O mundo é já pior desde que Donald Trump ganhou as
eleições dos EEUU. É pior porque é mais incerto tanto no eido econômico como no
eido político e ecológico. EEUU foi o berço do integrismo religioso lá pelo ano
1880 e agora parece que quer converter-se no berço do integrismo político e
econômico, estabelecendo como máxima o princípio do egoísmo mais exclusivista,
unilateral e insolidário. Alguém poderia argüir que todo egoísmo é insolidário
e unilateral, mas considero que o mesmo egoísmo darwiniano foi temperado com o
altruísmo entre os indivíduos enquanto que os dotou de tendências cooperativas,
benevolentes, generosas e solidárias, especialmente em situações de perigo,
porque isto incrementa as suas possibilidades de êxito reprodutivo e de
supervivência. Por conseguinte, o egoísmo, presente em maior ou menor grau em
todos nós, é o motor das nossas ações e pode ser socialmente proveitoso se se
complementa com o altruísmo que nos incline a desejar também o bem do outro.
Parece que isto é o que se rompe com Trump, pois o seu egoísmo leva-o a
procurar o seu benefício, tanto estatal como pessoal, em contra de todos os
demais aos que se quer negar os meios necessários para a sua própria
supervivência. Isto agrava-se pelo fato de ser os EEUU a potência líder mundial
que devia servir de modelo e exemplo para umas relações internacionais baseadas
na colaboração, diálogo e acordo, especialmente num mundo que, queiramos ou
não, já não é unipolar, sem sequer bipolar, senão multipolar, com uma potência
emergente, ou melhor emergida, tão importante como é a China, além doutras
secundárias como Brasil, Rússia e Índia.
EEUU é a segunda potência exportadora mundial, só por
detrás de China, e a terceira se incluímos a UE, e toda potência exportadora
necessita dispor duns amplos mercados nos que colocar os seus produtos e nos
que poder conseguir, aos melhores preços, as matérias primas necessárias para o
processo de manufaturação, e para todo isto lhe convém que os aranzéis sejam os
mais baixos possíveis. Tendo isto em conta, creio que carece de sentido que os
EEUU ameacem aos demais países com subir os aranzéis, pois isso inevitavelmente
vai levar a uma guerra de aranzéis entre países, que, á longa, sempre vai
prejudicar também aos países exportadores. No caso da UE padecemos a mesma
miopia de Alemanha, terceira potência exportadora mundial, que logrou dotar-se
duns mercados europeus totalmente acessíveis para colocar os seus produtos, e
com uma normativa comum que lhe impede aos países comunitários com problemas
tomar as medidas adequadas para superá-los. Os demais países da UE atuaram como
uns cândidos ao aceitar uma legislação que os desprotege totalmente em
situações de crise, em situações de dificuldade de acesso aos mercados
financeiros, de perda de competitividade da sua economia situação freqüente em
caso de competir com países mais exportadores, etc. De tal modo que na UE rege
o princípio de máximas facilidades para os países exportadores e mínimo
compromisso de solidariedade por parte destes para aliviar os problemas dos
importadores.
Aos países importadores convém-lhe proteger a sua
economia com aranzéis mais altos para poder compensar as facilidades que lhe
oferecem aos demais com ingressos provenientes das empresas que coloquem os seus
produtos em situações mui vantajosas nos seus mercados e, como mínimo, exigir
que se estabeleçam mecanismos que permitam que a sua população não saia
prejudicada. Na UE fez-se um pacto de mercadores no que as oligarquias, sejam
nacionais ou transnacionais, terminam ganhando e a população perdendo, e esta
foi a tônica também tanto da globalização como dos demais tratados econômicos
internacionais. As oligarquias não só foram capazes de impor as suas condições
econômicas senão que também impuseram as regras de jogo político, convertendo a
participação e decisão da cidadania em irrelevantes.
Trump, se quer presumir de recordes já podemos afirmar
que tem um no seu haver: o de criar, inclusive antes de aceder ao governo, inimigos
tão significativos e/ou poderosos como México, Japão, a UE. No caso de México, Trump
não quer que se instalem neste país as empresas americanas porque lhe sacam
postos de trabalho aos estadunidenses, mas si que México tenha abertos os seus
mercados para que os americanos exportem livremente a este país. Evidentemente
que México obtém uns benefícios importantes com a instalação de empresas no seu
território, mas as empresas americanas também vem incrementados os seus
benefícios , por tanto, os dividendos dos seus acionistas estadunidenses. Esta
política de egoísmo exclusivista vai acompanhado do “matonismo” político ianque,
que pretende impor a construção dum muro a México a expensas dos mexicanos,
recorrendo a este efeito aos métodos de extorsão. Esta política de “matonismo” vai complementada com um incremento mui
importante nos gastos militares que implica que os mexicanos estão hoje muito
menos seguros que antes dele aceder á presidência dos EEUU. Com todo, esta
situação de insegurança não é privativa de México senão de todo o mundo, porque
se se incrementa a fabricação de armas, como é o propósito de Trump, e se põem
sob o controle de pessoas incontroladas e incontroláveis, a situação pode
chegar a limites explosivos. Aliás, todo gasto suplementário em armas supõe uma
míngua no gasto doutras partidas, como educação, sanidade, estradas, etc. e,
por tanto piores condições de vida para os habitantes do planeta. No caso de
Japão, tampouco quer que as empresas japonesas se instalem em México e que
terminem vendendo os seus produtos nos EEUU. Isto implica que se considera o
amo supremo que pode decidir onde devem radicar-se as empresas doutros países,
atitude mui caraterística dos EEUU. No caso da UE, não quer que Europa seja
forte e unida, quiçá por isso de “divide e vencerás”. Parece que o seu único
amigo é Rússia, o inimigo histórico desde que constitui a URSS no ano 1924.
