensão social, propícia ao
levantamento popular. Para mudar essa situação desigualitária e de privilégios
das minorias, a burguesia alia-se com os camponeses para derrubar a nobreza e
impor os seus critérios a nível político, econômico e social. Produz-se também
uma crise financeira, lindando com a
bancarrota, como conseqüência, por uma parte, dos gastos excessivos da
Corte de Versalhes e da ajuda á guerra dos sete anos e á guerra de
independência dos EEUU contra a Grã Bretanha e, pola outra, dos menores
ingressos. Isto motivou um incremento dos tributos e um descontento geral da
população. Os ministros de economia
(Turgot, Necker, ...) recomendam-lhe ao Rei, como solução á crise, que o
Clero e a Nobreza paguem impostos, mais estes rebelam-se e arremetem contra a
Monarquia e o Terceiro Estado, o que induze ao Rei a convocar os Estados
Gerais, e perante o fracasso destes, produzir se-á o levantamento popular.
No Estado espanhol a Igreja possuía quantiosas riquezas.
Sendo o clero o 1,31% da população total de 10.961.832 milhões de habitantes,
ou seja, uns 143.600 mil aproximadamente, segundo o Cadastro de Floridablanca,
1787, era proprietária do 14,74 por cento da terra cadastrada da coroa de
Castela. A nobreza, supunha o 4,38 por cento da população aproximadamente e
controlava um pouco mais da metade de todas as terras, que na sua maior parte
estava amortizada ou em mãos mortas: a igreja, nobreza e municípios, o qual
significa que não se podiam comprar nem vender, devendo manter-se intactas sem
poder dividi-las, e o filho maior herdava todo. “Existiam grandes senhorios
(80% do total) em mãos do rei, da Igreja ou dos grandes senhores e á
propriedade destas terras não podiam aceder os que as trabalhavam em realidade;
estavam condenados a ser sempre “criados”. A maior parte dos camponeses eram
jornaleiros ou arrendatários”20. Além das propriedades imobiliárias, recebidas
por doações dos reis, nobres ou o povo, a Igreja contava com as rendas
derivadas da percepção dos décimos e primícias, e os direitos paroquiais e
esmolas: pan, trigo, ovos, cera, carne, vinho, estipêndios por funerais, bodas,
batismos, enterros21. Era uma Igreja com enorme riqueza, fato
que demonstra que não foram os marxistas os que lhe roubaram á Igreja a
bandeira da pobreza, como alegou o papa Francisco, senão que foi a Igreja a que
a abandonou condenando aos que desejavam seguir a pobreza evangélica, como foi
o caso dos franciscanos espirituais ou fraticcelli, por parte de João XXII; acumulando riquezas a eito, inclusive por meio
do confessionário, como se demonstra no fato de que no século XVIII, se
obrigava aos cregos a perguntar-lhe ao paroquianos se fizeram testamento e como
ficava, como pude comprovar lendo o historial dos meus antepassados; a
aprovação pola Igreja no século XX das ordens pro-oligárquicas: Opus Dei,
Comunhão e Libertação, Caminho Neocatecumenal, Legionários de Cristo, ...; a
condena do socialismo no século XIX; a condena da teologia da libertação; ... A
Igreja gosta de contemporizar com o poder, procura desfrutar dos seus favores e
concentrar as suas iras contra os aspectos relacionados com o sexo, que não
molesta em absoluto aos poderosos senão que os beneficia. No século XIX foi
abandonada polos obreiros porque não tinha mais proposta para eles que a
resignação ante a injustiça, e, nos nossos dias, em Ocidente, também polas
camadas populares polas suas propostas que enfastiam a maioria social, e polas
elites intelectuais e, no Estado espanhol parece que quer reduzir-se a ser um
celeiro de votos para o PP, que a prima de favores a eito.
Tocante aos direitos humanos, especialmente os
referidos á igualdade de gênero, nem estivo, nem está nem se lhe espera. Está
empenhada em dar-nos a razão, que não procuramos nem desejamos, aos que assim
pensamos, como o demonstra o fato de qualificar, o diretor de “L’Osservatore
Romano”, jornal do Vaticano, Giovanni Maria Vian, como um «evento grave» que os
anglicanos tenham decidido autorizar a ordenação de bispas“, pretextando que
isso “complica o caminho ecumênico”. Isto significa não só que ela não está
disposta a mudar e terminar com a discriminação sobre a mulher, senão que
pressiona a outras igrejas cristãs para que tampouco e façam, porque isto dificulta o
diálogo inter-eclesial, que deve fazer-se á custa da negação dos direitos do
sexo feminino.
A respeito da democracia, a última peripécia teve como
protagonista ao cura que oficiou a missa de comemoração do golpe militar na
Igreja dos Jeromes de Madrid que, na sua homilia, advertiu do perigo que supõe
para o catolicismo o auge da extrema esquerda e pediu aos assistentes estar
alerta e fixo um chamamento para que “igual que nos anos trinta houve homes e mulheres
valorosas que souberam dar resposta, nós hoje também saibamos dar resposta” ao
“crescimento da extrema esquerda” e á “crise espiritual” da sociedade, que
devolve Espanha á época prévia ao golpe militar. Em palavras deste sacerdote,
cumpre aprestar-se a tomar as armas se for preciso em caso de que a esquerda
tome o poder e poda suprimir os privilégios da Igreja, privilégios que são o
único aspecto que pode estar em perigo, que el pretende identificar com o bem
de Espanha, por acima da vontade libre e democrática dos cidadãos. Já o cardeal
arcebispo de Madrid, José María Rouco Varela fizera, com motivo do funeral por
Adolfo Suárez, uma referência velada e sibilina á guerra civil com estas
palavras: Suárez “buscou e praticou tenaz e generosamente a reconciliação
nos âmbitos mais delicados da vida política e social daquela Espanha que, com
os seus jovens, queria superar para sempre a guerra civil: os fatos e as
atitudes que a causaram e que a podem causar”. Por tanto, a Igreja, que
nunca condenou a Guerra Civil senão que a considerou como uma «cruzada de
libertação», e levou ao ditador durante 40 anos baixo pálio, faz uma ameaça
velada que poderia entender-se que estaria disposta a participar numa nova
intentona golpista que provocasse um novo massacre do povo espanhol se
consideram que ha perigo para o catolicismo, que os espanhóis, velis nolis,
tenhem que abraçar. Em vez de pedir perdão por um dos capítulos mais criminais
da sua história, em palavras de Deschner, responde com o silêncio cúmplice
quando não com ameaças extemporâneas, improcedentes e perturbadoras do
discorrer pacífico da cidadania.
Analisando os contributos das religiões á civilização
podemos afirmar que são bem parcos, e inclusive alguns preclaros intelectuais
manifestam que são muito negativos em confronto com a dor, sofrimento e
crueldade que provocaram. Dizia Bertrand Russell que “Um acha, ao considerar
o mundo, que todo o progresso do sentimento humano, que toda melhora da lei
penal, que todo passo cara a diminuição da guerra, que todo passo cara a um
melhor trato das raças de cor, que toda mitigação da escravatura, que todo
progresso moral realizado no mundo, foi obstaculizado constantemente polas
igrejas organizadas no mundo. Digo deliberadamente que a religião cristã, tal como está organizada nas suas igrejas foi, e é ainda, a principal
inimiga do progresso moral do mundo”22. Quanto mais intensa foi a religião de
qualquer período e mais profunda a crença, tanto maior foi a crueldade. Foi
nesses momentos quando tiveram lugar a Inquisição e as maiores torturas em nome
da religião, queimando vivas por bruxas a muitas mulheres. A Igreja opõe-se ao
progresso e aos meios para diminuir o sofrimento do mundo, porque decidiu
chamar moralidade a certas estreitas regras de conduta que não têm nada que ver
com a felicidade humana; e quando se di que se deve fazer isto ou o outro,
porque contribui á dita humana, estima que é algo completamente estranho ao
assunto; atrasou o progresso e traiu ao mundo dor e sofrimento sem conto, e
cita a este respeito o caso da indissolubilidade matrimonial. “Suponhamos
que no mundo atual uma moça sem experiência casa com um sifilítico; em tal caso
a Igreja Católica di: «Este é um sacramento indissolúvel. Ha que estar juntos
toda a vida». E a mulher não pode dar nenhum passo para não trair ao mundo
filhos sifilíticos. Isso é o que di a Igreja Católica. Eu digo que essa é uma
crueldade diabólica, e ninguém em que a compaixão não for alterada polo dogma,
ou que tenha uma sensibilidade moral absolutamente insensível ao sofrimento,
pode manter que é bom e conveniente que constitui este estado de cousas”23.
