4.- O eunuquismo em Babilônia e Média
Ramom Varela Punhal
4.1.- Os eunucos no primeiro império babilônico
e elamita (1800-1531)
4.2.- Segundo império babilônico e o reino
medo (625-539)
4.3.- Viagens de Apolônio de Tiana
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4.1.- Os eunucos no primeiro império babilônico
e elamita (1800-1531)
Primeiro
Império Babilônico e primeiro Império Elamita. Após a caída de Ur,
segue-lhe o reino de Isín e Larsa, que vai durar dous séculos aproximadamente,
tras os quais vão tomar o mando os amorreus que no 1894 se entronizaram na
cidade-estado de Babilônia sob Sumu-abum, e com o seu sexto rei, o amorreu Hammurabi
(1792 a.e.c. - 1750 a.e.c.), converte-se na capital do primeiro Império
babilónico com domínio sobre toda Mesopotâmia, de duração limitada, pois em
1595 o último rei do primeiro Império Babilônico, Samsu-Ditana, seria deposto
polos casitas, de origem desconhecida, baixo o mando do caudilho Agum II, que
toma Babilônia, e a partir de 1531 vão estabelecer um domínio que vai durar até
o ano 1155 a.e.c., em que são derrotados polos elamitas, ao mando de Shutruk-Nahhunte,
que estabelece o primeiro Império elamita, de curta duração.
Durante
o reinado de Hammurabi cria-se o código deste nome, composto por duzentas
oitenta e duas leis, que constitui um dos conjunto de leis mais antigas e
melhor conservadas que se conhecem. É uma normativa rigorista que consagra a
lei do talião, olho por olho e dente por dente. O código de Hammurabi trata da
adoção nas leis 187, 192 e 193. Na norma 187 decreta-se que “Um filho de
(i.e. criado por) por um cortesão que é um servidor de palácio ou um filho de
(i.e. criado por) uma secretu (mulher de alto rango) não será reclamado”.
Como diz Robert Paulissian, “Aqui faźse uma exceção no caso de adoção de
filhos polos servidores de palácio, que eram habitualmente eunucos e as mulheres
de alto rango. Como estas duas categorias de servidores palatinos não podiam
ter filhos naturais ou não se lhe permitia ter filhos (secretu), se lhe
concedeu o poder de reter os seus filhos adotivos”1. A lei 192
estatui que “se um filho de (i.e. criado por) um cortesão ou o filho de
(i.e. criado por) uma mulher de alto rango diz ao pai que o criou ou à mãe que
o criou, «Ti não és o meu pai» ou «Ti não és a minha mãe», cortar-lhe-ão a sua
língua”. Neste caso castiga-se a língua por ser o órgão que cometeu o
delito. Na lei 193 estabelece-se que “se um filho de (i.e. criado por) um
cortesão ou o filho de (i.e. criado por) uma mulher de alto rango se identifica
com a casa do pai e repudia o pai que o criou ou a mãe que o criou e marcha
para a casa do seu pai arrancar-lhe-ão o seu olho”. A severidade das penas
denota uma forte tendência das crianças a abandonar os seus pais e mães
adotivos, entre outras cousas porque os filhos herdam a posição dos pais e,
neste caso, a sua sorte seria, no caso dos cortesãos, a castração.
4.2.- Segundo império babilônico e o reino
medo (625-539)
Segundo
Imperio Babilónico: Inaugura-se no ano 625 cm o domínio de Assíria por
Nabopolassar. No ano 605 a.e.c. os assírios foram derrotados por Nabucodonozor
II, dirigente da tribo semita dos caldeus, que cria o segundo Império babilônico.
No ano 598 a.e.c. rebela-se contra os babilônios o reino de Israel, mas é
derrotado e os líderes são deportados a Babilônia. Volve de novo a levantar-se
no 587 a.e.c.. e novamente foram derrotados e a sua população deportada a Babilônia,
incluído o Rei Zedequias (597-587), ao que Nabucodonozor lhe saca os olhos e
deporta também a Babilônia.
