O dia 30/09/2017 topei com um
companheiro professor que assistiu à apresentação do livro o dia 27/09/2017, e
manifestou que estava molesto com a pretensão dum dos presente no ato que
defendeu que se devia cambiar o título do livro e, em vez de O cristianismo contra a ciência,q
deveria ser Relação entre cristianismo e
ciência. Considerava que o título era correto e que não se deve mudar de
nenhuma maneira em posteriores edições. Eu saquei-lhe ferro a este tema e
disse-lhe que cada quem tem direito a expor a sua opinião e isso foi o que
passou no ato. Confirmei-lhe que continuaria pondo este título porque considero
que é o que melhor expressa não a realidade senão também o contido do livro. As
razões que se aduzem para o câmbio não são convincentes porque ainda que não todo
o cristianismo estivesse contra a ciência, si o esteve o cristianismo como
instituição. Se se entende por cristianismo a reunião de todos os crentes
cristãos, creio que têm razão, igual que seria abusivo afirmar, aqui na nossa
terra, que todos os membros do PP são anti-galeguistas ou que todo afiliados a
este partido são ladrões. Que se quer dizer nestes casos? Pois que aqueles que
tomam as decisões no seio do PP e/ou ocupam os cargos institucionais mais
relevantes são contrários a uma promoção real da nossa língua. Nós falamos
sempre da instituição cristã e não de indivíduos ou grupos concretos que não
têm poder real de decidir a linha eclesial. Muitos fiéis foram vítimas da
inquisição em vez de protagonistas, mas isso não impede atribuir a autoria das
suas condenas, torturas e execuções ao cristianismo, e igual sucede no caso
presente. Isto é muito mais acertado no caso do catolicismo por tratar-se duma
monarquia absoluta verticalista e clericalista na que todas as decisões
importantes procedem duma única cabeça com mais poder que o mesmo concílio,
como o demonstra o facto de ser capaz João Paulo II e Bento XVI de anular o
concílio Vaticano II.
Antes da sua publicação pensamos
detidamente o título que devia levar e consideramos que os títulos que utilizam
outros autores, tais como Conflito entre
ciência e religião ou Conflito entre
cristianismo e ciência ou conflito
entre o cristianismo e a razão não eram acertados porque nos primeiros
alude-se a um embate recíproco entre dous que pugnam entre si, e, no caso
presente, não há luta entre dous senão
um acosso constante da instituição eclesial contra os que ousavam publicar algo
inovador que consideravam que colidia com o seu imaginário mental tal como se
desprende das Sagradas Escrituras. Este acosso não se referia só a questões de
fé e costumes, senão também a temas científicos, filosóficos, gramaticais, etc.
Deve chamar-se cristianismo ou catolicismo?
Entendo que cumpre dizer cristianismo, porque não foi uma facão determinada do
cristianismo a que participou na luta contra a ciência, senão todas elas:
protestantes, anglicanos, ortodoxos, etc. A condena da esfericidade da terra
polo papa Zacarias data do século VIII, quando ainda não se separaram as diversas
facões mencionadas, e na condena do heliocentrismo e na desqualificação do
evolucionismo participaram tanto os protestantes como os católicos.
A animosidade contra a ciência está tão
incrustada nas mentes cristãs, nomeadamente nas clericais, que incluso a
padecem os sectores mais progressistas dentro da instituição eclesial, que, em
grande parte, invalidam os seus esforços para renovar o cristianismo. Dizia o
meu companheiro, algo que eu dizia no ato, que não tem sentido falar de
cientismo em sentido pejorativo e de imperialismo da ciência, quando os
científicos não conformam, de por si, uma instituição que tenha poder real
enquanto tal, e, como tal, não pode emitir condenas contra ninguém; e dos
científicos como indivíduos particulares não se conhece nenhum caso na história
de acosso ou assédio sobre nenhum outro ser humano, quer seja religioso,
filósofo ou científico. Um científico pode, naturalmente, criticar uma religião
e reciprocamente, mas não pode condenar, torturar, bater ou executar a ninguém.
