9 sept 2014

SEPARATISMO EM CASTELAO




Fratura do Estado: o separatismo



1.- A fobia anti-separatista


O separatismo ou independência produziu sempre múltiplas reações viscerais a nível do Estado espanhol, e mesmo a nível mundial, porque vai associado á sensação de rotura da estrutura política vigente e, por conseguinte, a uma situação de vazio de poder e de possível instabilidade sócio-política que acompanha a uma nova reestruturação territorial, produtora de angústia, sendo utilizados os vocábulos «separatismo» e «separatista» como armas arrojadiças que visam o descrédito do adversário e provocar ao mesmo tempo uma reação  de apego á situação imperante. Isto dará lugar a que os nacionalistas roturistas tenham que esmerar-se no seu léxico e agachar, polo menos parcialmente, a sua ideologia com objeto de não fazer-lhe o jogo aos seus inimigos e evitar situações de rejeição social. A idéia separatista estivo sempre reprimida polo poder de turno que tentará fomentar a coesão comunitária condenando todo movimento que poda tender á desagregação do poder político e, conseqüentemente, á dissolução do statu quo social, inculcando entre os cidadãos reações defensivas frente a este «inimigo» público.



 Fratura do Estado: o separatismo
    1.- A fobia anti-separatista
    2.- Antecedentes do separatismo
    3.- O separatismo como reação  contra a discriminação e o centralismo
    4.- A independência como direito das nações
    5.- O separatismo, idéia anacrônica e gesto desesperado
    6.- O separatismo espanhol: a sagrada unidade da pátria
    7.- O dilema federalismo-separatismo
    8.-O separatismo violento como instrumento de salvação  e dignidade
    9.- O separatismo português
    10.- Galeuzca e o separatismo
    11.- O separatismo como função  do apoio popular e da segurança internacional





Numa situação de folga revolucionária, convocada pola CNT e a UGT, que afeta Catalunya, Vascongadas e principalmente a Astúrias, o presidente da Generalitat Companys proclama o dia 6/10/1934 a república catalã dentro da República Federal espanhola1. Fixemo-nos que o político catalão não proclamou a independência senão uma república catalã a inserir no marco duma próxima república federal espanhola. Outro catalão, neste caso espanholista, Lerroux, responde á declaração de Companys que "O patriotismo saberá impor-se ali mesmo á loucura separatista e saberá conservar as liberdades que lhe reconheceu a República BAIXO um GOVERNO QUE SEJA LEAL Á CONSTITUIÇÃO.... imos seguir a história de Espanha"2. Aparece, pois, para Lerroux, um único patriotismo, que é o patriotismo espanhol e todos os demais patriotismos som loucuras censuráveis. Esse patriotismo espanhol é identificado com a história de Espanha, negadora e intransigente com os direitos das nacionalidades que convivem no seu seio, ou, como dize Castelao, desconhecedora sistemática da variedade hispânica3. A reação a esta proclama de Companys irá seguida duma dura repressão contra todos os nacionalistas periféricos, que na Galiza se personalizou especialmente nas figuras de Bóveda, desterrado a Cadiz, e Castelao, desterrado a Badajoz.

Em virtude de ordem da Presidência da Comissão de Trabalho da Junta Técnica do Estado de data 22/01/1937 incoa-se expediente a Castelao, ao abeiro do Decreto de Lei de 5/12/1936 e Decreto nº. 108 da Junta de Defesa Nacional4, do bando nacional. As Comissões depuradoras podem optar: 1º) pola livre absolvição, quando tivessem desvanecido os cargos de ter colaborado ao ambiente revolucionário; 2º) Traslado para os que "sendo profissional e moralmente irrepreensíveis, tenham simpatizado com os titulados partidos nacionalistas basco, catalão, navarro, galego, etc. sem ter tido participação  direta nem indireta com a subversão comunista-separatista; e 3º) Separação definitiva do serviço para todos os que tenham militado nos partidos do Frente Popular ou sociedades secretas, mui especialmente com posterioridade á revolução  de outubro, e dum modo geral os que pertencendo ou não a estas agrupações tenham simpatizado com elas ou orientado o seu ensino ou atuação  profissional no mesmo sentido dissolvente que as informa"5. Vemos no texto anterior que o separatismo, ao igual que o comunismo, é concebido polo franquismo como uma das faltas mais graves, englobando como infratores, dum jeito manifestamente abusivo, a todos os que militaram no Frente Popular ou tivessem simpatizado com ele.

A Comissariaria de Investigação e Vigilância qualifica a Castelao: "De tendência separatista, figura destacado no galeguismo esquerdista integrante do chamado Frente Popular, tendo adquirido desgraçada popularidade pola sua atividade na tribuna e na Imprensa, onde colaborava com caricaturas alusivas ás situações políticas. Depois dos sucessos revolucionários de 1934 e por considerá-lo perigoso foi trasladado desta capital, volvendo mais tarde a ela"6. Como temos exposto, Castelao não era independentista senão federalista, decidindo-se pola opção independentista somente no caso de que for impossível chegar a um pacto de união federal entre as nações hispanas. O vocábulo «separatista» era aplicado, pois, não só aos que o eram realmente, senão a todos os que fossem de tendência federalista, como era o caso de Castelao, ou meramente autonomista. O Alcaide de Pontevedra informa que, "segundo informes adquiridos, é de duvidosos antecedentes, pertencia ao partido Galeguista de esquerda, afeto ao Frente Popular, do que era elemento mui significado, grande propagandista do Estatuto galego e por tanto separatista, tendo sido elegido Deputado a Cortes nas últimas eleições, indo incluído na Candidatura formada por elementos do referido Frente Popular"7. Tampouco o Alcaide de Pontevedra se preocupava de deslindar o autonomismo com o  separatismo, qualificando deste jeito a todo aquele que não fosse centralista.

A fogagem da propaganda patrioteira dos reacionários -di Castelao em 1940- procede de móveis econômicos e de casta, mas é igualmente compartida polos republicanos de esquerda, que também compartilham a idéia unitária e centralista. "Resulta evidente que os patriotas do Estado unitário, sejam da direita ou da esquerda, estão conformes no afã de suster o despotismo castelhano; e não valia a pena de que se ultrajassem entre si. Abundava com que uns e outros nos ultrajassem a nós, aos separatistas da Espanha única e indivissível"8.

Foram dous moços saídos do republicanismo, - di Castelao em 1940- em alusão a Vilhar Ponte e Porteiro Garea, os que criaram as Irmandades da Fala, aos que responderam os velhos republicanos burlando-se deles por falar galego. "Causaram-nos muito dano, porque sendo eles os únicos obrigados a compreender-nos, eram, justamente, os que nos acusavam de separatistas e retrógrados. Cumpre dizer que alguns sentiam-se compassivos e só nos chamavam ilusos, tolos ou parvos. A incompreensão dos "avançados" foi o que nos obrigou a deixar a política militante, para entregar-nos de cheio á lavoura cultural e preparatória, que tão bons serviços prestou a Galiza, pois não tardamos em ser compreendidos polos moços e em criarmos um ambiente de galeguidade que se infiltrou em todas as entidades democráticas"9.

A denominação de separatistas vêm-se aplicando aos galegos bascos ou catalães que não queiram ser espanhóis, enquanto que aos galegos, bascos ou catalães que não querem ser galegos, bascos ou catalães, chama-se-lhe bons espanhóis, enquanto que para Castelao são traidores e separatistas. "Nós compreendemos que a um galego, a um basco ou a um catalão que não queira ser espanhol se lhe chame "separatista"; mas eu pergunto como deve chamar-se-lhe a um galego que não queira ser galego, a um basco que não queira ser basco, a um catalão que não queira ser catalão. Estou seguro de que em Castela a estes "impatriotas" chamam-lhes "bons espanhóis", "modelo de patriotas", quando em realidade som traidores a si mesmos e á terra que lhes deu o ser. ¡Estes si que são separatistas!"10. Esta reflexão de Castelao segue a ser válida para os nossos dias, como se põe de manifesto escutando aos tertulianos das cadeias espanholas. Estes, juntamente com o PP, UPyD e Ciutadans si que são separadores.

Todo este clima de forte demonização das aspirações separatistas, obrigará a que os nacionalistas façam freqüentes confissões de lealdade ao sistema imperante, ainda que com aspirações da súa transformação num sentido que poda ser assumível polos unitaristas, e também que façam freqüentes protestas contra a acusação  de separatistas que lhe dirigem os seus adversários políticos com objeto de desacreditá-los ante a opinião pública.


2.- Antecedentes do separatismo


O 11/09/1923 assina-se o Pacto da Tripla Aliança, que pretende ser um pacto entre nações soberanas: Catalunya, Euskadi e Galiza, aberto tamém a Valência, Portugal e Marrocos, polo que "reivindicam o direito das três nações a dispor livremente dos próprios destinos e a viver segundo um regime de plena soberania política", e reafirmam a sua decisão de "conquistar com o próprio esforço e por todos os meios lícitos, a liberdade nacional", rejeitando expressamente o regionalismo e o independentismo, estando dispostas em caso de que a sua vontade seja desconhecida e pisada polo Estado espanhol a "unir as forças na luta e, se é necessário, misturar o sangue no sacrifício"11. Estas nações enviam a Barcelona autênticos embaixadores, que são recebidos como tais. Dous dias mais tarde, o separatismo foi utilizado para justificar o golpe militar de Primo de Rivera, que aduz, entre outra razões, a "descarada propaganda separatista"12, ou, como diz Castelao, foi impulsado "polas manifestações separatistas da «Tripla Aliança» («hoje Galeuzca»), em Barcelona"13.

O 8/01/1925 assina-se em París o pacto da «Livre Aliança» entre os nacionalistas bascos e catalães, com a porta aberta aos galegos, no que, não obstante, a idéia separatista aflora claramente; trata-se dum documento emitido no estrangeiro, que não podia ser reproduzido no país, e quiçá nem tivesse essa pretensão. Nele estabelece-se que "Os separatistas de Euskadi e Catalunya aspiram á plena soberania de si mesmos, não só por razões históricas que assim o exigem, senão pola consciência clara que hoje têm da sua personalidade que não pode confundir-se com qualquer outra e polo imperativo da sua vontade atual, decidida, contundente e incoercível de ser livres"14.


3.- O separatismo como reação  contra a discriminação e o centralismo


O separatismo não é um objetivo diretamente buscado, senão que surge como fruto da discriminação, frustração, minus-valoração, violência assimilista, ... O 4 de julho de 1933, pergunta Castelao no Parlamento porque Galiza, Astúrias e Leão foram excluídas dos Centros designados polo Ministério de Instrução Pública para a seleção e preparação de Professores encarregados de curso nos Institutos e Escolas subvencionadas de Ensino Secundário, produzindo-se uma situação  de discriminação  para a nossa terra. Castelao ameaça que a Galiza, para o logro das suas legítimas aspirações não lhe queda mais caminho que a autonomia ou o separatismo15. A idéia separatista é tomada aqui como ameaça frente a uma situação julgada discriminatória para Galiza, sem maior virtualidade.

O domingo 23/07/1933, celebrou-se em Vigo um comício contra o tratado com o  Uruguai no que participaram Castelao, Suárez Picalho, F. Tafall e Paratcha, presentados por Ramón Alonso. Nele Castelao afirmou que: "Neste caso, diz, de não tratar-se duma torpeza política, senão duma necessidade nacional, fundada em vivos problemas espanhóis, como sustêm os nossos inimigos, não fica outro caminho que o do separatismo; porque, antes que nada, somos galegos, e galegos antes que espanhóis"16. Por conseguinte, se se subordinam os interesses galegos aos espanhóis, a única opção é a independência.

O 6/09/1939, em carta enviada desde Nova Iorque aos «irmans de Bos Aires», que o nomearam Chefe máximo e único do Partido Galeguista, diz-lhes: "E no caso de que os nossos anseios sigam desatendidos e incompreendidos polos organismos chamados nacionais da República Espanhola então declarar-nos separatistas e trabalhar exclusivamente pola independência da nossa pátria"17. Os anseios a que alude Castelao são os anseios federalistas, que inclusive se podia descafeinar em autonomistas, que caso de não ser atendidos provocariam uma reação em prol da independência de Galicia. A opção separatista seria assumível, por tanto, se as forças espanholas não atendem os requerimentos de Galiza.