Artaios (s. VII a.e.c.), sexto rei dos medos,
sucessor de Arbianes, manteve uma campanha bélica persistente com os cadúsios,
liderados por Parsondes, um persa que desertou do seu pais e passou a
desempenhar o cargo de general dos cadúsios, um povo do noroeste do Irão, em
atenção à sua bravura, aos que persuadiu para que reclamassem a sua liberdade,
guerra na que este saiu vencedor apesar da grande inferioridade numérica dos
seus combatentes. Entre os seus servidores, Artaios tinha vários eunucos, entre
os quais o favorito foi Mitrafernes, que gozava de grande confiança perante o
rei, e ao que acudiam os que queriam obter os favores do monarca, como foi o
caso do babilônio Nanaros, “o lugar tenente do rei e o mais influente homem
de Babilônia”2, que estava em dificuldades por ter-lhe obrigado ao
guerreiro e rei dos cadúsios Parsondes, “um homem admirado pola sua coragem,
inteligência e outras virtudes, que era amigo do rei e o membro mais poderoso
do conselho do rei”3, a jogar um rol feminino. Quando
morreu o rei dos cadúsios, Parsondes foi elegido como sucessor. Fora humilhado
por Nanaros porque quando ele o viu ficou muito ingratamente impressionado pola
sua vestimenta e modais femininos, e intentou persuadir, sem êxito, a Artaios
para que o matasse e lhe entregasse a ele o reino. Nanaros, quando o descobriu
ofereceu uma recompensa aos negociantes que seguiam o exército para que lho
entregassem, com a finalidade de castigá-lo em sinal de vingança pola conduta
pouco amigável de Parsondes para com ele. Uma vez em suas mãos, “Nanaros
chamou o eunuco encarregado das cantoras e disse-lhe: «tomai este homem e
afeitai-lhe todo o corpo, salvo a sua cabeça, esfregai-o com pedra pomes,
lavai-o duas vezes diárias e enxaguai-o com gema de ovo, e então ponde-lhe
pintura de olhos e entrançai-lhe os seus cabelos como os duma mulher.
Aprendei-lhe a cantar, tocar a cítara, e tocar a lira de jeito que possa executá-lo
como uma mulher para mim com as raparigas de música, com quem ele compartirá o
estilo de vida tendo um corpo fraco, uso de semelhantes vestidos, e prática das
mesmas destrezas». Depois que ele falou, o eunuco colheu a Parsondes
afeitou-lhe todo o corpo salvo a cabeça, ensinou-lhe o que se lhe pediu,
afastou-o da luz solar, lavando-o duas vezes por dia, abrandando-o e alojando-o
nos mesmos quartos com as mulheres como o seu mestre lhe ordenara. Pouco
depois, Parsondes era um branco, lampinho, e um homem afeminado, cantava e
tocava a cítara mais belamente que as raparigas de música com quem ele
representou e ultrapassou-as em beleza também e ninguém que viu a sua atuação
nalgum dos jantares festivos se precataria que ele não era uma mulher”4.
Os eunucos têm neste caso como função executar ordens tendentes a reduzir a
outros a um estado semelhante ao dos eunucos, que representava uma ofensa para
os que sofriam este castigo.
Parsondes
levou este estilo de vida durante sete anos, mas tendo Nanaros abusado violentamente
dum dos seus eunucos, Parsondes indicou-lhe que fosse contar-lhe ao rei Artaios
que “Parsondes está vivo e foi desonrado fazendo-o viver com as mulheres, O
mesmo homem que foi o teu amigo e esse grande guerreiro”5.
O eunuco traslada-lhe esta notícia ao rei Artaios, que se alegrou, mas ao mesmo
tempo lamentou que um bom homem soldado fosse desonrado e pede o retorno de
Parsondes, ao que Nanaros responde que nunca o vira desde a sua desaparição. “Quando
Artaio ouviu isto, enviou um novo mensageiro que era muito grande e mais poderoso
que o primeiro, enquanto exigia num pergaminho que Nanaros parasse este embuste
babilônio e restituísse o eunuco a quem ele entregou aos eunucos e bailarinas
ou se lhe cortaria a cabeça. Artaio escreveu isto e ordenou ao seus mensageiro
que se Nanaros se nega a libertar a Parsondes será prendido com o cinto e
matado”6.
