O presidente José Luis Rodriquez Zapatero tardou muito em adquirir consciência da crise econômica em que estávamos imersos e, em conseqüência, o seu governo não tomou as medidas a tempo pra paliar os seus efeitos, e uma vez que esta amostrou a sua crueza, em maio de 2010, realizou um giro de 180 grãos na política econômica que vinha aplicando e que figurava no programa eleitoral do PSOE com o que se apresentou ás eleições gerais de 2008, sem oferecer á cidadania mais razão convincente desse câmbio de rumo que o fato de que a economia ia mal e que o fazia para evitar o resgate. Ainda que depois se soube que fora um câmbio obrigado por Bruxelas e especialmente por Alemanha. Começou, pois, a aplicar um programa que lhe foi imposto por setores forâneos e em vez de convocar novas eleições e que os cidadãos, se o considerarem pertinente, abençoassem o seu giro copernicano, considerou-se legitimado para governar com um programa que os espanhóis não referendaram, que se saldou com a perda de 4.300.000 mil votos nas eleições de novembro de 2011 e com um aumento espetacular nas cifras de paro registrado, que passou, segundo os dados do paro registrado do INE, de 2.039.000, o 8,30 %, ao início da crise a finais de 2007, a 4.257.200, o 21,5, a finais de 2011. Segundo os dados da EPA, também do INE, passar-se-ia de 1.846.100 parados em 2007 a 5.012.700 a finais de 2012.
Por outra parte, o
PSOE viu-se afetado por numerosos casos de corrupção. Foi condenado por
financiamento irregular na década dos 90 polos casos Filesa, Malesa e Times
Export; no 2013 viu-se salpicado polo caso Amy Martin, uma falsa jornalista que
era utilizada para beneficiar-se de
fundos públicos, e, na atualidade, vê-se implicado na operação dos ERES
de Andaluzia, Campeão e Pokemon, além doutros casos históricos como o Roldan,
GAL, etc. Esta corrupção também afetou ao seu sindicato filial, a UGT, que em
1992, junto com CCOO, CEOE, CIG e CEPYME, criou a Fundação para a Formação
Continua (FORCEM), gestionar subvenções para a formação de trabalhadores
concedidas polo INEM com fundos da UE. Foram processados 6 altos cargos da UGT
por fraude de 100 milhões de euros, encontrando o Tribunal de Contas
responsabilidade penal e civil em dous dos máximos responsáveis.
O câmbio de
política econômica foi censurado acremente polo PP, partido que insistiu por
ativa e por passiva que ha que dizer a verdade aos espanhóis e que o
fundamental para que a economia funcione é dar confiança á gente. Nas eleições
gerais de novembro de 2011, o PP apresenta o seu programa como um contrato com
a cidadania, que o referenda com 10 .830.000 votos que se traduz numa subida de
552 mil votos sobre os resultados de 2008 e, com o 44,62 por cento dos votos
válidos emitidos, obtém a maioria absoluta e 186 deputados. Quando acede ao
poder cambia o programa eleitoral e começa a aplicar o que lhe indica a troika
e Alemanha, justificando este giro em que os dados da economia eram piores que
o que lhe comunicaram, cantilena que repetiu e repete a eito, se bem não chega
a convencer á cidadania, porque eles estavam na oposição e deveriam esmerar-se
em conhecer o estado real da economia, para isso se lhes paga. Por outra parte,
se se aduz que o PSOE os enganou, o seu argumentário seria convincente se as CCAA
governadas por eles se distinguissem polo rigor e polas práticas de boa
administração, mais vemos que, ao consultar as cifras de déficit das CCAA dos
anos 2010 a
2013, as mais incumpridoras são precisamente as CCAA que governa o PP, além das
mais dissipadoras, como se põe de relevo polo fato de que a grande maioria das
obras faraônicas multimilionárias e inúteis que se construíram na Espanha levam
a sua autoria: o Aeroporto de Castelhão, a Cidade da Cultura em Galicia, a
Cidade do Circo de Alcorcão, a Cidade
das Artes e as Ciências de Valência, os Transvias de Parla e Zaragoza, Terra
Mítica de Benidorm, o Palma Arena de Malhorca, Bankia, Concelho de Madrid, ....