Em dezembro de 1939, em resposta a uma carta anterior de Santiago Alvárez Gómez18 (Valdeorras, 1913- 2002 )19, Castelao, afirma: "Asseguro-che que nunca fui separatista; mas nunca comprendi também como agora a necessidade de fazer uma política galega, separada e forte, na que entráramos em harmonia de partidos todos quantos temos um ideal comum facilmente formulado em declarações de princípios que o nosso povo sentiu sempre"20. Castelao confirma o que tem expressado repetidas vezes: que nunca foi separatista, ainda que si partidário de realizar uma política galega forte, junto com todos os que comungam com os ideais que sempre sentiu o nosso povo. Considera a esta altura, que inclusive a Galiza dos falangistas e requetês vai incrementar a sua consciência de povo diferente e manterá uma afervorada lembrança dos que lutaram pola autonomia . “Eu sei que Galiza vai apresentar uma conta que não lhe pagarão. Assim é doado crer que Galiza pode chegar a ser raivosamente separatista”21.

Estampa de Castelao
 no desterro continuam os republicanos espanhóis a manter a sua velha teima centralista não nos quedaria -di Castelao em 1940- mais remédio que arredar-nos e trabalhar para Galicia. "Se agora persistiram na velha teima centralista, negando-se a ver e a estimar a nossa natural diferenciação, não nos quedaria mais que um recurso: arredar-nos deles e vivermos exclusivamente para Galiza"22. Se os republicanos adotam o federalismo, a união pactuada das nacionalidades hispânicas, não teríamos obrigação  de abraçar o separatismo, porque Galiza seria um órgão vital da República espanhola. Esperamos "que nas greas dos desterrados surjam homes novos, capazes de conceberem um sistema, um plano e uma organização nidiamente espanhola, baseada no reconhecimento das nacionalidades hispânicas e na sua união pactuada, sem hegemonias revelhidas nem privilégios ganhados pola violência ou polas más artes políticas. Então os galegos não teríamos a obriga de abraçarmos o separatismo político, porque a nossa Terra seria um órgão vital da República espanhola, da que tanto esperávamos e pola que tanto levamos sofrido"23. Por conseguinte, o separatismo aparece como algo condicional e não substantivo e prioritário: se não se reconhecem as nacionalidades espanholas, teríamos a obrigação de abraçar o separatismo. Por conseguinte, a luta pola independência pode chegar a vonverter-se num imperativo ético, de não mudar o modo de proceder dos espanholistas, 

O 28/10/194024 pronúncia no Ateneu Pi i Margalh do Casino Republicano espanhol de Bos Aires uma conferência sobre as minorias étnicas do Estado espanhol na que afirma que a República do 31 pecou de indecisão no reconhecimento dos direitos dos grupos étnicos estatais e incide em que grande parte dos fatos históricos que contribuíram á grandeza de Espanha se realizaram quando Espanha não era um Estado centralizador e negador de quanto significa personalidade natural dos povos ibéricos. E termina com estas palavras: "-¡Numa Espanha inimiga de Galicia, negadora dos seus direitos, mutiladora da sua personalidade, numa Espanha ditatorial, inimiga da liberdade, nessa Espanha, eu si são e serei separatista!"25. Em realidade, Castelao é vítima dum espelhismo histórico porque a tendência á centralização foi persistente e continua no Estado espanhol, tanto com os trastâmara como com os áustrias e os borbons, ainda que somente se consumou plenamente com Felipe V e demais borbons. Em linha com idéias expressadas repetidas vezes com anterioridade, Castelao só admite o separatismo como alternativa para o caso em que não se reconheçam os direitos de Galiza ou não se respeitem as liberdades individuais.

Castelao delata -1943- a renitência dos povos castelhanos a ser tolerantes com os fatos diferenciais e, acudindo a um argumento indireto, denúncia a sua falta de sensibilidade para com o  problema nacional, pois os castelhanos, que vem tam natural o domínio sobre Catalunya, seriam incapazes de suportar a imposição duma língua como o catalão. "¿Suportariam os castelhanos uma Espanha catalã e empenhada em catalanizar a Castela? Estou bem seguro de que abominariam duma Espanha que não fosse sua, e de que seriam rabeados separatistas. Pois bem; se os democratas espanhóis sabem da vontade fortíssima de Castela e cantam a proverbial altiveza dos castelhanos, igualmente devem reconhecer o inexpugnável caráter dos povos que resistiram quatro séculos de coação assimilista e hoje reclamam o direito á liberdade, que é o direito á existência"26. A partir do século de ouro da literatura espanhola, surge uma tendência suicida tanto em Catalunya como em Galiza, que durou três séculos, mas quando se começa a produzir uma convergência ao calor da literatura castelhana, a política desaforada e fachendosa dos Madriles decretou a unidade nacional obrigatória. "Claro está que abortaram os esforços três vezes seculares de Castela e que frente ás violências assimilistas surgiram os inevitáveis separatismos. Abundou o influxo duma moda literária ─o Romanticismo─ para que renasceram as línguas de Catalunya e Galiza. E detrás das renascenças literárias vieram os fatos diferenciais com o  seu grave cortejo de problemas. Hoje o centralismo está em crise e para subsistir só conta com os procedimentos coativos do Estado poder, com os mesmos procedimentos que arredaram a Portugal e mantêm os separatismos"27.

Em outubro de 1945, com motivo do aniversário do fuzilamento de Companys polo regime franquista, dixo que muitos republicanos vivem obsidiados com o problema do separatismo. “O separatismo, senhores, é reação  natural e humana contra a intolerância e a intransigência dum Estado absorvente, que Costa qualificou como «pingajo de leão». Mas os acusados de separatismo estamos dispostos a toda classe de sacrifícios para defender a República espanhola, nós, os chamados injustamente separatistas”28.

Em março de 1946 retruca o argumento que o tacha de separatista, acusando de separatista ao Estado pola marginação  em infra-estruturas a que submete a Galiza, que lhe permite concluir que "Espanha foi separatista de Galicia muito antes de que existissem galegos separatistas"29. Esse Estado concebe como separatista todo o que não passe por Madrid30.
             


4.- A independência como direito das nações


A finais de 1937, já durante o seu exílio entre Valência e Barcelona, duvida de que Galiza queira criar um ser político independente31, ainda que não ha nenhum povo espanhol que nos avantaje em amor á terra-natal, existindo, por conseguinte, um desajuste entre a realidade étnica e a tradução dessa realidade em reivindicação  política32. Galiza é uma nação e como tal tem direito a federar-se com as demais ou inclusive a independizar-se. "A nação  tem direito a federar-se com outras e a separar-se da federação quando lhe convier. Uma nacionalidade, pois, tem direito, inclusivamente, a constituir-se em Estado independente"33, e o proletariado não deve negar o direito das nacionalidades á independência quando não se oponha aos interesses da sua classe, em alusão ás organizações obreiras.

Castelao confessa-se -1943- unionista porque não pretende organizar a nação  galega em Estado independente senão conviver com as demais nações num Estado federal34. Di saber separar a nação  do Estado pois uma nação pode renunciar á sua existência como Estado independente mas também um Estado não tem porque ser uma Nação  e jamais tem direito a esterilizar o gênio das várias nações que o compõem, impondo as características duma delas a todas as demais, provocando desse jeito os separatismos. "Nós não discutimos ao Estado como princípio de união política entre todos os espanhóis, e o ideal conciliador que sustentamos perturbará menos a vida futura de Espanha que essa crença velha e pobre dos que ainda opinam que o Estado forçosamente deve ser uma Nação. Contra essa crença alçaram-se sempre os separatismos"35.  Considero que seria mais atinado afirmar que uma nação pode suspender o exercício dum direito,  neste caso a constituir um Estado independente, que renunciar a ser um Estado independente, pois os direitos humanos fundamentais, tanto individuais como coletivos são irrenunciáveis. Um Estado tem que respeitar os fatos etnicamente desunidos, que são obra da fatalidade biológica, e quando alcançam a categoria de nacionalidades podem reclamar a sua total independência, que nem a Catalunya, nem a Euskadi nem a Galiza lhe convém nem a pretendem mas que tampouco lhes basta com uma mera descentralização  político-administrativa36. "O Estado ─«obra da vontade histórica de conviver»─ não tem direito a matar, violar ou esmagar os fatos etnicamente desunidos; mas tais fatos ─«obra da fatalidade biológica»─ têm direito â convivência estatal, e quando alcançam a categoria de nacionalidades podem, inclusive, reclamarem a sua total independência"37.

O problema de Espanha não terá solução entretanto os políticos continuem utilizando termos impróprios, confundindo adrede a Nação com o Estado e considerando como um delito o falar de várias nacionalidades no Estado espanhol, pois o seu reconhecimento provocaria um preito contra o Estado espanhol que as tem avassaladas, pois eles sabem que as nacionalidades são objetos de obrigação e sujeitos capacitados para reclamar o self gobernment, "porque o princípio que as ampara constituiu a base doutrinal do Tratado de Versalhes, fez-se axioma de Direito internacional e está afincado na consciência democrática do mundo. E por evitarem os compromissos que se derivariam duma estimação das realidades, eles seguem falando da nação  espanhola, única e indivisível, sabendo que assim mentem dobremente, porque nem Espanha é única nem ha mais separatismo que o que eles mantêm a respeito dos portugueses"38. A fundamentação positivista dos direitos das nações em Castelao complementa a fundamentação que fai habitualmente no iusnaturalismo.

Contrariamente ao que dissera várias vezes o político galego de que estava disposto a renunciar ao separatismo, agora matiza que as nação  devem poder sempre separar-se do Estado de que formam parte porque a soberania é irrenunciável. "Da mesma maneira nós não somos separatistas; mas, em principio, queremos que as nações tenham direito a separar-se do Estado a que pertencem, quando não sejam felizes dentro dele, pois jamais podem renunciar á sua soberania"39. El opta polo federalismo, mas com uma lei do divórcio para solucionar possíveis desavenças da união. Neste texto Castelao qualifica o direito fundamental dos povos á soberania como irrenunciável, mas isto compadece-se mal com as suas freqüentes afirmações de que Galiza está disposta a ceder parte dos seus direitos até reduzir-se quase a uma simples região40. Se os direitos são irrenunciáveis seria mais atinado afirmar que se está disposto a uma suspensão temporal do exercício dum direito e não de renúncias nem cessões de soberania.

Castelao diferencia as regiões das nações em base a que as primeiras não gozam de soberania natural e podem conformar-se com um sistema Estatutos autonômicos concedidos por simples graça do Estado, enquanto que este sistema é inadequado e inclusivamente ofensivo para catalães, galegos e bascos, pois Galiza, como Catalunya e Euskadi é uma nação e  tem "direito a federar-se com outros povos iguais a ela; e não reconhecer-lhe o direito de autodeterminação -inclusive para viver com absoluta independência- será sempre um ato tirânico e antiliberal"41. Mas, paradoxalmente, a pesar de afirmar que a soberania é irrenunciável, duas páginas mais adiante afirma: "Agora bem; nós queremos ceder da nossa natural soberania todo quanto cedam as demais nacionalidades espanholas, a fim de constituirmos um Estado regido pola mais pura democracia (democracia fundada na liberdade), onde seja impossível o privilégio e a servidão"42. Não basta a personalidade meramente histórica e, por tanto, simplesmente ser um povo com própria história, porque não todos os povos que têm história própria alcançam a categoria de nacionalidades, como é o caso de Aragón. Para estas regiões defendemos uma descentralização político-administrativa e, inclusive, a concessão de estatutos de autonomia, "pois abunda que sejam diferentes para que se lhe dê existência legal"43, mas a nenhuma região "lhe concederíamos o direito a exercer o poder do Estado dum modo independente, pois somente a soberania natural dum povo tem direito a exteriorizar-se em soberania política"44. E termina dizendo Castelao: "Depois do dito só nos resta acrescentar que se os democratas espanhóis nos considerassem separatistas não teríamos mais remédio que sê-lo realmente; mas no entanto devemos defender a legitimidade das nossas idéias, amostrando-lhe aos galegos apoucados a estrela das nossas esperanças45.


5.- O separatismo, idéia anacrônica e gesto desesperado


O 24 de março de 1934, publica A Nosa Terra umas impressões de Castelao sobre o ideário político que se discutirá na Assembléia de constituição  do Partido «Izquierda Republicana», nas que critica o déficit autonômico do projeto e a desconfiança cara ao ordenamento autonômico. "Ainda ha espanhóis que consideram os anseios autonomistas contrários á unidade do Estado, quando de certo são fenômenos hispaníssimos e republicaníssimos porque pretendem reintegrar Espanha ao seu ser natural e porque garantem a organização liberal e democrática da República frente á moda fascista que por um mimetismo estúpido vai invadindo-nos. ... Somos federais e cuidamos que os separatismos, como tendência, são anacrônicos; mas cremos que as nacionalidades devem topar a sua liberdade dentro dos Estados complexos"46. Castelao calma certos medos surgidos entre os espanhóis que receiam da autonomia por separatista. Em realidade, para o rianjeiro, não se trataria de avançar cara a nenhures, cara um vazio produtor de angústia, senão cara a algo que já foi e funcionou bem. A solução  do problema consiste na harmonização  entre liberdade das nações, evidentemente restringida porque se renúncia a um aspeto da liberdade como é a decisão plena sobre o futuro, mantendo a unidade do Estado; por uma parte, eliminar os temores a um futuro incerto mas, pola outra, lograr as aspirações mínimas duma vida comunitária digna. Isto não se compadece com afirmação que ele tem expressado de que a soberania é irrenunciável.