Podemos acrescentar ao exemplo de Russell o sofrimento que acarreta com a sua
moralidade sexual ás mulheres casadas com infectos com o sida ou a dor e
sofrimento que quer impor ás mulheres o ministro católico integrista Ruíz
Galhardão, com uma lei que pretende obrigar as mulheres a converter-se em
sofredoras heróicas, parindo filhos deformes, ou a dor e sofrimento que
causaram ao povo iraquiano os governantes cristãs Bush, Blair e Aznar com a
guerra irresponsável que desencadearam valendo-se da mentira e do cinismo.
Quando um compara o que diz Jesus: “Dou-vos um mandado novo: que vos ameis
uns aos outros como vos amei, que também vos ameis os uns a os outros. Nisto
conhecerão que sois os meus discípulos, se tiverdes amor os uns com os outros” (Jo. 13, 34-35), e a pratica real na vida
diária dos que se dizem cristãos, a diferença não pode ser maior, e um
pergunta-se para que pode servir o cristianismo e que credibilidade merece para
os cidadãos. Não se responde a esta pergunta apelando a convidar a gente a
obrar como eles dizem mais não como eles obram, porque uma religião que não se
traduz em obras na vida pratica é uma farsa (Mt. 23, 3).
França era no século XVIII, um país rural
pre-industrial, com uma indústria têxtil com talheres dispersos e Caráter
familiar nos que se trabalhava o linho e o algodão. A mediados do século
XVIII cria-se a
primeira lançadeira volante; começam a funcionar a indústria têxtil do norte e
a fábrica de pana de Ruam, com maquinaria e mão de obra inglesas. Entre 1760 e 1786 fundaram-se
várias empresas metalúrgicas e mecânicas que começam a fabricação de ferro de
coque. A mediados do século XVIII começa a revolução industrial na Grã Bretanha
que no século XIX se vai expandir ao continente europeu.
Polo que se refere a Espanha, a finais do século XVII
a indústria têxtil estava num estado precário como conseqüência da competência
exterior e da depressão do seiscentos. Reiniciou a sua atividade com a proteção dos mercado interior
e das colônias mediante incentivos fiscais e a criação de empresas por
iniciativa pública quando os particulares desistiam de fazê-lo. A sua
recuperação foi vacilante, e estivo marcada pola pouca qualidade dos produtos e
a ineficiência da produção. As primeiras manufaturas de indianas e lenços
estampados apareceram em Catalunya na segunda década do século XVIII, ao abeiro
da política protecionista do governo e as facilidades de importação das
matérias primas, que incrementará o seu número de fábricas na segunda metade do
século, e que vão convertê-la na segunda potência algodoeira da Europa após
Inglaterra. Espanha somou-se á primeira revolução industrial, que vai de 1840 a 1930, com atraso a
respeito doutros países europeus.
B.- Idéias do liberalismo econômico do século XVIII
As idéias dos iluminados fundamentaram o liberalismo
econômico que proclama o Estado mínimo, a não intervenção do Estado na
economia, a regulação espontânea da vida econômica polas leis do mercado, o
individualismo e a livre iniciativa, e consagra o papel dirigente da burguesia.
O liberalismo econômico, princípio reitor da economia
a partir desta altura, tem como principal inspirador a Adam Smith (1723-1790),
que sustém que o bem comum resulta da cooperação dos egoísmos individuais e
duma economia baseada no princípio fisiocrático «laissez faire, laisser passer,
le monde va de lui même», consistindo a função do Estado em garantir a ordem
pública e a justiça. Caracteriza-se polos seguintes traços:
a.-
Propriedade privada dos meios de produção
Frente ao coletivismo ou estadismo que defende a sua
propriedade coletiva, a propriedade privada, que deriva do trabalho, é
considerada como sagrada, enquanto que a que tem outra origem, assim como a sua
transmissão, podem ser limitadas pola sociedade. Entendem os liberais que o
controlo privado dos fatores produtivos acrescenta a produtividade geral e,
como conseqüência, produz um maior bem-estar coletivo. O liberalismo é um firme
defensor da iniciativa privada e do livre mercado e, conseqüentemente tem como
filho próprio ao capitalismo, considerado polos liberais como o único sistema
viável numa sociedade baseada na divisão do trabalho. Uma economia de corte
medieval nunca poderia equiparar-se-lhe em quanto ao nível de produção e de
conforto que é capaz de oferecer aos cidadãos.
A nível galego, os liberais insistirão na reforma
agrária, por considerar que a agricultura está submetida a travas absurdas, que
limitam o seu desenvolvimento.
b.-
Liberdades econômicas individuais
As liberdades pregadas polo liberalismo econômico são
as de empresa, trabalho, comércio, contratação, compra-venda, fabricação,
iniciativa, livre circulação de mercadorias, residência.... O mesmo nome de
liberalismo deriva de liberdade e, no Estado espanhol utilizava-se no século
XIX o termo «liberal» para designar aos representantes desta corrente de
pensamento oposta aos defensores do despotismo, dos «servis»24,
dos "servos da ração ilustrada pola fê; os que desejam a felicidade da
nação quitando os estorvos que se opõem a ela e conservando a religião católica
que recebemos dos nossos pais. Esta é a linguagem dos filósofos: servis chamam
aos verdadeiros espanhóis"25. A sua oposição contra o regime
escravista não obedecia principalmente a razões humanitárias senão por
considerar que o home livre tem mais alicientes para produzir e, por
conseguinte, o seu trabalho é mais produtivo que o do escravo, e contribui, por
tanto, em maior medida, ao bem-estar geral.
O liberalismo enquanto promotor da liberdade de cultos
e pensamento, foi condenado pola Igreja católica, no «Sílabo» de Pio IX do ano
1864, e o princípio da livre concorrência do liberalismo econômico por Pio XI
na encíclica «Quadragesimo anno», no ano 1933.
c.-
Individualismo
Segundo o escocês A. Smith, em linha com a fórmula do
fisiócrata Vincent de Gournay, (1712-1759), «Laissez faire, laisser passer»,
a iniciativa individual dos participantes, na
atividade econômica, atuando dum modo egoísta, em procura da satisfação
dos seus interesses particulares, numa situação de livre concorrência, é
conduzido por uma espécie de «mão invisível» a um resultado alheio ás suas
intenções mas que procura o desenvolvimento do bem geral, favorecendo de por si
o melhor resultado global. A atividade econômica permite harmonizar o bem do
individuo e o da sociedade na que vive em benefício de ambos. Para conseguir
este objetivo deve poder operar em Regime de liberdade perfeita sem
intromissões do poder político. O indivíduo é quem melhor conhece os seus
interesses e, por isso, segundo Turgot, ha que "deixar marchar as
cousas precisamente como o fazem por si só, pola mera ação dos interesses dos
homes, estimulados polo equilíbrio duma competência livre"26.
