Anova
vem de propor como lema para o Dia da Pátria Galega «República e
Ruptura», no que se observa que não há nenhuma
referência clara direta e parece que tampouco indireta a Galiza nem à Pátria
Galega. Todo indica que quando falam de república aludem ao estabelecimento
duma república espanhola que rompa definitivamente com a monarquia, e quando
falam de ruptura referem-se à ruptura com o sistema da transição espanhola que
manteve em grande parte a continuidade com o regime franquista. Isto é
corroborado pola proposta dos dissidentes que pretendem singularizar-se propondo
um frente amplo para lutar por uma república galega.
Sou
republicano desde os dezoito anos e vim demonstrando as minhas convicções
republicanas numa série de artigos sobre a monarquia publicados nos dous
últimos anos. Portanto, desejo que o Estado espanhol se dote dum sistema
republicano porque é uma forma de Estado muito mais racional que uma monarquia,
sistema baseado na desigualdade e no privilégio, como se tem demonstrado
sobradamente nestes últimos tempos. Todos os cidadãos são iguais ante a lei,
salvo o chefe de Estado que é distinto e intocável. O acesso aos cargos
públicos deve fazer-se em base ao mérito e à capacidade, salvo na cúspide do
Estado que se chega pola pura animalidade. A Justiça é igual para todos, salvo
para a Família Real. Todos os cargos públicos devem ser elegíveis, salvo a
Chefia do Estado, que está predestinada para os membros duma família, de acordo
com um sistema prefixado, à margem de qualquer mérito e capacidade. Os membros
desta família são criados numa borbulha arredados das preocupações e interesses
da cidadania, que os incapacita para entender a realidade do seu próprio país.
Em
Espanha não se produziu uma ruptura com respeito ao regime anterior senão um
pacto entre os ostentadores do poder durante a ditadura e a oposição política,
no que se anistiaram todos os excessos cometidos por um regime tremendamente
repressor e sanguinário. Os setores adictos ao regime anterior nunca se foram
de todo e continuaram conservando nas suas mãos grande parte do poder
econômico, político e mediático. Ao não ter-se produzido uma ruptura com o
regime anterior, senão o seu abençoamento explica que, nas etapas de governo da
direita, se promulguem leis e se põem em marcha atuações mais próprias do
regime anterior que dum regime convencidamente democrático, do qual são exemplo
a lei mordaça, a repressão contra grevistas, a controle dos meios de
comunicação ou, noutras palavras, da mídia, a re-centralização
econômica-política, o controle do sistema judicial, etc.
A república e a ruptura são, portanto, medidas
muito importantes para melhorar a saúde democrática no Estado espanhol, mas
cumpre ter presente que isto de por si não vai solucionar todos os problemas nem
terminar com o sistema de corrupção que lastra a vida do país, como se
demonstra claramente polo que acontece em países já republicanos, como França,
Itália, etc. Aliás, feitas todas estas reformas, o problema da Galiza continua
sem resolver, e não o vai resolver por arte de magia uma república espanhola,
como se demonstrou claramente polo acontecido durante a II República. Não é
bendizendo e reforçando o espanholismo como se lhe oferece uma alternativa ao
nosso país, senão como se oferece uma solução para o Estado espanhol, que pode
continuar praticando uma política totalmente hostil para o nosso povo. Se
fiamos a solução dos nosso problemas aos espanholistas pode-nos passar o que
hoje lhe acontece ao governo galego e ao partido que o sustenta, que em Galiza
quer que se traspasse a AP-9, mas os amos de Madrid, dizem que não toca. O que
toca é sempre aqui e em todas partes ajudar a aquele que nos dá vida, e se não
que lho perguntem aos dirigentes do PNV.
A pátria vem
do pater patris, pai; ou também terra patria, a terra dos pais, dos
ascendentes; terra dos pais que é também terra matria, terra da mãe, a terra
entendida como fundo nutrício que nos alimenta e dá vida. A pátria tem
conotações principalmente sentimentais; faz referência ao lar onde um nasceu, á
paisagem que um acarinhou, aos seres queridos aos que um se sentiu ligado, ao
povo com o que um se sentiu solidário nas penas e alegrias, aos antepassados que
nos deram a língua, costumes, etc. Os nossos antepassados são aqueles que
viveram nesta terra e sofreram a opressão dum regime que nos negou e reprimiu
ao longo da história e frente ao qual não fomos capazes de achar o antídoto
apropriado que nos permitisse decidir sobre os nossos problemas e o nosso
futuro. A pátria faz referencia ao passado e ao presente, á terra dos pais dos
que nos sentimos herdeiros e continuadores; à terra mátria que nos dá o pão e o
agarimo, mas existe unha noção de pátria, presente em Nietzsche, não antitética
senão complementar com esta que consiste numa obra que temos que construir com projeção
de futuro, a pátria como terra dos filhos, terra filiorum ou também terra
filia, ou, como nas línguas anglo-saxónias, fili-lândia, a pátria como destino
e projeto que temos que forjar eliminando as imperfeições e defeitos da nossa pátria
atual, que expulsa os seus filhos à emigração, para criar outra à medida das
necessidades dos nossos filhos, que lhes permita ser alguém no futuro e não ser
borrados do mapa como povos sem história e sem consciência de si.
Creio que num dia tão sobranceiro
para Galiza como é o Dia da Pátria Galega, o povo galego é merecedor de que seja
o objeto nuclear de referência e que os políticos lhe manifestem a sua
fidelidade e lhe digam como vão solucionar os seus problemas e não como vão
solucionar os problemas espanhóis, confiando que da solução destes virá
automaticamente a solução dos seus próprios. Neste sentido, as organizações
mestiças têm um problema importante, que é o da sua própria identidade, e se
esta não está clara, tampouco será clara a alternativa a oferecer.
Alguns
parece que lamentam que não tenha lugar uma manifestação unitária no Dia da
Pátria, mas esta somente teria todo sentido se se constituísse uma frente ampla
de todos os partidos e organizações dispostos a lutar pola autodeterminação de
Galiza e por uma república galega, à margem de dependências alheias e do que
decidam os habitantes doutros povos peninsulares.
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