O domingo 31/05/193647 participa num comício em Chantada, junto com Leonardo Fernández, Ramóm Pinheiro e Gómez Alher, no que insiste nesta mesma idéia de que os separatistas são os centralistas, considerando o separatismo como uma idéia anacrônica, se bem não explica porque o é, e como uma idéia desesperada que nunca quiser sentir. "Não somos separatistas porque consideramos o separatismo como uma idéia anacrônica; mas concebemo-lo como uma idéia de desesperação que jamais quiséssemos sentir. Se olhamos bem as cousas os separatistas são os centralistas. Eles perderam as colônias, perderam Portugal e nem tão sequer votam (sic) de menos a luz que em Espanha entrava pola fachada do atlántico"48.

O separatismo, pois, -1937- é uma idéia anacrônica fruto dum estado de desesperação, pois nós não queremos rachar os vínculos com os demais povos espanhóis. "Quero proclamar em letras de molde o que dissemos muitas vezes nos comícios de propaganda. Cremos que o separatismo é uma idéia anacrônica e somente o desculpamos como um movimento de desesperação  que jamais quiséssemos sentir. Isto significa que os defensores da posição  maximalista de Galiza não intentamos quebrar a solidariedade dos povos espanhóis ─reforçada por uma convivência de séculos senão mais bem possibilitar a reconstrução da grande unidade hispana, ou ibérica"49. Castelao apresenta-se neste texto como defensor da posição maximalista de Galicia, posição  que não advoga polo separatismo, senão  pola grande unidade feita a partir da diversidade das nações que compõem o Estado espanhol, quer dizer, do federalismo, união pactuada entre iguais em ordem a uma convivência harmônica entre os pactuantes, cedendo Galiza voluntariamente "dos seus direitos todo quanto fosse indispensável para criar a soberania do Estado espanhol"50. Ainda que no texto anterior alude á unidade hispana ou ibérica, no exílio bonaerense pronunciara-se abertamente pola confederação hispânica, por não considerar ajeitado o conceito de Ibéria51.

O 17/12/1938, pronúncia uma conferência sobre «Federalismo espanhol» na Universidade da Habana, na que se pergunta se os espanhóis que proclamamos a variedade nacional nos sentimos afastados do ideal hispânico, respondendo: "Não; certamente. Nós consideramos o separatismo como uma idéia anacrônica e só o abraçaríamos como um movimento de desesperação contra qualquer tirania. Em Espanha não ha separatistas, e se alguma vez existiram foi pola ação  instigadora dos separadores"52. Como precisa em 1941, os "separatistas são os que separam, e nós somos separados, mas não separatistas"53. A partir de 1940 desaparece a menção  de anacronismo referido ao separatismo.

6.- O separatismo espanhol: a sagrada unidade da pátria


Durante o seu desterro em Badajoz escrebe: "Os senhoritos reacionários pretendem anovar os sonhos imperialistas da monarquia absoluta com o galho de restabelecerem os tempos abolidos, sem decatar-se do bárbaro sacrilégio que cometem, porque em nome de Deus nem se pode afogar a livre respiração  do espírito dos homes nem se pode coutar o anseio dos povos que lutam polo seu próprio ser. Os senhoritos comungam com a "sagra unidade da pátria", que é uma roda de muinho para nós e um amparo de privilégios anticristãos para eles; mas será bem declarar que nem têm consciência da unidade possível nem sentimentos de pátria verdadeira. E por muito que digam são os únicos separatistas que conhecemos. Foram-no de Portugal, são-no de Catalunya, ser-no-ão de Euskadi e de Galiza"54. Os senhoritos reacionários são, sem dúvida, políticos de direitas que se amparam na religião para coutar as ânsias de liberdade do espírito e o anseio dos povos á liberdade. Estabelece um paralelismo entre indivíduos e povos e ditamina que igual que não se pode afogar a expansão do espírito no individuo tampouco se pode coutar a luta dos povos em prol da recuperação  do seu próprio ser. Rejeita também a sagrada unidade da pátria, tal como se vem proclamando polos centralistas, que não têm noção da pátria verdadeira, que está feita da diversidade, e são os únicos separatistas porque ao desconhecer as demais realidades, provocam o rejeitamento por parte dos demais.

Em janeiro de 1936 participa num comício na Estrada, quiçá o domingo 1255, junto com Valenzuela e Víctor Casas. Nele pôs a Bélgica como exemplo de democracia, nega que o galeguismo seja separatista. "Pol-o contrário: são separatistas os que perderam as colônias e Portugal e não têm inconveniente em que também se perda Catalunya, Vascónia e Galicia". Por conseguinte, para el, os sepatatistas são os centralistas, que, ao negar os direitos básicos nacionais, provocam a separação  dos demais dum Estado que não lhes é afeto. No comício de junho de 1936, no teatro Rosalia de Castro da Corunha retruca aos que nos acusam de arredistas: “Não somos separatistas! Disse-o muitas vezes e repito-o agora: Os arredistas são eles, porque perderam todo quanto tinha Espanha. Perderam as Colônias; perdeu-se em Espanha a grande fachada do nosso casal hispânico: Portugal, e eles não sabem que perderam a melhor fachada do seu lar; perderam todo e estavam dispostos a perder Catalunya, a perder Euskadi, a perder Galicia. ¿Que lhes importa? Iriam reduzindo a sua parte tanto, tanto, que poderiam topar-se na derradeira hora, todos eles juntos num cabaré de Madrid"56. Combate aos que criticam as fronteiras horizontais e criam fronteiras naturais, pois estes si que são os autênticos separatistas. "Pois eles que nos falem de que queremos criar mais fronteiras horizontais, temos que dizer-lhes: os separatistas sois vós que fazeis a separação  mais criminal; mas também dizemos que nós acabaremos com essas fronteiras verticais"57.

Estampa de Castelao
Volve também neste ano a tildar de roda de muinho a «sagrada unidade da pátria», tal como a entendem os patrioteiros centralistas, que não têm consciência da unidade possível. "Se um povo não quer morrer estupidarnente assimilado, não lhe queda mais que um recurso: deixar de ser espanhol. Eles, os espanholeiros, são os únicos separatistas que conhecemos. Separaram a Portugal e já pediam fronteiras para Catalunya. Não tardariam em separar a Euskadi e Galiza. ... Lembro-me dum monárquico, adorador da "sagra unidade" e separatista de Catalunya. Um dia apareceu com um unheiro. A dor do colhiço chegava-lhe ao coração e não o deixava dormir. Agarimava o dedo enfermo, envolto em algodoes. Então um deputado, que votara nas Cortes o Estatuto de Catalunya, disse-lhe, para desquitar-se: «Seique che dói o dedo, ¿eh? ¿Por que não o desprezas e o cortas? Porque che dói, ¿não si? ¡Claro! Dói-che porque é uma parte da unidade do teu corpo. Se sentires, como dizes, a unidade de Espanha, doer-che-ia Catalunya...»"58.

Não temos saudades da República do 31 - diz em 1943- que consagrou as liberdades individuais inclusive com os intolerantes, mas manteve-se usurpadora e absorvente frente aos povos, onde qualquer vivo afã descentralizador é condenado por «separatista», e, por conseguinte, a sua eventual restauração provocará novos desarranjos. "Diremos realmente que a nossa condição de «separados» está próxima a trocar-se em energia «separatista», porque nem os democratas espanhóis querem compreender-nos. ... Não ha dúvida de que nos imos achegando á forma mais avançada de secessão, por culpa dos democratas e liberais de Espanha"59.

Não é possível que aceitemos a política assimilista de Espanha que causou a separação de Portugal e está engendrando outras separações, e tampouco pretendem os galegos arredar-se de Espanha "enquanto nos alumie a esperança de vê-la engrandecida para a nossa grandeza, junto com Portugal e livre do centralismo que a empobrece e empequenece"60. Para Castelao só cabem duas formas de salvação: "Mas nós dizemos que só cabem duas formas de salvação: acabar com a hegemonia de Castela ou proclamar a independência de Galiza; a federação  ou a secessão"61. Já dissemos que não se trata propriamente de hegemonia de Castela, senão da estrutura de poder imposta polas elites oligárquicas espanholas para garantir os seus interesses e, por tanto, em benefício próprio.O autonomismo –di Castelao- não é válido e só o federalismo pode evitar a desigualdade dos povos hispânicos e que os povos castelhanos dominem aos não castelhanos, e por tanto, é a única fórmula de harmonia, declarando-se separatista da Espanha unitária e centralista, que não reconhece os fatos diferenciais. "Neste intre histórico nós declaramo-nos separatistas da Espanha, ainda que o nosso separatismo seja ineficaz e impotente, pois um ideal não sempre se baseia em cálculos de estratégia militar ou revolucionária. E se algum democrata espanhol se assanhasse por esta confissão lembrar-lhe-emos que preferimos morrer no desterro a viver submetidos ao artifício governativo da atual Espanha, de modo que o nosso desterro é uma venturosa salvação"62.

Galiza paga para atenções gerais mais do que recebe do Estado, nunca recebeu regalos do erário espanhol e basta-se a si mesma economicamente para o seu governo. "Com números da própria Fazenda espanhola demonstraríamos duas cousas: Que a tutela do atual Estado resulta excessivamente cara para nós e que nos sobra capacidade econômica para viver com independência"63. A política uniformista e absorvente, desprezadora da variedade e da diferença é a que dá origem ao separatismo. "O separatismo em Espanha é conseqüência da política absorvente, uniformista, totalitária. ¿Que, acaso não é lícito que eu me sinta separatista de Franco? Ah, se eu pudesse nestes momentos separar a Galicia da Espanha totalitária (ovação) fá-lo-ia sem vacilar, embora não fosse que para dizer-lhe aos espanhóis expatriados: «Aqui tendes uma Espanha onde se pode viver em liberdade». ... Mas duma República legalmente constituída pola vontade do povo e assentada sobre as realidades espanholas jamais poderíamos sentir-nos separatistas"64.

A independência dum país pode basear-se em argumentos de caráter político, em caso de que o autogoverno e o poder de decisão não se vejam respeitados, ou se vejam mui limitados polo poder do Estado e da coorte mediática. Não se recatam em utilizar ás semtenças dun Tribunal Constitucional polítizado e ilegalmente constituído para derrubar acordos referendados por todo um povo; cultural, em caso de assédio á própria língua e cultura em geral, como no intento confessado do PP de pretender espanholizar Catalunya, Euskadi e Galiza com um ataque desaforado ás suas línguas numa situação em que nem sequer tem garatida a sua supervivência e com clara conculcação do estitulado no artigo 3 da Constituição espanhola que mandata que “A riqueza das distintas modalidades lingüísticas de Espanha é um patrimônio cultural que será objeto de especial respeito e proteção”. Nenhum governo de Espanha pode citar uma só medida tomada por eles em favor dos idiomas vernáculos nestes 36 anos de democracia, e não digamos já os governos do PP, partido que por meio duma associação, a FAES, subvencionada generosamente com fundos públicos, por tanto, pagados por todos nós, tem montada uma campanha de acosso ás línguas próprias das CCAA para propiciar o seu esmorecimento por anemia, em base a uma ideologia ultra e pseudo-científica, deformadora da realidade histórica; sociais, como no caso de convivência difícil entre duas comunidades de identidade díspar, em caso dum regime estatal corrupto ou em caso de que não se respeite a morfologia social das nações que convivem no Estado; ou econômicas, como o argumento que Castelao aduz para demonstrar a viabilidade da independência de Galiza e o que aduz Catalunya da seu excessivo contributo á solidariedade. Castelao não era economista se bem tinha formação nada desprezível neste eido pola sua experiência parlamentaria como polas suas leituras e a sua dilatada presença nos órgãos diretivos partidários. Por isso cremos que é interessante comparar o que di no texto anterior o rianjeiro com o posicionamento dum economista com sólida formação acadêmica e de reconhecido prestígio, como é Javier Vence Deza, catedrático de economia aplicada na USC e porta-voz nacional do BNG a propósito das balanças fiscais de 2014.