Segundo Pardo de Andrade (1759-1923), o interesse e a ambição "Foram,
são e serão sempre o estímulo poderoso da indústria"27. Esta espontânea harmonia entre o interesse do
indivíduo e a sociedade seria posta em dúvida por Tocqueville, Acton e Groce, e
a crise que estamos a padecer em 2014 na Europa demonstra claramente que não ha
mão nem visível nem invisível que conduza á harmonia
geral. O que si conduz é a uma feroz competência entre os indivíduos e os povos
e no lugar de criar um modelo de sociedade habitável, no que os cidadãos gozem
duma vida digna e pacífica, cria-se um modelo de sociedade selvática e cainita,
de luta de todos contra todos. Como di Bertrand Russell, a “A injustiça, a
crueldade e a miséria que existem no mundo são uma herança do passado, e a sua
raiz é econômica, já que a competência de vida ou morte era inevitável nas
primeiras épocas. Mas agora não é inevitável. Com a nossa atual técnica
industrial podemos, se queremos, proporcionar uma existência tolerável a todo o
mundo”28.
A nível internacional, existe também uma ordem natural
semelhante á que ha no seio de cada sociedade. A harmonia entre as nações
derivará do incremento do comércio internacional e do postulado de não
intervenção dum Estado nos assuntos doutro, por conseguinte, do princípio do laissez
faire aplicado ás relações entre
Estados. Os laços e interesses, criados pola intensificação do comércio
internacional, propiciariam a paz e a compreensão internacionais e fariam
desnecessário o recurso a métodos de força como procedimento para a solução dos
conflitos entre países. Os interesses, também afora do âmbito das próprias
fronteiras estatais, seria um meio para fomentar a cooperação e a preservação
da paz.
O governo não deve converter-se em produtor de riqueza
senão que deve procurar ampliar o âmbito do livre comércio e da competência e
eliminar os obstáculos e as travas ao aforro e á iniciativa individual. O
fomento da competência exige a supressão da proteção e dos privilégios duma
economia e mui especialmente a supressão de toda atividade monopolística. Segundo A. Smith,
devem restringir-se também as ajudas laborais porque fomentam a preguiça,
imprevisão e natalidade. J. Stuart Mill sinalaria os limites do princípio do laissez
faire, com o exame dos defeitos do mercado, e considerava que, em certos
âmbitos como a educação, caridade ou certas obras públicas que os particulares
não estavam em disposição de acometer, estava justificada a intervenção não
autoritária do governo, quer dizer, aquela na que o governo se limita a criar
as condições necessárias para que os indivíduos podam desenvolver as suas
potencialidades.
Este individualismo exacerbado, contribui ás
desigualdades econômicas entre os cidadãos e ao domínio do forte sobre o débil,
mas, segundo o liberalismo, a redistribuição dos bens é ineficaz porque não
solucionaria o problema dos pobres, e ademais, as desigualdades fomentam a
produtividade e possibilitam o luxo, que é um fator positivo porque "a
demanda de bens luxosos provoca descobrimentos industriais e estimula a
aparição no mercado de bens que pronto desfrutará o comum das gentes; é um
fator dinâmico dentro da economia"29.
d.- Livre
concorrência
O liberalismo afirma que a melhor regulação econômica
produzira-se espontaneamente a través da lei da oferta e da demanda, do livre
mercado. Os liberais propugnavam o livre-cambismo, a livre circulação do
trabalho, capital e mercadorias entre os diversos países sem travas nem
limitações de nenhuma classe, porque isso facilitaria o emprego do trabalho e
capital dum modo mais produtivo.
As teses anteriores referidas ao liberalismo clássico,
seriam matizadas, em dialética cos defensores duma maior igualdade e justiça
social, polo chamado neoliberalismo. Este já não crê que o livre jogo
dos agentes econômicos produza uma regulação ótima da economia senão que aceita
mecanismos de equilíbrio entre: a oferta e a demanda, como as leis
anti-monopólio; entre o capital e o trabalho, como os sindicatos livres; entre
a propriedade privada dos bens de produção e a coletiva, admitindo a função
social da propriedade; entre os ricos e os despossuídos da fortuna, mediante a
função redistributiva do Estado.
2.- A economia na etapa de crise atual
A.- Situação real da economia
Se durante os prolegómenos da Revolução francesa, os sectores extrativos
da economia eram os Nobres, fidalgos e clero, e os contribuintes, o terceiro
estado, nos nossos dias, os sectores extrativos são os oligarcas, diretivos de
grandes e medianas corporações e clero, e os contribuintes, os cidadãos,
entendendo por tais não só os trabalhadores manuais senão também os
trabalhadores da administração e serviços e as PEMES, que são os «paganos» de
turno. Surge assim uma nova contraposição social e um novo antagonismo: elites
oligárquico-clericais↔ cidadãos. O estado da economia caracteriza-se, no
inter-médio das duas primeiras décadas do século XXI por:
a.- Crise
econômica
As desregulações da economia impulsadas principalmente
durante o governo de Ronald Reagan, acordes com o liberalismo econômico
decimonônica do laissez faire, criaram as condições propícias para a atuação
sem freio dos atores econômico-financeiros. Desencadeou-se como crise
financeira nos EEUU, especialmente com os produtos tóxicos das hipotecas
subprime, ou hipotecas lixo, modalidade creditícia destinado a clientes com
escassa solvência que tinham como finalidade preferente a aquisição de vivenda,
com um risco superior ao resto dos créditos destinados a clientes solventes, e,
por tanto, com risco de impagamento superior e com uns juros mais elevados que
os empréstimos pessoais. Quando a FED (Reserva Federal dos EEUU) elevou os
juros, repercutiu nos juros das hipotecas e acrescentou a morosidade bancária, semeando a alarma dos investidores. Estes
produtos, num processo de apalancamento em espiral, venderam-se a muitos bancos
tanto estadounidenses como ocidentais em geral, o que lhe deu uma projeção
mundial ao problema. Esta crise das hipotecas subprime motivou a quebra do
Banco de Investimentos Lehman Brother no ano 2008, provocando problemas em
cadeia a muitos bancos ocidentais, especialmente de Alemanha e a Grã Bretanha.
A seguinte crise que se desatou foi a imobiliária, por
terem concentrado as grandes construtoras e os bancos grandes somas de dinheiro
na aquisição de terrenos e na construção dum número de vivendas muito superior
ás necessidades reais do mercado e sobre todo das disponibilidades econômicas
dos seus compradores, aos que a Banca concedeu mui generosamente empréstimos
sem ponderar razoavelmente os riscos assumidos. Ao elevar-se os juros bancários
e acrescentar-se a instabilidade no posto de trabalho, muitos compradores não
puderam fazer frente ao importe mensal das hipotecas, tendo como conseqüência a
perda da vivenda e o despejo por parte das entidades bancárias, que viram como
a morosidade se acrescentava extraordinariamente. No Estado espanhol contribuiu
decididamente a criar as condições propícias para a crise a desregramento dos usos
do solo promovidos polo executivo de José María Aznar, que qualificou como
urbanizável praticamente todo o solo do país, e as reduções fiscais, promovidas
polos governos tanto socialistas como populares, para a aquisição de vivenda em
propriedade.
A crise seguinte foi a de dívida, originada polas
suspicácias dos investidores de que muitos países, afetados por um forte
déficit e com uma dívida galopante, não pudessem fazer frente ao pagamento da
dívida externa. Estas suspicácias puseram em questão a mesma viabilidade do
euro, pola descompensação econômica entre os diversos países que adotaram esta
moeda e a inexistência dum sistema financeiro e bancário comuns, o qual fixo
que a prima de risco e, por conseguinte, o diferencial que ha que pagar polos
empréstimos tomando a Alemanha como referência, se incrementasse até limites
mui elevados nos países mediterrâneos, que fixo que muitos países não pudessem
auto-financiar-se a custos assumíveis para as arcas públicas, o qual motivou a
necessidade de recorrer á ajuda dos demais países e submeter-se a duras
exigências de consolidação fiscal.
