A
vezes um se pergunta por que os políticos não se autocontrolam um pouco mais e
se cingem a falar de aquilo do que conhecem em vez de falar do divino e do
humano sem pudor de nenhuma classe. É claro que um político pode pensar e
manifestar o que queira, mas outra cousa distinta é pontificar sobre questões
nas que são leigos na matéria, e muito menos uma pessoa que, supostamente,
conseguiu que lhe convalidassem e aprovassem matérias a eito, prevalendo-se da
sua relevância pública e da possibilidade de que alguns obtenham contrapartidas
no fututo por esta conduta favoritista.
O
Sr. Casado manifestou faz uns dias que a ética marca-a a lei, formulação
própria do mais craso positivismo, mas se isto é assim, eu pergunto-me que fundamentos
podem alegar para opor-se a uma lei promulgada por um governo anterior, porque
isto equivaleria a opor-se à mesma ética, e constituiria, em consequência um
comportamento imoral. Amparando nesta declaração nega-se a dimitir e só o faria
se o fazem dimitir os tribunais. Não se pode suster o que dizem alguns que a
lei e a moralidade se diferenciam porque a lei inclui normas de obrigado
cumprimento, porque também as normas morais são de obrigado cumprimento, ainda
que sim é certo que uma norma moral se não é ao mesmo tempo uma norma legal não
é amparada pola força coativa do Estado. Tanto a ética como a lei são sistemas
normativos de obrigado cumprimento, mas variam no modo de obrigar. As normas
legais obrigam somente no foro externo, ou seja, obrigam a que se ponha ou
evite um ato independentemente da conformidade com essa norma, e assim uma
pessoa cumpre a norma legal se paga os impostos ainda que o faça de mã ganha; enquanto
que as normas éticas obrigam no foro externo e no foro interno, ou seja, também
em consciência, e uma ação não tem valor algum se o sujeito não realiza o ato
voluntariamente.
Para mim é evidente que uma cousa é
a ética e outra muito distinta a lei. Nós podemos perguntar-nos com sentido
acerca de se uma lei é justa ou injusta, moral ou imoral, e isso indica que não
se podem consubstancializar, não se podem equiparar. A ética é um sistema
normativo que trata da conduta dos seres racionais enquanto boa ou mã, correta
ou incorreta, com respeito a um ideal, ao que se considera que deve ser a
conduta das pessoas se querem ser boas pessoas. É o terreno das aspirações e
necessidades humanas, dos direitos humanos, dos direitos dos outros animais e
do respeito dos demais seres vivos e da conservação da natureza. Numa ética
cívica, como a que nós propugnamos, quem decide da moralidade dum ato não é uma
organização política, uma asociação religiosa, um estado, senão a cidadania que
ajuíza a moralidade dos atos independentemente das condições individuais ou
sociais das pessoas que os realizam. Uma ação mã tem como castigo os remorsos
de consciência, a desvalorização social se chegar ao conhecimento dos demais,
mas somente será penalizada pola lei se existe uma norma legal que contempla
essa possibilidade e se se pode demonstrar dum jeito fidedigno a autoria dum
ato ilegal num juízo.
A
lei é também um sistema normativo imposto não pola cidadania senão polas elites
que controlam o aparato do Estado, que o vão aproveitar em benefício próprio. O
que lhe interessa ao poder político não é diretamente se uma ação é boa ou má,
justa ou injusta, senão a sua rendabilidade eleitoral, se favorece ou não
probabilidade de manter o poder e o controle da cidadania, se favorece a
implantação dum determinado modelo de sociedade que beneficia as elites
partidárias,... Isto implica que a ética e a política não casam muito bem e que
toda política é, velis/nolis, maquiavélica dalgum modo. Um dirigente político,
posto emdeterminadas circunstâncias, não tem mais opção que faltar à verdade,
por exemplo, se sabe que dizendo a verdade vai quebrar um banco importante do
país. O incumprimento duma norma legal não tem por que produzir nenhum remorso
de consciência, incluso pode produzir remorsos de consciência o cumpri-la, mas o
incumprimento pode ser penalizado polo aparato punitivo do Estado. Seguramente
que a Gandi não lhe produziu nenhum remorso de consciência desobedecer e
induzir a que os seus concidadãos desobedecessem a lei britânica, feito que
contribuiu a elevar significativamente a consciência moral da humanidade.
A
lei pode favorecer ou atrassar o progresso moral da humanidade. Uma lei que
favorece a tortura, a pena de morte, a desigualdade entre os seres humanos, o
maltrato aos animais e o estrago da natureza atrassa o progresso moral da
humanidade. Mas uma lei que obriga a que os seres humanos se prestem ajuda em
casos determinados, que favorece que os povos possam decidir o seu futuro, que
penaliza a violência de gênero exemplarmente,... impulsa o progresso moral da
humanidade.
Casado
é presidente dum partido que tomou várias medidas legislativas que retardam o
progresso moral da sociedade espanhola. Uma norma como a lei «mordaça» dificulta a
livre expressão dos cidadãos e somente tem um sentido repressor do
dissentimento com a finalidade de dificultar a protesta contra a implantação de
medidas que atentam diretamente contra as normas democráticas mais elementares,
e, por conseguinte, é uma lei que se podia qualificar de injusta e, por
conseguinte, imoral, e não marca a ética senão que a destrui. Uma lei como a do
nomeamento do diretor da RTVE por maioria simples, somente tinha como objetivo
controlar as consciências manipulando a informação que se transmite à
cidadania. É uma lei que pretende uma rendabilidade política do partido do
governo, em contra dos seus adversários, aproveitando o seu controle dos mídia.
É também uma lei que podemos qualificar como injusta, e, portanto, imoral, e
que atrassa e prejudica a moralidade social.
Quando
se restaura uma monarquia historicamente corrupta e se protege o seu comportamento
pola censura não se busca uma sociedade mais justa e transparente, senão que se
busca instaurar por lei o privilégio e a corrupção, e isto não marca ética
alguma, senão que a atrassa o estabelecimento duma sociedade mais justa e mais
igualitária. Quando se permite que um ex-presidente do governo acumule
ingressos por soldo e ingressos privados à margem de qualquer pensão e se
impede que um pai de família acumule uma pensão de quinhentos euros com uma
retribuição por alugueres de douscentos, isso implica oficializar a
discriminação e a injustiça. Quando se promulga uma lei de relações laborais
que deixa aos obreiros ao arbítrio dos empresários, com salários precários e a
tempo parcial que não permitem uma vida digna, oficiliza-se a imoralidade e a
injustiça.
10/08/2018
10/08/2018
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