Se alguém o fizer fá-lo-ia a nível pessoal e nunca como científico. Aliás, o
científico como tal rege-se polo princípio de falsação que diz que uma proposição
que é falsada pola experiência deve ser abandonada e substituída por outra, e,
precisamente, a função do científico está em falsar as proposições anteriores,
provocando deste modo um progresso no conhecimento, como fiz Copérnico a
respeito do geocentrismo. Isto é contrário ao modo de proceder de todas as
religiões que sempre pretendem manter as suas proposições como sacrossantas e
imutáveis apesar de ter sido falsadas reiteradamente pola ciência natural ou
histórica ou responder a sensibilidades que não sintonizam com o momento
presente. Que cambiou a mensagem eclesial apesar de ter sido falsada a planície
da terra, o geocentrismo, a física aristotélica e o fixismo? Continuam-se lendo
os mesmos textos e seguem defendendo-se as mesmas ideias, porque, como foram
inspiradas por Deus e Deus é onisciente, seria temerário cambiá-las.
Entendo que esta atitude é
totalmente negativa para o mesmo cristianismo porque indica que a sua
tradicional aversão contra a razão tanto filosófica como científica não mudou e
fica ancora na razão imaginativa de faz milhares de anos. Observo também que
esta animadversão reluz na obra duma série de autores cristãos e afins ao
cristianismo que publicam obras que têm como objetivo o desprestígio dos
grandes científicos, e algumas vezes chegaram a aconselhar-me a leitura de
alguma delas. A uma pessoa que me ofereceu um livro desses para ler, disse-lhe
que não o necessitava porque, sem vê-lo já sabia o essencial da sua
argumentação, que era desprestigiar aos grandes científicos e fazer ver as suas
carências, e teve que reconhecer que tinha razão, desvalorizando assim a
ciência.
Porque este rouco ódio contra a
razão tanto filosófica como científica? A razão estriba em que consideram que
empequenecendo aos demais se engrandecem eles e a sua mensagem profundamente
irracionalista e fideísta. Este ódio tem uma raiz bíblica e agoma no mesmo
relato da caída de Adão e Eva no Paraíso terreal. O seu pecado, segundo o texto
bíblico foi comer da árvore da ciência do bem e do mal, pretendendo ser, como
Deus, conhecedores da ciência do bem e do mal. A desobediência a este preceito
produziu uma reação do irado, despótico e guerreiro Javé que reagiu impondo o
maior castigo que se tem nunca produzido na história. Tanto eles como todos
seus descendentes, ainda os não nascidos, foram penalizados porque, segundo a
interpretação agostiniana, servindo-se dum texto de Santo Xerome mal traduzido,
todos pecamos em Adão e todos temos que sofrer as consequências, pecado que se
transmite, segundo este Padre da Igreja, da pais a filhos por geração,
destruído assim a mesma noção de pecado que exige que a atuação seja pessoal,
livre e consciente e cometendo um dos maiores dislates contra a biologia, que
consiste em dizer que um ato pecaminoso que consiste num ato de pensamento
contrário a uma norma moral, se pode transmitir por geração. Sendo assim também
se transmitiria a ciência de pais a filhos, aforrando grandes dispêndios às
arcas públicas para formar e educar desde zero as crianças. Seria de desejar
que pidam análises do código genético para ver em que gene reside a
pecaminosidade!
Já quando estudava em Salamanca, alguns
teólogos, também entre os progressistas, tendo em conta que nós o a evolução
desmente que nós podamos provir duma parelha de pessoas, manifestam que Adão
significa terra, como se assim solucionassem o problema, porque uma cousa é o
significado etimológico duma palavra e outra muito distinta que esta palavra
com tal significado etimológico não se aplique a pessoas individuais.
Evidentemente, Adão, que efetivamente, significa terra, utilizou-se também como
nome de pessoa. Em caso contrário, teríamos que dizer que Eva não surgiu da sua
costela, porque a terra não as tem, nem teria sido a sua companheira, nem teria
sido a que o incitou a pecar, porque a terra não cumpre nenhuma destas funções.
Pedro significa pedra, mas isso não é óbice para que muitos portem este nome.
