Ramom Varela Punhal
3. Os eunucos em
Assíria, média e Elam
3.- Os eunucos em
Assíria
3.1.- A castração na
época mítica
3.2.- A origem
histórica da castração
3.3.- Os eunucos no império
meso-assírio
3.4.- Os eunucos no
império neo-assírio
3.5.- Os eunucos no
reino medo e elamita
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3.1.- .- A castração na época mítica
A primeira civilização que se conhece é a de Suméria,
região situada ao sul de Mesopotâmia, entre os rios Tigris e Eufrates.
Mesopotâmia, etimologicamente o território no meio dos rios, quase o atual
Irak. É nesta região onde se situa o
berço da civilização e da escritura que surge lá polo ano 3300 a.e.c. e,
portanto, o berço da história. Delimitada polos rios citados, nela sucederam-se
pluralidade de culturas: Suméria, Acádia,
Babilônica, assíria, persa... Estava configurada territorialmente num
início por cidades-estado, que muitas vezes se faziam a guerra entre si numa
luta pola supremacia, que, no decurso do tempo, foram ostentando sucessivamente
diversas cidades: Uruk, Ur, Lagash, Acad, Assur/Nínive, Babilônia,... que
quando logravam controlar o território entre os rios, receberam o nome de
impérios. Eram sociedades escravistas e teocráticas nas que o verdadeiro
soberano e senhor de todas as cousas era a divindade tutelar, vindo a ser os
reis meros vicários, representantes seus na terra como resultado da sua eleição
divina. No norte predominava a etnia semita, à que pertencem povos como os
arameus, assírios, acádios, os nômades amorritas ou amorreus, caldeus,... e no
sul a suméria, mas também desempenham um rol importante outras etnias, como os
casitas, elamitas, gutis, etc.
Domínio Sumério: arredor do ano 3500
a.e.c. assentam-se os sumérios, de procedência desconhecida, na desembocadura
dos rios Tigris e Éufrates. A partir de 2900 instalam-se em cidades-estado, das
que destacam as de Ur, Uruk, Lagash, e estavam governados por reis-sacerdotes.
A difusão da cultura de Uruk por toda Mesopotâmia, dá lugar à cultura suméria.
Os seus reis foram:Gudea de Lagash ( c. 2144–2124 a.e.c.), Ur-Nammu
(2047-2030), fundador da Terceira Dinastia de Ur, Shulgi, rei de Ur
(2029-1982), Amar-Sin de Ur (1981-1973), Shu-Sin, rei de Sumer e Acad
(1972-1964), e Ibbi-Sin, ei de Sumer e Acad (1963-1940).
Império Acádio: no ano 2340 os acádios,
pastores nômadas de etnia semita, com Sargão I à frente, que cumpre não
confundir com o rei Sargão I de Assíria, tomam o poder e impõem-se a povos
etnicamente diversos, inaugurando o primeiro império da história: o Império
Acádio, no que destacam como reis, além de Sargão I, (ca. 2334-ca. 2279),
Rimush (2279- 2270) e Naran Sin (2254-2218). Vai perdurar até o ano 2220 a.e,c.
em que é derrubado polos nômades amorreus de estirpe também semita,
volvendo de novo às cidades-estado e inaugurando um novo renascimento de Súmer,
também chamado 3ª Dinastía de Ur, que vai do 2200 a 2004.
A esta altura, a castração era frequente, estando
documentados os eunucos especialmente em oficiais de alto rango, em países
orientais: Índia, China, Egito, Babilônia, Assíria, Média, Pérsia, Israel,
Turquia, Anatólia, Armênia, Bizâncio, como nos ocidentais, Grécia, e também no
mundo helenístico. Os mitos cosmogônicos de muitas civilizações tanto de Europa
como de Ásía, África e Oceania, falam duma parelha primordial, Céu e Terra (a
parelha: Rangi-Papa maorí, Uranos-Gaia grega, An-Ki sumerio, ...), unidos num
abraço sexual que fina com uma ação exterior violenta, que alguma vez é
apresentada como um caso de castração, como a realizada polo deus do tempo,
Cronos, sobre o seu pai, o deus do céu, Uranos, unido com a deusa da terra e da
fertilidade, Gaia, impedindo assim, felizmente, o ciclo da interminável
reprodução; também a realizada, na cosmogonia hitita, por Kumarbi sobre Am ou
Anu, deus do céu, esposo de Ki, deusa da terra.
Num mito mesopotâmico narra-se o descenso de Ishtar à
sombria morada, ao mundo dos mortos, à Terra sem Regresso, presidida por
Ereskigal, e o seu retorno ao mundo dos vivos. Estando Ishtar no mundo dos mortos,
“Ea no seu sábio coração concebeu uma imagem, /E criou a Asusunamir, um
eunuco: Presto, Asusunamir, dirige a tua face à porta da Terra sem Regresso; as
sete portas da Terra sem Regresso abrir-se-ão para ti”1.