A crise foi criada pola irresponsabilidade dos
oligarcas mais foi carregada sobre o lombo dos cidadãos ao tempo que se cuidava
escrupulosamente que os oligarcas não se vissem afetados, e traduziu-se em
perda do posto de trabalho com paro massivo, despejos com perda de vivenda para
os que não foram capazes de afrontar o pagamento da hipoteca protagonizados por
parte dos bancos resgatados com ajudas públicas, míngua dos salários,
congelação das pensões, fechamento de empresas, recortes nos serviços públicos,
incremento de muitos preços de artigos de primeira necessidade, diminuição
da atividade econômica e do PIB, pobreza
infantil e adulta, emigração de pessoas com sólida formação acadêmica, ...
.
b.-
Situação de bancarrota nos países mediterrâneos
Vários países europeus, Grécia, Irlanda, Portugal,
Chipre e Espanha tiveram que ser
resgatados para evitar a suspensão de pagamentos. No caso de Espanha não se
resgatou toda a economia senão que, teoricamente, se reduziu ao sector
financeiro, mais, embora for parcial a ajuda prestada, a economia espanhola foi
intervinda na sua totalidade e o país viu-se submetido aos ditados dos homes de
negro da troika. As causas deste fiasco umas são endógenas, e produto da
incompetência, corrupção generalizada, políticas curtoprazistas, faltas de
previsão e diagnóstico da evolução da
economia, a super-exposição da economia ao sector do ladrilho, deficiente
ponderação dos riscos que supunha a entrada no euro que obrigava a competir com
economias mas fortes e competitivas, etc.; outras são exógenas: globalização,
crise financeira dos EEUU, desenho do euro inadequado, ... A incidência do euro
resulta patente polo fato de ser a crise mas persistente das padecidas até o
momento presente, incluída a grande depressão de 1929, e por outra parte
resulta lógico que assim for por terem cedido os estados competências a Europa
e carecer de mecanismos para atuar com presteza em situações críticas e, aliás,
por não ter recebido muitas vezes a compreensão e solidariedade requeridas dos
demais países europeus; com todo, o fator quiçá mais decisivo foi submeter a
todos os países em crise ás políticas de austeridade, que levaram a destruir o
sistema produtivo, por não irem acompanhadas de medidas simultâneas de
incentivos que impulsassem o crescimento.
Houve uma diferença notória entre a atuação dos EEUU,
baseada no impulso da economia com medidas que incrementassem a gasto público,
que permitissem preservar o sistema produtivo, e as receitas européias e do FMI
que o destruíram e incrementaram o paro até cifras inassumíveis, como são os
seis milhões de parados espanhóis, que obriga a incrementar as prestações por
desemprego, diminui a tributação fiscal, deixa a milheiros de pessoas sem meios
de subsistência, incrementa a morosidade bancária, restringe o gasto, que se
traduz em menos emprego e crise de empresas, pode provocar problemas á
sustentabilidade das pensões e, last but não least, incrementa até limites mui
dificilmente suportáveis o déficit e a dívida pública que pode criar problemas
de default, pois na atualidade, apesar do gigante esforço ao que se submete á
cidadania o Estado está-se endividando em 60 mil milhões de euros anuais, e
isto a longo prazo, se não ha crescimento suficiente, é impossível de pagar,
...
No Estado espanhol provocou-se uma deflação interna
dos salários, sem a correspondente contrapartida de baixada dos preços, senão
inclusive com o incremento de muitos dos artigos e gastos de primeira
necessidade, como a eletricidade, gás, combustíveis, incremento da tributação,
taxas, etc. com o resultado de fazer a sua vida diária muito mais penosa. Ao
impor taxas na justiça, elevar o preço das matrículas na educação, estabelecer
repagos e tripagos sanitários, privatizar serviços como o registro civil, ... a
penúria dos cidadãos incrementou-se até a limites insuportáveis.
c.- Forte
concentração do capital
Nos dias de hoje segue a produzir-se uma forte
concentração do capital tanto industrial como financeiro e de serviços,
estimulada polos governos do bipartito PP-PSOE valendo-se do dinheiro dos
cidadãos, que são quem têm que pagar uma super-concentração de capital que
atenta contra os seus interesses, por ter como conseqüência oligopólios que pactuam
os preços em prejuízo seu. Quando se privatizaram as empresas energéticas
vendeu-se esta operação como uma defesa dos interesses da cidadania porque
ajudaria a baixar os preços, mais o resultado foi exatamente o contrário, e a
cidadania assiste impotente ao espetáculo de ver que os preços são pactuados
nas direções das empresas em contra sua e que o serviço é mais caro e a atenção
cidadám pior. Alem disso, os mesmos políticos que as privatizaram, leigos na
matéria, agora cobram opíparos estipêndios como conselheiros dessas empresas
por atuar como captadores de favores e câmbios legislativos em prol dessas
empresas, num trabalho que não lhe investe tempo praticamente nenhum, e, por
acima, presumindo de que trabalham duro para ganhar-se a vida e da sua valia
pessoal.
O sector bancário vai ficar reduzido a uns dez bancos
aproximadamente, e, por tanto, vai-se converter noutro sector oligopolista, que
também, ao igual que acontece nos demais, facilitará o uso das portas
giratórias, a concertação de preços e condições de serviços e a drenagem de
recursos da cidadania em benefício do sector. Algum diretivo bancário já mo tem
confessado abertamente.
Outro sector, igualmente privatizado, é o oligopólio
energético que, sem o mais mínimo rubor, pactua os preços subindo-os o fim de
semana e baixando-os durante a mesma, subindo-os numa comunidade e baixando-os
na vizinha, ....
É oligopolista também o sector das telecomunicações:
telefonia, internet, etc. que, sem regras claras a nível internacional, também
trabalha para obrigar a cidadania a que drene recursos em benefício da causa e
sem que atenda uma necessidade real. Os que temos Windows XP dentro de pouco
teremos que cambiá-lo por outro, queiras ou não, porque deixam de fazer
programas para este modelo. As críticas no sector da telefonia sãoas segundas
mais numerosas, após as relacionadas com a banca, se bem eu tenho que dizer que
estou contento com a companhia R.
Também está super-concentrado o sector informativo, no
que participam também, para aproveitar as suas facilidades, muitos destes
grupos empresariais privatizados ou super-concentrados, que assim poderão
controlar as informações ad maiorem divitiarum gloriam, para santificar as
riquezas.
d.-
Recortes seletivos antipopulares e anti-sociais
Cabe-lhe a Núñez Feijóo a triste honra de ter começado
a jeira dos recortes massivos e seletivos no Estado espanhol, justificados na
divisa tantas vezes por ele repetida de que «não se pode gastar o que não se
tem», que, por coerência implicaria que haveria que eliminar o sistema
financeiro, que tem, de iure, a finalidade de emprestar dinheiro a quem o
necessita.
Quando ha que gerir recursos escassos sempre ha que,
por uma parte, recortar gastos, e, pola outra, estabelecer prioridades á hora
de gastar os recursos disponíveis. É a seleção dos gastos que se recortam e as
prioridades dos objetivos, o que distingue a uma política de outra. A economia
não é uma ciência estrita, senão que está em função dos objetivos políticos que
se perseguem.
Quando começou esta obsessão compulsiva polos
recortes, eu, mero cidadão observador da realidade, sempre defendia que havia
que compaginar recortes com crescimento, por considerar que os recortes por si
só são suicidas numa sociedade de consumo como é a atual. Não se pode tirar a faculdade
de consumir numa sociedade baseada no consumo.
Em que se podia e se deveria recortar para não
destruir o sistema econômico? Em primeiro lugar, nas instituições
desnecessárias e, especialmente, nas incoerentes com o Estado Autonômico. Estas
seriam: as deputações provinciais, vestígios do Estado Centralista,
super-viventes, ilogicamente, no no novo Estados das Autonomias. Era uma medida
que concitava, aliás, um amplo consenso, pois seria acetada por todos os
partidos salvo o PP, que se resiste porque tem, nestas instituições, um ninho
de clientelismo, apesar de que foram historicamente as instituições mais
corruptas.