O PSOE também pode apuntar-se o Aeroporto de Cidade Real, o Estádio La Cartuja de Sevilla, o Transvia
de Jaem, e CiU, o Forum de Barcelona.
Durante o mandado
do PP os resultados econômicos correspondentes a 2012 e 2013 são francamente
decepcionantes a pesar das duras medidas de austeridade e empobrecimento geral
a que submeteu a cidadania, sob o pretexto de que eram dolorosas mas
necessárias, e desde logo assentimos ao primeiro termo mas não ao segundo,
porque era possível outra política econômica, como pudemos ver no caso dos
EEUU. Certo que baixou a prima de risco, e por tanto, o dinheiro que Espanha ha
de pagar polos empréstimos que solicite para o seu financiamento, mas isto
deveu-se as medidas tomadas por Mario Draghi e não á boa gestão do PP. Durante
o seu mandado, o paro registrado continuou medrando até situar-se em 4.720.400,
25,77%, a finais de 2012, e baixou a 4.701.338, 25,73%, a finais de 2013. Os dados da EPA, também do
INE e mais fiáveis, são de 5.811.000
a finais de 2012, 24,79 % anual, e 6.051.100, 25,73 % de
media anual, a finais de 2013, com un incremento de 240.000 parados mais, que
se explica porque muitos deixaram de inscrever-se nas oficinas de emprego
desmoralizados por não topar trabalho. Igualmente, muitos trabalhadores,
principalmente os nossos moços e moças, abandonam o país ante as nulas
esperanças de topar um posto de trabalho, e o governo aproveita a ocasião para
publicitar estas saídas como mobilidade exterior e diminuição do paro. Ao mesmo tempo a dívida
pública subiu espetacularmente, superando por primeira vez o bilhão de euros.
Este fracasso da
política econômica austericida começa a reconhecer-se agora polos mesmos que a
impulsaram, como manifestou no momento da sua despedida Durão Barroso e, o
sábado dia 13/09/2014, Luis de Guindos, que chamou a fazer autocrítica na
política econômica da UE, porque o crescimento é “mui reduzido”, ao tempo que
se mostrou favorável com o plano de investimento anunciado polo novo presidente
da Comissão Européia, Jean-Claude Juncker compaginado com a aceleração das
reformas estruturais. Também o BCE se amostra disposto a injetar um montante
mui elevado de euros para evitar a deflação na Europa. A OCDE, pola sua parte,
incide em que cumpre pôr tope á baixada de salários polo risco que implica de
provocar uma deflação econômica. Um claro reconhecimento de que eliminar a
capacidade de consumir numa sociedade consumista, antes, agora e depois, está
condenado ao fracasso. Somente falta que saibam retificar e que assumam, também
o Governo espanhol, as conseqüências de tanta dor, sacrifícios, morte e
destruição, desnecessários, que, como obsessos, impuseram aos cidadãos. Em
Espanha o Governo laminou o estado do bem-estar, o sistema produtivo, inovador,
sanitário, eólico, e incrementaram até o intoxicamento os impostos ás classes
médias, ao tempo que mantém os privilégios das elites oligárquicas.
O PP viu-se também
salpicado por muitos casos de corrupção tanto durante os mandados de Felipe
González como nos de Aznar e Rajoy. Em 1989, destapou-se o caso Naseiro,
tesoureiro do PP, no que também se viu implicado Anjo Sanchiz, deputado por
Valência e anterior tesoureiro popular. O caso foi arquivado porque o Tribunal
Supremo não lhe deu validez legal as provas por ter-se autorizado as escutas
telefônicas para casos de narcotráfico e não de financiamento irregular, medida
que parece totalmente desatinada. Em 1999, sai á luz o caso do linho, que tinha
como objetivo, presuntivamente, desviar fundos das ajudas destinadas ao cultivo
do linho para altos cargos do PP, entre eles, Loiola de Palácio; em 2009, destapa-se a trama Gürtel, liderada
por Francisco Correa, que presuntivamente se nutria de fundos públicos e
licença para saltar-se a legislação urbanística e meio-ambiental relativa aos
seus negócios imobiliários. Bárcenas, tesoureiro do PP, repartia cada mes
sobres entre 5 e 15 mil euros, em dinheiro negro, entre os secretários
executivos, cargos públicos e outros membros do aparato do PP, incluído
presuntivamente Cospedal e Rajoy, procedentes de empresas construtoras, de
segurança e doações, a câmbio de contratos de obras por parte das administrações
públicas; outros casos soados de corrupção em que se viu imerso são o de Jaume
Matas, Pokemon, ...