Os oficiantes cultuais castrados também fazem ato de
presença em Mesopotâmia, em relação com o culto a Ishtar, Inanna em sumério,
deusa da fertilidade, amor e guerra para os acádios, assírios e babilônios. Um
belo hino dedicado a esta deusa reza:
“Eles passeiam perante
a santa Ishtar
O seu lado direito
vestem-no com roupas de homem
O seu lado esquerdo
cobrem-no com roupas de mulher
Eles passeiam perante a
santa Ishtar
À grande senhora do
céu, Ishtar, eu diria: «Saúde»”2.
Os assinu, kurgarru e kulu’u eram considerados
funcionários religiosos associados à deusa Ishtar, que representavam peças
teatrais, dançavam, jogavam e tocavam instrumentos. Considerava-se que estavam
dotados de poderes especiais. Os kurgarru, sacerdotes de Inanna/Ishtar,
encarregados de oficiar os ritos orgiásticos em honor a Marduk, eram eunucos,
aos que, segundo o mito de Erra, Ishtar, a deusa de Uruk, lhe cambiou a sua
masculinidade em feminidade. O poema épico mesopotâmico Erra, deus da guerra e
da pestilência, escrito em acádio no ano 764 após uma epidemia, atribuído ao escriba
Kabti-ilani-Marduk, ainda que alguns afirmam que é, polo menos, um século mais
recente, afirma, em referência aos assinu e kurgarru, que “Eles
(os invasores) citam aos kurgarrus e assinus de Eanna (Inanna),
cuja virilidade Istar cambiou em feminidade para inspirar a veneração popular,
os manejadores de punhais e navalhas, escalpelos e cutelos de pedra, os que
participam em atos abomináveis para o entretenimento de Ishtar”3.
Os kurgarrus seriam devotos castrados, os assinu,
pessoas efeminadas, e os kulu’u, bi-sexuais. Na lenda de Dibarra, o
deus praga, afirma-se que “Ali congregam-se os eunucos de E-anna e os
sacerdotes isinnu (cinaedi?), a quem Ishtar, para atemorizar o povo, converteu
em hermafroditas”4.
A presença da emasculação nos mitos, polo menos já
desde inícios do segundo milênio antes de Cristo, indica que a castração já se
praticava na sociedade, pois a religião é um trasunto da organização social.
Por outra parte, é uma ação aprovada, praticada e ordenada polos mesmos deuses,
e, como tal, não é valorada moralmente como má, pois os deuses expresam os
valores morais aceites socialmente.
A partir desse momento estendeu-se o seu uso com a
finalidade de encomendar-lhe diversas funções: cortesãos, guardas das mulheres
do harém, oficiais militares de confiança, escravidão, ... Alguns chegaram a
elevar-se a postos importantes como rab sha reshi, chefe dos eunucos; rab
shage, chefe copeiro...
3.2.- A origem histórica da castração: Semiramis
Os primeiros documentos, neste caso, imagens visuais,
que falam dos eunucos em Suméria datam do quarto milênio a.e.c., provêm de Uruk
e estão associados com a deusa Inana (Ishtar), deusa do amor sexual e da
fertilidade, como a antiga deusa mesopotâmica Astarté, a hebreia Astarot ou
Asera e a romana Venus. Neste sentido, o cristianismo vai inovar ao criar uma
figura feminina que é um ícone da virgindade e sem nenhuma referente para o
amor sexual e a procriação, considerados ambos como algo sujo e pecado. Nessas
imagens podem-se ver três tipos de figuras humanas: homens, mulheres e um
terceiro grupo que estaria integrado por pessoas sem gênero porque carecem de
barba, penugem e de genitais. O mito sumério da criação do homem, datado
arredor do ano 2000 a.e.c. fala das diversas pessoas criadas pola deusa Nimmah,
entre elas figura “a mulher que tem descendência”, e “a que não tem órgãos
masculinos nem femininos”, uma espécie de ser andrógino. O deus assina-lhe os
diversos roles que devem desempenhar na sociedade, como «girsequ», servente do
rei. O poema mítico épico acadiano Atraasis diz que Nintu criou, a petição de
Enki, uma «terceira categoria» de pessoas, um terceiro gênero. Da deusa Ishtar
diz-se num texto do tempo de Hammurabi (1792-1750) que faz eunucos, cambiando o
sexo dos sacerdotes para sempre. Destes, uns eram castrados, os assinu, e eram os que mudavam de
gênero, ainda que alguns interpretam que eram varões homossexuais prostitutos
cultuais, enquanto que as assinutu eram sacerdotisas. A primeira informação de
castração intencional data já da 21 centúria a.e.c. e refere-se à cidade
suméria de Lagash5.
