13 may 2020

03.- Eunucos polo reino dos céus e dos poderosos



Ramom Varela Punhal


3. Os eunucos em Assíria, média e Elam

3.- Os eunucos em Assíria
3.1.- A castração na época mítica
3.2.- A origem histórica da castração
3.3.- Os eunucos no império meso-assírio
3.4.- Os eunucos no império neo-assírio
3.5.- Os eunucos no reino medo e elamita


               3.1.- .- A castração na época mítica

               A primeira civilização que se conhece é a de Suméria, região situada ao sul de Mesopotâmia, entre os rios Tigris e Eufrates. Mesopotâmia, etimologicamente o território no meio dos rios, quase o atual Irak.  É nesta região onde se situa o berço da civilização e da escritura que surge lá polo ano 3300 a.e.c. e, portanto, o berço da história. Delimitada polos rios citados, nela sucederam-se pluralidade de culturas: Suméria, Acádia,  Babilônica, assíria, persa... Estava configurada territorialmente num início por cidades-estado, que muitas vezes se faziam a guerra entre si numa luta pola supremacia, que, no decurso do tempo, foram ostentando sucessivamente diversas cidades: Uruk, Ur, Lagash, Acad, Assur/Nínive, Babilônia,... que quando logravam controlar o território entre os rios, receberam o nome de impérios. Eram sociedades escravistas e teocráticas nas que o verdadeiro soberano e senhor de todas as cousas era a divindade tutelar, vindo a ser os reis meros vicários, representantes seus na terra como resultado da sua eleição divina. No norte predominava a etnia semita, à que pertencem povos como os arameus, assírios, acádios, os nômades amorritas ou amorreus, caldeus,... e no sul a suméria, mas também desempenham um rol importante outras etnias, como os casitas, elamitas, gutis,  etc.

               Domínio Sumério: arredor do ano 3500 a.e.c. assentam-se os sumérios, de procedência desconhecida, na desembocadura dos rios Tigris e Éufrates. A partir de 2900 instalam-se em cidades-estado, das que destacam as de Ur, Uruk, Lagash, e estavam governados por reis-sacerdotes. A difusão da cultura de Uruk por toda Mesopotâmia, dá lugar à cultura suméria. Os seus reis foram:Gudea de Lagash ( c. 2144–2124 a.e.c.), Ur-Nammu (2047-2030), fundador da Terceira Dinastia de Ur, Shulgi, rei de Ur (2029-1982), Amar-Sin de Ur (1981-1973), Shu-Sin, rei de Sumer e Acad (1972-1964), e Ibbi-Sin, ei de Sumer e Acad (1963-1940). 

               Império Acádio: no ano 2340 os acádios, pastores nômadas de etnia semita, com Sargão I à frente, que cumpre não confundir com o rei Sargão I de Assíria, tomam o poder e impõem-se a povos etnicamente diversos, inaugurando o primeiro império da história: o Império Acádio, no que destacam como reis, além de Sargão I, (ca. 2334-ca. 2279), Rimush (2279- 2270) e Naran Sin (2254-2218). Vai perdurar até o ano 2220 a.e,c. em que é derrubado polos nômades amorreus de estirpe também semita, volvendo de novo às cidades-estado e inaugurando um novo renascimento de Súmer, também chamado 3ª Dinastía de Ur, que vai do 2200 a 2004.

               A esta altura, a castração era frequente, estando documentados os eunucos especialmente em oficiais de alto rango, em países orientais: Índia, China, Egito, Babilônia, Assíria, Média, Pérsia, Israel, Turquia, Anatólia, Armênia, Bizâncio, como nos ocidentais, Grécia, e também no mundo helenístico. Os mitos cosmogônicos de muitas civilizações tanto de Europa como de Ásía, África e Oceania, falam duma parelha primordial, Céu e Terra (a parelha: Rangi-Papa maorí, Uranos-Gaia grega, An-Ki sumerio, ...), unidos num abraço sexual que fina com uma ação exterior violenta, que alguma vez é apresentada como um caso de castração, como a realizada polo deus do tempo, Cronos, sobre o seu pai, o deus do céu, Uranos, unido com a deusa da terra e da fertilidade, Gaia, impedindo assim, felizmente, o ciclo da interminável reprodução; também a realizada, na cosmogonia hitita, por Kumarbi sobre Am ou Anu, deus do céu, esposo de Ki, deusa da terra.

               Num mito mesopotâmico narra-se o descenso de Ishtar à sombria morada, ao mundo dos mortos, à Terra sem Regresso, presidida por Ereskigal, e o seu retorno ao mundo dos vivos. Estando Ishtar no mundo dos mortos, “Ea no seu sábio coração concebeu uma imagem, /E criou a Asusunamir, um eunuco: Presto, Asusunamir, dirige a tua face à porta da Terra sem Regresso; as sete portas da Terra sem Regresso abrir-se-ão para ti”1.

