17 sept 2014

Podemos, Anova, Mareas




O presidente José Luis Rodriquez Zapatero tardou muito em adquirir consciência da crise econômica em que estávamos imersos e, em conseqüência, o seu governo não tomou as medidas a tempo pra paliar os seus efeitos, e uma vez que esta amostrou a sua crueza, em maio de 2010, realizou um giro de 180 grãos na política econômica que vinha aplicando e que figurava no programa eleitoral do PSOE com o que se apresentou ás eleições gerais de 2008, sem oferecer á cidadania mais razão convincente desse câmbio de rumo que o fato de que a economia ia mal e que o fazia para evitar o resgate. Ainda que depois se soube que fora um câmbio obrigado por Bruxelas e especialmente por Alemanha. Começou, pois, a aplicar um programa que lhe foi imposto por setores forâneos e em vez de convocar novas eleições e que os cidadãos, se o considerarem pertinente, abençoassem o seu giro copernicano, considerou-se legitimado para governar com um programa que os espanhóis não referendaram, que se saldou com a perda de 4.300.000 mil votos nas eleições de novembro de 2011 e com um aumento espetacular nas cifras de paro registrado, que passou, segundo os dados do paro registrado do INE, de 2.039.000, o 8,30 %, ao início da crise a finais de 2007, a 4.257.200, o  21,5, a finais de 2011. Segundo os dados da EPA, também do INE, passar-se-ia de 1.846.100 parados em 2007 a 5.012.700 a finais de 2012.

Por outra parte, o PSOE viu-se afetado por numerosos casos de corrupção. Foi condenado por financiamento irregular na década dos 90 polos casos Filesa, Malesa e Times Export; no 2013 viu-se salpicado polo caso Amy Martin, uma falsa jornalista que era utilizada para beneficiar-se de  fundos públicos, e, na atualidade, vê-se implicado na operação dos ERES de Andaluzia, Campeão e Pokemon, além doutros casos históricos como o Roldan, GAL, etc. Esta corrupção também afetou ao seu sindicato filial, a UGT, que em 1992, junto com CCOO, CEOE, CIG e CEPYME, criou a Fundação para a Formação Continua (FORCEM), gestionar subvenções para a formação de trabalhadores concedidas polo INEM com fundos da UE. Foram processados 6 altos cargos da UGT por fraude de 100 milhões de euros, encontrando o Tribunal de Contas responsabilidade penal e civil em dous dos máximos responsáveis.

O câmbio de política econômica foi censurado acremente polo PP, partido que insistiu por ativa e por passiva que ha que dizer a verdade aos espanhóis e que o fundamental para que a economia funcione é dar confiança á gente. Nas eleições gerais de novembro de 2011, o PP apresenta o seu programa como um contrato com a cidadania, que o referenda com 10 .830.000 votos que se traduz numa subida de 552 mil votos sobre os resultados de 2008 e, com o 44,62 por cento dos votos válidos emitidos, obtém a maioria absoluta e 186 deputados. Quando acede ao poder cambia o programa eleitoral e começa a aplicar o que lhe indica a troika e Alemanha, justificando este giro em que os dados da economia eram piores que o que lhe comunicaram, cantilena que repetiu e repete a eito, se bem não chega a convencer á cidadania, porque eles estavam na oposição e deveriam esmerar-se em conhecer o estado real da economia, para isso se lhes paga. Por outra parte, se se aduz que o PSOE os enganou, o seu argumentário seria convincente se as CCAA governadas por eles se distinguissem polo rigor e polas práticas de boa administração, mais vemos que, ao consultar as cifras de déficit das CCAA dos anos 2010 a 2013, as mais incumpridoras são precisamente as CCAA que governa o PP, além das mais dissipadoras, como se põe de relevo polo fato de que a grande maioria das obras faraônicas multimilionárias e inúteis que se construíram na Espanha levam a sua autoria: o Aeroporto de Castelhão, a Cidade da Cultura em Galicia, a Cidade do Circo de Alcorcão,  a Cidade das Artes e as Ciências de Valência, os Transvias de Parla e Zaragoza, Terra Mítica de Benidorm, o Palma Arena de Malhorca, Bankia, Concelho de Madrid, .... O PSOE também pode apuntar-se o Aeroporto de Cidade Real, o Estádio La Cartuja de Sevilla, o Transvia de Jaem, e CiU, o Forum de Barcelona.