Á parte dos casos
em que se viram diretamente implicados os partidos está a permissividade ou,
polo menos a falta de vontade política para lutar contra a corrupção em que se
vem imersos todas as instituições públicas e boa parte das privadas: monarquia,
sindicato UGT, CEOE, os partidos políticos PP. PSOE, CDC, UDC, Conselho Geral
do Poder Judicial, Forças Armadas, ... de tal jeito que a cidadania tem a impressão
de que as elites oligárquicas foram a ver quem roubava mais. Além disso, o PP
empenhou-se numa carreira legislativa em contra da cidadania: a LOCE, contra o
estudantes e as CCAA, especialmente as que gozam duma língua própria; a reforma
da Lei do Aborto contra as mulheres; a reforma laboral, contra os
trabalhadores, que foram despossuídos dos seus direitos mais elementares; a
reforma fiscal, a favor das elites e contra as classes baixas e médias; a
reforma local, contra os concelhos mais pequenos e contra as autonomias,
reforçando as deputações, instituições centralistas e historicamente ninhos de
clientelismo e corrupção; ... Na praxe política, pôs a justiça ao seu serviço
partidário, como se evidenciou pola utilização partidária do Tribunal Constitucional
para botar abaixo o Estatu de Catalunya, após ser referendado pola cidadania
desta comunidade, origem do atual conflito catalão, e polos correos enviados
por Moragas a Vitória Álvarez animando-a a denuciar a Jordi Pujol Ferrusola,
identificando essa denúncia como um serviço a Espanha. Utiliza também a mentira
a esgalha e a destruição de provas como instrumento para lograr a impunidade
penal de partido, ao tempo que promete colaborar com a justiça..
Dadas estas
premissas, a cidadania acolheu-se ao cravo ardente de Podemos, um partido
dirigido por professores universitários novos, que se apresenta com um cometido
mui concreto: recuperar a soberania, frente a Merkel, troika e mercados;
recuperar a democracia, para que seja o povo espanhol quem decide a não
instituições forâneas que ninguém elegeu; e regenerar a vida pública da
corrupção e da conivência entre o poder político e econômico, as chamadas
portas giratórias. Compromete-se também a respeitar os direitos humanos
coletivos, o qual sentaria as bases para a resolução racional do problema que
suscitam as nações do Estado, abrindo passo ao estabelecimento dum pacto de
caráter federal-confederal entre Espanha e as demais entidades nacionais. O
surgimento de Podemos véu recolher o grito e o câbreo duma sociedade espanhola
agredida e indignada contra a corrupção, degeneração democrática, recortes de
direitos, salários e empregos, perda de postos de trabalho, obturação de futuro
para os nossos os nossos moços e moças que se vem na impossibilidade planificar
o futuro e formar uma família, contra instituições parasitárias e não eletivas,
contra umas elites políticas que pola sua corrupção e a falta de diagnose e
prognose solventes sobre o devir econômico botaram o país na miséria. Que as
sociedades de hoje, muito mais ricas que nunca e com um PIB que antes nunca
alcançaram, imponham salários vitalmente insuficientes á grande massa da
população e, muitas vezes, mesmo de miséria, sem expectativas de futuro, e com
uma instabilidade laboral nunca antes padecida, somente pode explicar-se polo
drenagem de fundos da cidadania para as elites oligárquicas tanto estatais como
internacionais, O surgimento de Podemos obedece a um mecanismo natural de
defesa da sociedade frente a tanto desarranjo e tanta injustiça. Creio que para
Espanha pode ser um revulsivo que venha dar uma esperança a esta maltratada
sociedade, mas de momento limitou-se a ser expressão dum grito de indignação e
ainda não é um projeto sólido para governar o país. Agora começa a sua
verdadeira andança política e tem como reto demonstrar que é um projeto sólido
e fiável.