Segundo Amiano Marcelino (325/330-d. 391), a castração
tem a sua origem na lendária rainha Semiramis, a mais formosa de todas as
mulheres, esposa do general Oannes e mais tarde do rei Nino com quem teve dous
filhos e a quem sucedeu como rainha lá polo ano 2189, reinando durante 42 anos.
Dela diz-se que foi filha da deusa síria Derceto, com rosto de mulher e corpo
de peixe, que a abandonou no deserto para que perecesse, mas foi alimentada por
umas pombas e recolhida polo pastor Simas. “Finalmente, uma multidão de
eunucos, desde os velhos terminando polos meninos, muito pálidos, contrafeitos
e deformes pola conformação dos seus traços fisionômicos, que se alguém tiver
acometido percebendo por todas partes os exércitos de homens mutilados deteste
a memória de aquela rainha antiga Semiramis, que castrou a primeira a tenros
machos como infligindo-lhe violência à natureza, e desviando-a do seu curso
instituído, a qual na mesma infância do descendente mostra as vias de
propagação da posteridade, por uma lei dalgum modo tácita, polas fontes
primigênias do sémen”6. Foi tutora de Ninias, filho seu e de
Nino, ao que solicitou ter relações incestuosas, mas este, com a ajuda dum
eunuco tramou uma conjuração contra ela, que terminaria com a sua vida, ainda
que outros dizem que foi ela quem decidiu abdicar no seu filho, e a seguir
suicidou-se; e mesmo Ctésias testemunha que ela lhe passou o reino. “Depois
de passado algum tempo, Semiramis converteu-se no objetivo duma conjuração por
parte do seu filho Ninias com a ajuda dum eunuco, relembrando o oráculo de
Amão; porém ela não lhe inferiu dano senão que, polo contrário, lhe passou o
seu reino e ordenou aos seus lugar-tenentes que lhe obedecessem. Então ela
desapareceu como se fosse encontrar-se com os deuses como estabelecia a
profecia. Alguns narradores de histórias dizem que se converteu numa pomba e
depois que muitos pássaros baixaram à sua casa ela marchou voando com eles; por
esta razão, os assírios deificaram a Semiramis e honraram-na como a uma deusa.
Ela governou sobre toda Ásia, salvo a Índia, e finou da maneira antes citada,
tendo vivido sessenta e dous anos e governado quarenta e dous; isto é o que
Ctésias de Cnido conta sobre Semiramis. Ateneo e alguns outros historiadores
pretendem que Semiramis era uma bela cortesã cujos encantos cativaram o rei dos
assírios”7. Diodoro Sículo precisa que “ao princípio
não tinha mais que uma influência medíocre no palácio; mas que, convertida de
seguida na esposa legítima, rogara ao rei de ceder-lhe o império durante cinco
dias... O segundo dia, no momento em que o povo e os grandes lhe rendiam as
suas homenagens em qualidade de rainha, encarcerou o seu marido; e como estava
feita naturalmente para as grandes empresas e cheia de audácia, amparou-se do
império, e, reinando até a velhice, realizou muitas cousas grandes”8.
O recurso aos eunucos para tramar conjurações era
habitual, e Semiramis já foi vítima duma intriga após a guerra da Índia, como
nos transmite o médico da corte persa e historiador, Ctesias de Cnido (s. V
a.e.c.-d.398 a.e.c.), recolhendo uma informação do historiador grego Nicolau de
Damasco (64 a.C- d. 4 a.C.): “Nicolau diz que depois da guerra da Índia,
quando estava cruzando Média, Semiramis subiu à cimeira duma montanha elevada
que era inacessível totalmente, salvo por uma parte, polas vertentes rocosas
planas e escarpadas, e inspecionou o seu exército desde uma éxedra que ela
tinha construído nesse lugar. Quando estava acampando ali, um eunuco chamado Satibaras,
juntamente com os seus filhos de Oannes, conspiraram contra ela. O eunuco
pessoalmente orquestrou toda a intriga e disse-lhe aos moços que estariam em
perigo de ser mortos quando Ninias se convertesse em rei; portanto, devem
antecipar-se, matar a Ninias e a sua mãe, e assumir o trono. Além disso, ele
disse que era vergonhoso tolerar a conduta da sua licenciosa mãe que se
entregava à luxúria dia tras dia com qualquer homem do entorno, enquanto os
seus filhos se fazem homens”9. Eles perguntaram-lhe como se
procederia, e o eunuco respondeu-lhe que não se preocupassem disto e que “devem
aproximar-se a Semiramis na cimeira da montanha e, quando ele desse o sinal
(ele terá cuidado disso), empurrá-la da cimeira térreo abaixo. Eles concordaram
e fizeram votos mutuamente aos demais no templo”10. Seria a própria
Semiramis quem desbaratou a conspiração. “Quando eles chegaram, Semiramis
ordenou ao eunuco que se retirasse e disse aos moços: «rapaz humilde de um pai
nobre, persuadido por um humilde escravo planeas empurrar-me, alguém que tem a
sua autoridade outorgada polos deuses, deste penhasco? Bem, aqui estou!
