A solução do problema catalão não é
um assunto que lhes concerne somente ao povo catalão, senão também aos demais
povos integrados no Estado espanhol, fundamentalmente os bascos e galegos.
Parece evidente que, com a judicialização da política, não se pretende castigar
só uns determinados factos concretos dos políticos catalães, senão impor um
castigo exemplar a estes para que sirva também de advertência do que lhes
espera a bascos e galegos se adotam ações semelhantes. Do que se trata era de
matar os anseios de liberdade dos povos diferenciados integrados no Estado
espanhol para converter o Estado num espaço de convivência no que as únicas
alternativas que se lhes oferece aos povos é ou a submissão à força ou o
cárcere. Com Ibarretxe deu-lhes resultado e esperam ter o mesmo êxito com os
catalães e que todo continue igual, que não obriguem a realizar câmbio nenhum e
que a estrutura do Estado fique imutável per saecula saeculorum.
Os
partidos políticos unionistas, concretamente os do artigo 155, não foram
capazes de superar o que dizia Ortega referente à política a seguir como
consequência do desastre de 1898, que consistia em rearmar o nacionalismo
espanhol para que a desintegração do império não chegue a afetar ao território
peninsular. Ortega pensava numa espécie de fervura emocional duradoira dos
cidadãos do Estado que coutasse qualquer proclividade secessionista, noutras
palavras, um impossível psicológico. Não teríamos nada que objetar ao anseio
unionista se se pusessem em práticas medidas distintas às que propiciaram a
desintegração do Império colonial espanhol, mas o que não se pode pretender é
implantar medidas de fustigação constante dos povos, como se fez com o Estatuto
de Catalunha, e, por encima querer lograr o seu assentimento. Com as colônias
americanas e asiáticas rejeitou-se também a via do diálogo e em 1895 se lhe
negou a autonomia a Cuba, com o resultado de que em 1898 Espanha teve que
conceder-lhe a independência.
Algumas
formações políticas propõem desenvolver políticas que atraiam os catalães,
intento já velho e que também formulou Ortega e Gasset, que na Espanha
invertebrada falava dum “projeto
sugestivo de vida em comum...( Os povos)
não convivem por estar juntos, senão para fazer juntos algo”, mas isto não
é mais que música celestial, que se põe claramente em evidência quando o
filósofo madrileno concretiza esse objetivo comum. Diz ele, “mas, para que, com que fim, baixo que ideias
ondeantes como bandeira incitantes? Para viver juntos, para sentar entorno ao
fogo central, à beira uns de outros como velhas sibilantes em inverno? Todo o
contrário. A união se faz para lançar a energia espanhola aos quatro ventos,
para inundar o planeta, para criar um Império ainda mais amplo. A unidade de
Espanha se faz para isto e por isto”. Isto quer dizer que para Ortega o
projeto incitante de vida em comum se faz para que empreender empresas
militares, ou seja, com um propósito claramente imperialista. Outro
imperialista fracassado mais.
Um
projeto sugestivo de vida em comum não pode tampouco edificar-se sobre a base
do que propõem os socialistas de Pedro Sánchez, que fala de introduzir pequenas
reforminhas na Constituição Espanhola, mas que nem sequer os socialistas são
capazes de precisar em que consistem. Falam de recuperar o Estatuto anterior à
sentença do Tribunal Constitucional, mas isto somente se pode fazer nestes
momentos com uma reforma da CE, para o qual não dispõem da vontade nem da
capacidade de fazê-lo sem contar com o PP, que já disse que não se pode contentar
aos «rebeldes». A sua proposta não
chega sequer a cumprir o lema do despotismo ilustrado que dizia: «Todo para o povo, mas
sem o povo».
Os socialistas somente dizem: «Pouco para os povos, mas sem os povos». Estes políticos não
estão para satisfazer as legítimas aspirações dos povos a decidir o seu governo
e o seu futuro como povo, senão que, como bons cristãos, convertem este mundo,
para os nacionalistas, num autêntico vale de bágoas, em palavras de São Pedro
de Mezonzo. Por outra parte, o normal é que, depois do trato recebido o 1 O,
malhando em velhos e velhas indefesas que iam votar, aplicando o 155 e o
encarceramento de todo aquele que se tenha movido na foto, os catalães não
aceitem outro Estatuto carente de qualquer garantia de ser respeitado polos
gerentes do Estado espanhol, infiéis companheiro de viagem. Já dizia o grande
Castelao que cumpre estabelecer um pacto com uma lei do divórcio para o caso de
que o noivo não cumpra.
