Vivemos numa sociedade na que os
políticos atuam cada vez mais dum jeito maquiavélico, subordinando os
princípios éticos aos interesses políticos, utilizando a mentira, a distorção
dos factos, a censura encoberta, a fabricação de relatos e a repressão como
armas políticas, e a ética como um mero instrumento mais dessa falsificação da
realidade. Se um fia do que dizem os políticos não será capaz de formar-se uma
ideia clara do que acontece num país.
Outro traço da sociedade atual é
a consolidação do ascenso do capital ao governo, de modo que este se converte
cada vez mais num representante da oligarquia que já não se preocupa de
controlar o governo por meio dos seus acólitos, dos subornos, movimentos
estratégico do capital,... senão que passa a ocupá-lo diretamente sem o menor
complexo. A propaganda bastará para convencer a cidadania de que estão a
trabalhar no seu interesse. Isto não é difícil porque o poder mediático está
também nas suas mãos, que lhe permite lavar-lhe a mente à gente para que adira à
“verdade”, e destruir aos que pretendem impor outra “verdade”. O caso mais
evidente nos nossos dias é o de Trump.
Quando se trata de polaridade
entre dous atores muitos costumam adotar uma posição eqüidistantes, em base ao
princípio “in médio virtus”, “in medio veritas”, (“a virtude está no meio”, “a
verdade está no meio”), mas eu não creio neste termo médio nem como indicativo
da virtude, nem da verdade. Quem rouba cem euros, não ressarce a sua dívida
devolvendo cinquenta, senão que tem que devolver a quantidade total de cem;
igualmente, a verdade obtém-se pola fidelidade total da descrição dos feitos
com o que realmente acontece ou passou e não por posicionar-se em nenhum termo
meio. Quero deixar claro que não são votante nem do PSOE nem de UP.
Vem esta breve introdução a
propósito do que está a passar com a formação de governo por parte de Pedro
Sánchez. Todo o mundo pudo ouvir como o Círculo de Empresários se manifestou
publicamente sem o menor recato em prol da repetição eleitoral com a
finalidade, naturalmente, de procurar um governo mais proclive aos seus interesses,
nos que estão em jogo milhões de euros, por considerar que Podemos seria menos
dúctil e menos maleável por pretender legislar em prol da maioria social por
ter mais independência e não depender o seu financiamento das campanhas
eleitorais dos favores do capital financeiro, enquanto que o PSOE, com umas
dívidas financeiras importantes e dependendo, portanto, dos bancos, é mais
sensível às demandas dos empresários e também muito mais proclives a ocupar
cargos nas empresas uma vez que deixam a atividade de governo. A primeira
consequência clara de todo isto é que não mandam os que parece que mandam,
senão que quem tem o poder real são os que têm o poder econômico, e o poder
político é um delegado seu, mas estão disposto a ser muito benévolos com os que
se portam bem e não põem a “economia” em perigo, ofertando-lhe postos de
trabalho muito bem retribuídos por fazer de lobbies “conseguidores” de
contratos e favorecer que os poderes políticos legislem “sensatamente”.
O PSOE tinha a rota trilhada
para formar um governo que pusesse em pratica as políticas que figuram no seu
programa, mas está claro que esse programa não se quer cumprir, senão que se
utiliza só como reclamo para conseguir votos que depois se põem ao serviço do que
mais convenha, não aos seus votantes, senão a outros que são os que realmente
mandam. Quando Pedro Sánchez negociou um governo com C’s chegou a um acordo com
Rivera em tempo recorde e sem semelhantes subterfúgios como os de agora, e
reservou-lhe a Pablo Iglesias o rol de bem-dizer a união entre os dous, para
aplicar políticas da direita, que Rivera quantificou que recolhiam um oitenta
por cento do seu programa, mesquinho para a cidadania e hostil às aspirações
dos partidos independentistas. Naturalmente, UP não picou. Depois das eleições
do 28ª, ao negar-se Rivera a uma nova maridagem, que lhe daria a Sánchez a
maioria absoluta, a única alternativa era um pacto com Podemos, mas, como não
quer desairar ao poder econômico nem assumir as críticas do unionismo mais
fechado por governar com os independentistas,contra os que previamente lançaram
uma campanha de propaganda, injúrias e insultos desapiedada e implacável de
desprestígio para demonizá-los perante a opinião pública, e, perante a
possibilidade de aproveitar em próximas contendas eleitorais os reditos obtidos
do apoio sem contrapartidas de Iglesias, dedicou-se a buscar pretextos para
evitar formar governo atrasando qualquer negociação até os últimos segundos e
evitando dar-lhe a UP o poder e a representação no governo que em justiça lhe
corresponde segundo os resultados eleitorais, e impondo um veto incompreensível
e antidemocrático a Pablo Iglesias, porque não é uma pessoas que esteja
implicado em nenhum ilícito moral, e, portanto é um veto totalmente arbitrário
que implica vetar ao próprio partido de UP. A renúncia de Pablo Iglesias a
ocupar ministérios colhe-o por supressa por ser uma decisão que não esperava e
só posta com a finalidade de abortar a formação de governo.
A investidura fracassou em
julho, como era lógico nestas circunstâncias e com a finalidade de inviabilizar
um acordo de cara à eventual formação de governo, agora dedicou-se a
desdizer-se do que lhe concedera em julho a UP, reclama a monopolização total
de todo o poder por parte do PSOE, apesar de não ter para isto nenhum aval da
cidadania, e reserva-lhe aos de Unidas Podemos o rol de sacristães duma
cerimônia que oficia o PSOE, com Pedro Sánchez de Sumo Sacerdote. Ao mesmo
tempo, já leva tempo preparando um relato inventado que justifique a sua
atuação de cara a novas eleições para que não seja óbice a incrementar a sua
cesta de votos e, de passo, reforçar o bipartidismo e a monarquia parlamentar,
por parte dos que se chamam republicanos, objetivos que também compartem com os
poderes econômicos. É totalmente improcedente esta manobra por parte do PSOE
porque a cidadania já votou e era factível conformar um governo e só se pretende
favorecer os seus resultados eleitorais e dotar-se de sócios menos
“problemáticos”, sem preocupar-lhe em absoluto o custo que isso representa para
as arcas públicas, ou seja, para o dinheiro de todos os contribuintes.
No caminho fica a perda duma grande
dose de ilusão da cidadania por observar que as esquerdas não são quem de
pôr-se de acordo; a perda dum tempo magnífico para começar a resolver os
problemas do país, do que se conclui que os políticos estão empenhados em
demonstrar que eles não servem para nada e que perder um ano entre pitos e
flautas sem fazer nada não se nota num país; um monto importante de dinheiro
perdido inutilmente em gastos eleitorais prescindíveis; o problema que
representa para qualquer votante de esquerdas pensar que os partidos aos que
poderia votar quiçá não sejam capazes de pactuar tampouco no futuro; a
dificuldade de apresentar aos seus votantes um relato coerente e crível sobre o
que se pensa fazer no futuro e um problema de distribuição do poder territorial
no estado espanhol ao que não são capazes de dar solução e só se oferece como
alternativa a pura repressão. E depois queixam-se do desapego e desafeição dos
nacionalistas periféricos cara a essa Espanha que proclamam única e
indivisível.
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