Dever-se-ia recortar na estrutura periférica do
Estado, como são as delegações do governo e as delegações provinciais dos
ministérios, com objeto de reduzir os níveis da administração e deixá-los no
nível municipal, autonômico, central e europeu, aplicando o princípio de
subsidiariedade que preceitua que os serviços devem ser geridos pola
administração mas próxima aos cidadãos. Haveria igualmente que concentrar
concelhos e deixar só os que são viáveis e aptos para prestar os serviços
encomendados. Aqui pretende-se atuar pola via inversa, e fazer depender todas
as decisões do centro madrilenho, caracterizado historicamente pola sua ineficácia
e burocratismo.
Haveria que eliminar aqueles ministérios que têm
traspassadas as suas competências ás CCAA, nomeadamente, educação, cultura,
vivenda, ... Num Estado Autonômico sério haveria que converter o Senado em
câmara de representação territorial das nações que compõem o Estado, pois na
sua configuração atual é repetitiva e totalmente inservível. Nada disto se
fixo, apesar de que os políticos teoricamente concordam nesta diagnose.
Em que se recortou de fato? Nas prestações sociais:
sanidade, educação, cultura, inovação, ... Milheiros de pessoas foram botados
para a rua, eliminando postos de trabalho dum nível de consumo muito
significativo, que permitiria manter o consumo interno e dinamizar a economia,
e contribuintes dum nível médio, que são os que pagam, velis nolis, impostos ao
fisco e sustentam a tributação estatal. Carregou-se, desta arte, o sistema
produtivo e fiscal. Ademais, ao recortar até a sua total eliminação em I+D+I,
carregou-se o sistema de inovação, base do crescimento tecnológico e,
conseqüentemente, da manufatura de produtos de cara á exportação.
e.-
Imposição fiscal pro oligárquica e clerical
Na França pre-revolucionária somente pagava impostos o
terceiro estado, e na Espanha, na etapa crítica atual o peso da carga fiscal recai
fundamentalmente sobre a cidadania, especialmente as classes médias e baixas.
Na Espanha ha uma descompensação histórica entre ingressos e gastos, salvo no
período 2002-2007, em que se nivelaram ou inclusive, nos primeiros anos de
Zapatero, houve um ligeiro superávit, que se caracteriza por uns ingressos por
arrecadação fiscal no 2014 do 37 por cento, o mais baixo dos países
desenvolvidos europeus, excetuando Luxemburgo, frente a uns gastos, neste mesmo
ano, do 45 por cento, também entre os mais baixos de todos os países
desenvolvidos europeus. Isto implica que não se arrecada o suficiente para
fazer frente aos gastos, que é o que provoca o déficit e este a dívida pública.
Isto pode solucionar-se da seguinte maneira: a) diminuindo os gastos, mantendo
os ingressos; b) Aumentando os ingressos mantendo constantes os gastos, ou c)
aumentando os ingressos e diminuindo os gastos.
O governo do PP atuou sobre ambos; sobre os ingressos,
incrementando a arrecadação para compensar a brecha entre ingressos e gastos,
mas em vez de atuar sobre o fraude, economia submergida e sectores que não ou
infra-tributam, como as grandes empresas, grandes fortunas e a Igreja,
recarregou de impostos aos de sempre, ou seja, ás classes médias, via IRPF e
IVA, taxas, e aos trabalhadores mas desfavorecidos, via IVA e taxas. Elevou
assim o esforço fiscal dos espanhóis ao primeiro rango europeu, convertendo-nos
nos europeus que pagam mais impostos em proporção ao salário que recebemos.
Convém não confundir a pressão fiscal com o esforço fiscal. A primeira mede-se
dividindo a arrecadação tributária polo PIB, Pressão fiscal = Ingressos
fiscais*/ PIB e, por tanto, está em função da
atividade econômica e não tanto da suba de impostos, enquanto que o esforço
fiscal representa o sacrifício fiscal que têm que fazer os contribuintes tendo
em conta o seu nível de ingressos. obtém-se dividindo a pressão fiscal pola
renda per capita: Esforço fiscal = Pressão fiscal/ Renda per capita. Segundo os
técnicos de Fazenda da Gestha, se consideramos os impostos que suporta um
espanhol polo IVA e Impostos Especiais, a pressão fiscal elevar-se-ia no 2008 desde o 37 por cento ao 47,01,
podendo inclusive superar o 50 % se acrescentamos os pagos médios dos impostos
de sucessões e doações. Nos nossos dias, o esforço fiscal, incluindo o salário
e custos da Segurança Social, que se descontam do soldo, eleva-se ao 50,40 por
cento. .
![]() |
Esforço fiscal em 2008 |
Num informe da Agência Tributária de 2012, os
inspetores de Fazenda sublinhavam que as grandes sociedades tributam menos que
um mileurista. Em 2007, as empresas obtiveram uns benefícios históricos recorde
mas quando declararam a Fazenda por esse ano a arrecadação caiu um 39 por
cento, principalmente nas empresas que cotizam no IBEX, descenso que continuou
em anos sucessivos, ajudado por decisões de Zapatero que, após uma reunião na
Moncloa em dezembro de 2010, permitiu que os grandes grupos podam “aplicar-se
em 2011 de golpe a liberdade de amortização dos seus investimentos sem ter que
manter emprego. Também se concedeu que, por exemplo, as empresas espanholas
podem investir no estrangeiro mediante filiais e á vez girar esses custos
financeiros á matriz na Espanha para deduzir-se esses gastos e pagar menos”30.
Isto fez que a arrecadação no Imposto de Sociedades que no ano 2007 era de
44.824 milhões de euros, passasse a 16.611 milhões em 2011, frente a unha
rendas do trabalho desse ano de 69.803 milhões de euros por IRPF. Considera a
citada Agência que ha dous buracos no Imposto de Sociedades que haveria que
tapar: limitar a dedução de gastos financeiros e a liberdade de amortização sem
manter o quadro de pessoal.
A respeito do primeiro caso, dizem os inspetores, que
muitos ingressos exteriores estão isentos do imposto ao tempo que podem deduzir
os gastos financeiros realizados para obter esses ingressos. Isto faz mais
rentável o investimento exterior, “fomentando a deslocalização de empresas e
a criação de emprego afora das fronteiras á custa dos empregos espanhóis”31. A liberdade de
amortização constitui um adiamento indefinido e contínuo do Imposto de
Sociedades a pagar a custo zero quando se realizam investimentos, com grave
quebranto para as arcas públicas que somente obtêm ingressos quando os
investimentos diminuem. Isto benefícia ás mui grandes empresas que representam
o 0,2 por cento e acumulam o 60 por cento das deduções, em prejuízo das pequenas
e medianas empresas (pemes) que são as principais criadoras de emprego. Aliás a
supressão do requisito de mantimento do quadro de pessoal fixo que o Estado
subvencione e financie os ERES das grandes empresas.
Podemos observar que o informe dos técnicos de Fazenda
é demolidor e supõe uma desqualificação por incompetência e por contrários aos
interesses nacionais, os governantes que permitiram esta situação. Em todo caso
é um claro expoente do funcionamento das portas giratórias e de que a crise não
é filha de pais órfãos senão que teve pais claramente reconhecíveis e
identificáveis. Isto permite concluir claramente que a imposição fiscal
espanhola é claramente oligárquica.
Por outra parte, diminuiu a arrecadação ao recortar
postos de trabalho no ensino, sanidade, I+D+I, e facilitar os despedimentos
pola reforma laboral e os ERES, deixando na rua a milheiros de potenciais
contribuintes. A solução creio que estaria em equilibrar ingressos e gastos
igual que praticaram e praticam os demais países europeus, incrementando a
arrecadação combatendo o fraude, fazendo pagar aos que não ou infra-cotizam,
sem minguar o tecido produtivo e o estado do bem-estar. O presidente do Governo
espanhol, Mariano Rajoy, disse várias vezes que ha que ha que ter o estado do
bem-estar que podemos permitir-nos, mas parece que obviou precisar: mantendo
intangíveis os privilégios das oligarquias.