Num
artigo publicado o 14/03/2018, com o título de Justiça de alpargatas, dizia que
não procedia imputar aos independentistas catalães por rebelião, porque a única
violência que se observou o 1 O foi a dos corpos e forças de segurança do
Estado; nem por sedição porque não houve um alçamento tumultuário para impedir,
pola força ou fora das vias legais, a aplicação das leis, ou a qualquer
autoridade, corporação oficial ou funcionário público, o legítimo exercício das
suas funções ou o cumprimento dos seus acordos, ou das resoluções
administrativas ou judiciais. A
conclusão era clara, nenhum destes delitos se lhe podia imputar, e a justiça
alemã véu a dar-nos claramente a razão. Agora só se lhe pode imputar por
malversação de caudais públicos, mas já disse a ministra de justiça alemã, que
não vai ser fácil prová-lo, e eu concordo totalmente com ela. Este delito,
contemplado no artigo 432 do Código Penal espanhol, refere-se à apropriação do
dinheiro público em interesse próprio, mas sim que creio que é aplicável a milhares?
de políticos do PP, como creio que saberão muito bem os alemães, especialmente
os turistas que um dia sim e outro também assistem atônicos aos anúncios de
casos de corrupção, mas não aos independentistas catalães, que não levaram para
o seu peto nem um euro. Este delito não está pensado para penalizar a um
governo que somente pretendeu conhecer a vontade do povo catalão e declarou
simbolicamente a independência. Quiçá dedicaram algum dinheiro para a
organização do referendo, não o sei, mas em nenhures está proibido realizar um
referendo, pois esta proibição foi introduzida em dezembro de 2003 polo governo
do PP e eliminada em 2005 polo governo de Zapatero. Um governo que atende a
demanda dum oitenta por cento da população que quer votar sobre a sua vontade
não é merecedor de ser punido. Somente um controle de gasto inquisitorial de
Montoro lhes impede gastar uns euros em consultar a cidadania. O único castigo
que se lhes pode aplicar é por desobedecer imposições que entendo abusivas de
Montoro e dum Tribunal Constitucional de parte.
Dizia
também a ministra alemã de justiça que se o Governo espanhol não justifica o
cargo de malversação Puigdemont será um cidadão livre num País livre, que creio
que se deve entender em contraposição ao que sucede agora, que é um home que
foge do cárcere, enquanto que os seus companheiros a padecem; anda exilado
polos mundo, ao tempo que os seus companheiros estão recluídos, em palavras dum
etarra, em dependências dum Estado que é um cárcere de povos. Afirmava também a
política socialdemocrata alemã que cumpre falar também do problema político, e
isto sim que seguramente não lhe gostou aos políticos do 155 que cifraram a
solução do caso à repressão como se de delinquentes comuns se tratasse.
Consideram que o território do Estado é patrimônio seu e o lógico, neste caso,
é procurar despejar a qualquer inquilino molesto que não aceite a sua
dominação.
O
veredito do julgado alemão foi recebido com enorme desgosto polos partidos do
155 e por todos os seus corifeus mediáticos que chegam já ao paroxismo do
disparate, com propostas como a de Jiménez Losantos de querer seqüestrar dous centos
mil alemães que veraneiam nas nossas ilhas ou atacar cervejarias alemãs. Quedou
claramente demonstrado que estes unionistas de pro nem sequer respeitam a
independência e os vereditos dos tribunais estrangeiros, no legítimo exercício
das suas competências, se são contrários aos seus interesses ou aos seus
preconceitos. Detiveram a Puigdemont na Alemanha por considerar que um «governo
amigo» faria trapaças a eito, como as que se fazem neste país e lhe entregaria
ao exilado sem resistência alguma para castigar exemplarmente as suas
iniciativas políticas, decretando para ele uma espécie de condena perpetue por
um delito inventado, pretextando que realizou um golpe de estado contra a
soberania e a «sagrada unidade» da nação espanhola, utilizando vias violentas
que ninguém viu por nenhures.
Agora
o espetáculo não pode ser mais desolador para buscar uma solução, porque no
campo dos unionistas do artigo 155 não existe nem vontade nem capacidade de
propiciar acordos políticos com os independentistas catalães. Temos um rei que
pode presumir de tipo, mas não de siso, e quiçá alguém me possa explicar para
que vale, e, em conjunto, para que vale a família real. Alinhar-se com o
política do PP ou todo o mais com os do 155 invalidou-o como um órgão
integrador da convivência e da diversidade. No PP não vejo ninguém proclive a
negociar entre iguais com os catalães e o verticalismo, presidencialismo, e
corrupção generalizada neste partido impedem a emergência de novos liderados
alternativos. O PSOE é um partido jacobinista impenitente e se um diretivo
propõe uma medida como a reforma constitucional não tarda nem uma hora antes de
ser contradito por outro. C’s é um partido xenófobo que não só está
incapacitado para mediar senão que é um perigo para a convivência social. Estes
três partidos competem entre si em ganhar-se o voto espanholista e cada qual
quer demonstrar que está disposto a trair à linha os díscolos nacionalistas.
Botaram tanto veneno sobre eles que podem terminar crendo as suas próprias
excreções. A única solução que avisto é a da mediação internacional e da
pressão exterior para impor a sensatez num problema que nunca deveu chegar a
esta situação.
Hoje, graças a Puigdemont creio que os
povos do Estado espanhol estão um pouco melhor e podem abrigar esperanças de
que se comece a respeitar um pouco mais a sua vontade, que é o que deve
prevalecer em política. Neste sentido, tem os nossos parabéns e a nossa gratidão.
No hay comentarios:
Publicar un comentario