               Os oficiantes cultuais castrados também fazem ato de presença em Mesopotâmia, em relação com o culto a Ishtar, Inanna em sumério, deusa da fertilidade, amor e guerra para os acádios, assírios e babilônios. Um belo hino dedicado a esta deusa reza:
“Eles passeiam perante a santa Ishtar
O seu lado direito vestem-no com roupas de homem
O seu lado esquerdo cobrem-no com roupas de mulher
Eles passeiam perante a santa Ishtar
À grande senhora do céu, Ishtar, eu diria: «Saúde»2.

               Os assinu, kurgarru e kulu’u eram considerados funcionários religiosos associados à deusa Ishtar, que representavam peças teatrais, dançavam, jogavam e tocavam instrumentos. Considerava-se que estavam dotados de poderes especiais. Os kurgarru, sacerdotes de Inanna/Ishtar, encarregados de oficiar os ritos orgiásticos em honor a Marduk, eram eunucos, aos que, segundo o mito de Erra, Ishtar, a deusa de Uruk, lhe cambiou a sua masculinidade em feminidade. O poema épico mesopotâmico Erra, deus da guerra e da pestilência, escrito em acádio no ano 764 após uma epidemia, atribuído ao escriba Kabti-ilani-Marduk, ainda que alguns afirmam que é, polo menos, um século mais recente, afirma, em referência aos assinu e kurgarru, que “Eles (os invasores) citam aos kurgarrus e assinus de Eanna (Inanna), cuja virilidade Istar cambiou em feminidade para inspirar a veneração popular, os manejadores de punhais e navalhas, escalpelos e cutelos de pedra, os que participam em atos abomináveis para o entretenimento de Ishtar3. Os  kurgarrus  seriam devotos castrados, os assinu, pessoas efeminadas, e os kulu’u, bi-sexuais. Na lenda de Dibarra, o deus praga, afirma-se que “Ali congregam-se os eunucos de E-anna e os sacerdotes isinnu (cinaedi?), a quem Ishtar, para atemorizar o povo, converteu em hermafroditas”4. 
               A presença da emasculação nos mitos, polo menos já desde inícios do segundo milênio antes de Cristo, indica que a castração já se praticava na sociedade, pois a religião é um trasunto da organização social. Por outra parte, é uma ação aprovada, praticada e ordenada polos mesmos deuses, e, como tal, não é valorada moralmente como má, pois os deuses expresam os valores morais aceites socialmente.

               A partir desse momento estendeu-se o seu uso com a finalidade de encomendar-lhe diversas funções: cortesãos, guardas das mulheres do harém, oficiais militares de confiança, escravidão, ... Alguns chegaram a elevar-se a postos importantes como rab sha reshi, chefe dos eunucos; rab shage, chefe copeiro... 


               3.2.- A origem histórica da castração: Semiramis

               Os primeiros documentos, neste caso, imagens visuais, que falam dos eunucos em Suméria datam do quarto milênio a.e.c., provêm de Uruk e estão associados com a deusa Inana (Ishtar), deusa do amor sexual e da fertilidade, como a antiga deusa mesopotâmica Astarté, a hebreia Astarot ou Asera e a romana Venus. Neste sentido, o cristianismo vai inovar ao criar uma figura feminina que é um ícone da virgindade e sem nenhuma referente para o amor sexual e a procriação, considerados ambos como algo sujo e pecado. Nessas imagens podem-se ver três tipos de figuras humanas: homens, mulheres e um terceiro grupo que estaria integrado por pessoas sem gênero porque carecem de barba, penugem e de genitais. O mito sumério da criação do homem, datado arredor do ano 2000 a.e.c. fala das diversas pessoas criadas pola deusa Nimmah, entre elas figura “a mulher que tem descendência”, e “a que não tem órgãos masculinos nem femininos”, uma espécie de ser andrógino. O deus assina-lhe os diversos roles que devem desempenhar na sociedade, como «girsequ», servente do rei. O poema mítico épico acadiano Atraasis diz que Nintu criou, a petição de Enki, uma «terceira categoria» de pessoas, um terceiro gênero. Da deusa Ishtar diz-se num texto do tempo de Hammurabi (1792-1750) que faz eunucos, cambiando o sexo dos sacerdotes para sempre. Destes, uns eram castrados, os  assinu, e eram os que mudavam de gênero, ainda que alguns interpretam que eram varões homossexuais prostitutos cultuais, enquanto que as assinutu eram sacerdotisas. A primeira informação de castração intencional data já da 21 centúria a.e.c. e refere-se à cidade suméria de Lagash5.