Nanaros promete libertar a Parsondes, mas quer transmitir-lhe ao rei que foi
justamente castigado porque cometeu uma grave injustiça com ele, e convidou ao
mensageiro a presenciar uma sessão de música e dança na que atuava Parsondes.
Mas, Artaio respondeu-lhe que Parsondes tem argumentos mais justificados e que
não devia pronunciar vereditos. Ao ouvir isto, Nanaros assustou-se
terrivelmente e procurou, com grandes dádivas, a intercessão do mais influente
dos eunucos, Mitrafernes, para não ser executado. O eunuco foi junto ao rei e
suplicou muito, dado que fora grandemente honrado, e disse que Nanaros não
mereceu ser matado posto que ele não matou a Parsondes, senão mais bem exerceu
represálias contra um homem que o injuriou. Isto convenceu o rei, “mas
Parsondes meneou a cabeça e disse: «Pode alguém que descobriu o ouro para a raça
humana ser amaldiçoado; porque é por isto que são agora ridicularizado por um
babilônio». O eunuco entendendo que o tomava a peito, disse: «Meu bom homem,
deixa de estar tão irritado, escuta-me e faz-te amigo de Nanaros porque este é
o desejo do nosso amo». Porém, Parsondes esperava uma oportunidade para
vingar-se do eunuco e de Nanaros”7. Parsondes não aceita
ser recompensado com dinheiro por considerar que foi ridicularizado e exige a
vingança, que consumaria conspirando com os serventes de Nanaros, tendendo-lhe
uma emboscada enquanto estava borracho.
Nabucodonozor II, (630-562 a.C.),
rei caldeu de Babilônia de 605 a 562 a.e.c., destaca, além de conquistador de
Judá e Jerusalém, como construtor dos jardins pendentes de Babilônia para a sua
esposa meda Amitis. Segundo o livro de Daniel “No ano terceiro do reinado de
Jeoiaquim, rei de Judá (608-598), veu Nabucodonozor, rei de Babilônia, a Jerusalém, e a sitiou. E o
Senhor lhe entregou nas mãos a Jeoiaquim, rei de Judá, e uma parte dos vasos da
casa de Deus; e ele os levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus; e
os pôs na casa do tesouro do seu deus. Então disse o rei a Aspenaz, chefe dos
seus eunucos. que trouxesse alguns dos filhos de Israel, dentre a linhagem real
e dos nobres, jovens em quem não houvesse defeito algum, de bela aparência,
dotados de sabedoria, inteligência e instrução, e que tivessem capacidade para
assistirem no palácio do rei; e que lhes ensinasse as letras e a língua dos
caldeus”8.No ano 597 sufocou uma rebelião dos judeus do reino
de Judá ao mando do rei Jeoiaquim (608-598), aos que vence e o rei
Joaquim, sucessor de Jeoiaquim, e uns dez mil habitantes das classes sociais
medias e elevadas foram deportados a Babilônia, como cativos, entre os que
figuravam vários eunucos do próprio rei Joaquim9. O rei de Babilônia ordenou-lhe ao chefe
dos eunucos, Aspenaz, que recrutasse moços
seletos hebreus dos estamentos real e nobiliário, de bom parecer, de
talento, inteligência e boa preparação, para servir na Corte de Babilônia,
entre os que se achava o próprio Daniel, que, muito provavelmente também foi
evirado10, ao igual que Ananias, Misael, Azarias11. Pôs no trono de Judá a um rei títere,
Zedequias, mas este finou por rebelar-se também contra Nabucodonozor, em coligação
com os egípcios e tírios, e de novo os hebreus foram vencidos no ano 587 após
ano e médio de assédio, e outra vez deportados a Babilônia os membros mais
elevados da sociedade hebreia. Como botim de guerra pola derrota de Zedequias
apoderou-se, entre outros muitos, dum eunuco, que era o prefeito do exército12.