Empurra-me deste penhasco assim podes alcançar glória dos homens e governar
depois de matar a tua mãe Semiramis e Ninias» O mesmo discurso lhe dirigiu aos
assírios”11.
O seu filho conspirou contra ela, mas Semiramis,
atendendo ao oráculo de Zeus Ammão que predisse que desapareceria de entre os
homens e receberia uma honra imorredoira entre alguns povos de Ásia, quando o
seu filho conspirasse contra ela12, entregou-lhe
pacificamente o reino. “Algum tempo depois, Nínias conspirou contra ela com
a cumplicidade dum eunuco, e relembrando a profecia dada por Ammão, ela não
castigou o conspirador, senão que, polo contrário, depois de entregar-lhe o
reino e ordenar aos governadores que lhe obedecessem, desapareceu, como se
fosse ser trasladada aos deuses como o oráculo tem predito... esta mulher
depois de ter sido rainha sobre toda Ásia a exceção da Índia, marchou da
maneira acima mencionada, tendo vivido sessenta e dous anos e tendo reinado
quarenta e dous”13.
Depois da sua morte foi sucedida por Nínias, o filho
que tivera Semiramis com Nino, que governou pacificamente sem correr os riscos
da sua mãe, senão que se entregou a uma vida prazenteira. “Passava todo o
seu tempo no palácio e não era visto por ninguém salvo as concubinas e os
eunucos, que guardou ao seu lado; buscou a ociosidade, luxúria e uma vida livre
de privações e ansiedade considerando a meta dum reinado feliz gozar de todos
os prazeres sem restrição”14. Esta viragem cara a um
pacifismo hedonista epicurista representa um câmbio na conduta bestial e
desapiedada dos reis assírios, que se vai corresponder com a fase de declive do
poder real. Este estilo de vida que se converte em habitual a partir de Ninias,
em que os reis passam o seu tempo entre os membros do harém, fiando lá e
acicalando-se, alcançará a sua cimeira com o último rei do império assírio Sardanápalo
(s. VII a.e.c.).
Além da lendária rainha Semiramis citada, existe uma
Semiramis histórica que foi esposa do rei Shamshi-Adad V (823-811 a.e.c.), a
quem mandou assassinar e regente do seu filho Adad -nirari III (810-783
a.e.c.), até o ano 806. Não parece aceitável o posicionamento de referir o
início da castração a esta rainha histórica porque os eunucos são, na
Mesopotâmia, muito mais antigos no tempo, ainda que sim é certo que esta se
rodeou de servos e confidentes, com os que comerciava para fazer negócio com
eles.
3.3.- Os eunucos no império meso-assírio
A seguir, o centro do poder político traslada-se mais
para o Norte, e tem como centro a cidade de Assur, de onde provém o nome de Assíria.
No império assírio distinguem-se três períodos: o paleo-assírio,
constituído entre 1814 e 1781 polo amorreu Shamshi-Adad I, que durou até o ano
1726. No s. XIV ressurge de novo o
império da mão do rei Ashur-uballit I
(1364-1328 a.e.c) que teve um período de apogeu com o seu neto Salmanasar I,
também conhecido como Sulmanu-Asarid (1274-1245 a.e.c.); este período recebe o
nome de meso-assírio. A finais do século X a.e.c. constitui-se o império
neo-assírio por Adad-nirari II. Em 1120 os elamitas foram derrotados
polo rei Nabucodonosor I de Babilônia, que à sua vez seria derrotado en 1103
polos assírios, de etnia semita, que criam o novo Império Assírio, que se
estende do 911 para o 609, e que tem como cidades importantes Nínive e Jorsabad
e como reis mais notórios a Sargão II e Assurbanipal III.
Em Assíria, os eunucos ostentavam títulos como «eunuco
maior» (Rab sha reshi), que era o comandante das tropas reais de cavalaria;
«copeiro maior» (Rab shaqe); «comandante
em chefe» (turtānu ), segundo
funcionário mais alto do império depois do rei. Desempenhavam roles como
vigilância do harém, servidores domésticos, militares de alto rango,
funcionários palatinos e governadores, cargo desempenhado frequentemente por
eunucos porque eram considerados como pessoas que inspiravam mais confiança,
porque não tinham expectativas de alcançar o trono. Os governadores eram
controlados por representantes do rei, que costumavam ser também eunucos.