               Segundo Amiano Marcelino (325/330-d. 391), a castração tem a sua origem na lendária rainha Semiramis, a mais formosa de todas as mulheres, esposa do general Oannes e mais tarde do rei Nino com quem teve dous filhos e a quem sucedeu como rainha lá polo ano 2189, reinando durante 42 anos. Dela diz-se que foi filha da deusa síria Derceto, com rosto de mulher e corpo de peixe, que a abandonou no deserto para que perecesse, mas foi alimentada por umas pombas e recolhida polo pastor Simas. “Finalmente, uma multidão de eunucos, desde os velhos terminando polos meninos, muito pálidos, contrafeitos e deformes pola conformação dos seus traços fisionômicos, que se alguém tiver acometido percebendo por todas partes os exércitos de homens mutilados deteste a memória de aquela rainha antiga Semiramis, que castrou a primeira a tenros machos como infligindo-lhe violência à natureza, e desviando-a do seu curso instituído, a qual na mesma infância do descendente mostra as vias de propagação da posteridade, por uma lei dalgum modo tácita, polas fontes primigênias do sémen6. Foi tutora de Ninias, filho seu e de Nino, ao que solicitou ter relações incestuosas, mas este, com a ajuda dum eunuco tramou uma conjuração contra ela, que terminaria com a sua vida, ainda que outros dizem que foi ela quem decidiu abdicar no seu filho, e a seguir suicidou-se; e mesmo Ctésias testemunha que ela lhe passou o reino. “Depois de passado algum tempo, Semiramis converteu-se no objetivo duma conjuração por parte do seu filho Ninias com a ajuda dum eunuco, relembrando o oráculo de Amão; porém ela não lhe inferiu dano senão que, polo contrário, lhe passou o seu reino e ordenou aos seus lugar-tenentes que lhe obedecessem. Então ela desapareceu como se fosse encontrar-se com os deuses como estabelecia a profecia. Alguns narradores de histórias dizem que se converteu numa pomba e depois que muitos pássaros baixaram à sua casa ela marchou voando com eles; por esta razão, os assírios deificaram a Semiramis e honraram-na como a uma deusa. Ela governou sobre toda Ásia, salvo a Índia, e finou da maneira antes citada, tendo vivido sessenta e dous anos e governado quarenta e dous; isto é o que Ctésias de Cnido conta sobre Semiramis. Ateneo e alguns outros historiadores pretendem que Semiramis era uma bela cortesã cujos encantos cativaram o rei dos assírios”7.  Diodoro Sículo precisa que “ao princípio não tinha mais que uma influência medíocre no palácio; mas que, convertida de seguida na esposa legítima, rogara ao rei de ceder-lhe o império durante cinco dias... O segundo dia, no momento em que o povo e os grandes lhe rendiam as suas homenagens em qualidade de rainha, encarcerou o seu marido; e como estava feita naturalmente para as grandes empresas e cheia de audácia, amparou-se do império, e, reinando até a velhice, realizou muitas cousas grandes”8.

               O recurso aos eunucos para tramar conjurações era habitual, e Semiramis já foi vítima duma intriga após a guerra da Índia, como nos transmite o médico da corte persa e historiador, Ctesias de Cnido (s. V a.e.c.-d.398 a.e.c.), recolhendo uma informação do historiador grego Nicolau de Damasco (64 a.C- d. 4 a.C.): “Nicolau diz que depois da guerra da Índia, quando estava cruzando Média, Semiramis subiu à cimeira duma montanha elevada que era inacessível totalmente, salvo por uma parte, polas vertentes rocosas planas e escarpadas, e inspecionou o seu exército desde uma éxedra que ela tinha construído nesse lugar. Quando estava acampando ali, um eunuco chamado Satibaras, juntamente com os seus filhos de Oannes, conspiraram contra ela. O eunuco pessoalmente orquestrou toda a intriga e disse-lhe aos moços que estariam em perigo de ser mortos quando Ninias se convertesse em rei; portanto, devem antecipar-se, matar a Ninias e a sua mãe, e assumir o trono. Além disso, ele disse que era vergonhoso tolerar a conduta da sua licenciosa mãe que se entregava à luxúria dia tras dia com qualquer homem do entorno, enquanto os seus filhos se fazem homens9. Eles perguntaram-lhe como se procederia, e o eunuco respondeu-lhe que não se preocupassem disto e que “devem aproximar-se a Semiramis na cimeira da montanha e, quando ele desse o sinal (ele terá cuidado disso), empurrá-la da cimeira térreo abaixo. Eles concordaram e fizeram votos mutuamente aos demais no templo10. Seria a própria Semiramis quem desbaratou a conspiração. “Quando eles chegaram, Semiramis ordenou ao eunuco que se retirasse e disse aos moços: «rapaz humilde de um pai nobre, persuadido por um humilde escravo planeas empurrar-me, alguém que tem a sua autoridade outorgada polos deuses, deste penhasco? Bem, aqui estou! Empurra-me deste penhasco assim podes alcançar glória dos homens e governar depois de matar a tua mãe Semiramis e Ninias» O mesmo discurso lhe dirigiu aos assírios11.