Em plena campanha soberanista de Catalunya o PP mudou o cálculo das balanças fiscais das CCAA, ou seja, o montante do que cada uma acarreta ao Estado e do que este investe em cada comunidade. Este fato prestou-se a mal-entendidos por fazer-lhe pensar á cidadania que nesse câmbio de critério podia haver intenções ocultas por parte do PP, tão costumado, segundo o sentir cidadão, á mentira, tergiversação e manipulação, como a de pretender adaptar os cálculos para desmentir as pretensões da Generalitat de celebrar uma consulta independentista, amparando-se no lema propalado por esta  «Espanha rouba-nos». Por conseguinte, o método que se utilize para o cálculo pode fazer variar os resultados quase ad líbitum. O resultado final é que estes cálculos não convenceram a Catalunya, que cifra em 15.000 milhões de euros o déficit fiscal do Estado com Catalunya, frente aos 8.455 milhões de euros consignados por Montoro. Mas os cálculos tampouco convenceram ao BNG, pois enquanto Montoro estabelece um superávit favorável a Galiza de 3.240 milhões de euros, o BNG calcula que o déficit do Estado com Galiza é de 1.322 milhões de euros, segundo as balanças fiscais de 2011, que é o ano que se toma como referência. Javier Vence culpa a re-centralização do Estado de levar consigo “um enorme bombeio de recursos cara a Madrid e os seus oligopólios”, sublinhando que “o principal problema é o Estado vampirizador e ter que aturar toda essa legislação e regulação centralista com a que estão pondo o nosso mercado e os nossos recursos ao serviço das grandes empresas madrilenas, os grandes lobbies do “palco do Bernabeu”.

A respeito do critério de imputação utilizado polo Ministério de Fazenda critica o economista galego que não reflete a realidade corretamente, pois está baseado no «fluxo de carga-benefício», que “imputa o que o Estado gasta ou investe em função de a quem beneficia, sem ter em conta o território no que se leva a cabo esse gasto/investimento”. Isto tem como conseqüência que “o gasto ou investimento que o Estado leva a cabo no Museu do Prado, por exemplo, computaria em todo o território, ao entender que é um beneficio para qualquer cidadão, com independência de onde resida". Considera Javier Vence que o critério correto seria o dos «fluxos monetários», que computa o investimento do Estado no território no que realmente se executa. Além do anterior, considera questionável que se inclua nas balanças fiscais o gasto da Segurança Social, por não tratar-se dum gasto nem dum investimento do Estado nas CCAA, senão um sistema de solidariedade entre pessoas sufragado polos trabalhadores e empresas, que acarretam a uma caixa comum para pagar as pensões contributivas. Alem disso, o BNG também denúncia a sobre-dimensão da Administração Central em particular em áreas de competência exclusiva das CCAA, como educação e sanidade, “cujas infra-estruturas administrativas se mantêm”. Eu acrescentaria ademais o custo desnecessário que representa o Senado, na sua configuração atual e a administração periférica do Estado nas CCAA, totalmente prescindível e facilmente corrigível. 
A respeito da primeira crítica, parece óbvio que, para refletir com precisão os intercâmbios de cada comunidade com o Estado não fica outra opção que a dos fluxos monetários, porque isso dá-nos uma imagem clara de quanto o Estado arrecada dum determinado território e quanto investe nele, enquanto que os fluxos carga-benefício distorcem completamente a representação da realidade. O que se investe nos diversos organismos de Madrid é um investimento para esta comunidade ao tempo que uma fonte de arrecadação, pois o pessoal é desta localidade primordialmente e gasta nela o seu dinheiro, ao tempo que para os cidadãos doutras latitudes esses organismos são uma fonte de gasto mas não de ingresso. Tem razão também o político galego quando afirma que não só os números cantam de que Galiza é explorada pola oligarquia espanhola radicada na Corte, senão que também se deve ter em conta o que se faz com os investimentos, pois “de pouco nos serve o investido se está pensado para reforçar Madrid e não para desenvolver o nosso país, como temos denunciado com o trem, os três aeroportos, as autovias e tantos outros desatinos”.


Estampa de Castelao
Mais problemático é o que diz o estudo do BNG a respeito da Segurança Social, pois se bem não se trata dum gasto do Estado nas CCAA, si parece representar um benefício para Galiza pola solidariedade que representa estar inserido na estrutura política estatal, pois recebe uma quantidade importante de recursos por esta via polo fato de tratar-se duma comunidade menos desenvolvida, com pouca indústria e, por tanto, poucos trabalhadores asalariados ou com piores salários. Mas, isto cumpre matizá-lo no sentido de que então também haveria que ter em conta a drenagem escandalosa do nosso aforro e da nossa energia, para industrializar outras comunidades, entre elas especialmente a Comunidade Madrilena, e que representamos um mercado no que as comunidades mais industrializadas podem colocar os seus produtos sem recebermos nada a câmbio, e os ingressos que representam para Madrid e Barcelona a a radicação de empresas nestas localidades e com centros de produção na nossa.

Em setembro de 1944, num artigo publicado em A Nosa Terra, com o  título «O bloqueo comercial de Galiza», depois de referir-se á discriminação  que historicamente vem padecendo a nossa terra, afirma: "Podemos, pois, dizer que Espanha foi separatista de Galiza muito antes de que existissem galegos separatistas"65. No mês de outubro de 1944, noutro artigo, também de  ANT, com o título «O problema ferroviário de Galiza», alude á marginação em estruturas ferroviárias e termina com estas palavras: "A nossa salvação  econômica depende da nossa própria liberdade política. Quando Espanha seja uma Confederação de povos livres não necessitaremos lutar cem anos para conquistar um pequeno ferrocarril"66. Com o sistema de Estatutos de Autonomia, consagrado na Constituição de 1978, houve que lutar oito anos para dar cambiados os nomes das províncias de Ourense e A Corunha, por estarem des-normativizados.

Em abril de 1945, num artigo publicado igualmente em A Nosa Terra, di que os homes que no exílio capitaneam as forças mais responsáveis do desconcerto democrático espanhol, que contribuíram a formar o exército de Gil Robles, que, em súpeto traspasso de comandos, fixo possível a subversão militar, não têm empacho em acusar-nos de «separatistas encobertos», arvorando uma bandeira de papel que só serve para encobrir o seu centralismo. "A injustiça  que com nós se vem cometendo empurraria-nos-ia ao separatismo (isso é o que eles desejam) se não tivéssemos a cabeça no seu sítio ou desconfiássemos da nossa razão e do nosso triunfo"67. Neste contexto polêmico, no que ha que fazer frente a uma acusação  por parte de inimigos políticos, Castelao considera que a razão deve prevalecer sobre uma reação visceral ante a injustiça que nos empurra ao separatismo. A Constituição  do 31 consagrou a igualdade dos homes e manteve a desigualdade dos povos. "Agora bem; nós queremos a liberdade do todos os homes e de todos os povos de Espanha, em regime de estrita igualdade. ... Prevemos os perigos que manhã correria a nova ordem democrática se prevalecesse o critério dos «repúblicos», empenhados em separar-nos a força de dizer que somos separatistas"68. Esta mesma valoração é atinadíssima com respeito á Constituição do 78, que consagra uma serie de direitos individuais bastante completo mais ignora totalmente os direitos dos povos, carência que está na origem da atual tensão entre os nacionalismo espanhol e os nacionalismos periféricos. Urge -1945- a rápida unidade entre os republicanos espanhóis e "se não se realiza em breve, viveremos exclusivamente para os nossos povos, que estão lá, porque só assim nós evitaremos a vergonha de ser repatriados como cadáveres políticos"69.

Em 1947 afirma que Galiza se basta a si mesma economicamente e que a tutela do Estado espanhol resulta excessivamente cara porque sobra-nos "capacidade econômica para viver com independência"70. Alude, também neste ano, ao período anterior em que não era separatista do Estado espanhol, que era quando era deputado em Madrid e podia defender os seus ideais em prol da liberdade de Galiza, enquanto que neste momento isso não é possível e de aí que se manifeste arredista dum Estado unitário no que não é possível lutar democraticamente pola sua transformação. "Quando eu não era separatista do Estado espanhol, porque lá ainda se podia viver e esperar, não deixei por isso de sentir-me menos desterrado em Madrid do que depois me senti em Bons Aires; mas agora acharia em qualquer parte de Espanha, inclusive em Galiza, algo muito pior que o desterro: acharia o insulto, a cadeia ou quiçá a morte, em pago do meu natural patriotismo"71.

Declara Castelao, -1947- dum jeito que consideramos improcedente, que ele justificaria a coação  e violência do Estado espanhol nos seus primeiros tempos, se tiver por objeto moer as diferenças regionais e formar com todas uma nacionalidade comum, mas não depois de vários séculos em que o imperialismo castelhano não foi capaz de borrar as almas nacionais distintas da oficial. "A vontade dos indivíduos de cada grupo deve ser respeitada, quando por um plebiscito de todos os dias mantém e sustém a independência do seu gênio, refletida em cultura, língua e espírito próprios. Poderia o Estado espanhol opor-se aos separatismos políticos; mas baixo a condição de reconhecer a sobrevivência dos seus vários grupos lingüísticos e culturais, como assim o faziam os Estados civilizados antes da Revolução"72. O assimilismo é condenável por constituir um atentado contra os direitos dos povos a desenvolver uma vida pacífica no seu território, independentemente de se faz nos primeiros ou nos últimos tempos. Este texto aparece como sumamente restritivo, porque limita o respeito á vontade dos povos quando se trata dos seus valores espirituais e poderia entender-se que não ha que respeitá-la quando se trata dos valores materiais: matérias primas, riqueza material, etc. e políticos, o qual indica que Castelao não foi quem de libertar-se totalmente da influência risquiana de predomínio dos valores espirituais sobre os políticos e materiais. É precisa –di- uma autonomia integral, que atinja a todas as ordens da vida, ainda que a finalidade última seja preservar a alma das nações. "mas bem sabido está que se necessita uma autonomia integral que atinja a todos os fins da vida pública, ainda que só se pretenda preservar a alma das nações"73. Falar da alma das nações como independente e separável do corpo, não é mais que uma reprodução do dualismo platônico-cristão, que só serviu para semear a confusão na ordem do pensamento racional. 

Nos Estados de base plurinacional surgem movimentos de descontento, que se traduzirão em separatismo efetivo se se dão as circunstâncias propícias. "Nos Estados de base plurinacioral a política imperialista provoca separatismos larvados, de índole sentimental, dos que o separatismo efetivo só é questão de oportunidade. Muitas vezes os povos diferentes do núcleo absorvente acabam por habituarem-se á servidão; mas isto não quer dizer que se deixem assimilar e que a unidade política arrasse fatalmente a diversidade natural"74.

O 24/09/1947, escreve-lhe ao Presidente da República, D. Diego Martínez Barrio, que a força republicana dos galegos emigrados é maior que toda a força representada no atual governo e, por conseguinte que podemos desprezar a malquerença que se nos tem, em alusão aos elementos substanciais de Izquierda Republicana que vetam a entrada dos galeguistas no Governo da república. "Outros no nosso lugar já tivessem abraçado o separatismo; mas os galegos não obramos de ligeiro e tempos virão em que a todos se nos faça a justiça devida. A nossa firme decisão não pode vacilar por tão pouca cousa"75.


7.- O dilema federalismo-separatismo


Os problemas de Galicia, -1934- por afetar-nos só a nós e por serem opostos aos espanhóis, só "se resolverão de duas maneiras: ou com a autonomia ou com o  separatismo"76. A II República cometeu o erro de não ser federal e a concessão da autonomia ficou entregada á arbitrariedade dos governos e á traição de qualquer político do país77.

Durante a guerra, amostra-se mui otimista sobre as possibilidades de estruturação  federal do Estado ao remate da contenda bélica, porque as direitas centralistas perderam poder. O dia que termine a guerra, considera Castelao, -fins de 1937-, que os antifascistas vão dar ao mundo um novo modelo de República, afincada nas próprias entranhas do país. "Tenhamos fé no triunfo da nossa posição  federal, porque já não têm voz e voto aquelas "direitas" separadoras que nos chamavam separatistas; mas, polo si ou polo não, cumpre que o baluarte autonomista galego seja inexpugnável, porque será o derradeiro refúgio das nossas aspirações"78. As reivindicações de Galiza não se baseiam num passado histórico de independência que estivo ao alcanço das suas possibilidades, mas que nunca aproveitou79, senão em que "«... a pesares de vivermos arreo submetidos, desde que se inventaram os Estados modernos, não somente criamos, conservamos e fortificamos os atributos duma autêntica nacionalidade senão que temos aços para organizar-nos como Estado»"80.

Em Catalunya -1937- proclamou-se a República catalã, quando se proclamou em Madrid a espanhola, mas Catalunya não pretendia a independência a respeito de Espanha senão que queriam formar parte de Espanha em virtude dum pacto federativo81, ao igual que tampouco Galiza o pretende, senão que pretendemos conciliar os anseios de independência com os de solidariedade, e, por isso, as nossas ânsias de autonomia vão ligadas ás de federação82.