Nas Leis de Assíria, compiladas durante o
reinado de Tiglath Pileser (1114-1076 a.e.c), mas que recolhem uma tradição
muito anterior diz-se que “A8 Se uma
mulher esmagou um testículo dum homem numa rixa, devem cortar-lhe um dos seus
dedos. Se, apesar de ser atado por um médico, o segundo testículo é afetado e
resulta inchado, ou se ela esmagou o segundo testículo na rixa, se lhe
arrancarão as duas tetas... A15. Se um homem surpreendeu a um homem com a sua
mulher, e acarretou contra ele cargos e provas, dar-se-á morte aos dous, Não
terá falta por isso. Se a tomou e conduziu quer perante o rei ou perante os
juízes, e se acarretou contra ele cargos e provas, se o marido dá morte à sua
mulher dará também morte ao homem, mas se corta o nariz da sua mulher, volverá
ao homem eunuco e mutilar-lhe-á toda a sua face... A20. Se um homem se deitou
com o seu próximo, e quando se tenham provas de que se deitou com ele, será
feito eunuco”15.
No século XII a.e.c. ditou-se no império meso-assírio
uma lei que castigava com a castração a sodomia, e, em geral, os comportamentos
sexuais “desviados”: sexo anal, bestial, homossexual. Isto indica que, a esta
altura, a prática da castração estava já totalmente institucionalizada a nível
social e jurídico-político. As Leis do Médio Assírio, das que se
conserva uma copia do tempo do reinado Tiglat Pileser I (1115-1077 a.e.c.)
institui no apartado A15, a condena a morte dos adúlteros e a castração do
homem, além da desfiguração da face, no caso de que à mulher lhe seja amputado
o nariz: “Se um home colheu um home com a sua mulher, e é acusado e
condenado, devem matar a ambos; o marido não será considerado responsável. Se
ele o colheu e o levou perante o rei ou os juízes, e se apresentou acusação e
provou contra ele, se o marido da mulher dá morte à mulher, então o homem será
executado também. Se, alternativamente, ele corta o nariz da sua mulher, deve
converter o home em eunuco e a totalidade da sua cara deve ser mutilada. Se o
marido lhe concede que a mulher seja livre, o adúltero será também libertado”. No A20, estabelece-se que “Se um home
teve sexo com o seu vizinho (ou companheiro de armas) e ele foi acusado e
condenado, será considerado desonrado e convertido em eunuco”. Aqui, como
podemos ver, aplica-se a lei do talião, incrementada com a castração. Este
castigo sería aplicado profusamente em praticamente todas as civilizações
conhecidas, ampliando-a a outros “delitos” no transcurso do tempo. Como as
citadas Leis do Meio Assírio são do século XII a.e.c. e não se estabelece um
castigo que não tenha uma prática social prévia e uma certa aceitação social,
isto indica que a esta altura a emasculação tinha já um alto grau de
consolidação.
O Código da Ashura assírio do 1075 a.e.c., no I.8. estabelece: “Se uma mulher, numa
rixa, fere o testículo dum home, deverão cortar-lhe um dos seus dedos. E se um
médico lho enfaixa e o outro testículo que está ao seu lado é infectado por
isso, ou recebe dano, ou numa rixa ela dana o outro testículo, deverão
destruir-lhe os dous olhos”. No I.15
decretam-se penas semelhantes às de A15, ainda que desaparecem as formalidades
procedimentais aqui aludidas, o qual o converte num código menos
garantidor: “Se um home colhe um home
com a sua mulher, ambos deverão ser executados. Se o marido da mulher executa a
sua mulher, deve executar o homem. Se lhe corta o nariz da sua mulher, deverá
castrar o homem, e desfigurar-lhe toda a cara”. No I.20. institui-se a
mesma pena que em A.20. mas também é menos garantidor ao desaparecer a
necessidade de acusação e condena: “Se um homem tem relações sexuais com o
seu companheiro de armas, deverám ser convertidos em eunucos”.
Segundo Gerig, os primeiros eunucos conhecidos
nominalmente em Assíria foram Usur-namkur-sharri e Libur-zanin-Ashshur, da
décimo-terceira centúria a.e.c.16, e refere que a sua
prática derivaria, segundo Hawking, do império hitita, em Ásia Menor, onde os
eunucos estão abundantemente documentados para o período 1400-1200 a.e.c.
3.4.- Os eunucos no Império neo-assírio
Este vasto império durou do 911 ao 605 a.e.c. e
estendia-se desde as montanhas do Cáucaso ao Norte península de Arábia no sul,
e do Oeste de Irão no Leste a Chipre no Oeste.
Adad-nirari II, rei de Assíria (911 a.
C. - 891 a. C.), filho e sucessor de Ashur-dam II, tinha na sua corte eunucos.
Nos seus Anais cita-se um dos seus escravos, que ocuparia, com toda
segurança, um posto muito relevante na administração: “No mês de Abu, o dia
dezassete, no epónimo de Ilu-Napishta-Nasir, eunuco de Adad-Nirari, rei de
Assíria”17.