               O seu filho conspirou contra ela, mas Semiramis, atendendo ao oráculo de Zeus Ammão que predisse que desapareceria de entre os homens e receberia uma honra imorredoira entre alguns povos de Ásia, quando o seu filho conspirasse contra ela12, entregou-lhe pacificamente o reino. “Algum tempo depois, Nínias conspirou contra ela com a cumplicidade dum eunuco, e relembrando a profecia dada por Ammão, ela não castigou o conspirador, senão que, polo contrário, depois de entregar-lhe o reino e ordenar aos governadores que lhe obedecessem, desapareceu, como se fosse ser trasladada aos deuses como o oráculo tem predito... esta mulher depois de ter sido rainha sobre toda Ásia a exceção da Índia, marchou da maneira acima mencionada, tendo vivido sessenta e dous anos e tendo reinado quarenta e dous13.

               Depois da sua morte foi sucedida por Nínias, o filho que tivera Semiramis com Nino, que governou pacificamente sem correr os riscos da sua mãe, senão que se entregou a uma vida prazenteira. “Passava todo o seu tempo no palácio e não era visto por ninguém salvo as concubinas e os eunucos, que guardou ao seu lado; buscou a ociosidade, luxúria e uma vida livre de privações e ansiedade considerando a meta dum reinado feliz gozar de todos os prazeres sem restrição14. Esta viragem cara a um pacifismo hedonista epicurista representa um câmbio na conduta bestial e desapiedada dos reis assírios, que se vai corresponder com a fase de declive do poder real. Este estilo de vida que se converte em habitual a partir de Ninias, em que os reis passam o seu tempo entre os membros do harém, fiando lá e acicalando-se, alcançará a sua cimeira com o último rei do império assírio Sardanápalo (s. VII a.e.c.).

               Além da lendária rainha Semiramis citada, existe uma Semiramis histórica que foi esposa do rei Shamshi-Adad V (823-811 a.e.c.), a quem mandou assassinar e regente do seu filho Adad -nirari III (810-783 a.e.c.), até o ano 806. Não parece aceitável o posicionamento de referir o início da castração a esta rainha histórica porque os eunucos são, na Mesopotâmia, muito mais antigos no tempo, ainda que sim é certo que esta se rodeou de servos e confidentes, com os que comerciava para fazer negócio com eles. 


               3.3.- Os eunucos no império meso-assírio
              
               A seguir, o centro do poder político traslada-se mais para o Norte, e tem como centro a cidade de Assur, de onde provém o nome de Assíria. No império assírio distinguem-se três períodos: o paleo-assírio, constituído entre 1814 e 1781 polo amorreu Shamshi-Adad I, que durou até o ano 1726.  No s. XIV ressurge de novo o império da  mão do rei Ashur-uballit I (1364-1328 a.e.c) que teve um período de apogeu com o seu neto Salmanasar I, também conhecido como Sulmanu-Asarid (1274-1245 a.e.c.); este período recebe o nome de meso-assírio. A finais do século X a.e.c. constitui-se o império neo-assírio por Adad-nirari II. Em 1120 os elamitas foram derrotados polo rei Nabucodonosor I de Babilônia, que à sua vez seria derrotado en 1103 polos assírios, de etnia semita, que criam o novo Império Assírio, que se estende do 911 para o 609, e que tem como cidades importantes Nínive e Jorsabad e como reis mais notórios a Sargão II e Assurbanipal III.

               Em Assíria, os eunucos ostentavam títulos como «eunuco maior» (Rab sha reshi), que era o comandante das tropas reais de cavalaria; «copeiro maior» (Rab shaqe);  «comandante em chefe»  (turtānu ), segundo funcionário mais alto do império depois do rei. Desempenhavam roles como vigilância do harém, servidores domésticos, militares de alto rango, funcionários palatinos e governadores, cargo desempenhado frequentemente por eunucos porque eram considerados como pessoas que inspiravam mais confiança, porque não tinham expectativas de alcançar o trono. Os governadores eram controlados por representantes do rei, que costumavam ser também eunucos.