O seu chefe da guarda e das tropas de Nabucodonozor II, Nabuzardán,
(Nabu-zer-iddina), saqueou e destruiu Jerusalém e deportou a Babilônia os sumos
sacerdotes Saraias e Sofonias, aos três guardas do templo e “da cidade a um
eunuco que mandava a gente da guerra”13.
Durante
o reinado de Nabucodonozor II teria ocorrido a decapitação do general às suas
ordens Holofernes. Segundo Sulpício Severo, Judith, a judia, solicitou-lhe a
Holofernes poder sair livremente do acampamento para fazer as rezas durante a
noite, e Holofernes concedeu-lho, mas “um violento desejo de gozar do corpo
da prisioneira se ampara de Holofernes, que a excepcional beleza de Judith não
teve dificuldade em pôr fora de si. O eunuco Bágoas conduz-lo à tenda do persa;
sentam-se à mesa; o bárbaro estupeficou-se com uma grande quantidade de vinho,
e, depois que os servidores foram despedidos, o sono apoderou-se dele antes de
que pudesse fazer violência a Judith. Esta, sem perder o tempo, corta-lhe a
cabeça ao seu inimigo, leva-a com ela, e, graças ao costume que havia de vê-la
sair livremente, volve sã e salva justo aos seus”14..Este relato está
tomado do Livro de Judith 12.10
ss., e parece totalmente fantasioso e inventado para criar uma heroína salvadora
do seu povo aproveitando os encantos femininos. O livro foi escrito no século
II a.e.c., e situa-se no reinado de Nabucodonozor (604-562), de quem se diz que
era rei dos assírios, em vez de rei de Babilônia, com ofoi em realidade. Diz-se
que reinava em Nínive, capital de Assíria, que foi destruída no ano 612 por
Nabopolassar e Ciaxares. Diz-se que Nabucodonozor combateu e derrotou ao rei
dos medos, Arfacsad, que não figura no catálogo dos reis medos nem persas.
Nabucodonozor envou os judeus ao cativeiro de Babilônia e destruiu a cidade de
Jerusalém e o templo, enquanto que no livro se diz que os judeus já volveram do
cativeiro e reedificaram a cidade e o templo. Tanto Holofernes como Bágoas são
nomes persas e não babilônios. Portanto, deste relato só se pode extrair a
conclusão de que no século II se considerava normal que os reis tivessem
eunucos.
Em
tempos do rei medo Astibaras (624-584), quando o general medo e genro seu Striangaios,
se namorou da rainha de Saka (Escitia), Zarinaia, á morte do marido
desta, Marmaros, governador dos partos, confiou-lhe os seus sentimentos
amorosos ao eunuco mais fiel que o
acompanhava, atuando este como o seu confidente sentimental. “Confiou-lhe o
secreto ao mais fiável dos eunucos que o acompanhavam. Com palavras de
encorajamento o eunuco aconselhou-lhe que deixasse a sua timidez a um lado e
confessasse o seu amor a Zarinaia”15, conselho que põe em prática.
“Porém, ela rejeitou-o com delicadeza dizendo-lhe que era um assunto embaraçoso
e daninho para ela, mas que seria mais escandaloso e prejudicial para ele dado
que estava nesta altura casado com Roitaia, a filha de Astibaras, da que se
dizia que era mais bela que Zarinaia e todas as demais mulheres”16.
Esta resposta deixou-o entrecortado e profundamente abatido, “guardou silêncio
durante longo rato e então, atentamente despedindo-se dela, marchou e, cada vez
mais deprimido, lamentou a sua situação ao eunuco. Finalmente, depois de
escrever uma carta num pergaminho, fez-lhe jurar ao eunuco que ele lha
entregaria a Zarinaia somente depois de que Striangaio tivesse morto sem
dizer-lhe nada antes”17. Pediu a sua espada e assim marchou para
o Hades.
