A
passada sexta feira, 25/05/2018, o PSOE apresentou uma moção de censura contra
Mariano Rajoy a raiz da condena deste partido polo caso Gürtel, que contabiliza
a quarta do período democrático. Esta moção pode sair adiante com o apoio de
Podemos e os nacionalistas ou com o apoio de Podemos e C’s. Um dos principais escolhos
para que triunfe, com o apoio dos nacionalistas, vem determinado pola conceção
patrimonialista do Estado que têm os defensores do 155, e o seu patrão o Borbon.
Esta conceção patrimonialista do Estado entende que a ordenação territorial do
Estado é patrimônio dos unionistas do 155 e, em menor medida, de Unidos
Podemos, e qualquer projeto que ponha em questão o statu quo vai ser fortemente
demonizado com grossos qualificativos. É uma conceção que entende a unidade dum
modo uniformizador e piramidal, uma unidade que chamaremos borbônica, porque
foram os Borbons quem a impuseram na França, o país mais jacobinista e
uniformizador do mundo, que afogou toda diferença entre os diversos povos que
convivem no seu território em aras da Grandeur de La France.
Frente a esta unidade
uniformizadora e empobrecedora temos a unidade integradora, que não supressora,
e acolhedora das diferenças num todo no que as partes contem e contribuam a
determinar a vontade do todo, do qual seria o principal representante a
Confederação Helvética, país que conta com 26 cantões declarados soberanos pola
Constituição Helvética, algo totalmente impensável para as mentes unionistas da
Península Ibérica, que consideram que a soberania é patrimônio dum Estado central
com uma única soberania.
Esta alternativa triunfaria se
votam afirmativamente o PSOE (84 escanos), Unidos Podemos (71 escanos), ERC (9
escanos), PDeCAT (8 escanos) e PNV (5 escanos). Tem o inconveniente de obrigaria
o PSOE a chegar a pactos com os independentistas bascos e catalães, e, portanto
uma valentia, capacidade e vontade políticas impensável no PSOE de hoje e no
seu máximo dirigente Pedro Sánchez, das que não deram prova em todo o período
pseudo-democrático borbônico, e não digamos já em C’s, partido que tem como
lema principal: aos nacionalistas periféricos nem pão nem auga. Os partidos
catalães exigem-lhe que dê marcha atrás no 155, que deixe de insultar ao
presidente Torra, que contribua a solucionar o problema dos presos políticos, e
que abra uma via de diálogo, e o PNV exige-lhe que se cambie a um modelo
territorial aceite para Catalunha e o País Basco. Estas exigências são inassumíveis
totalmente para um PSOE visceralmente jacobinista e uniformizador. Temos que
ter presente que o PSOE contribuiu decididamente com o PP e C’s a criar uma
sensibilidade espanholista totalmente hostil aos nacionalistas, que teve a sua
concreção no berro: “A por eles!”, que é a expressão pura da xenofobia espanholista.
Temos que ter presente também que Pedro
Sánchez manifestou ao dar conta da moção de censura que se propõe constituir um
governo do PSOE que defendesse a unidade de Espanha e a sua soberania, ou seja,
a soberania única e que não estava disposto a fazer concessões aos
nacionalistas. Porém, se coalhasse, podia ser a base duma nova reordenação do
poder no Estado espanhol de acordo a princípios federais e confederais.
A alternativa que se avista
neste momento com mais probabilidades para que triunfe a moção é que se crê uma
frente unionista formada por um híbrido direita-esquerda, composto polo PSOE:
84 deputados; Unidos Podemos: 71 deputados e C’s: 32 deputados. Total 187
deputados. Em caso de convocar eleições imediatamente, tal como pede o líder de
C’s, esta alternativa favoreceria extraordinariamente a C’s, que está subindo
nos inquéritos à custa do PP, podendo chegar a ultrapassá-lo; prejudicaria ao
PSOE que neste momento está num período de declive, se bem lhe permitiria
distanciar-se de Podemos que atravessa por um período duma certa crise de
identidade e de disputa interna, e destruiria qualquer possibilidade de formar
uma alternativa sólida de futuro da esquerda frente ao tandem PP-C’s. As únicas
reticências podem vir da mão de Podemos que, ainda que desse a sua aprovação,
fez-lo para governar e não só para convocar eleições e deve pensá-lo duas
vezes antes de entrar num pacto feito
precisamente para prejudicá-lo, além de
que lhe produziria tensões com os seus sócios periféricos. Tem que ter em
conta, contudo, que, se não aceita, vão-lhe botar as culpas de não querer botar
fora ao PP. Se Pedro Sánchez apresentasse uma moção para governar durante um
período significativo de tempo e realizasse um trabalho sério e rigoroso, esta
opção beneficiaria a esquerda, especialmente ao PSOE e prejudicaria à direita,
especialmente a Rivera.
Em todo caso, por-se-á de manifesto
que não se pode governar o Estado espanhol prescindindo duma parte muito
significativa da sua população que vota num nacionalismo distinto ao dos
unionistas. A estabilidade e a prosperidade coletiva dependem de que se entenda
esta premissa básica, porque esta situação não é privativa da moção de censura
senão também das próximas citas eleitorais.
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