               Nas Leis de Assíria, compiladas durante o reinado de Tiglath Pileser (1114-1076 a.e.c), mas que recolhem uma tradição muito anterior diz-se que  “A8 Se uma mulher esmagou um testículo dum homem numa rixa, devem cortar-lhe um dos seus dedos. Se, apesar de ser atado por um médico, o segundo testículo é afetado e resulta inchado, ou se ela esmagou o segundo testículo na rixa, se lhe arrancarão as duas tetas... A15. Se um homem surpreendeu a um homem com a sua mulher, e acarretou contra ele cargos e provas, dar-se-á morte aos dous, Não terá falta por isso. Se a tomou e conduziu quer perante o rei ou perante os juízes, e se acarretou contra ele cargos e provas, se o marido dá morte à sua mulher dará também morte ao homem, mas se corta o nariz da sua mulher, volverá ao homem eunuco e mutilar-lhe-á toda a sua face... A20. Se um homem se deitou com o seu próximo, e quando se tenham provas de que se deitou com ele, será feito eunuco15.

               No século XII a.e.c. ditou-se no império meso-assírio uma lei que castigava com a castração a sodomia, e, em geral, os comportamentos sexuais “desviados”: sexo anal, bestial, homossexual. Isto indica que, a esta altura, a prática da castração estava já totalmente institucionalizada a nível social e jurídico-político. As Leis do Médio Assírio, das que se conserva uma copia do tempo do reinado Tiglat Pileser I (1115-1077 a.e.c.) institui no apartado A15, a condena a morte dos adúlteros e a castração do homem, além da desfiguração da face, no caso de que à mulher lhe seja amputado o nariz: “Se um home colheu um home com a sua mulher, e é acusado e condenado, devem matar a ambos; o marido não será considerado responsável. Se ele o colheu e o levou perante o rei ou os juízes, e se apresentou acusação e provou contra ele, se o marido da mulher dá morte à mulher, então o homem será executado também. Se, alternativamente, ele corta o nariz da sua mulher, deve converter o home em eunuco e a totalidade da sua cara deve ser mutilada. Se o marido lhe concede que a mulher seja livre, o adúltero será também libertado”.  No A20, estabelece-se que “Se um home teve sexo com o seu vizinho (ou companheiro de armas) e ele foi acusado e condenado, será considerado desonrado e convertido em eunuco”. Aqui, como podemos ver, aplica-se a lei do talião, incrementada com a castração. Este castigo sería aplicado profusamente em praticamente todas as civilizações conhecidas, ampliando-a a outros “delitos” no transcurso do tempo. Como as citadas Leis do Meio Assírio são do século XII a.e.c. e não se estabelece um castigo que não tenha uma prática social prévia e uma certa aceitação social, isto indica que a esta altura a emasculação tinha já um alto grau de consolidação. 

               O Código da Ashura assírio do 1075 a.e.c.,  no I.8. estabelece: “Se uma mulher, numa rixa, fere o testículo dum home, deverão cortar-lhe um dos seus dedos. E se um médico lho enfaixa e o outro testículo que está ao seu lado é infectado por isso, ou recebe dano, ou numa rixa ela dana o outro testículo, deverão destruir-lhe os dous olhos”.  No I.15 decretam-se penas semelhantes às de A15, ainda que desaparecem as formalidades procedimentais aqui aludidas, o qual o converte num código menos garantidor:  Se um home colhe um home com a sua mulher, ambos deverão ser executados. Se o marido da mulher executa a sua mulher, deve executar o homem. Se lhe corta o nariz da sua mulher, deverá castrar o homem, e desfigurar-lhe toda a cara”. No I.20. institui-se a mesma pena que em A.20. mas também é menos garantidor ao desaparecer a necessidade de acusação e condena: “Se um homem tem relações sexuais com o seu companheiro de armas, deverám ser convertidos em eunucos”.

               Segundo Gerig, os primeiros eunucos conhecidos nominalmente em Assíria foram Usur-namkur-sharri e Libur-zanin-Ashshur, da décimo-terceira centúria a.e.c.16, e refere que a sua prática derivaria, segundo Hawking, do império hitita, em Ásia Menor, onde os eunucos estão abundantemente documentados para o período 1400-1200 a.e.c.

              
               3.4.- Os eunucos no Império neo-assírio

               Este vasto império durou do 911 ao 605 a.e.c. e estendia-se desde as montanhas do Cáucaso ao Norte península de Arábia no sul, e do Oeste de Irão no Leste a Chipre no Oeste. 

               Adad-nirari II, rei de Assíria (911 a. C. - 891 a. C.), filho e sucessor de Ashur-dam II, tinha na sua corte eunucos. Nos seus Anais cita-se um dos seus escravos, que ocuparia, com toda segurança, um posto muito relevante na administração: “No mês de Abu, o dia dezassete, no epónimo de Ilu-Napishta-Nasir, eunuco de Adad-Nirari, rei de Assíria17. 