O governo do PP e os socialistas, estes a partir de
2010, concentraram-se principalmente nesta alternativa, e produziram uma
deterioração muito significativa dos serviços públicos e da inovação, ciência,
cultura e tecnologia, e provocaram a destruição dos sistema produtivo e
inovador, coutando as nossas possibilidades de futuro.
Surpreende que, após a experiência do crack de 1929,
no que se constatou que a austeridade sem crescimento não permitiu sair da
crise e houve que recorrer á doutrina keynesiana dos incentivos que
incrementassem os gasto público e tirassem da economia, em Europa, por pressões
fundamentalmente alemãs e da troika, se ensaiasse de novo a via fracassada no
1929, da diminuição do gasto e, por tanto, da austeridade, contrariamente ao
que aconteceu nos EEUU, que recorreu aos incentivos e sorteou muito melhor a crise.
Outro sector claramente favorecido pola legislação
tributária espanhola foi a Igreja católica. A CE estabelece que “nenhuma
religião terá Caráter estatal. Os poderes públicos terám em conta as crenças
religiosas da sociedade espanhola e manterão as conseguintes relações de
cooperação com a Igreja Católica e as demais confissões” (Art. 16.3). Com
todo, as relações com a Igreja Católica regem-se polo concordado com a Santa
Sede, assinado o 3/01/1979, uma semana após ser aprovada a Constituição, para
bendizer o Concordado assinado polo Regime franquista em 1953, e dar-lhe
aparência de legitimidade constitucional, com o fim de garantir a situação de privilégio desta confissão religiosa. Não se trata dum acordo
mutuo bilateral entre partes e com contrapartidas para ambas, senão dum
compromisso unilateral do Estado para beneficiar a Igreja Católica á custa dos
contribuintes e sem contraprestação de nenhuma classe, e numa quantidade que o
mesmo Governo seria incapaz de calcular exatamente quanto se detrai das arcas
públicas por este conceito.
O Concordado, no seu artigo II estabelece: “1. O
Estado compromete-se a colaborar com a Igreja Católica na consecução da sua
adequada sustentação econômica, com respeito absoluto do princípio de liberdade
religiosa”.
O que acarreta o Estado á Igreja está constituído por
dous componentes: a) um contributo direto, que na atualidade é o 0,7 por
cento da renda de cada cidadão que marque o quadrinho do formulário da
declaração do IRPF, e b) um montante de impostos
muito importante dos que fica isenta.
No artigo do Concordado IV é eximida dos impostos do
IBI dos imóveis urbanos, impostos reais, entre eles o IVA, e impostos sobre a
renda e o patrimônio, imposto de sucessões, doações e transmissões patrimoniais,
isenção das contribuições especiais e da taxa de equivalência, ao tempo que
estabelece deduções fiscais para as quantidades acarretadas á Igreja. Todas
estas quantidades têm que suportá-las tanto os seus fieis como todos os demais
cidadãos, porque este dinheiro não se detrai só dos que marcam o quadrinho
indicado, senão de todos e cada um dos demais, e todos, dalguma maneira se vêem
afetados, também os que não fazem declarações da renda, porque a isenção de
impostos também lhes prejudica a eles. Por exemplo, terão que pagar mais de IBI
ou terão menos serviços públicos porque ha instituições que estão isentas. Esta
cessão de privilégios unilateral deixa sem margem nenhuma de manobra as CCAA
tocante a este tema. Disto pode-se concluir também que a imposição tributária
na Espanha é claramente pro clerical e prejudica a todos os demais
cidadãos.
III.- Fatores culturais
1.- Situação real durante a Revolução Francesa
A Ilustração é um movimento classicista, que se
caracteriza pola harmonia das formas, sentido das proporções, equilíbrio e
universalismo; racionalista e otimista, ao contrário do
Romanticismo, que exalta a irracionalidade, os sentimentos, o próprio, o
peculiar, o intimismo na paisagem e o individualismo. No século XVIII, vão surgir toda uma série de idéias que vão minar os alicerces sobre os que se levantou o Antigo Regime e vão
propiciar o surgimento do Regime Liberal ou burguês, ao tempo que inspiram a
praxe política dos revolucionários. Voltaire considerava que a Igreja cristã
era unha instituição anacrônica, que constringia a liberdade do indivíduo. Como
alternativa propõe uma religião natural baseada no deísmo, ou seja, na crença
na existência dum Deus supremo, mas sem religiões positivas.
Rousseau considera que o ser humano é naturalmente
bom, mas que é pervertido pola sociedade e proclama uma sociedade igualitária
não dividida em
estratos. Este herdo foi recolhido no lema da Revolução
Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade. Trata-se, porém, duma liberdade
puramente individual e duma concepção dum home abstrato e desligado da sua
realidade comunitária, faceta que seria incorporada parcialmente polos direitos
da terceira geração que visam proteger a comunidade frente aos interesses de indivíduos
e grupos, se bem essa comunidade deve incluir não só a comunidade mundial senão
também a comunidade nacional na que se insere o ser humano. A obliteração
destes direitos foi o que deu origem a um dos maiores etnocídios culturais que
conheceu a história, o grande crime de lesa cultura de eliminar línguas e
culturas dos povos submetidos, criando uma uniformidade e homogeneidade social
em nome do «progresso da humanidade». Também é insuficiente a igualdade que
pregoa pois di respeito á igualdade entre os membros do sexo masculino,
deixando as mulheres numa situação de inferioridade de gênero. Com todo, cumpre
reconhecer que o maior contributo antropológico cultural da Revolução Francesa
foi, sem dúvida, a declaração dos direitos do home e do cidadão, dos direitos
humanos chamados da primeira geração, que são os direitos humanos individuais,
fito importante, embora insatisfatório por partir da consideração dum home
abstrato á margem da sua comunidade de pertença nacional e deve complementar-se
também com o reconhecimento dos direitos humanos da segunda geração, que são os
direitos socioeconômicos, que visam efetivizar os direitos humanos da primeira
geração para que não fiquem em letra morta, e também com os direitos humanos da
terceira geração.
Já conhecemos o projeto de Felipe V de eliminar todas
as línguas, usos e costumes do Estado espanhol para deixar em pé somente os
usos e costumes de Castela, política mui bem assimilada e aplicada nos reinados
de Fernando VII, Isabel II, Afonso XII e Afonso III e polos partidos do PP e
PSOE na atualidade, em nome da igualdade de direitos para todos, que é, como
dizia Aristóteles, no que consiste a atuação injusta, por considerar este autor
que a justiça não consiste em tratar a todos por igual senão como iguais aos
que são iguais e como desiguais ao que são desiguais.
Carlos III pôs também em pratica uma política
assimilacionista a respeito dos ciganos, que estavam numa situação muito
problemática após a grande Redada de 1749, que se pretende resolver com a Real
Pragmática de 1783, pola que se lhe ordena que “2. ...não usem da língua.
traje e método de vida vagante de que tenham usado até o presente so a penas
abaixo contidas”32. O prêmio por deixar de ser o que são
seria ser admitidos em qualquer grêmio ou comunidade. Porém fica-lhes proibido
ocupar-se de “tosquiadores, nem no tráfico de mercados e feiras nem menos na
de pousadeiros e hospedeiros em sítios despovoados; embora nos povos podam ser
pousadeiros”, sempre que não haja indícios fundados de serem delinqüentes
ou receptadores deles. Devem abandonar o nomadismo e concedem-se-lhe 90 dias
para que tanto eles como a quaisquer
vagos e delinqüentes “7. ... se retirem aos povos dos domicílios que
elegessem exceto, por agora, a Corte e Sítios Reais, e abandonando o traje,
língua e modais dos chamados ciganos, se apliquem a ofício, exercício ou
ocupação honesta, sem distinção da lavoura ou artes”. A primeira vez que
desobedecessem estas leis seriam marcados com um ferro candente no lombo. “20.