A nós -setembro 1939- só nos pode interessar a República federal a base da união pactuada das quatro nações: Castela, Catalunya, Euskadi e Galiza. “Ou isto ou o separatismo mais rabeado. ... Ou vem uma República federal ou nós arredaríamos dos espanhóis para sempre”83. Eu -declara em novembro de 1939- “sinto-me cada vez mais galeguista e com tendências ao arredismo. Tendência que quero coutar por se fosse um efeito da minha desesperança”84.

A República cometeu o erro de não querer constituir-se sobre bases de igualdade, declarando-se federal, sistema que não é proclive ao separatismo senão o seu contrário, implantado e vigente nas duas terceiras partes do mundo. "Certo que afora de Catalunya, Euskadi e Galiza, não existe uma disposição de ânimo favorável á idéia federal; mas todos sabem que uma federação  é o contrário do separatismo, e que este sistema nem seria novo nem exclusivo de Espanha, pois está implantado e consolidado em duas terceiras partes do mundo"85. Castelao critica duramente aos federalistas republicanos galegos porque, contrariamente ao que passou em Catalunya com Pi i Margalh que terminou sendo um catalanistas federal ou um federal catalanista, foram insensíveis ás doutrinas de Branhas, negando-se a participar nas orientações do galeguismo.

Estampa de Castelao
Um dos prejuízos que causou a República do 14 de abril, em contraposição  com as vantagens que produziria o regime federal, foi dar a entender que a autonomia era como uma concessão de privilégio ante o separatismo, porque não ha razões objetivas polas que se devia conceder a Catalunya e não a Euskadi e Galiza: "Nom se concedeu mais que uma autonomia, que o povo castelhano e os povos castelhanizados tomaram como privilégio concedido, por medo, á região mais suspeitosa de separatismo"86. Castelao tem esperança de que na mente dos políticos desterrados surjam homes novos, capazes de conceber uma organização  espanhola baseada no reconhecimento das nacionalidades hispânicas e na união pactuada entre iguais. "Então os galegos não teríamos a obriga de abraçarmos o separatismo político, porque a nossa Terra seria um órgão vital da República espanhola, da que tanto esperávamos e pola que tanto levamos sofrido"87. Neste texto podemos observar como a adoção do separatismo pode chegar a constituir-se numa obriga no caso de que não se poda conseguir uma organização federal do Estado espanhol.

A paz de entre-guerras violou escandalosamente o direito de livre disposição das nacionalidades ao igual que a tendência internacionalista, fazendo inútil o sacrifício dos povos. Castelao confessa que não lhe importa que desapareçam os pequenos Estados porque a sua independência é praticamente impossível, podendo só opor á tendência absorvente dos grandes, o caráter, a originalidade do seu espírito ativo e criador, a autonomia moral"88, e tampouco que desapareçam os grandes Estados europeus, incapazes de chegar espontaneamente a uma unidade econômica pola federação dos seus elementos nacionais. A única solução válida é o federalismo, que reconciliará as tendências nacionalistas com as internacionalistas. "E nós cremos que a inter-dependência econômica dos povos obrigará –queira-se ou não- a constituir enormes federações, nas que o internacionalismo e o nacionalismo topem, ao mesmo tempo, a sua solução  normal. Nós não somos separatistas, nem de Espanha nem de Europa nem do mundo, e o galeguismo não é mais que o aspeto parcial dum problema europeu, que pode resolver-se no fim desta contenda terrível. Somos federalistas e a nossa idéia segue em pé e não ha motivo para que a descartemos como possibilidade próxima. O que não quedará em pé é a idéia espanhola de independência absoluta, de isolamento do mundo, na que o Estado é um deus que fica dormido, mirando-se o embigo"89. O unitarismo é uma idéia de teóricos de gabinete ou de aldeães que não conhecem mais que os seus eidos, enquanto que a independência absoluta é impossível quando as necessidades dos homes desbordam de cote os lindeiros duma nação. A solução  está no federalismo, ou seja, em que os povos se submetam voluntariamente a um só plano econômico mas conservando cada um a sua soberania política. "O fato de que uma nação  tenha fronteiras políticas para enquadrar uma certa maneira de viver, uma certa legislação, umas certas tradições e uma certa cultura, isso é tão normal como fixar os lindeiros dum município. Mas que uma nação  se empenhe em ser uma unidade política e econômica ao mesmo tempo, erguendo uma barreira entre os seus habitantes e o que estes habitantes necessitam para viverem, isso é inconcebível para um home singelo da nossa época. A independência absoluta dos povos era natural quando cada país produzia o que os seus habitantes necessitavam; mas esta independência é impossível quando as necessidades dos homes desbordam a de cote os lindeiros da sua nação"90. Não podemos compartir essa indiferença de Castelao pola desaparição dos povos pequenos, por considerar que a sua independência é impossível, pois os casos de Andorra, Luxemburgo, Malta, Chipre, Liechstentein, São Marinho, Mónaco, etc. amostram que muitos pequenos estados vivem tão bem como os grandes. Em todo caso, a desaparição dum estado depende como se produza. Se for por invasão, absorção, etc. é totalmente rejeitável, mas não se se faz, como deveria ser, por decisão própria, ou por cessão livre de soberania a uma entidade maior. Todo povo tem direito a uma vida pacífica dentro das suas fronteiras e a decidir livremente o seu destino e toda ação exterior perturbadora destes direitos infringiria mesmo a legislação internacional.

O sentimento de independência e liberdade não provém da Revolução  Francesa, di Castelao em 1940 repetindo idéias risquianas, senão que é um eco afastado das tradições espanholas91 "confiscadas pola monarquia absoluta, pois em Espanha o regime democrático é muito mais antigo que o despotismo"92. Este texto indica que Castelao tem em mente a democracia corporativa medieval e não a democracia moderna tal como a descreve Bobbio, surgida a partir duma concepção individualista da sociedade, contraposta á organicista, que contribuíram a forjar o contractualismo dos séculos XVII e XVIII, a economia política inglesa, que concebe que o ator histórico é o home individualmente considerado, o homo œconomicus e não o animal político da tradição aristotélica, e o utilitarismo de Bentham e Stuart Milh, que definem o bem comum como o bem-estar para o maior número. A única democracia existente nos nossos dias é a liberal, que se plasma numa Constituição na que se considera o indivíduo como a célula básica da sociedade e se lhe garantem uns direitos fundamentais que limitam a mesma esfera democrática ao protegê-lo frente á intromissão do poder público nesse âmbito de direitos que constitucionalmente lhe são reconhecidos. 

No terceiro livro de Sempre em Galiza, escrito em 1943, manifesta uma maior tendência separatista, por ver cada vez mais nítidas as fronteiras que nos separam do resto de Espanha, se bem reconhece que é uma opção  impolítica. "Cada vez faz-se-me mais doloroso eliminar deste livro os estados do meu ânimo, e, sem querê-lo, vou caindo em modos impolíticos, que me arredam do comércio espanhol, inclinando-me ao separatismo. não é, não, que eu seja separatista ─nem por sentimento, nem por ideologia─; mas é o certo que cada vez vejo afundar mais as fronteiras morais que nos diferenciam do resto da Espanha"93.

Castelao fez suas parte das noções de Risco sobre a nação, e da prevalência do espiritual e anímico sobre o os aspetos materiais e políticos. Uma nação  não precisa da autonomia nem da independência para ser tal sempre que o sentimento e a diferença resulte inassimilável, sempre que se mantenham vivos os atributos que a caracterizam. Tampouco basta ter um Estado, pois "Um Estado pode, inclusive, causar a desnacionalização  dum país"94. Confessa que no eido político deixaram de chamar-se nacionalistas porque não pretendem converter Galiza num Estado independente "e de antemăo fazemos uso da autodeterminação, que a toda nacionalidade lhe corresponde, para oferecer dos nossos direitos todo quanto seja necessário em favor da união espanhola; mas se Galiza é uma «nacionalidade hispana», que cede grande parte dos seus direitos políticos até reduzir-se praticamente ao grão jurídico duma simples "região", não pode, em troques, iludir um só ponto dos seus deveres morais, da sua independência espiritual, porque é um ser vivo e não tem direito a suicidar-se. Quando entramos na esfera do espírito (do nosso espírito) sentimo-nos cada vez mais "nacionalistas", é dizer, mais arredados do espírito de Castela"95. Numa linha totalmente risquiana, Castelao distingue entre os aspetos socioeconômicos e políticos e os espirituais, ou seja os culturais. Galiza pode ceder no aspeto político parte dos seus direitos, mas não no aspeto espiritual. Esta cessão de soberania, que a todas luzes supõe uma renúncia, é difícil de justificar, e parece mais bem uma concessão gratuita e arbitrária. Castelao acode repetidas vezes á comparação  indivíduo - povo, servidão individual e dos povos, para delimitar os direitos que lhe correspondem a estes, mas seria improcedente reclamar a liberdade de pensamento e de expressão e não reclamar a liberdade de participação política, reunião, manifestação, iniciativa, junto com o  direito a dispor livremente dos próprios recursos.

Lutamos por implantar um novo Estado espanhol baseado nas realidades nacionais, pois somente a tirania pode empurrar-nos ao separatismo, mas enquanto isso não se consiga, continuaremos exaltando a personalidade nacional de Galiza. "Nós oferecemos a nossa melhor vontade para criar, com os demais povos da Península, um novo Estado espanhol, autenticamente democrático e afincado nas realidades nacionais, na vontade de todos os grupos étnicos e para servir ao interesse exclusivo da síntese que se forme (somente a tirania pode empurrar-nos ao separatismo); mas entre tanto que Espanha seja um cone burocrático e vejamos na cima do Poder o "mando e ordeno" de Castela, nós "os nacionalistas galegos", seguiremos exaltando a personalidade nacional de Galiza e a vontade de lutar polos seus direitos, porque primeiro somos galegos e depois espanhóis"96.

Rejeita uma vez mais -1943- o qualificativo de separatista da Espanha verdadeira, da Espanha plural, e inclusive da Espanha unitária sempre que nos permita crer na sua transformação. "Não somos separatistas da Espanha verdadeira nem tão sequer da falsa e fictícia, se é que esta nos permite crer na sua transformação; é dizer, se nos deixa manifestar os nossos pensamentos em regime de liberdade. Por isso somos ardidos defensores da República e duma democracia asesntada na liberdade. A prova está em que os mais qualificados separatistas de Catalunya, Euscadi e Galiza defenderam a República espanhola e, por defendê-la, sofreram martírio, escravatura ou desterro. Agora bem; nós sentimo-nos separatistas da Espanha que nos impõe a renúncia dos nossos direitos naturais. Se eu agora tivesse nas mãos a possibilidade de independizar a Galiza não duvidaria em aceitar essa possibilidade, para salvar a minha Terra do terrorismo falangista e para dizer-lhes a todos os espanhóis desterrados: «Vinde a este anaco de terra hispana para viverdes em liberdade»"97.

Castelao distingue entre espanhol e castelhano, pois enquanto o primeiro se aplicaria a todos os membros do Estado o segundo coincidiria com o  nacionalismo castelhano. "Para que ninguém nos chate ligeiramente de separatistas, cumpre afirmar que nos sentimos bem espanhóis, mas que não queremos ser castelhanos; que ansiamos uma Espanha grande formada polo livre consentimento das nacionalidades que a integram, unidas, ou, polo menos, aliadas com Portugal"98.

Um nacionalista defende as próprias fontes de criação, por serem únicas, insubstituíveis e intransferíveis, mas no que se refere aos acidentes históricos, busca a solidariedade de todos os homes. "Somos "separatistas" quando defendemos os valores substantivos da nossa nação  e somos "unionistas" quando consideramos a necessidade de coordenar os nossos valores relativos com os valores relativos do resto de Espanha e do mundo"99. O separatismo não se dá a respeito de Espanha, derivada de Hispania, que representa um ideal amado por todos, incluídos os portugueses, que é união dentro da diversidade, senão a respeito de Castela. "O nosso separatismo, se existe, não é por oposição a Espanha senão  a Castela, com a que, por outra banda, ansiaríamos conviver em regime de igualdade. Assim, pois, o separatismo galego -igual que o basco e o catalão- tem uma doada cura, porque é relativo e transitório. Criou-o Castela com o  seu imperioso assimilismo e mantém-no essa enteléquia nacional que se chama Espanha"100, por ser a consagração  da hegemonia de Castela, enquanto que Espanha, derivada de Hispania, abrange a península inteira e é sinônima de Ibéria101.