A
esta altura, o último rei dos medos, Astiages (585-550), também chamado
Astigas, filho de Ciaxares, (653-585) ostentava a supremacia sobre o reino de
Anshan, seu vassalo, regido pola dinastia aquemênida, por ter como fundador a
Achaemenes, e durante o seu reinado, o poder supremo transferiu-se dos medos
aos persas. Durante o seu reinado, Ciro atuou como auxiliar do nobre Artembares
que ocupava o posto de copeiro real. “Artembares era um homem velho e um
dia, quando ele estava doente com febre, pediu-lhe ao rei ir para a casa até
estar recuperado. Disse-lhe ao rei: «Este moço (indicando a Ciro) por quem
sentes simpatia, servirá o vinho no meu lugar. Se servisse o vinho corretamente
para ti, meu senhor, adotá-lo-ei, ainda que são um eunuco». Astiages aceitou
esta proposta e o eunuco marchou depois de ter-lhe dado a Ciro muitas ordens e
abraçado como um filho. E assim, Ciro esteve cerca do rei, deu-lhe a sua
vasilha e serviu-lhe vinho dia e noite ao tempo que despregava um carreto juízo
e coragem. Artembares morreu da sua doença depois de adotar a Ciro, e assim
Astiages deu-lhe todas as possessões de Artembares, como se fosse o seu filho”18.
Astiages ordenou-lhe ao general medo e cortesão seu, Harpago, que fizesse
morrer ao seu neto Ciro, mas este, segundo a versão de Herodoto, encomenda-lhe
fazê-lo ao pastor Mitradates, dizendo-lhe que era Astiages quem ordenava a sua
morte: “Em fim, eu ameacei-o com os mais rigorosos tormentos se não cumpria
estritamente esta ordem. Executadas estas ordens, e estando morto o menino, eu
enviei ali ao mais fiel dos meus eunucos: eu vi-o polos seus olhos e
enterrei-o. As cousas passaram desta maneira e esta é a sorte que correu este
menino”19. A possessão dos eunucos não se limitava ao rei senão que
também os tinham às suas ordens os altos dignitários.
4.3.- Viagens de Apolônio de Tiana
O
filósofo de tendência neo-pitagórica, matemático e taumaturgo grego Apolônio
de Tiana (3 a. C.-ca. 97), homem delgado e pálido, realizou uma viagem a
Babilônia, caminho da Índia, onde pernoitou vinte meses, período no que manteve
conversas com os magos, com o rei Vardane e com os eunucos, entre eles com o sátrapa
chefe da guarda do rei, o olho do rei, chamado Damis, e com um dos eunucos que
levam as mensagens reais. Filostrato oferece-nos o seguinte diálogo dele com
Damis:
Apolônio.- “- «Damis, estou a perguntar-me como é que
os bárbaros crêem na castidade dos eunucos e os admitem nos apartamentos das
mulheres.
Damis.- - Mas, Apolônio, um menino veria a razão:
a operação que se lhes praticou quitou-lhe o princípio dos desejos amorosos, e
eis porque se lhe pode abrir os apartamentos das mulheres, inclusive, por pouco
que a fantasia as incite, admiti-los na sua cama.
Apolônio.- Que
lhes extirpou, segundo ti? A faculdade de amar ou a de conhecer as mulheres?
Damis.- As duas. Porque se se lhe extirpasse a todo
o mundo esta parte que alumia o fogo do amor, ninguém sonharia em amar.
- Amanhã, replicou Apolônio, depois dum
momento de silêncio, aprendereis que os eunucos são também capazes de amar, e
que os desejos, que entram no coração pola vista, não estão de nenhum modo
extinguidos neles, senão que o lar permanece a este respeito quente e
abrasador, porque deve suceder alguma cousa que provará que o vosso razoamento
não é bom. Por outra parte, quando os homens conhecessem uma arte bastante
poderosa, bastante soberana para extirpar do espírito toda concupiscência, não
seria uma razão para colocar os eunucos no número das pessoas castas: porque,
supondo que o sejam, só é por força e por incapacidade de amar. Que é pois a
castidade mais que a resistência aos desejos e ao arrebatamento dos sentidos,
mais que a abstinência voluntaria alcançada sobre esta espécie de raiva que se
chama a paixão?”20. Ao dia seguinte, Apolônio crê ratificada a
sua teoria por ter surpreendido um eunuco com uma das concubinas do rei. “Quando
ele falava assim, o palácio retumbou de gritos soltados por eunucos e mulheres.