A Bíblia defende
que o ser humano foi criado a imagem e semelhança do seu criador e, por
conseguinte, pareceria que o cristianismo deveria defender as grandes virtudes
de que está dotado, entre elas, como a sobranceira, uma poderosa racionalidade
que nos permite conhecer a realidade, e também ao pai divino, mas o terrífico
deus de Israel, Javé, é apresentado por Isaías pavoneando-se de que vai fazer
grandes portentos que confundirão os sábios. “Por isso eis que sigo fazendo
maravilhas com este povo; perderei a sabedoria dos sábios, e eclipsarei o
entendimento dos entendidos”. Esta ameaça de Javé tem como finalidade
amedrontar o ser humano e assim evitar qualquer autonomia, auto-suficiência,
liberdade e independência das criaturas. O temor de Javé é o princípio da ciência,
como diz o livro dos Provérbios. O
deus judeu-cristão é um deus despótico, um deus de escravos, que gosta de ter
submetidos e constantemente pendentes dele a todas as suas criaturas, e se
estas querem que os atenda têm que humilhar-se, rebaixar-se, não atrever-se a
pedir-lhe contas dos seus atos, e impetrar-lhe o seu auxílio compulsivamente
apesar de que ele já conhece, teoricamente, as suas necessidades. Esta noção de
Deus tem que ser eliminada porque se opõe radicalmente à atual sensibilidade
humana tanto religiosa como moral.
O apóstolo Paulo amostra também uma
visceral oposição à ciência motivada polo fracasso da sua predicação às capas
cultivadas da sociedade romana e judia. Sublinha que, frente aos judeus, que
pedem sinais e aos gentios, que exigem sabedoria, a verdadeira sabedoria está
em Cristo crucificado. “Entretanto os judeus pedem sinais e os gregos buscam
sabedoria, nós pregamos a um Cristo crucificado: escândalo para os judeus,
loucura para os gentios”I Cor.
1,22-23). Frente à sabedoria divina, a sabedoria deste mundo, que é
necedade aos olhos de Deus, está chamada à destruição (I Cor. 2, 6). Porém
neste caso haveria que pedir-lhe responsabilidades porque os seres humanos são
obra sua e isso indicaria que é uma obra imperfeita. Não se diga que o mal e a
imperfeição é obra do pecado original porque a mesma proposta desta noção é uma
insânia mental.
Entre os abundantes testemunhos do
ódio da Igreja contra a ciência e a filosofia vou citar dous. O papa Gregório I
proibiu o estudo da gramática. O ano 601 escreve-lhe uma carta ao bispo de
Vienne, na Gália, que leva por título: “que o bispo não deve ensinar a arte
gramatical”. Nela, começa manifestando que lhe transmitiram muitas boas
novas acerca das suas atividades que lhe causaram alegria e que estava disposto
a conceder-lhe o que pedisse, mas “após isto chegou-nos uma notícia que não
podo mencionar sem vergonha, que ti explicas gramática a algumas pessoas. Cuja
notícia recebemo-la tão molestamente, e desprezamo-la com muita veemência, de
modo que aquelas cousas que se disseram previamente, as convertemos em gemido e
tristeza, porque numa boca não cabem entoar louvores a Júpiter e a Cristo. E
considera quão grave e nefando seja que os bispos cantem o que não convém a um
laico religioso. E ainda que o nosso amado presbítero Cândido quando chegou
mais tarde e se lhe perguntou sutilmente por este assunto, o tiver negado e
pretendesse escusar-vos, ainda não se afastou dos nossos ânimos, porque quanto
é execrável que se diga isto dum sacerdote, tanto convém que se conheça se é
assim ou não com satisfação estrita e veraz. De onde, se, após isto, se
tivessem clarificado que são falsas aquelas cousas que se nos disseram, e se
tivesse evidenciado que não estudais bagatelas e literaturas seculares, damos
graças a Deus, que não permitiu que o vosso coração fosse manchado com os
louvores blasfemos dos nefandos, e trataremos de conceder-vos o que pedis já
seguros e sem nenhuma perturbação” (Registri Epistolarum, Documenta Catholica
Omnia: Gregorius I Magnus", Liv. XI, Carta LIV (latim). Gregório XIII
proclamou que cumpre ensinar a pureza teológica sem fermento da ciência
profana, não adulterando a palavra de Deus com invenções mundanas.
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