Nos países muçulmanos a situação não vai melhorar. Da
presidência de Obama que procurou evitar essa sensação mais dura de
belicosidade, passamos a uma presidência que parece que quer solucionar os
problemas com ex abruptos desde Washington, retrocedendo aos tempos do trio das
Açores, com Bush á cabeça, e ás suas mentiras sobre as armas de destruição
massiva, com o pretexto de que estão ameaçados, fazendo fazer passar por ameaçados
aos mesmos matões. O maior simplismo para solucionar problemas políticos que se
criaram e enquistaram com medidas desacertadas, precisamente por aqueles que se
apresentam como a solução. Isto somente pode incrementar o ódio e o afastamento
entre os países muçulmanos e os ocidentais, e, previsivelmente, um grande
aumento do terrorismo e da insegurança internacional.
Outro âmbito no que já estamos pior é no aspeto
sanitário tanto a nível individual como planetário porque a primeira medida de
Trump foi derrogar a normativa energética que obrigava a reduzir as emissões
contaminantes. Os dez países mais contaminantes do mundo são: China, EEUU,
Índia, Rússia, Japão, Alemanha, Iran, Coreia do Sul, Canadá e Brasil. Foram
precisamente os dous países que encabeçam o ranking de contaminação: EEUU e
China, os que mais se opuseram a tomar medidas para previr o grande cataclismo.
Um mundo que se nos vai das mãos e se converte em inabitável pela culpa do home
é um mundo pior, e, se isto acontece, vai ter uns responsáveis, aos que quiçá
não lhes passe nada. É esperpêntico que Obama pedisse perdão por ter
contaminado tanto o planeta e que o seu sucessor imediato pretenda trivializar
com o câmbio climático, qualificando-o como um invento chinês. As chaminés de
Pequim, a densa névoa das periferias industriais e o uso de mascarilhas pelos
viandantes das cidades chinesas são indicativos do nível de contaminação á que
se chegou. Em Madrid também há que tomar medidas pelo ar irrespirável como
conseqüência da contaminação, e se a isto unimos os efeitos sobre o clima e as
catástrofes ambientais cada vez mais freqüentes, e a alerta da comunidade
científica ante o panorama que se nos avezinha de não tomar medidas em tempo e
forma, indica-nos que cumpre atuar já e que não podemos aceitar que se
frivolice com estes temas, porque a saúde do planeta está em questão, e isso
significa que também está em questão o nosso porvir e o dos nossos
descendentes.
Em aras do benefício imediato e do incremento das
contas de resultados, as oligarquias atuam muitas vezes irresponsavelmente e
não se arredam de desqualificar a mesma comunidade científica, sem o mais
mínimo rubor espalhando ante próprios e estranhos a sua ignorância, e somente a
união e pressão da participação e do voto da cidadania pode impedir que se estrague
o porvir dos seres vivos e dos ecossistemas terrestres, e em especial a vida
dos seres humanos. Este é o reto mais importante desta geração. A ética nos
nossos dias deve ser de caráter ecológico, universal, pois o ser humano tem a
responsabilidade de salvar a habitabilidade e diversidade biológica num mundo
do que formamos parte integrante e inseparável.
Estamos pior também em direitos humanos. Os mais
desfavorecidos de EEUU vem como a reforma sanitária de Obama que garantia o
seguro médico a 20 milhões de cidadãos, foi mutilada na primeira medida do novo
mandatário, á espera da sua revogação pelo Congresso. Ao mesmo tempo ordenou
que se rebaixem os impostos, que redundará também em prejuízo dos mais
desfavorecidos, porque se elimina o rol redistributivo da riqueza próprio da fiscalidade.
As pessoas que vivem a sexualidade doutra maneira também vem como se lhe
eliminam os planos relacionados com os coletivos de gays, lesbianas,
transexuais e bi-sexuais, produzindo-se um retrocesso importante na
possibilidade de viver a própria vida na diferença.
E todos estes câmbios em negativo adubados com um discurso
patrioteiro no que demagógica e cinicamente anuncia que lhe cede o poder ao
povo, antes de retirar-lhe parte dos seus direitos. A reação popular foi de
frialdade e absentismo porque não o sente como o seu presidente, o qual explica
a sua ausência dos atos de tomada de possessão do seu cargo, as manifestações
massivas na sua contra e a numerosas detenções que se praticaram entre os
manifestantes. Por conseguinte, já podem ter claro que se não querem ter
problemas, o único que lhes queda é manifestar-se a favor dele.
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