               O filho de Ashurnasirpal II (883-859), Salmanasar III (858–824), tomou Síria e Damasco no 841 ano no que concertou uma aliança com o décimo primeiro rei de Israel, Jeu (842-814), converteu em vasalos os chefes meridionais, e começou a expansão do império cara ao Oeste, tomando Síria e Damasco no 841. Derrotou a Iruleni de Hamath, hoje em Síria, ao frente de doze reis. Iruleni foi encerrado na sua fortaleza com telhado de dobre vertente onde se instalou comodamente com sofá ao estilo assírio, túnicas de criado eunuco e vestimenta dum monarca assírio. Queria indicar com isto, mas infrutuosamente, a sua total submissão ao novo amo, o qual indica o papel subordinado e servil que cumpriam os eunucos. Alguns deles ocupavam cargos importantes, como o prefeito de campo, militar de alta graduação,... Durante o seu reinado, os eunucos adquiriram tal poder que chegaram a rebelar-se contra o rei.

               O seu sucessor, Shamshiadad V (823-811), logrou aplacar a revolta dos eunucos produzida durante o reinado do seu pai Salmanasar III, indicativo duma situação de descontento e de forte repressão . Mais tarde, durante o reinado de Senaqueribe (704-681), a maior parte dos assistentes do rei, que se mostram em relevos, aparecem com barba, o qual parece indicar que os eunucos foram expulsados do palácio real e foram dedicados a trabalhos de inferior categoria.
Com todo, retornaria e no reinado de Asurbanipal (668-627), neto de Senaqueribe, houve mais eunucos que antes na corte. 
              
               Durante o reinado de Senaqueribe, (704-681 a. C.), que venceu o rei de Judá, Ezequias, a  Bíblia cita como eunucos em Assíria, Rab-saris, o chefe dos eunucos, que foi um dos que, junto com Tartão e Rabsaces, cominou Ezequias a render-se perante Senaqueribe18. Durante o seu reinado os eunucos desempenharam funções servis fora do palácio, possivelmente por ser considerados como um grupo perigoso devido ao poder que acumularam. Em tempos do rei Assarhaddon (680-669), lá polos anos 671-670, os eunucos organizaram um motim com a finalidade de destronar o rei e entronar ao seu chefe, que se saldou com a execução deste último. Senaqueribe foi sucedido polo filho que teve com Zaqutu, Asahardão, que teve grande influência sobre ele e sobre o seu neto Asurbanipal (668-627), neto de Senaqueribe, que alguns identificam com Sardanápalo, e no seu reinado os eunucos eram muito abundantes na corte. Sin-shumulishir era um oficial de alto rango que à morte de Asurbanipal no 627 pretendeu garantir o trono para o seu filho Assur-etil-ilani. “Sin-shumulishir era o chefe dos eunucos que se converteu em rei de Assíria brevemente no 623"19, segundo testemunho recolhido por Ctesias .

               Arbaces, general medo do rei lendário de Nínive, em Assíria, Sardanápalo (s. VII), que Justino identifica com o último grande rei de Assíria Ashurbanipal III, igual que Ctesias, ainda que este posto é assinado hoje a Ashur-ubalhit II (612-609 a.C.), que vivia rodeado de  concubinas e eunucos, conspirou contra o rei, junto com o grande sacerdote e general de Babilônia Belesis, quem o instava para sacudir o jugo de Assíria sobre Babilônia e lhe predisse que estava chamado a governar sobre todo o território de Sardanápalo. Arbaces incitou a Belesis, Nanibrus ou Nabonasar,  (s.VIIa. C.), a levantar Babilônia, e prometeu-lhe, a câmbio, a satrapia deste território, enquanto ele chamaria à revolta a medos e persas, e,  para conseguir os seus objetivos, intrigou com o eunuco Esparameizos20, um dos eunucos de maior confiança do rei, para lograr uma entrevista com este21. “Ele estava determinado a ver o rei em pessoa e examinar todo o seu modo de vida; consequentemente, subornou a um dos eunucos oferecendo-lhe uma copa de ouro e assim logrou uma audiência com Sardanapalo onde teve a oportunidade de observar por primeira vez a libertinagem e inclinação do rei para os passatempos femininos22.

               A conspiração de Belesis e arbaces tinha como finalidade entronizar a Arbaces como rei em substituição de Sardanápalo e Belesis dominaria sobre uma Babilônia e os territórios incluídos nela, isentos de tributos. Diz-lhe Belesis: “Ti deves saber que ti serás rei, sobre isto não há dúvida. E então eles concordam nisto e retrocedem às portas para realizar os seus deveres habituais. Depois disto, Arbaces deveu conhecido dum dos eunucos de mais confiança e pediu-lhe que lhe amostrasse o rei; porque estava muito ansioso de ver que classe de homem era o rei. Porém, quando o eunuco disse que a sua petição era impossível porque ninguém consegue vê-lo, Arbaces deixou cair o assunto polo momento, mas um pouco mais tarde pediu-lho mais seriamente dizendo-lhe que lhe pagaria uma grande soma de ouro e prata polo favor. O eunuco estava convencido porque era mui amigo de Arbaces23.