O filho de Ashurnasirpal II (883-859), Salmanasar
III (858–824), tomou Síria e Damasco no 841 ano no que concertou uma
aliança com o décimo primeiro rei de Israel, Jeu (842-814), converteu em
vasalos os chefes meridionais, e começou a expansão do império cara ao Oeste,
tomando Síria e Damasco no 841. Derrotou a Iruleni de Hamath, hoje em Síria, ao
frente de doze reis. Iruleni foi encerrado na sua fortaleza com telhado de
dobre vertente onde se instalou comodamente com sofá ao estilo assírio, túnicas
de criado eunuco e vestimenta dum monarca assírio. Queria indicar com isto, mas
infrutuosamente, a sua total submissão ao novo amo, o qual indica o papel
subordinado e servil que cumpriam os eunucos. Alguns deles ocupavam cargos
importantes, como o prefeito de campo, militar de alta graduação,... Durante o
seu reinado, os eunucos adquiriram tal poder que chegaram a rebelar-se contra o
rei.
O seu sucessor, Shamshiadad V (823-811), logrou
aplacar a revolta dos eunucos produzida durante o reinado do seu pai
Salmanasar III, indicativo duma situação de descontento e de forte repressão .
Mais tarde, durante o reinado de Senaqueribe (704-681), a maior parte dos
assistentes do rei, que se mostram em relevos, aparecem com barba, o qual
parece indicar que os eunucos foram expulsados do palácio real e foram
dedicados a trabalhos de inferior categoria.
Com todo, retornaria e
no reinado de Asurbanipal (668-627), neto de Senaqueribe, houve mais eunucos
que antes na corte.
Durante o reinado de Senaqueribe, (704-681 a.
C.), que venceu o rei de Judá, Ezequias, a
Bíblia cita como eunucos em Assíria, Rab-saris, o chefe dos eunucos, que
foi um dos que, junto com Tartão e Rabsaces, cominou Ezequias a render-se
perante Senaqueribe18. Durante o seu reinado os eunucos
desempenharam funções servis fora do palácio, possivelmente por ser considerados
como um grupo perigoso devido ao poder que acumularam. Em tempos do rei Assarhaddon
(680-669), lá polos anos 671-670, os eunucos organizaram um motim com a
finalidade de destronar o rei e entronar ao seu chefe, que se saldou com a
execução deste último. Senaqueribe foi sucedido polo filho que teve com Zaqutu,
Asahardão, que teve grande influência sobre ele e sobre o seu neto Asurbanipal
(668-627), neto de Senaqueribe, que alguns identificam com Sardanápalo, e no
seu reinado os eunucos eram muito abundantes na corte. Sin-shumulishir era um
oficial de alto rango que à morte de Asurbanipal no 627 pretendeu garantir o
trono para o seu filho Assur-etil-ilani. “Sin-shumulishir era o chefe dos
eunucos que se converteu em rei de Assíria brevemente no 623"19,
segundo testemunho recolhido por Ctesias .
Arbaces, general medo do rei lendário de Nínive, em
Assíria, Sardanápalo (s. VII), que Justino identifica com o último grande rei
de Assíria Ashurbanipal III, igual que Ctesias, ainda que este posto é assinado
hoje a Ashur-ubalhit II (612-609 a.C.), que vivia rodeado de concubinas e eunucos, conspirou contra o rei,
junto com o grande sacerdote e general de Babilônia Belesis, quem o instava
para sacudir o jugo de Assíria sobre Babilônia e lhe predisse que estava chamado
a governar sobre todo o território de Sardanápalo. Arbaces incitou a Belesis,
Nanibrus ou Nabonasar, (s.VIIa. C.), a
levantar Babilônia, e prometeu-lhe, a câmbio, a satrapia deste território,
enquanto ele chamaria à revolta a medos e persas, e, para conseguir os seus objetivos, intrigou
com o eunuco Esparameizos20, um dos eunucos de maior
confiança do rei, para lograr uma entrevista com este21. “Ele estava
determinado a ver o rei em pessoa e examinar todo o seu modo de vida;
consequentemente, subornou a um dos eunucos oferecendo-lhe uma copa de ouro e
assim logrou uma audiência com Sardanapalo onde teve a oportunidade de observar
por primeira vez a libertinagem e inclinação do rei para os passatempos
femininos”22.
A conspiração de Belesis e arbaces tinha como
finalidade entronizar a Arbaces como rei em substituição de Sardanápalo e
Belesis dominaria sobre uma Babilônia e os territórios incluídos nela, isentos
de tributos. Diz-lhe Belesis: “Ti deves saber que ti serás rei, sobre isto
não há dúvida. E então eles concordam nisto e retrocedem às portas para realizar
os seus deveres habituais. Depois disto, Arbaces deveu conhecido dum dos
eunucos de mais confiança e pediu-lhe que lhe amostrasse o rei;
porque estava muito ansioso de ver que classe de homem era o rei.
Porém, quando o eunuco disse que a sua petição era impossível porque ninguém
consegue vê-lo, Arbaces deixou cair o assunto polo momento, mas um pouco mais
tarde pediu-lho mais seriamente dizendo-lhe que lhe pagaria uma grande soma de
ouro e prata polo favor. O eunuco estava convencido porque era mui amigo de Arbaces”23.