O dia 30 de junho de 1945102 celebrou-se um comício no Ateneo de Montevideo103, no que fez a sua apresentação pública o Conselho de Galicia, e no que pronúnciam discursos o presidente da Casa de Galicia em Montevideo, Sr. Luna; o Dr. Guisande e os deputados Alonso Rios e Castelao. Este, numa importante intervenção, disse que o home não é um ser abstrato, senão um ser concreto enraizado numa realidade nacional. "Agora bem: a liberdade só é possível na democracia, e é por isso que nós somos partidários decididos da democracia. Mas em Espanha, ademais, a democracia só é viável dentro do sistema republicano, e é por isso que nós somos partidários incondicionais da República; mas a República tem a obrigação de resolver o problema da verdadeira liberdade para todos os espanhóis, e esta liberdade de todos os espanhóis seria falsa e enganosa se os galegos não fossemos livres, ou os bascos e catalães não fossem livres. E a República não tem mais que una maneira de garantir esta liberdade de todos os espanhóis e é unindo os povos diferenciados dentro dum Estado harmônico, no que estes povos tenham a mesma intervenção e dentro de cujo Estado o home se sinta protegido e satisfeito com a sua lei, que em Espanha ha ser vária, como som várias as suas realidades nacionais. ... Nós defendemos o princípio de autodeterminação para todos os povos que souberam conservar a través dos séculos a sua personalidade nacional, e, por conseguinte, defendemos o direito de autodeterminação  para Galicia, que conserva todos os atributos duma verdadeira e autêntica nacionalidade; mas consideramo-nos autorizados a restringir este direito ao que é racionalmente justo, conveniente e possível, descartando, de antemão, o separatismo. Entendei-me bem -vou repeti-lo-; descartando o separatismo e advogando por uma união paccionada de todos os povos diferenciados de Espanha num Estado plurinacional e republicano, capaz de atrair a Portugal. ... Seja-nos permitido dizer que os chamados separatistas estamos unidos, não só entre nós, senão com os nossos povos, e que estamos desejando que se unam os separadores"104.

Em novembro de 1945 celebrou-se a sessão das Cortes espanholas em México, e a respeito do propósito de concertar um compromisso entre os franquistas e os monárquicos, Castelao afirma: "... teve a oportunidade de pronunciar-me diante de todo o Governo e do mesmo Presidente da República, com motivo do ato dedicado á memória de Companys. As minhas palavras foram: «... nós os galegos tildados injustamente de separatistas, juramos morrer no desterro antes de alargar a nossa mão a quem empequeneceu e desonrou a Espanha»"105.

Os pequenos povos não têm mais remédio, se querem ver-se livres do perigo imperialista dos grandes Estados, que aliar-se entre si. "Os homes livres dos pequenos povos livres, qualquer que seja a sua origem, a sua língua e cultura, a sua tradição e costumes, sabem guardar como ninguém o sentido reverencial da pátria, e depois de manterem-se fieis a si mesmas, independentes e soberanas, não têm mais remédio que aliar-se com outros povos se querem ver-se livres do axexo imperialista dos grandes Estados"106.

Galiza é uma verdadeira nação com todos os seus atributos histórico-naturais, "mas falta-lhe algo mui importante para ser perfeita: falta-lhe a independência política, o governo próprio, que toda sociedade humana necessita.
¿Que Galiza não é uma nação  por não ser um Estado independente e soberano? Se tal defeito nos fosse imputado por espanhóis, nós sentiríamo-nos incitados ao separatismo; mas em verdade só aspiramos a uma autonomia integral, dentro da livre federação de todos os  povos peninsulares. Galiza não necessita mais, mas não pode conformar-se com menos"107. Os espanholeiros tanto de direita como de esquerda acatam a diferença de línguas como diferença de nações, mais em Espanha impõem o dogma da «nação única e indivisível» ainda que vejam que se falam quatro idiomas. "Com o dito abunda para pôr de vulto a política devoradora do Estado espanhol, sempre ao serviço exclusivo da alma castelhana, e de passo justificar que Galiza se sinta ressentida e capaz de abraçar o separatismo. Claro está que os galegos não quiséssemos romper os vencelhos multiseculares que nos unem a Espanha, mas a nossa transigência está chegando ao seu límite"108. A diferença de língua de por si só não é suficiente para constituir uma nação, pois ademais do fato diferencial, que pode constituir a língua, além doutros possíveis elementos identitários, precisa-se a consciência de nação e a vontade política de auto-governar-se e decidir o seu futuro político.

Em carta a Manuel de Irujo, de 15/04/1948, diz-lhe que os galegos nunca alardearam de separatistas, em contra do doutrina teórica dos nacionalismos basco e catalão. "Mas os nacionalismos bascos, catalães e galegos acham-se perante esta outra disjuntiva: «ou o separatismo ou o federalismo»; e não me pedes negar que os bascos e os catalães preferem teoricamente o separatismo, enquanto que os galegos preferimos realmente o federalismo»109. Perante as objeções que lhe fai Irujo no sentido de que parece que lhe atribui aos galegos as características de realistas enquanto que os bascos seriam os teóricos110, Castelao aclara que só queria "pôr de vulto a vocação  federalista galega, que por vir-nos de tão adentro nem sequer se nos ocorreu reservar o separatismo como recurso tático ou motivo de negócio... Entendes-me agora?. Eu queria dizer-te que o separatismo e o federalismo volvem ser os termos duma disjuntiva fundamental para os nossos povos, porque não creio que devamos conformar-nos de novo com uma autonomia precária; e dizia-cho para que vises, uma vez mais, como é necessária Galeuzca"111.

Em carta ao seu curmão Ramóm Somoza de 20/09/1948, declara que sempre defendeu o direito das nações á independência, mas que no caso das nações pequenas, a solução  está no federalismo para não cair numa servidão pior que a que hoje sofrem no seio do Estado unitário. "Ou separatistas ou federalistas. Este é o problema. Eu, pois, defendia a transigência e a tolerância, condenando o separatismo de que os bascos faziam gala, antes de aliarem-se hipocritamente com os socialistas"112. Mas o federalismo que pregoa Castelao é distinto do dos republicanos e socialistas. "Pode ocorrer que eles entendam que Espanha deve federar-se como Estado unitário e que o seu federalismo interior seja provincial, ponho por caso, com o que resultaria uma Galiza esnaquizada em quatro Estados"113.


8.-O separatismo violento como instrumento de salvação  e dignidade


O domingo 7/06/1936 tem lugar a apertura da campanha plebiscitária com um comício no teatro Rosalia de Castro da Coruma, no que Castelao participa junto com Gumersindo Montero, comunista, e Luis Huici de Izquierda Republicana, se bem "a atração  principal era a intervenção no Rosalia do deputado galeguista Afonso Rodríguez Castelao"114. Nele declara que “Também nós refugamos o procedimento violento por sistema, mas seríamos capazes de aceitá-lo, como madeiro de salvação contra qualquer”115. Por conseguinte, os métodos violentos poderiam ser aceitáveis em certas circunstâncias excepcionais, .

No segundo livro do Sempre em Galiza, escrito entre janeiro e julho de 1940 expressa a diferença que mereciam os galegos para os políticos de sequeiro, em comparação  dos bascos e catalães. Destes consideram lógico que reclamassem um Estatuto de Autonomia porque sempre foram separatistas116, mas não dos mansos galegos nos que os governantes de Madrid julgavam inconcebível um movimento separatista apesar de cumprir todos os trámites estatutários preceptivos. "Os políticos de secano não concebiam o atrevimento de Galiza. Certo que os galegos cumpríramos estritamente os trâmites constitucionais; mas isso não abundava para reclamar um Estatuto autonômico. Esse atrevimento só se concebe em bascos e catalães, que sempre foram separatistas"117. Consideravam estes políticos que em Galiza havia uns quantos separatistas, entre os que figurava Castelao, mas sem nenhum peso específico. "Certo que em Galiza havia quatro ou cinco separatistas, coma mim; mas nós não representávamos rem. E para os políticos da República o representante genuíno de Galiza era Casares Quiroga"118.

Expõe Castelao, neste segundo livro do SG -1940, que para contar em Madrid ha que ser capazes de romper os vínculos que nos unem com Espanha e viver independentemente deles119. Confessa ter suspeitas fundadas no conhecimento dos homes da República e na sua teima unitária e centralista, de que depois da guerra, pretenderão incluso despossuir-nos do Estatuto de Autonomia. "E conste que tal convicção  não me causa nenhum prazer, porque somente ante um separador me podo eu sentir separatista"120.

Volve a insistir em 1940 em que considera a idéia separatista como idéia anacrônica, se bem está disposto a aderir-se a ela como derradeira possibilidade de salvação, ao igual que não aceita a violência como sistema, mas está disposto a aceitá-la para defender a República contra a ameaça da tirania; "mas da mesma maneira que consideramos o separatismo como uma idéia anacrônica e não obstante estaríamos dispostos a abraçá-lo como derradeira possibilidade de salvação, assim mesmo dizemos que não aceitaríamos jamais a violência como sistema; mas que estamos dispostos a aceitá-la para defender a República contra qualquer ameaça de tirania"121.

Estampa de Castelao
O 2 de julho de 1944122, a coletividade galega de Bos Aires oferece-lhe um banquete no «Prince George's Hall»123 da capital argentina ao «persoeiro máximo da galeguidade», no que participaram 1.500 comensais, para celebrar a edição de Sempre em Galiza. No seu transcurso Castelao pronunciou um interessante discurso no que disse: "Por questão de palavras alguém me considera separatista por dizer que os galegos não somos castelhanos nem queremos sê-lo. ¿É que ha algo ofensivo para a dignidade de Castela, com a que desejamos conviver? De nenhuma maneira. Nós nem somos castelhanos nem somos separatistas. Nós somos o que somos: galegos. Porque se não fossemos galegos não seríamos nada, e não sendo nada mal podíamos ser espanhóis, que é o que queremos ser por própria vontade, não á força. Para os galegos o separatismo não constitui um ideal humano, não pode ser um ideal, e só o concebemos como uma atitude de dignidade perante um motivo de ofensa irreparável, que supõe um estado de desesperação que não ansiamos para nós nem desejamos para ninguém. ... Nós, como todos os membros de Galeuzca, desejamos uma Espanha constituída polo livre consentimiento dos seus diversos povos: forte, eficaz, seria, equilibrada, que poda defender-nos; e frente á concepção centralista do Estado, a todas luzes fracassada, que só serviu para manter o desarranjo ou a ditadura, nós propomos uma concepção realista, capaz de restaurar a Espanha dos grandes fatos"124.
              

9.- O separatismo portugués


Uma das linhas diretrizes do pensamento e da atividade castelaiana é a de atrair a Portugal á família hispana, mas sempre que Espanha se reestruture previamente de acordo com as realidades nacionais. A união ibérica produziria o engrandecimento tanto de Espanha como de Portugal e de Galiza. A decadência portuguesa está ligada ao afastamento de Galiza, porque com a independência formal, que conquistou a partir de 1640, caiu numa dependência denigrante, sem, por outra parte, afastar o perigo castelhano, não sendo mais dona de si que durante o cativeiro filipino. "Em troques o dualismo restaurado em 1640 sumiu a Portugal numa situação de dependência denigrativa, a mercê de potências exóticas, sem esvair definitivamente o «perigo castelhano». Este «perigo» é a única razão que aconselha o separatismo português; mas é certo que semelhante separatismo -que também foi repúdio para Galiza- só podia conduzir â insignificância em que agora se debatem os afãs de Portugal e de Espanha"125.

Se Portugal não se arredasse de Espanha cria-se-ria-se um fundo problema nacionalista, mais agudo que o dos catalães e dos bascos, que obrigaria a capitular á nação  hegemônica. "Sabemos que o Portugal saído da nação  galega soube lutar e vencer a Castela (entenda-se «hegemonia castelhana»), e sendo verdade que o dualismo restaurado em 1640 causou a insignificância de ambos Estados e que somente no ideal ibérico reside a possibilidade de recobrar a categoria perdida, justo é que nós não aplaudamos o separatismo português. E não o aplaudimos porque o arredamento de Portugal só favoreceu o fato hegemônico de Castela e, por ende, a implantação  duma Espanha única e uniformada, queda, na insignificância; mas deixando vivo e latejante o «perigo castelhano», que surgirá em quanto Inglaterra se durma ou desmaie"126. Neste texto Casteao parece que deveria escrever uniformizada no canto de uniformada, e nel alude á tradicional aliança de Portugal com Inglaterra para esvair o perigo de invasão por parte de Espanha. Galiza não pretende afrouxar os seus vínculos com a Espanha apesar de ter-nos roubado a nossa língua, caráter, fartura e liberdade, sempre que podamos conservar a nossa autonomia, mas queremos confundir-nos com Portugal, para assim restaurar o equilíbrio hispano, imprescindível para o logro duma paz duradoira. "Queremos conviver com Portugal sem arredar-nos do Estado que Castela formou, sempre que dentro dele podamos viver com autonomia. A nossa intenção  criadora -que só poderá cumprir-se quando Galiza se confunda em espírito e em verdade com Portugal- trai aparelhado um equilíbrio hispano, absolutamente necessário para o estabelecimento duma paz permanente, pois Portugal e Galiza pesam tanto como a Espanha castelhana e não ha dúvida de que, ajuntadas, anulariam o centralismo, que, diga-se o que se queira, é o causante das guerras civis, das discórdias intestinas e dos separatismos"127.