               Em tempos do rei Sardanápalo (s. VII), a corte de Assíria segue a manter um número quantioso de eunucos às suas ordens, que compartilharão com ele a fogueira ao ser atacado por Arbaces e Belesis. Para “não cair vivo em poder do inimigo, fez levantar, no seu palácio, uma imensa pira sobre a que colocou o seu ouro, a sua prata e todo o vestiário real; encerrando-se com as suas mulheres e os seus eunucos no quarto construído no meio da pira, e fez-se reduzir a cinzas com as suas gentes e o seu palácio. Informados da morte de Sardanápalo, os rebeldes entraram pola brecha na vila, e, ampararam-se dela, vestiram a Arbaces com o manto real, proclamaram-no rei e concederam-lhe a autoridade soberana24. Os que viram o fume estavam espantados e pensavam que Sardanápalo estava fazendo sacrifícios. “Somente os eunucos conheciam a verdade. E assim, Sardanápalo, ainda que viveu uma vida excepcionalmente hedonista, morreu como um homem nobre25.

               À sua morte, Belesis reclama-lhe a Arbaces o governo de Babilônia em atenção aos serviços prestados e poder levar a Babilônia as cinzas da pira, porque se inteirou por um eunuco que se refugiou com ele que o ouro e a prata foram depositados na pira26. Do seu vasto império formaram-se o reino medo, com Arbaces à frente; o de Babilônia, com Belesis, e o de Nínive, com Nino.

               Jenofonte recolhe um relato feito polo general assírio Gobrias, que ajudou a Ciro a conquistar Babilônia, no que refere que o jovem rei de Assíria de tempos de Ciro II, ordenou mutilar a um moço novo, Gadatas, simplesmente porque a sua amante louvou a sua fermosura e disse que a sua noiva era uma mulher digna de inveja. “Este moço, eunuco como é, está agora de chefe da sua província porque o seu pai faleceu”27. Este é um dos abundantes exemplos de eunucos que destacam pola sua beleza.


               3.5.- Os eunucos nos reino medo e o elamita

               O membro do conselho do rei de Anshan, Ciro II (559-529 a.C.), o persa Oibaras, intrigou com o eunuco Petesakas para deixar morrer de fame e sede ao avó materno de Ciro II28,,o medo Astiages, e, molesto por ter sido ofendido por este, instou a Ciro II a revelar-se contra ele, mas, tanto Oibaras como Petesakas foram reclamadas por Amitis, a filha de Astiages, que os castigou com um suplício atroz. “Ctesias então relata como Ciro enviou o eunuco Petesakas, que tinha grande influência com o rei, a Pérsia para fazer regressar Astiages desde os barcânios, porque ele e a filha de Astiages, Amitis, estavam desejosos de ver a seu pai; porém, Oibaras conjurou-se com Petesakas para abandonar Astiages num lugar desolado e deixá-lo morrer de fame e sede, que foi o que sucedeu. Após que o crime lhe foi revelado num sonho, Amitis perguntou repetidamente por Petesakas para que lhe fosse entregado para ser castigado, e finalmente Ciro obedeceu-lhe e entregou-lho: o eunuco foi  desolhado e a sua pele desfolhada antes de ser empalado”29.

               A bela Pantea, esposa do rei de Susa, Abradato (s. VI a.e.c.), inimigo primeiro e aliado dos assírios e depois de Ciro II o Grande, foi feita prisioneira por Ciro II, que se negou a vê-la por temor a ficar prendado do seu amor polos relatos que lhe fizeram da sua beleza, e encarregou-lhe a sua custódia ao moço e amigo seu da infância, Araspas, que lhe promete que podia dominar os seus sentimentos amorosos e não se ia  namorar dela, num momento em que o seu marido, fora enviado polos assírios comissionado ante os bactrianos para tratar da aliança entre eles. Pantea pede-lhe ao seu marido que trate os vencedores como estes a trataram a ela, petição que propicia que Abradato se ofereça a Ciro para combater ao seu lado, encomendando-lhe este o mando dos carros persas. Araspas termina namorando-se de Pantea e solicita-lhe relações íntimas ameaçando com forçá-la se não consente voluntariamente. Ante esta ameaça, Pantea decide enviar um eunuco a Ciro para contar-lhe todo30. Ciro envia a Artabazo com o eunuco para comunicar-lhe que não deve utilizar a violência com ela, mas se pode lograr os seus propósitos com a persuasão que o faça. Abradato morre em combate e ”enquanto os eunucos e os seus servidores cavam sob um montículo próximo uma tomba para o morto, diz-se que a sua mulher, sentada em terra, sustém sobre os seus joelhos a cabeça do seu marido, que revestiu com a mais bela vestimenta31.  Ciro promete-lhe apoio e levá-la a onde quiser, mas ela decide afastar os seus eunucos e suicidar-se32. “Os eunucos, vendo o que passou, desembainham os seus punhais e traspassam-se no lugar mesmo onde ela lhes tinha ordenado permanecer33. Deram assim uma grande mostra da sua fidelidade e amor pola sua rainha.