Durante o mandado do PP os resultados econômicos correspondentes a 2012 e 2013 são francamente decepcionantes a pesar das duras medidas de austeridade e empobrecimento geral a que submeteu a cidadania, sob o pretexto de que eram dolorosas mas necessárias, e desde logo assentimos ao primeiro termo mas não ao segundo, porque era possível outra política econômica, como pudemos ver no caso dos EEUU. Certo que baixou a prima de risco, e por tanto, o dinheiro que Espanha ha de pagar polos empréstimos que solicite para o seu financiamento, mas isto deveu-se as medidas tomadas por Mario Draghi e não á boa gestão do PP. Durante o seu mandado, o paro registrado continuou medrando até situar-se em 4.720.400, 25,77%, a finais de 2012, e baixou a 4.701.338, 25,73%,  a finais de 2013. Os dados da EPA, também do INE e mais fiáveis, são de 5.811.000 a finais de 2012, 24,79 % anual, e 6.051.100, 25,73 % de media anual, a finais de 2013, com un incremento de 240.000 parados mais, que se explica porque muitos deixaram de inscrever-se nas oficinas de emprego desmoralizados por não topar trabalho. Igualmente, muitos trabalhadores, principalmente os nossos moços e moças, abandonam o país ante as nulas esperanças de topar um posto de trabalho, e o governo aproveita a ocasião para publicitar estas saídas como mobilidade exterior  e diminuição do paro. Ao mesmo tempo a dívida pública subiu espetacularmente, superando por primeira vez o bilhão de euros. 

Este fracasso da política econômica austericida começa a reconhecer-se agora polos mesmos que a impulsaram, como manifestou no momento da sua despedida Durão Barroso e, o sábado dia 13/09/2014, Luis de Guindos, que chamou a fazer autocrítica na política econômica da UE, porque o crescimento é “mui reduzido”, ao tempo que se mostrou favorável com o plano de investimento anunciado polo novo presidente da Comissão Européia, Jean-Claude Juncker compaginado com a aceleração das reformas estruturais. Também o BCE se amostra disposto a injetar um montante mui elevado de euros para evitar a deflação na Europa. A OCDE, pola sua parte, incide em que cumpre pôr tope á baixada de salários polo risco que implica de provocar uma deflação econômica. Um claro reconhecimento de que eliminar a capacidade de consumir numa sociedade consumista, antes, agora e depois, está condenado ao fracasso. Somente falta que saibam retificar e que assumam, também o Governo espanhol, as conseqüências de tanta dor, sacrifícios, morte e destruição, desnecessários, que, como obsessos, impuseram aos cidadãos. Em Espanha o Governo laminou o estado do bem-estar, o sistema produtivo, inovador, sanitário, eólico, e incrementaram até o intoxicamento os impostos ás classes médias, ao tempo que mantém os privilégios das elites oligárquicas.

O PP viu-se também salpicado por muitos casos de corrupção tanto durante os mandados de Felipe González como nos de Aznar e Rajoy. Em 1989, destapou-se o caso Naseiro, tesoureiro do PP, no que também se viu implicado Anjo Sanchiz, deputado por Valência e anterior tesoureiro popular. O caso foi arquivado porque o Tribunal Supremo não lhe deu validez legal as provas por ter-se autorizado as escutas telefônicas para casos de narcotráfico e não de financiamento irregular, medida que parece totalmente desatinada. Em 1999, sai á luz o caso do linho, que tinha como objetivo, presuntivamente, desviar fundos das ajudas destinadas ao cultivo do linho para altos cargos do PP, entre eles, Loiola de Palácio;  em 2009, destapa-se a trama Gürtel, liderada por Francisco Correa, que presuntivamente se nutria de fundos públicos e licença para saltar-se a legislação urbanística e meio-ambiental relativa aos seus negócios imobiliários. Bárcenas, tesoureiro do PP, repartia cada mes sobres entre 5 e 15 mil euros, em dinheiro negro, entre os secretários executivos, cargos públicos e outros membros do aparato do PP, incluído presuntivamente Cospedal e Rajoy, procedentes de empresas construtoras, de segurança e doações, a câmbio de contratos de obras por parte das administrações públicas; outros casos soados de corrupção em que se viu imerso são o de Jaume Matas, Pokemon, ...