Em tempos do rei Sardanápalo (s. VII), a corte de
Assíria segue a manter um número quantioso de eunucos às suas ordens, que
compartilharão com ele a fogueira ao ser atacado por Arbaces e Belesis. Para “não
cair vivo em poder do inimigo, fez levantar, no seu palácio, uma imensa pira
sobre a que colocou o seu ouro, a sua prata e todo o vestiário real;
encerrando-se com as suas mulheres e os seus eunucos no quarto construído no meio
da pira, e fez-se reduzir a cinzas com as suas gentes e o seu palácio.
Informados da morte de Sardanápalo, os rebeldes entraram pola brecha na vila,
e, ampararam-se dela, vestiram a Arbaces com o manto real, proclamaram-no rei e
concederam-lhe a autoridade soberana”24. Os que viram o fume
estavam espantados e pensavam que Sardanápalo estava fazendo sacrifícios. “Somente
os eunucos conheciam a verdade. E assim, Sardanápalo, ainda que viveu uma vida
excepcionalmente hedonista, morreu como um homem nobre”25.
À sua morte, Belesis reclama-lhe a Arbaces o governo
de Babilônia em atenção aos serviços prestados e poder levar a Babilônia as
cinzas da pira, porque se inteirou por um eunuco que se refugiou com ele que o
ouro e a prata foram depositados na pira26. Do seu vasto império
formaram-se o reino medo, com Arbaces à frente; o de Babilônia, com Belesis, e
o de Nínive, com Nino.
Jenofonte recolhe um relato feito polo general assírio
Gobrias, que ajudou a Ciro a conquistar Babilônia, no que refere que o jovem
rei de Assíria de tempos de Ciro II, ordenou mutilar a um moço novo, Gadatas,
simplesmente porque a sua amante louvou a sua fermosura e disse que a sua noiva
era uma mulher digna de inveja. “Este moço, eunuco como é, está agora de
chefe da sua província porque o seu pai faleceu”27. Este é um dos
abundantes exemplos de eunucos que destacam pola sua beleza.
3.5.- Os eunucos nos reino medo e o elamita
O membro do conselho do rei de Anshan, Ciro II (559-529
a.C.), o persa Oibaras, intrigou com o eunuco Petesakas para
deixar morrer de fame e sede ao avó materno de Ciro II28,,o
medo Astiages, e, molesto por ter sido ofendido por este, instou a Ciro II a
revelar-se contra ele, mas, tanto Oibaras como Petesakas foram reclamadas por
Amitis, a filha de Astiages, que os castigou com um suplício atroz. “Ctesias
então relata como Ciro enviou o eunuco Petesakas, que tinha grande
influência com o rei, a Pérsia para fazer regressar Astiages desde os
barcânios, porque ele e a filha de Astiages, Amitis, estavam desejosos de ver a
seu pai; porém, Oibaras conjurou-se com Petesakas para abandonar Astiages num
lugar desolado e deixá-lo morrer de fame e sede, que foi o que sucedeu. Após
que o crime lhe foi revelado num sonho, Amitis perguntou repetidamente por
Petesakas para que lhe fosse entregado para ser castigado, e finalmente Ciro
obedeceu-lhe e entregou-lho: o eunuco foi
desolhado e a sua pele desfolhada antes de ser empalado”29.
A bela Pantea, esposa do rei de
Susa, Abradato (s. VI a.e.c.), inimigo primeiro e aliado dos assírios e depois
de Ciro II o Grande, foi feita prisioneira por Ciro II, que se negou a vê-la
por temor a ficar prendado do seu amor polos relatos que lhe fizeram da sua
beleza, e encarregou-lhe a sua custódia ao moço e amigo seu da infância, Araspas,
que lhe promete que podia dominar os seus sentimentos amorosos e não se ia namorar dela, num momento em que o seu
marido, fora enviado polos assírios comissionado ante os bactrianos para tratar
da aliança entre eles. Pantea pede-lhe ao seu marido que trate os vencedores
como estes a trataram a ela, petição que propicia que Abradato se ofereça a
Ciro para combater ao seu lado, encomendando-lhe este o mando dos carros
persas. Araspas termina namorando-se de Pantea e solicita-lhe relações íntimas
ameaçando com forçá-la se não consente voluntariamente. Ante esta ameaça,
Pantea decide enviar um eunuco a Ciro para contar-lhe todo30.
Ciro envia a Artabazo com o eunuco para comunicar-lhe que não deve utilizar a
violência com ela, mas se pode lograr os seus propósitos com a persuasão que o
faça. Abradato morre em combate e ”enquanto os eunucos e os seus servidores
cavam sob um montículo próximo uma tomba para o morto, diz-se que a sua mulher,
sentada em terra, sustém sobre os seus joelhos a cabeça do seu marido, que
revestiu com a mais bela vestimenta”31. Ciro promete-lhe apoio e levá-la a onde
quiser, mas ela decide afastar os seus eunucos e suicidar-se32.