           


1.  TREBOLLE BARRERA, JULIO, Textos del Antiguo Oriente, Universidade de Madrid, www.ucm.es/info/hebrea/Biblia.y. 2004, p. 29.
2.  Hino a Ishtar
3.  Erra Epic, 4.55-58. Poema de Erra, tabuinha IV, 55.  Cf. Gerig, Bruce L. Eunuch in the Old Testament, part 2, Castration en Ancient Assyria, Babilonia and Persia, epistle.us/hbarticles/eunuchs2.html
4.  SIR HENRY RAWLINSON. Assyrian and Babylonian Literature, D. Appleton and Company. 1901, p. 310.
5.  Alusião aos serventes eunucos do templo de Inanna/Ishtar nas tabletas de arxila babilonias, como a  Era IV, 55-56 im P.F. Gössmann, Das Era-Epos, Würzburg: Augustinus Verlag, 1956, pp. 28-29.
6.  Ges gestae, liv. XIV, cap. 6, 17.
7.  CTESIAS, F1b) Diodor. 2.20, 1-3, im The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 67.  
8.  DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, 2,20, 61-62.
9.  CTÉSIAS, F1lδ) Nic. Damas. (Exc. de Insidiis p. 3.24 de Boor = FGrH 90 F1), im The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 73.
10.  CTÉSIAS, F1lδ) Nic. Damas. (Exc. de Insidiis p. 3.24 de Boor = FGrH 90 F1), im The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 73.
11.  CTÉSIAS, F1lδ) Nic. Damas. (Exc. de Insidiis p. 3.24 de Boor = FGrH 90 F1), im The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 73.
12.  DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, liv. 2, 14.3.
13.  DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, liv. 2, 20.1-2.
14.  CTESIAS, F1b) Diodor. 2.21, 2, im The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 67. Ibid, F1n) Athen. 12.38 p 528 EF, p. 74. Diodoro Sículo, Biblioteca histórica, liv. 2.1.2. SÍCULO, Biblioteca histórica, II,21. F1b) Diodor. 2.21, 1-2, in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 67.
15.  TREBOLLE BARRERA, JULIO, Textos del Antiguo Oriente, Universidade de Madrid, www.ucm.es/info/hebrea/Biblia.y. 2004, § 8, § 15 e § 20, p. 152.
16.  GERIG, BRUCE L, Castratiom im Ancient Assyria, Babylonia, and Persia, epistle.us/hbarticles/eunuchs2.html?
17.  Anais de Adad-Nirari II, im Ancient Record of Assyria and Babylonia, I, 377.
18.  II Re. 18,17
CTÉSIAS, F1ld) cf. Lenfant (2000 p. 293-318), im The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 150.
20.  F1pα) Athen. 12.38 p. 528 F-529,  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 74. Cf. Ibid. Cap. 3, p. 153.
21.  ATHENAEUS, Deipnosophistae, 12,38.
22.   CTÉSIAS, F1b) Diodor. 2.24, 4 , in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 69. Cf. DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, 2, 24.4.
23.  CTÉSIAS, . Damas. (Exc. de Insidiis p. 4.23 de Boor = FGrH 90 F3) [L],  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 76
24.  CTÉSIAS, F1b) Diodor. 2.27, 2 , in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 70. Cf. DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, II, 27.2-3.
25.  CTÉSIAS, F1q) Athen. 12.38 p. 529 B-D, in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 76.
26.  CTÉSIAS, F1b) Diodor. 2.28, 2-3 , in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, p. 71. Cf. DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, II, 28.2-4.
27.  JENOFONTE, Ciropedia,  Liv. V, cap. 2, 28.
28.  HERODOTO 1.91; JENOFONTE, Ciropedia, 1iv I, cap. .2.1. Cf. Ctésias, F. 9 § 1.
29.  CTESIAS, Persica, Liv. VII-XI, 6.
30.  JENOFONTE,  Ciropedia,  Liv. VI, cap. 1, 33
31.  JENOFONTE,  Ciropedia,  Liv. VII cap. 3,5.
32.  JENOFONTE,  Ciropedia,  Liv. VII cap. 3, 14
33.  JENOFONTE,  Ciropedia,  Liv. VII cap. 3, 15




   

No hay comentarios:

Publicar un comentario