10.- Galeuzca e o separatismo


Galeuzca deve ser a voz dos três povos: Galiza, Euskadi e Catalunya, mas, frente á força majoritária do resto da Espanha, deve cumprir certas garantias, que podem ser políticas, a saber, que compromete ás pessoas e grupos que subscrevam o pacto e não aos povos soberanos. Neste caso, Galeuzca compromete-se a descartar o separatismo para as três nações advogando por um Estado plurinacional. "Galeuzca e os seus membros comprometem-se a descartar o separatismo nas suas campanhas e determinações, advogando por um Estado nacional indestrutível, sempre que os representantes políticos do resto de Espanha se comprometam a respeitar a vontade de governo próprio de cada país, defendendo nos seus partidos e organismos de governo o direito de autodeterminação das nacionalidades não castelhanas. Assim a autodeterminação  teria o tope que os republicanos desejam e não poderia dizer-se que somos separatistas encobertos; mas se eles ou os seus partidos faltaram ao seu compromisso negando o direito de la autodeterminação dos povos, então Galeuzca e os seus membros proclamariam o direito natural das nacionalidades a federar-se com outras ou a viver com absoluta independência"128.

Em dezembro de 1944, na festa organizada por D. Manuel Puente na sua residência de Rivadávia, para agasalhar ao Presidente do Conselho de Galiza, que acabava de constituir-se o 15 do mês de novembro, Castelao pronunciou umas palavras nas que "significou a importância de Galeuzca dentro deste movimento, e aclarou versões erróneas, que políticos republicanos, mas com os vícios e as manhas dos homes de velho regime, estão empenhados em espalhar sobre os nacionalismos ibéricos, chatando-os de separatistas"129, e publica em A Nosa Terra, um artigo sobre o separatismo, ao que qualifica como um "espantalho terrível, que os centralistas colocam no lindeiro das suas idéias" mas os "galegos, bascos e catalães não imos engrumar as nossas idéias porque diante delas nos coloquem um espantalho; ... não merecemos o alcunho de separatistas, porque não aspiramos a uma independência total das nossas pátrias. ... Não; os galegos não somos separatistas, porque se o fôssemos não tinhamos porque ocultá-lo e negá-lo. Nós somos federalistas, e eis aí o nosso único delito. ... A mim doeu-me consignar na ata fundacional do Conselho de Galiza uma declaração  tão desnecessária como é a de afirmar que não somos separatistas, porque ao dizer o que somos folga dizer o que não somos"130.

O 29/04/1945, Galeuzca de Montevideo celebrou o aniversário do bombardeio de Guernica, com um ato no que pronunciaram discursos Castelao, polos galegos, Bergós Rivalta polos catalães e José María Lasarte polos bascos. O político galego negou que Galeuzca fosse separatista. "Dizer que Galeuzca á uma organização ilícita por separatista vale tanto como defender a forma absoluta e totalitária da monarquia regida polos Áustrias, o condenar a essência originária do republicanismo espanhol, que nasceu federal e só como federal poderá consolidar-se. Mas se todos se empenham em chamar-nos separatistas força será que aproveitemos o mote para dizer que os chamados «separatistas» representamos a povos que anseiam a liberdade e que não podemos colocar-nos como zeros á direita de ninguém, mas que desejamos entrar como somandos -tal vez decisivos- no total democrático da Espanha desterrada, como já o estamos no da Espanha agrilhoada, que vive contando o tempo por noites. Acrescentaremos, ademais, que os chamados «separatistas» estamos unidos e jamais semeamos discórdias, desejando que os centralistas cessem quanto antes nas suas disputas inúteis e perniciosas, para entrar com eles numa unidade política única, capaz de derrubar o regime franquista e restaurar a ordem democrática em Espanha"131.


11.- O separatismo como função  do apoio popular e da segurança internacional


Em carta a José Antonio Aguirre do 12/06/1944, precisa que na sua carta anterior falta um quinto ponto: "o da luta clara e aberta pola nossa independência nacional no caso de que quedaram esgotadas todas as possibilidades duma concórdia espanhola a base dos princípios federais ou confederais. Esta idéia não repugnaria a um grupo de galegos, se fosse realizável e conveniente; mas o seu planeamento só poderia obedecer a um estado de desesperação  -previsível, si, na nossa íntima consciência, mas ainda intolerável para as capas superficiais do povo galego-."132. A independência contempla-se aqui como uma alternativa aberta para o caso de que não se dê satisfação á reclamação duma estrutura federal ou confederal para o Estado espanhol. Não sabemos se el se inclui no grupo de galegos aos que não repugnaria a idéia separatista, que seria assumível se fosse realizável e conveniente, o qual indica que não têm claro sequer que a idea fosse claramente favorável ainda no caso de que fosse realizável, que também é problemático. Porém, em última instância, Castelao deixa aberta a porta á assunção da independência se o povo galego se inclinasse por esta alternativa. "Ideologicamente estou disposto a considerar -continua Castelao-, o separatismo com todas as suas conseqüências, porque são nacionalista; mas neste ponto já não me atreveria a representar á Galicia atual, senão a uma Galicia potencial"133. Castelao, em quanto nacionalista, mostra-se disposto a considerar o separatismo a nível teórico mas reconhece que na Galicia atual não seria assumido, ainda que quiçá si numa Galiza do futuro, porque "a opinião que hoje nos acompanha ainda não está preparada como para abraçar, sem mais nem mais, o separatismo. Esta questão, na hora oportuna, seria matéria duma nova campanha galega. Para a opinião galeguista de hoje o separatismo só é concebível como uma atitude de dignidade frente a um motivo de ofensa irreparável; mas não o concebe como um ideal humano. Por outra parte as nossas campanhas nacionalistas jamais aconselharam fugir de Castela, deixando-lhe a esta o senhorio de Espanha, senão a luta aberta contra o seu domínio. Equivocados ou não, sempre fixamos a meta das nossas aspirações numa união voluntária e paccionada"134. Por conseguinte, o separatismo como possibilidade teórica é uma questão aberta, especialmente para o caso de ver curto-circuitadas as aspirações galegas, mas hoje não seríamos seguidos, e por isso as campanhas galeguistas orientar-se-ão contra o domínio castelhano. "Por isso -segue o político galego- na minha última carta não considerei o separatismo ainda que no meu foro interno venho-o estimando a todas as horas"135. A nível pessoal é uma questão que Castelao se posiciona, mas não é mui pertinente no contexto presente em que vive a nossa Terra.

Para Castelao a democracia implica defesa dos direitos dos indivíduos mas também dos povos, que em lógica levaria a que cada nação tivesse a sua independência política, mas como não se trata de que os povos se convertam em soberanos formalmente mais que na prática passem a ser satélites doutros, o mais pertinente consiste em que, se não se tem força suficiente para poder preservar a sua independência, se associe com outros povos limítrofes para formar um Estado comum. "Por isso estimamos que não ha democracia completa onde os povos não sejam tão sujeitos de direito como som os homes. Já sabemos que o melhor seria completar a existência e independência natural de cada nação com a existência e independência política que lhe corresponde em boa justiça, como sabemos que ha princípios político-filosóficos para defender os movimentos separatistas, pois se é ilícito dividir uma nação natural não o é dividir um Estado composto, quando não respeita os seres nacionais que o integram. Desgraçadamente, o que necessita o separatismo é força e não argumentos. Por isso estimamos que não se trata de fazer de cada pequeno povo um Estado soberano, um ser civil independente, para vê-lo depois convertido em satélite de qualquer grande potência, escravo de interesses forasteiros. Trata-se, si, de que cada povo preserve a sua alma, que é indivisível e intransferível, por meio dum Estado próprio, se tem força abondo para fazer-se respeitar; mas nada melhor que associar-se a outros povos limítrofes, sacrificando parte da sua soberania, a fim de constituir um grande Estado comum, pois só deste jeito poderá defender a sua vida, manter a sua liberdade, garantir o seu desenvolvimento econômico, afirmar a sua unidade social e promover o bem de todos"136. Por conseguinte, a nível teórico, o melhor seria a independência, sempre que se poda defender, mas se isto não é possível, a solução  ótima é o federalismo.

A nível de princípio, estabelece em 1947, a independência é o desejável se fosse viável sem que os povos pequenos sejam devorados polos grandes, mas como isto não é possível sem apoio dos grandes, que seria degradante por não estabelecer-se em condições de igualdade e porque dividiria ao mundo em blocos, a solução  está no federalismo, que incrementa a força dos povos federados tanto em relação aos estados independentes como ao Estado unitário e preserva melhor a liberdade. "Quiçá se nos recorde que uma nação natural tem a obriga de manter-se fiel a si mesma, livre e soberana, e que, polo tanto, deve aspirar a uma independência absoluta; mas se os povos débeis não querem ser devorados polos fortes, têm de reprimirem os seus instintos separatistas, ajuntando-se a outros, baixo condições estipuladas e escritas, por convênio de todos, numa Constituição  política. ¿Que um pequeno Estado pode buscar o apoio das grandes potências e conquistar assim o respeito universal? Este apoio desonra e degrada, porque não se estabelece em condições de igualdade; mas, ademais, está bem demonstrado que a política de alianças contratuais só serve para dividir o mundo em blocos adversos e mantê-lo em constante soçobro. Em troques, o federalismo é um recurso nobre e conveniente. As forças geográficas, políticas, econômicas e sociais dum Estado federal somam maior energia que a do mesmo território dividido em comunidades independentes ou organizado em regime unitário. Com isto abundaria para preferir o federalismo ao separatismo, visto que serve para melhor gozo da liberdade, e para não perdé-la"137.

O 06/10/1947, em carta a Manuel de Irujo, fai a declaração mais francamente separatista que conhecemos. Depois de afirmar que não estão dispostos a tomar parte em nenhuma outra farsa republicana, volve repetir conceitos que já manifestara a Aguirre em junho de 1944, de que a opção polo separatismo depende da aceitação popular138: "se ainda não abraçamos o separatismo é porque ainda não estamos seguros de contar com o sentimento da maioria do nosso povo. Mas se essa não é a nossa atitude presente, será polo menos o nosso norte ideológico, pois já não penso ocultar nenhuma verdade que sirva para despertar novos ressentimentos na alma galega, contra o resto dos espanhóis"139. Porém, em abril de 1948, insiste-lhe de novo a Irujo, como vimos, que os galegos são federalistas em contraposição com os bascos e catalães, que seriam independentistas. A esta altura dá-se, por conseguinte, uma flutuação no pensamento de Castelao.

A opção de Castelao polo federalismo era firme mas sempre condicional a que Espanha respeito a nossa identidade galega e permita o nosso desenvolvimento socioecoômico e político. Nos nossos dias, tendo em conta o fustigamento contra o sistema autonômico por parte do PP, os setores jacobinistas do PSOE e a coorte mediática madrilena, é praticamente seguro que defenderia decididamente aderir-se ao independentismo, porque, entre outras cousas, uma vez recuperada a independência, poderiamos estabelecer umas relações bilaterais com a Espanha que fossem mutuamente beneficiosas e não permanecer numa situação como a atual, baseada na minorização e avasalamento da nossa nação por parte da estrutura oligárquica espanhola.





1.   Companys é obrigado a render-se o día 7 polo capitám de Catalunyña, Batet, sendo detido e a Generalitat suspendida.

2.   «O que ouvimos pol-a radio o dia 6 de outono do 1934», em A Nosa Terra (ANT), nº. 373, (06/07/1935), p. 4.

3.   «Mitim em Vilagarcía», em  ANT, nº. 393 (06/12/1935), p. 3.

4.   SÁNCHEZ CASADO, ISABEL, Castelao, 24 aos en la Administración Pública, (CAP), Anthropos, Barcelona, 1984, p. 292.

5.   CAP, p. 30.

6.   CAP, p. 314.

7.   CAP, p. 323.

8.   CASTELAO, Sempre en Galiza, (SG), Akal, Madrid, 1977, p. 158.

9.   SG , p. 174.

10.   SG , p. 298.

11.   ESTÉVEZ, XOSÉ, Impenitencias galeuzcanas (IGA), Ediciós do Castro, Sada, 1992,  p. 145.

12.   RUBIO CABEZA, MANUEL, Crónica de la Dictadura de Primo de Rivera, Sarpe, Madrid, 1986, p. 16.

13.   «Carta de Castelao a José Antonio Aguirre»,  de 29/11/1943, em CA, p. 24.

