O Dia das Letras Galegas foi
instituído pola Real Academia Galega com a finalidade de homenagear àquelas
pessoas que destacassem pola sua criação literária em idioma galego e pola
defesa do nosso idioma. Na Lei de Normalizaç4ao Lingüística de 1983 também lhe
foi reconhecido à RAG o caráter de entidade normativizadora do idioma galego,
e, portanto, tem a legitimidade legal de propor a normativa ortográfica que
deve reger o galego. Tradicionalmente a Academia defendeu uma postura
reintegracionista moderada, e, consequentemente, foi partidária da aproximação
ao português, mas no ano 1982, sendo presidente Garcia Sabell, num contexto de
controle da Xunta por parte dos unionistas do PP, decidiu aderir à postura
isolacionista do ILGA, caraterizada pola sua aproximação ao espanhol, que era a
mais aceite polos sectores mais assimilados pola língua oficial do Estado e
menos proativos na normalização do galego. Isto provocou que a citada normativa
fosse rejeitada polos sectores tradicionalmente reintegracionistas ao que
responderam os sectores oficialistas com a sua discriminação. A partir deste
momento, o sector reintegracionista tem coutado o acesso à Academia Galega como
membros numerários, a ser homenageados o Dia das Letras Galegas e a receber subvenções.
Reconhecendo a legitimidade
normativizadora da Academia Galega, a questão está em se esta a legitima também
para a exclusão dos desviantes. Pode-se negar o caráter de galego à língua
utilizada polos reintegracionistas? Ë acaso mais galego Ronaldiño, castiñeiro,
camiño, carballo, ... que Ronaldinho, castinheiro, caminho, carvalho...? Acaso
grafando o som filologia deste modo ou como filosoxía passam a ser palavras
duma língua distinta? Muitos pensamos que não e que a nossa língua está melhor
protegida se se insere sem complexos no mundo galego-português que se se
propícia o seu isolamento e a sua castelhanização. Não é igual o futuro duma
língua falada por um milhão de pessoas que se a falam 300 milhões. Isto é o que
pensava também Carvalho Calero e esse foi o motivo polo que liderou a
alternativa reintegracionista, e é também, segundo todos os indícios, o motivo
do seu ostracismo por parte da RAG, que, por sétima vez decidiu denegar-lhe a
homenagem que merece por parte da Academia e da sociedade galega em geral. Segundo
as minhas informações, prometeram-lhe em vida, proposta transmitida concretamente
por Constantino Garcia González, uma grande homenagem se desistia do seu
posicionamento, mas ele não aceitou.
Durante a presidência de Garcia
Sabell sofriam discriminação os que defendiam posições políticas mais de
esquerda, mas isto corrigiu-se com Fernández Del Riego, e, a partir deste
momento são os reintegracionistas os inimigo a combater. Alguns acadêmicos mais
progressistas chegaram a pedir publicamente, sem o menor rubor, que a Xunta
castiga-se os desviantes. Os que nos temos dedicado ao ensino, sofremos muitas
críticas, discriminações, expedientes ou ameaça de expedientes, se optávamos
pola alternativa mais próxima ao português. Os inspetores de ensino normalmente
não se atreviam a meter-se com nós por problemas ideológicos, mas estavam muito
alerta em sufocar qualquer indício de lusismo, e os pais, se não estavam
conformes com a ideologia do professor ou com as qualificações, viam uma saída
se podiam denunciar pola normativa utilizada.
Os que vivemos este problema nas
décadas últimas do século XX, constatamos em primeira pessoa que a norma atual
foi imposta desde o poder e não houve nunca vontade nenhuma de negociação com
os reintegracionistas, mas este sector está ai e não vai renunciar às suas
convicções e a sua luta para que sejam assumidas as suas teses. Creio que
chegou o momento de abrir um processo de negociação tendente a reconhecer como
legítima também esta posição, se for preciso, em convivência com a outra, como
acontece na Noruega, pois não considero que seja oportuno refundi-las fazendo
uma mistura eclética de ambas, que dê como resultado um tertium quid
irreconhecível. A RAG deve concentrar-se na consecução dos objetivos para os
que foi fundada e desistir de qualquer discriminação a pessoas ou grupos por
outros motivos. Não se pode manter por mais tempo o ostracismo para com um home
tão preclaro e tão ilustre como Ricardo Carvalho Calero, uma das personalidades
mais prestigiosas da Galiza da segunda metade do século XX, e de muitas
valiosas personalidades que defendem a aproximação ao português. É também
improcedente que estas se vejam discriminadas à hora da eleição dos membros da
Academia e na recepção de subvenções dos poderes públicos. Entre todos podemos
contribuir mais exitosamente à normalização do nosso idioma, que é o mais
importante.
No hay comentarios:
Publicar un comentario