Verificado o selo dos chamados ciganos que fossem inobedientes, se lhes
notificará e aperceberá que, em caso de reincidência, se lhes imporá
irremissivelmente a pena de morte; e assim se executará só com o reconhecimento
do selo e a proba de ter volto á sua vida anterior”.
2.- A cultura durante a época de crise atual
Imos citar só alguns traços característicos do momento
atual. A nível individual, o home já não se sente dono e senhor da sua própria
casa, pois Freud ensinou-nos que existem instâncias inconscientes que determinam
a conduta humana. Aliás, o ser humano não pode ser definido em exclusiva pola
razão senão que também o constitui a irracionalidade, o sentimento, os afetos,
... Não nos valem definições como a aristotélica que afirma que o home é um
animal racional, senão que é um animal senciente, racional, e com capacidade
lingüística articulada.
Nos dias de hoje, polo que di respeito ao Estado
espanhol, o ser humano não pode sentir-se otimista. Pendem sobre a sua cabeça
os fantasmas da corrupção, paro, desigualdade social, injusta repartição da
riqueza, incompetência e sensação de não estar representado politicamente polos
seus deputados e deputadas. ... Tampouco se pode sentir tão otimista polo que
se refere á ciência e ao progresso, por conhecer melhor os seus limites, se bem
se pode dizer que os adiantos científicos e o progresso tecnológico são uma
esperança fundada de cara a um futuro melhor, apesar dos retos enormes com os
que nos enfrentamos: escassez de recursos, nomeadamente energéticos,
alimentares, a persistência da cultura da guerra para a resolução dos
conflitos, ...
Progrediu-se muito no reconhecimento dos direitos
humanos individuais, embora o seu cumprimento é ainda insatisfatório,
nomeadamente, polo que di respeito á
igualdade de direitos de gênero, incluída a igualdade de oportunidades. A
mulher segue a ser considerada menor de idade para a Igreja católica e para
diversas confissões de Caráter integrista, e segue a ser qualificada, muitas
vezes, como uma mercadoria sexual. Infelizmente, seguem a coutar-se os direitos
coletivos de auto-identificação e autodeterminação, verdadeira obsessão em
vários países que pretendem colonizar aos povos que se integram no seu âmbito,
como o desejo do Estado espanhol de espanholizar Catalunya e as demais comunidades
com língua própria, do que foi iniciador Núñez Feijóo na Galiza e adais os
governos do PP tanto o central como os que governam na Galiza, Valência e
Baleares, em nome duma justiça e umas leis que eles mesmos impuseram ao seu bel
prazer e arbítrio.
Em nome do que dizem progresso as oligarquias mundiais
pretendem reduzir todos os países do mundo a uma língua, o inglês, e á cultura
cosmopolita de aeroporto, convertendo os habitantes do planeta em átomos
isolados e desenraizados da sua inserção comunitária, súbditos dóceis e inermes
ante dos ditados do capital e mercados transnacionais, com o único objetivo de
amassar dinheiro para uns quantos, e despossuir a massa dos cidadãos de
qualquer direito efetivo e real. Abençoam
a soberania estatal sempre que coincida com os seus interesses, e em caso
contrário convertem-se em patrioteiros folclóricos que subordinam os ideais
pátrios á deusa pecunia.
O século das luzes defendia o deísmo, cria na
existência de Deus, embora por vezes não
for considerado como providente, como no caso de Voltaire. A crença na
divindade de Jesus de Nazaré esvai-se. No século atual, a religião deixou de
informar a vida pública e mesmo em grande medida a privada, embora se mantenha
presente a pratica ritualista em certos momentos significativos da vida do
individuo, como o nascimento, câmbio de status civil e morte. A religião foi
expulsada da ciência, cultura, arte, ... e foi abandonada polas elites
intelectuais, e inclusive pola maioria social, que muitas vezes a vê como fria,
distante, e sem capacidade de respostas aos problemas que tem que enfrentar no
dia a dia. Si mantém uma presença ativa e militante em certos grupos,
especialmente da extrema direita, como o Opus Dei, Comunhão e Libertação, os
Kikos, Legionários de Cristo, e uma presença ritual em atos religiosos formais,
como certas procissões e invocações, como a do Apóstolo, a cada passo mais
desacreditadas, e ás que acodem os políticos de turno para demandar-lhe ao
Apóstolo ou ao santo venerado a resolução dos nossos problemas, pois eles
parece que não são capazes de afrontá-los.
IV.- Desenlace
Os prolegómenos da Revolução Francesa desembocaram na
luta aberta e violenta com os poderes estabelecidos, e a substituição dos
valores do Antigo Regime polas idéias e valores do liberalismo emergente.
Produziu-se a revolução mais exitosa que se conhece, pois enquanto a Revolução
de Outubro praticamente já perdeu a sua vigência, a revolução liberal nascida
da Revolução Francesa, está fortemente consolidada na atualidade, embora não so
a forma do liberalismo decimonónico senão complementada com os aditamentos que
foi recebendo após o século XIX, em grande parte, sob a influência do sistema
marxista e coletivista em geral.
Na atualidade a cidadania não parece de momento
disposta a a ações similares á da tomada da Bastilha, e ao derrubamento
violento das instituições, apesar do fenomenal descrédito no que caíram pola
sua incompetência, corrupção e alinhamento com os poderosos. Submetidas a uma
situação de limitação as suas manifestações e desatendidas as suas demandas,
fica-lhe, e parece disposta a jogá-la, a carta do castigo eleitoral dos
responsáveis deste desaguisado, como se está a constatar polo voto de
indignação a partidos que, como Podemos, prometem uma regeneração da vida
política, convertendo-se em instrumentos de ab-reação e esperança de futuro.
Hoje não se põe em questão a existência dos mercados,
criaturas do liberalismo consolidado na França revolucionária, senão o controlo
desses mercados; não se questiona a iniciativa privada, como fonte de riqueza e
bem-estar, senão a falta de regulação da iniciativa privada; não se
problematiza a propriedade privada embora se subordina ás necessidades sociais
prévio pagamento do valor que se estabeleça; não se objeta contra o
despedimento laboral em si, senão contra o despedimento sen freios e gratuito;
não se questiona a iniciativa dos atores econômicos privados mais si que se pretende que o Estado
também poda intervir para atuar naqueles sectores a onde não chega a iniciativa
privada e para corrigir as disfuncionalidades do sistema.
Estes freios devem ser incrementados em muitos
aspectos, como, por exemplo, impedindo ou dificultando a deslocação de
empresas, os paraísos fiscais, favorecendo um maior controlo dos produtos
financeiros, para evitar fraudes como o das preferentes, subordinadas e as
hipotecas subprime. ... Ha que evitar que o sistema financeiro substitua a sua
função de conceder créditos á economia real pola dum agente especulativo para
obter dinheiro fácil e barato mediante a comercialização de produtos destinados
a drenar recursos alheios em benefício próprio. Cumpre evitar a galopante e
omnipresente corrupção político-administrativa mediante medidas legais que a
dificultem e a penalizem severamente, e impulsar um modelo de sociedade baseado
em valores ético-cívicos. Ha que evitar os apartheids fiscais como o da Igreja
e a engenharia fiscal que favorecem a grupos empresariais. Ha que estabelecer
uma lei de transparência de caráter universal e que permita conhecer o patrimônio
de todos os que recebem dinheiro público, etc.