Á parte dos casos em que se viram diretamente implicados os partidos está a permissividade ou, polo menos a falta de vontade política para lutar contra a corrupção em que se vem imersos todas as instituições públicas e boa parte das privadas: monarquia, sindicato UGT, CEOE, os partidos políticos PP. PSOE, CDC, UDC, Conselho Geral do Poder Judicial, Forças Armadas, ... de tal jeito que a cidadania tem a impressão de que as elites oligárquicas foram a ver quem roubava mais. Além disso, o PP empenhou-se numa carreira legislativa em contra da cidadania: a LOCE, contra o estudantes e as CCAA, especialmente as que gozam duma língua própria; a reforma da Lei do Aborto contra as mulheres; a reforma laboral, contra os trabalhadores, que foram despossuídos dos seus direitos mais elementares; a reforma fiscal, a favor das elites e contra as classes baixas e médias; a reforma local, contra os concelhos mais pequenos e contra as autonomias, reforçando as deputações, instituições centralistas e historicamente ninhos de clientelismo e corrupção; ... Na praxe política, pôs a justiça ao seu serviço partidário, como se evidenciou pola utilização partidária do Tribunal Constitucional para botar abaixo o Estatu de Catalunya, após ser referendado pola cidadania desta comunidade, origem do atual conflito catalão, e polos correos enviados por Moragas a Vitória Álvarez animando-a a denuciar a Jordi Pujol Ferrusola, identificando essa denúncia como um serviço a Espanha. Utiliza também a mentira a esgalha e a destruição de provas como instrumento para lograr a impunidade penal de partido, ao tempo que promete colaborar com a justiça..         

Dadas estas premissas, a cidadania acolheu-se ao cravo ardente de Podemos, um partido dirigido por professores universitários novos, que se apresenta com um cometido mui concreto: recuperar a soberania, frente a Merkel, troika e mercados; recuperar a democracia, para que seja o povo espanhol quem decide a não instituições forâneas que ninguém elegeu; e regenerar a vida pública da corrupção e da conivência entre o poder político e econômico, as chamadas portas giratórias. Compromete-se também a respeitar os direitos humanos coletivos, o qual sentaria as bases para a resolução racional do problema que suscitam as nações do Estado, abrindo passo ao estabelecimento dum pacto de caráter federal-confederal entre Espanha e as demais entidades nacionais. O surgimento de Podemos véu recolher o grito e o câbreo duma sociedade espanhola agredida e indignada contra a corrupção, degeneração democrática, recortes de direitos, salários e empregos, perda de postos de trabalho, obturação de futuro para os nossos os nossos moços e moças que se vem na impossibilidade planificar o futuro e formar uma família, contra instituições parasitárias e não eletivas, contra umas elites políticas que pola sua corrupção e a falta de diagnose e prognose solventes sobre o devir econômico botaram o país na miséria. Que as sociedades de hoje, muito mais ricas que nunca e com um PIB que antes nunca alcançaram, imponham salários vitalmente insuficientes á grande massa da população e, muitas vezes, mesmo de miséria, sem expectativas de futuro, e com uma instabilidade laboral nunca antes padecida, somente pode explicar-se polo drenagem de fundos da cidadania para as elites oligárquicas tanto estatais como internacionais, O surgimento de Podemos obedece a um mecanismo natural de defesa da sociedade frente a tanto desarranjo e tanta injustiça. Creio que para Espanha pode ser um revulsivo que venha dar uma esperança a esta maltratada sociedade, mas de momento limitou-se a ser expressão dum grito de indignação e ainda não é um projeto sólido para governar o país. Agora começa a sua verdadeira andança política e tem como reto demonstrar que é um projeto sólido e fiável.

Manifestação de Preferentistas em Lugo
Com todo, ainda no caso de ter êxito, trata-se um partido que surge na Espanha e com um projeto pensado e adaptado para o Estado espanhol no seu conjunto, que nunca vai solucionar os problemas das nações periféricas que o integram, ou seja, de Galiza, Euskadi e Catalunya. Um princípio básico em política é que um órgão de seu, diferente qüalitativamente dos demais, necessita instituições socioeconômicas, políticas e culturais próprias e específicas para salvaguardar os seus valores e o seu fato diferencial, e não ser deglutido por outras nações, com as que cumpre estabelecer pactos e acordos de toda índole sempre em pé de igualdade e nom de subordinação. Por isso, Catalunya, Euskadi e Galiza, necessitam partidos próprios que as defendam frente a todo intento de absorção ou aniquilação de povos forâneos. Considero, por outra parte, que os partidos nacionalistas galegos, bascos e catalães, salvo CiU, não estão implicados em casos significativos de corrupção, e nos casos isolados e individuais em que isso aconteceu, tomaram as medidas oportunas para que os implicados não continuassem nas instituições. Alem disso, considero que ha partidos nacionalistas que sintonizam e assumem o grito de indignação que muitos temos expressado desde faz temo e que se manifestou a partir do 15 M, e seriam uns aliados importantes de Podemos para regenerar a vida política espanhola e que, por tanto, estas nações periféricas não ganhariam nada dando-lhe as costas senão que perderiam muito. Que ninguém pense que os problemas dos galegos nolos vão vir resolver desde afora, pois isso não o logrou nenhum povo ao longo da história. Julgo de justiça bater uma lanza a favor do BNG, pola sua luta incansável para que lhe devolvessem o dinheiros aos preferentistas e os emigrados, que viu coroada polo êxito  após dura luta e muito sofrimento, ao tempo que tanto EU como Anova estavam ausentes.