“Os eunucos, vendo o que passou, desembainham os seus punhais e
traspassam-se no lugar mesmo onde ela lhes tinha ordenado permanecer33.
Deram assim uma grande mostra da sua fidelidade e amor pola sua rainha.
1. TREBOLLE BARRERA, JULIO,
Textos del Antiguo Oriente, Universidade de Madrid,
www.ucm.es/info/hebrea/Biblia.y. 2004, p. 29.
2. Hino a Ishtar
3.
Erra Epic, 4.55-58. Poema de Erra, tabuinha IV,
55. Cf. Gerig, Bruce L. Eunuch in the
Old Testament, part 2, Castration en Ancient Assyria, Babilonia and Persia,
epistle.us/hbarticles/eunuchs2.html
5.
Alusião aos serventes eunucos do templo de Inanna/Ishtar nas tabletas de
arxila babilonias, como a Era IV, 55-56
im P.F. Gössmann, Das Era-Epos, Würzburg: Augustinus Verlag, 1956, pp. 28-29.
7.
CTESIAS, F1b) Diodor. 2.20, 1-3, im The complete fragments of ctesias of
cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS,
University of Florida, p. 67.
8.
DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, 2,20, 61-62.
9.
CTÉSIAS, F1lδ) Nic. Damas. (Exc. de Insidiis p. 3.24 de Boor = FGrH
90 F1), im The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and
commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p.
73.
10. CTÉSIAS, F1lδ) Nic. Damas. (Exc.
de Insidiis p. 3.24 de Boor = FGrH 90 F1), im The complete fragments
of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW
NICHOLS, University of Florida, p. 73.
11. CTÉSIAS, F1lδ) Nic. Damas. (Exc.
de Insidiis p. 3.24 de Boor = FGrH 90 F1), im The complete fragments
of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW
NICHOLS, University of Florida, p. 73.
12. DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, liv.
2, 14.3.
13. DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, liv.
2, 20.1-2.
14. CTESIAS, F1b) Diodor. 2.21, 2, im The
complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am
introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 67. Ibid, F1n) Athen. 12.38 p 528
EF, p. 74. Diodoro Sículo, Biblioteca histórica, liv. 2.1.2. SÍCULO, Biblioteca
histórica, II,21. F1b) Diodor. 2.21, 1-2, in The complete fragments of
ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW
NICHOLS, University of Florida, p. 67.
15. TREBOLLE BARRERA, JULIO, Textos del
Antiguo Oriente, Universidade de Madrid, www.ucm.es/info/hebrea/Biblia.y.
2004, § 8, § 15 e § 20, p. 152.
16. GERIG, BRUCE L, Castratiom im Ancient
Assyria, Babylonia, and Persia, epistle.us/hbarticles/eunuchs2.html?
17. Anais de Adad-Nirari II, im Ancient Record of
Assyria and Babylonia, I, 377.
CTÉSIAS, F1ld) cf.
Lenfant (2000 p. 293-318), im The complete fragments of ctesias of cnidus:
translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University
of Florida, p. 150.
20. F1pα) Athen. 12.38 p. 528 F-529, in The complete fragments of ctesias of
cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS,
University of Florida, p. 74. Cf. Ibid. Cap. 3, p. 153.
21. ATHENAEUS, Deipnosophistae, 12,38.
22. CTÉSIAS,
F1b) Diodor. 2.24, 4 , in The complete fragments of ctesias of cnidus:
translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University
of Florida, p. 69. Cf. DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, 2, 24.4.
23. CTÉSIAS, . Damas. (Exc. de Insidiis p.
4.23 de Boor = FGrH 90 F3) [L],
in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and
commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 76
24. CTÉSIAS, F1b) Diodor. 2.27, 2 , in The
complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am
introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 70. Cf. DIODORO
SÍCULO, Biblioteca histórica, II, 27.2-3.
25. CTÉSIAS, F1q) Athen. 12.38 p. 529 B-D, in The
complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am
introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 76.
26. CTÉSIAS, F1b) Diodor. 2.28, 2-3 , in The
complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am
introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 71. Cf. DIODORO SÍCULO, Biblioteca
histórica, II, 28.2-4.
27. JENOFONTE, Ciropedia, Liv. V, cap. 2, 28.
28. HERODOTO 1.91; JENOFONTE, Ciropedia,
1iv I, cap. .2.1. Cf. Ctésias, F. 9 § 1.
29. CTESIAS, Persica, Liv. VII-XI, 6.
31. JENOFONTE, Ciropedia, Liv. VII cap. 3,5.
32. JENOFONTE,
Ciropedia, Liv. VII cap.
3, 14
33. JENOFONTE,
Ciropedia, Liv. VII cap.
3, 15
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