O movimento do 15 M foi um revulsivo, expressão dum profundo
ma-lestar e indignação pola maneira de gerir os assuntos públicos e um protesto
contra a incompetência e corrupção dos governantes, que carregam todo o peso da
crise sobre uma cidadania á que se culpa dela, por, dizem, ter vivido por acima
das suas possibilidades, ao tempo que os que roubavam a mão salva, os que cobravam sobres em B, os que defraudavam ao fisco, as
empresas do Ibex, as grandes fortunas, os que deslocam empresas, os que
acumulam somas em paraísos fiscais, etc. vão-se de «rosinhas» e não se sentem
afetados no mais mínimo. Chega-se á indignidade de expulsar de fato do país á
gente nova e a que os pais não podam alimentar a sua família, com o pretexto
absurdo de que isto é necessário por culpa da herança recebida, quando aqui
herdamos tanto as políticas do PP como as do PSOE, pois enquanto um ocupava o
governo de Espanha e alguns autonômicos o outro mantinha o governo de mais da
metade das CCAA.
Esse grito de indignação que saiu á rua o 15 M, mas que muitos outros
exponhamos desde a docência, não se pode obviar com o silêncio mais ou menos
condescendente, como fizeram uns, nem com a coação e a violência institucional,
como fizeram outros, senão que haveria que escutá-lo e assumir várias das suas
propostas, mui razoáveis por certo. Hoje existe nos partidos políticos uma
grande desorientação porque alguns viram que o controlo total, valendo-se de
meios de comunicação «amigos» e
«pesebristas», já não garante por si só o controlo social e o
assentimento da cidadania. A formação Podemos foi a que recolheu e atuou como
catalisador de parte desse descontento e indignação cidadã, e da noite para a
manhã converteu-se numa revelação política importante. Os ataques, grosseiros e
puníveis muitas vezes em qualquer sociedade séria, que está a receber de certas
formações políticas, traduz a sua desorientação e a percepção dum perigo real
para a sua própria supervivência política. Alguns gurús tertulianos
aprestaram-se a predizer a sua imediata desaparição, quiçá confundindo o desejo
com a realidade, mais a mi parece-me que a sua irrupção social é uma
necessidade para a regeneração de todas as instituições, começando pola Chefia
do Estado, submetendo-as todas á eleição e controlo dos cidadãos.
A respeito do nosso país, creio que os partidos
nacionalistas devem assumir grande parte dos valores expressados para ser um
instrumento útil para o nosso futuro, pois creio que somente partidos próprios,
totalmente necessários para garantir o nosso futuro como povo, abertos á
cidadania e não fechados a elites partidárias que se perpetuam no poder, podem
oferecer-nos soluções satisfatórias para o porvir. Ha que reconhecer que não se
viram salpicados pola corrupção dum modo significativo e que tomaram medidas
contundentes quando se produziu alguma demanda contra eles, mas devem realizar
um esforço importante de apertura e de sintonia com a cidadania, sem
pretenderem, pessoas ou grupos, constituir-se em apropriadores das essências
pátrias e monopolizadores do poder político.
1. KANT. ¿Qué es Ilustración? em Filosofía de la Historia, Ed. Nova.
Bos Aires.
2. KANT. ¿Qué es Ilustración? em Filosofía de la Historia, Ed. Nova.
Bos Aires.
3. Decreto de 29 de xuño de 1707, em Novísima
recopilación de las Leyes de España, T. II, Madrid, 1805, lib. III, tít.
III, lei Iª. Tomado de JOVER ZAMORA, JOSÉ MARÍA, La civilización española a
mediados del siglo XIX, Espasa Calpe, Madrid, 1992, pp. 119-120.
4. FERNÁNDEZ DE PINEDO, EMILIANO, GIL NOVALES,
ALBERTO E DÉROZIER, ALBERT, Centralismo, ilustración y agonía del Antiguo
Régimen (1715-1833), Editorial Labor, Barcelona, 1980, p. 215.
5. HUMBOLDT, WILHELM VON, «La finalidad del
Estado», em BRAMSTED, E. K., e MELHUISH, K. J., El liberalismo en Occidente,
Unión Editorial, Madrid, 1982, T. III, p. 118.
6. El contrato social, Libro II, cap. IV.
ROUSSEAU, J.J., El contrato social, Orbis, Barcelona, 1984, p. 177.
7.. JÁUREGUI BERECIARTU, GURUTZ, Contra el
estado-nación. En torno al hecho y la cuestión nacional, Siglo Veintiuno de
España Editores, Madrid, 1988, p. 212.
8.
apocalipticus.over-blog.es/article-asi-se-manipula-en-la-tvg-121076344
http://www.eldiario.es/galicia/manipula-TVG_0_122488427.html
9. «Fai un ano que Galiza foi reconocida como
nazón en Berna pol-o Congreso das minorías nazonales», em A Nosa Terra (ANT),
nº. 350, (29/09/1934), p. 3.
10. Sempre en Galiza (SG), pp. 322-323.
11. «Carta a Marcial Fernández en México»,
(30/01/1945), em CASTELAO, Obras, (OCA),
T. 6, p. 516.
12. CASTELAO, «En col da nosa misión», em PALMÁS,
RICARDO, Castelao: Prosa do exilio, (PE), Edicións do Patronato da
cultura Galega, Montevideo, 1996, p. 93.
13. CASTELAO, «La posición ideológica de Galicia»,
em PE, p. 114.
14.. «IV.- Galicia, célula de universalidade», em ANT,
nº. 300 (09/07/1933). Cf. TOBÍO, LOIS, «Os valores éticos em Castelao», em Congreso Castelao
(CC), Universidade de Santiago de Compostela, 1989, p. 234.
15. Deputado socialista francés (1859-1914),
defensor do antiimperialismo.
16. SG, p. 432.
17.. SG, p. 434.
18. Ícaro, filho de
Dédalo, ambos encarcerados por Minos no Labirinto, paço de Minos em Cnosos,
ilha de Creta, e libertados por Pasifae. Tinha as asas de cera e, no intento de
fugir da ilha, desobedecendo os preceitos de seu pai, chegou-se tanto ao sol
que se lhe derreteran e caiu ao mar.
19. SG, p. 433.
20. La españa del siglo XVIII y el
reformismo borbónico, www.ieslania.es/equipodocente/CCSS/T1_SigloXVIII.
21. Las relaciones Iglesia-Estado
em España durante los siglos XVIII y XIX,
dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/66459.
22. RUSSELL, BERTRAND, Por qué
no soy cristiano, Hispano Americana, Barcelona, 1981, p. 31.
23. RUSSELL, BERTRAND, Por qué
no soy cristiano, Hispano Americana, Barcelona, 1981, p. 31.
24. Segundo Manuel Marliani,
liberais e servis eram os nomes "con que se diferencian en España los
parciales de la libertad y del absolutismo; habiendo pasado la voz liberal,
como distintivo político”, MARLIANI, MANUEL, El reinado de Fernando VII, Sarpe,
Madrid, 1986, pp. 78.
25. Diccionario razonado, manual,
para inteligencia de ciertos escritores que por Equivocación han nacido en
España. Tomado de ANTON, J. e CAMINAL, M., Pensamiento político en la España contemporánea,
Teide, Barcelona, 1992, p. 31.
26. TURGOT, Carta al abate Terray,
"sur la marque des fers», em BRAMSTED, E. K., e MELHUISH, K. J., El
liberalismo em Occidente, Unión Editorial, Madrid, 1982, T. II, p. 116.
27. Semanario, nº. 25, p.
281. (Citado por LAG, p. 133.
28. RUSSELL, BERTRAND, Por qué
no soy cristiano, Hispano Americana, Barcelona, 1981, pp. 54-55.
29. MISES, LUDWIG VON, Liberalismo,
Planeta Agostini, Barcelona, 1994, p. 52.
30. «Un ‘chollo’ fiscal para la
gran empresa», El País, 23/03/2012, p. 36.
31. «Un ‘chollo’ fiscal para la
gran empresa», El País, 23/03/2012, p. 36.
32. Pragmática de Carlos III contra los Gitanos -
Andalucía, em ...www.andalucia.cc/adn/0399doc.htm
No hay comentarios:
Publicar un comentario