![]() |
Manifestação de Preferentistas em Lugo |
Anova de José
Manuel Beiras, facção cindida do BNG, elegeu EU, sucursal de Izquierda Unida na
Galiza, como noiva para apresentar-se ás eleições autonômicas galegas de 2012,
deixando na estacada a outra pretendente, neste caso nacionalista, como é
Compromisso por Galiza, a pesar de que Beiras, como porta-voz do BNG,
demonizara os pactos com forças estatais quando o fixo Camilo Nogueira na
década dos noventa. Está visto que os políticos falam de acordo á conveniência
do momento e que se guiam principalmente polos interesses imediatos e polo
rendimento eleitoral em vez de pensar a longo prazo e em clave de país. Parece
que o Sr. Beiras somente buscava a rentabilidade política imediata, dada a sua
idade e a sensação que seguramente teria de que lhe passava o sol pola porta. O
seu passado de lutador rebelde, a sua figura atrativa e o seu carisma, além das
suas críticas mordazes contra a formação que antes liderara e o apoio generoso
dos meios de comunicação, explicam que tivesse um éxito importante na seu
batismo eleitoral de «ganchete» com a formação espanholista, mas considero que
o êxito era seu pessoal e não dos seus companheiros de viagem e opino que teria
o mesmo se for da mão da noiva despeitada.
A partir desta
vitória inicial impunha-se consolidar o projeto político e realizar um trabalho
organizativo e um labor social que lhe permitisse sentar as bases dum
crescimento sólido para converter-se numa alternativa fiável de governo em Galiza. Mas as
dissensões no seio de AGE primeiro e de Anova mais tarde, a falta de concreção
do seu projeto e o nulo labor social, lastraram o projeto. Os gestos
parlamentares histriônicos não são suficientes para construir o nosso futuro.
Não foi capaz o Sr. Beira de converter-se em nexo de união das duas
sensibilidades que convivem em Anova com objeto de facilitar a sua convivência
num projeto inclusivo, a esquerdista- lenonacionalista e
nacionalista-esquerdista, ao inclinar-se inexplicavelmente, pola primeira
alternativa em contra do sentir majoritário da militância, á que lhe fizera
crer que ela seria quem de decidir sem intromissões alheias. Isso fez que a convivência
destes dous setores num mesmo projeto resulte mui difícil e que esteja pendente
dum fio neste momento. O Sr. Beiras segue alimentando-se das suas críticas ao
BNG, a pesar de ter insistido a eito quando estava na oposição, que ele não se
confundia de inimigo político, ao tempo que se passeia do braço com os
social-comunistas de EU, noiva impoluta com a que parece que prepara já o
casamento definitivo, uma vez convertida Anova em satélite menor desta formação
espanholista.
Já como satélite menor dela,
bendisse a criação por EU das chamadas Mareas, movimento cidadão organizado
desde a cúpula desta sucursal espanholista para tentar ter êxito eleitoralmente
nas eleições municipais do próximo maio 2015. Em realidade do que se trata é de
integrar ao projeto setores cidadãos não comprometidos politicamente para
fortalecer a sua incidência social eleitoral, com a cantilena de que se trata
duma iniciativa que surge desde abaixo e que a cidadania decide. Agora parece
que quem sabe é precisamente quem não participou nunca em política, o qual não
deixa de ser um reconhecimento da cerração dos partidos afetados e da sua
incompetência para solucionar os problemas da cidadania. Movimentos deste
estilo, creio que se explicam mui bem no caso de Podemos, porque não tem
projeto formado nem estrutura partidária e tem que construir todo desde abaixo,
mas não me parece mui correto em caso de organizações já formadas, que deveriam
ter formulado as bases dum projeto sólido para a sociedade, e não pô-lo em
discussão em cada cita eleitoral, ainda que si atualizá-lo com os contributos
que a cidadania poda acarretar e incorporar novas sensibilidade e preocupações.
Outra cousa seria pescar em rio revolto e confundir a cidadania. Parece que
tanto o BNG como Podemos são renuentes a entrar neste jogo. O primeiro porque
não está disposto a deixar-se arrastar por movimentos desorganizados e com
setores que podem ser conflitivos no futuro, e o segundo, porque percebe pouco
tem que ganhar nesta maridagem porque é o seu projeto o que está na cresta da
ola e não quer deixar-se poluir por más companhias. Suponho, ademais, que
lembrarão que o Sr. Beiras os desacreditou antes das eleições européias,
qualificando o seu projeto de pouco fiável e preferindo de noiva a Izquierda
Unida.
No hay comentarios:
Publicar un comentario