Acabava-se de surpreender um eunuco em flagrante delito com uma das concubinas
do rei, e os guardas do apartamento das mulheres arrastavam-no polos pelos,
como era costume para os escravos do rei. O mais antigo dos eunucos declarou
que fazia tempo que se deu conta do amor culpável por esta mulher; que lhe
proibira falar com ela, tocar-lhe o pescoço ou a mão, e de cuidá-la a ela
exclusivamente, e que vinha de surpreendê-lo com ela e consumando o seu crime.
Apolônio botou uma olhada a Damis, como para dizer-lhe: «Não tinha razão ao
sustentar que os eunucos são capazes de amor?»”21. O rei pergunta-lhe
que castigo lhe devem aplicar ao eunuco, e Apolônio responde que o de viver. O
rei seguiu os seus conselhos e perdoou-lhe a vida ao eunuco.
1. PAULISSIAN, ROBERT DR. Adoption in Ancient
Assyria and Babylonia, Journal of Assyrian Academic Studies
jaas.org/edocs/v13n2/Paulissia1, p. 13.
2. F6a)
Athen. 12.40 p. 530 D, im The complete fragments of ctesias of cnidus:
translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University
of Florida, p. 78.
3. F5) Diodor. 2.31.10-34.6, im The complete fragments of ctesias of cnidus:
translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University
of Florida, p. 77.
4. F6b) Nic. Damas. (Exc. de Virt. p. 330.5 Büttner-Wobst
= FGrH 90 F4) [L]: in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom
and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida,
p. 79.
5. ( F6b) Nic. Damas. (Exc. de Virt. p. 330.5 Büttner-Wobst
= FGrH 90 F4) [L]: in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom
and commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida,
3, p. 80.
6. CTÉSIAS, F6b) Nic. Damas. (Exc. de Virt.
p. 330.5 Büttner-Wobst = FGrH 90 F4) [L], in The complete fragments of
ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW
NICHOLS, University of Florida, 3, p. 80.
7. F6b) Nic. Damas. (Exc. de Virt. p.
330.5 Büttner-Wobst = FGrH 90 F4) [L]: in The complete fragments of
ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom By ANDREW
NICHOLS, University of Florida, 3, p. 81. Ibid. Cap. 3, p. 157.
Dan. 1, 1-4. Cf. Dan. 1,
17-20.
10. Dan. 1,3-15.
Neste texto de Daniel não o diz expressamente, mas é a opinião
tradicional baseada em Isaias, 49, 7 : em Sanhédrin, 93 b, Rab
(s. I d. C.), diz, a respeito deste texto, que Daniel e os seus companheiros
eram eunucos. Cf. Séder Elha R., éd. Friedmann, ch. XXIV ; et Pirké
de R. Eléizer, ch. LII, 52, que o deducem de Isaías, LVI, 4 ss.
14. SULPÍCIO SEVERO, Chronicorum, liv.
2.16.
15. CTÉSIAS,
F8c) Nic. Damas. (Exc. De Virtut. p. 335.20 Büttner – Wobst = FGrH
90 F5) [L], in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and
commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, 3, p.
82.
16. CTÉSIAS,
F8c) Nic. Damas. (Exc. De Virtut. p. 335.20 Büttner – Wobst = FGrH
90 F5) [L], in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and
commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, 3, p.
82.
17. CTÉSIAS,
F8c) Nic. Damas. (Exc. De Virtut. p. 335.20 Büttner – Wobst = FGrH
90 F5) [L], in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and
commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, 3, p.
82.
18. F8d) Nic. Damas. (Exc. de Insid.
p.23.23 de Boor = FGrH 90 F66) [L]:
in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and
commentary with am introductiom By ANDREW NICHOLS, University of Florida, 3, p.
83.
19. HERODOTO, História, Lib. I, 117.
20. FILOSTRATO, Vida de Apolonio de Tiana, I,
34.
21. FILOSTRATO, Vida de Apolonio de Tiana, I,
37
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