Anova de José Manuel Beiras, facção cindida do BNG, elegeu EU, sucursal de Izquierda Unida na Galiza, como noiva para apresentar-se ás eleições autonômicas galegas de 2012, deixando na estacada a outra pretendente, neste caso nacionalista, como é Compromisso por Galiza, a pesar de que Beiras, como porta-voz do BNG, demonizara os pactos com forças estatais quando o fixo Camilo Nogueira na década dos noventa. Está visto que os políticos falam de acordo á conveniência do momento e que se guiam principalmente polos interesses imediatos e polo rendimento eleitoral em vez de pensar a longo prazo e em clave de país. Parece que o Sr. Beiras somente buscava a rentabilidade política imediata, dada a sua idade e a sensação que seguramente teria de que lhe passava o sol pola porta. O seu passado de lutador rebelde, a sua figura atrativa e o seu carisma, além das suas críticas mordazes contra a formação que antes liderara e o apoio generoso dos meios de comunicação, explicam que tivesse um éxito importante na seu batismo eleitoral de «ganchete» com a formação espanholista, mas considero que o êxito era seu pessoal e não dos seus companheiros de viagem e opino que teria o mesmo se for da mão da noiva despeitada.

A partir desta vitória inicial impunha-se consolidar o projeto político e realizar um trabalho organizativo e um labor social que lhe permitisse sentar as bases dum crescimento sólido para converter-se numa alternativa fiável de governo em Galiza. Mas as dissensões no seio de AGE primeiro e de Anova mais tarde, a falta de concreção do seu projeto e o nulo labor social, lastraram o projeto. Os gestos parlamentares histriônicos não são suficientes para construir o nosso futuro. Não foi capaz o Sr. Beira de converter-se em nexo de união das duas sensibilidades que convivem em Anova com objeto de facilitar a sua convivência num projeto inclusivo, a esquerdista- lenonacionalista e nacionalista-esquerdista, ao inclinar-se inexplicavelmente, pola primeira alternativa em contra do sentir majoritário da militância, á que lhe fizera crer que ela seria quem de decidir sem intromissões alheias. Isso fez que a convivência destes dous setores num mesmo projeto resulte mui difícil e que esteja pendente dum fio neste momento. O Sr. Beiras segue alimentando-se das suas críticas ao BNG, a pesar de ter insistido a eito quando estava na oposição, que ele não se confundia de inimigo político, ao tempo que se passeia do braço com os social-comunistas de EU, noiva impoluta com a que parece que prepara já o casamento definitivo, uma vez convertida Anova em satélite menor desta formação espanholista.

Já como satélite menor dela, bendisse a criação por EU das chamadas Mareas, movimento cidadão organizado desde a cúpula desta sucursal espanholista para tentar ter êxito eleitoralmente nas eleições municipais do próximo maio 2015. Em realidade do que se trata é de integrar ao projeto setores cidadãos não comprometidos politicamente para fortalecer a sua incidência social eleitoral, com a cantilena de que se trata duma iniciativa que surge desde abaixo e que a cidadania decide. Agora parece que quem sabe é precisamente quem não participou nunca em política, o qual não deixa de ser um reconhecimento da cerração dos partidos afetados e da sua incompetência para solucionar os problemas da cidadania. Movimentos deste estilo, creio que se explicam mui bem no caso de Podemos, porque não tem projeto formado nem estrutura partidária e tem que construir todo desde abaixo, mas não me parece mui correto em caso de organizações já formadas, que deveriam ter formulado as bases dum projeto sólido para a sociedade, e não pô-lo em discussão em cada cita eleitoral, ainda que si atualizá-lo com os contributos que a cidadania poda acarretar e incorporar novas sensibilidade e preocupações. Outra cousa seria pescar em rio revolto e confundir a cidadania. Parece que tanto o BNG como Podemos são renuentes a entrar neste jogo. O primeiro porque não está disposto a deixar-se arrastar por movimentos desorganizados e com setores que podem ser conflitivos no futuro, e o segundo, porque percebe pouco tem que ganhar nesta maridagem porque é o seu projeto o que está na cresta da ola e não quer deixar-se poluir por más companhias. Suponho, ademais, que lembrarão que o Sr. Beiras os desacreditou antes das eleições européias, qualificando o seu projeto de pouco fiável e preferindo de noiva a Izquierda Unida.

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