14.   IGA, p. 146.

15.   CASTELAO, OTERO PEDRAYO, SUÁREZ PICALLO, VILLAR PONTE, Discrusos Parlamentarios (1931-1933 (CDP),Ediciós do Castro, Sada, 1978,  p. 85 ss. Cf. «Novo aldraxe a Galicia a sempre aldraxada», em ANT, nº. 300 (09/07/1933), p. 1.

16.    A protesta de Galicia. O gram mítim de Vigo, em  ANT, nº. 302 (25/07/1933), p. 2.

17.   «Carta de Castelao aos irmáns de Bos Aires», de 6/09/1939, em Castelao. As Cartas de América (CA),A Nosa Terra A Nosa Cultura, nº. 12,  p. 17.

18.   Organizador do Frente Popular, das Milícias Galegas, Comissário político em diversas unidades, participou mui ativamente na guerra civil. Estivo exilado na França e, a partir do 1º de setembro de 1939, em Cuba, regressando a Espanha em 1945, onde é encarcerado e julgado com petição de pena de morte. Condenado a 18 anos de cárcere, cumpre 10 em Logronho e Burgos.

19.   A correspondência entre Santiago Alvárez e Castelao desenvolveu-se em espanhol, nom obstante ser os dous galegos. Dá-se no proceder de Castelao uma acomodação a um interlocutor que emprega como veículo de comunicação o idioma espanhol.

20.    ÁLVAREZ, SANTIAGO, Castelao y nosotros los comunistas, (CNC), Ediciós do Castro, Sada, 1984, pp. 15 e 20. (A carta leva data do 14/12/1939)

21.   «Carta ós irmáns de Bos Aires», (11/12/1939), em CASTELAO, Obras (OCA), Galaxia, Vigo, 2000, T. 6, OCA, p. 327.

22.   SG , p. 233.

23.    SG , p. 234.

24.   A data calculou-se tendo em conta que em Crónicas. Castelao y los vascos (CCV), Coord, Anasagasti, Ikatz Ekintza, Bilbao, 1985, p. 103 diz-se o 30/10/1940, mércores, que foi o último sábado).

25.   CCV, p. 106.

26.   SG , p. 259.

27.   SG , p. 280.

28.   « Informe do Consello de Galiza dirixido ás forzas democráticas do Interior con motivo da Xuntanza das Cortes en México e a actuación dos deputados galegos» (ICG), 15/12/1945, em CASTRO, XAVIER, (Edición), Castelao e os galeguistas do interior, Editorial Galaxia, Vigo, 2000,  p. 235.

29.   "El bloqueo comercial de Galicia", em PALMÁS, RICARDO, Prosa do exilio, (PE), Edicións do Patronato da Cultura Galega, Montevideo, 1996,  p. 147. Cf. tamém PE, p. 144.

30.   "El bloqueo económico de Galicia", em PE, p. 152.

31.   Cf. SG, p. 263.

32.   SG , p. 45.

33.   SG , p. 53.

34.   SG , p. 295.

35.   SG , p. 295.

36.   SG , p. 297.

37.   SG , p. 296.

38.   SG , p. 308.

39.   SG , p. 321.

40.   SG, p. 56. Cf. SG, p. 292.

41.   SG ,  pp. 322-323.

42.  SG , p. 323.

43.   SG , p. 323.

44.   SG , p. 323.

45.   SG, pp. 323-324.

46.   C., «Crítica do ideário político que se discutirá na Assembléia de constituição do Partido de «Izquierda Republicana»», em  ANT, nº. 328 (24/03/1934), p. 4. Este artigo figura assinado por C mas não cabe dúvida da autoria de Castelao, que se confirma também polo que se diz em «O Partido «Izquierda Republicana»», em  ANT, nº. 330 (07/04/1934), p. 1: O projeto de ideário "criticado e comentado pola mais olta autoridade política do nosso Partido desde estes mesmas colunas".

47.   «Em Chantada», em  ANT, nº. 417 (05/06/1936), p. 2.

48.   «O mitim de Chantada», em  ANT, nº. 418 (12/06/1936), p. 2. Cf. «O discurso de Castelao no mitim da Cruña», em  ANT, nº. 420 (04/07/1936), p. 2.

49.    SG, pp. 55-56.

50.   SG , p. 56.

51.   «Carta de Castelao a José Antonio Aguirre»,  de 12/06/1944, em CA, p. 30.

52.   «Federalismo español», em VVAA, Castelao 1886-1950, (CMC,) Ministerio de Cultura, Madrid, 1986, CMC, p. 32.

53.   CASTELAO, «Verbas de chumbo», em PE, p. 53.

54.   SG , p. 24.

55.    A referência do ato insire-se em  ANT, nº. 399 (17/01/1936) p. 2, e os comícios costumavam ser em domingo.

56.   «O discurso de Castelao no mitim da Cruña», em  ANT, nº. 420 (04/07/1936), p. 2.

57.   «O discurso de Castelao no mitim da Cruña», em  ANT, nº. 420 (04/07/1936), p. 2.

58.   SG , p. 73.

59.   SG , p. 319.

60.   SG , p. 365.

61.   SG , p. 404.

62.   SG , p. 405.

63.   SG , p. 417.

64.   Discurso pronunciado no ato celebrado o 18/04/1943 no Estádio Centenário de Montevideu em  SG, p. 421.

65.   «O bloqueo comercial de Galiza», em  ANT, nº. 430 (00/09/1944), p. 5.

66.   «O problema ferroviario de Galiza», em  ANT, nº. 431 (00/10/1944), p. 5.

67.   «Falemos em Lingoaxe Intelixible», em  ANT, nº. 437 (00/04/1945), p. 3.Cf. «Falemos em lingoaxe intelixible», em PE, p. 98.

68.   «Falemos em Lingoaxe Intelixible», em  ANT, nº. 437 (00/04/1945), p. 3.

69.   ««Galeuzca» de Montevideo, celebrou um acto lembrando o 8º ano domarteiro de Guernica», em  ANT, nº. 437 (00/04/1945), p. 5.

70.   SG, p. 417.

71.   SG , p. 432.

72.   SG , p. 443.

73.   SG , p. 461.

74.   SG , p. 459.

75.   «Carta de Castelao a Diego Martínez Barrio», de 24/09/1947, em  CA p. 42.

76.   C., «Crítica do ideário político que se discutirá na Assembléia de constituição do Partido de «Izquierda Republicana»», em  ANT, nº. 328 (24/03/1934), p. 4.

77.   C, «Crítica do ideário político que se discutirá na Assembléia de constituição de «Izquierda Republicana»», em  ANT, nº. 328 (24/03/1934), p. 3.

78.   SG , p. 64.

79.   SG , p. 66.

80.   SG , p. 67.

81.   SG , p. 76.

82.   SG , p. 89.

83.   «Carta a Sebastiám González García-Paz», do (09/09/1939), em OCA, T. 6, p. 305 e 306.

84.   «Carta a Rodolfo Prada», do (02/11/1939), em OCA, T. 6, p. 317.

85.   SG , p. 163.

86.   SG , p. 207.

87.   SG , p. 234.

88.   SG , p. 340.

89.   SG , p. 214.

90.   SG , p. 216.

91.   Sobre o significado das liberdades medievais, ver GINER, SALVADOR, Historia del pensamiento social, Ariel, Barcelona, 1980, p. 326. Manuel Marliani afirma sobre as liberdades medievais o seguinte: "¿Onde achará fórmula mais enérgica do princípio de liberdade e igualdade que entre os aragoneses, encarando-se com os seus reis nestes termos tão memoráveis: «Nós que cada um somos tanto como vós, e todos juntos valemos mais que vós, etc.?» em costumes e organização social, por mais atrassada que esteja a España, todo rebosa de liberdade e igualdade, por quanto lá, mais que em nenhuma outra parte, o despotismo é advenedizo, pois a origem dos impulsos democráticos dos espanhóis é tão antigo como a sua história, como que constituem a vida pública e os costumes mesmas do país...

Aquel jaez democrático de relações diárias entre as várias classes da sociedade encadeia-se positivamente com recordos tradicionais de direitos antigos atropelados pola violência, e com a conservação de franquícias concelhias". (El reinado de Fernando VII, Sarpe, Madrid, 1986, p. 73).

A presentação das liberdades comunais dos séculos XV e XVI, confiscadas polo despotismo dos Áustrias e Borbons, como modelos a recuperar não é privativa de Castelao senão  que já foi defendida no século XIX polos liberais Romero Alpuente, que cifrava a liberdade de Aragóm nas suas Cortes e no Justiza. (VALHESPIN, FERNANDO, Historia de la teoría política, Alianza editorial, Madrid, Madrid, 1991, p. 408); Agustim Argüelhes para quem "o afundimento da liberdade coincide com a derrota das Comunidades: «vencida a nação e submetida ao jugo e regime militar que lhe impôs Carlos I». (VALHESPIN, FERNANDO, Historia de la teoría política, Alianza editorial, Madrid, Madrid, 1991, p. 414); Francisco Martínez Marina, para quem "nos velhos documentos «encontram-se as sementes da liberdade espanhola e os fundamentos dos direitos do cidadão e do home». (VALHESPIN, FERNANDO, Historia de la teoría política, Alianza editorial, Madrid, Madrid, 1991, pp. 414-415)

92.   SG , p. 258.

93.   SG , p. 251.

94.   SG , p. 290.

95.   SG , p. 292.

96.   SG , p. 296.

97.   SG , p. 306.

98.   SG , p. 309.

99.   SG , p. 329.

100.   SG , p. 330.

101.   SG , p. 330.

102.   Díaz Pardo afirma que foi o día 28/06/1945, ao tempo que informa que em alguns dos atos o Presidente uruguaio, Juam José Amezaga lhe rendeu a Castelao honores de Chefe de Estado. (DÍAZ PARDO, ISAAC, «Limiar», em BLANCO AMOR, EDUARDO, Castelao escritor (CES), Ediciós do Castro, Sada, 1986, p. 12).

103.   em Arxentina formou-se uma Comissão Auxiliar para contribuir á preparação dos atos. De Bons Aires concorreram 206 pessoas em caravana organizada pola Comissão Auxiliar. (Memoria de Irmandade galega, em  ANT, nº. 448 (00/06/1946), p. 2.

104.   «O presidente do Conselho de Galiza Alfonso R. Castelao fixa a posição política do galelguismo neste intre histórico. Discurso no Ateneu de Montevideo», em  ANT, nº. 440 (00/07/1945), p. 11. Cf. «La posição ideológica de Galicia», em  PE, pp. 114 e 118.

105.   «Contestação de Castalao a «La Pasionaria»», em  ANT, nº. 444 (00/01/1946), p. 4.

106.   SG , p. 436.

107.   SG , p. 447. Cf. "Historia Sintética do autonomismo Galego", em PE, p. 166.

108.   SG , p. 455.

109.   CCV, pp. 502, 504.

110.   «Carta de Irujo a Castelao», de 5/05/1948, em  CCV, p. 507.

111.   «Carta de Castelao a Irujo», de 3/06/1948, em  CCV, p. 509.

112.   «Carta de Castelao a Ramóm Somoza», de 20/09/1948, em  CA p. 54.

113.   «Carta de Castelao a Ramóm Somoza», de 20/09/1948, em CA, p. 55.

114.   FERNÁNDEZ, CARLOS, La guerra civil em Galicia, La Voz de Galicia, A Coruña, 1988, p. 16.

115.   «O discurso de Castelao no mitim da Cruña», em  ANT, nº. 420 (04/07/1936), p. 2.

116.   SG ,  pp. 152-153, 163, 191, 192, 298.

117.   SG , p. 152.

118.   SG , p. 153.

119.   SG , p. 153. Galiza só merecerá respeito quando abandonemos a nossa mansedume, despois de saber o que fomos, o que deixamos de ser e o que seríamos com vida independente. (SG, p. 387).

120.   SG , p. 153.

121.   SG , p. 199.

122.   em  CCV, p. 153, diz que foi o 2/06/1944.

123.   Tanto  ANT, nº. 429 (25/07/1944), p. 4, como Euzco Deya, nº 36 (15/07/1944),  CCV, p.164, confirmam que o local ficou pequeno e que hoube que cancelar a venda de entradas por ser impossível atender todas as petições que se fixeram.

124.   «A Galeguidade emigrada realizou um acto hestórico. Castelao, persoeiro maisimo da Galiza, foi ouxeto d-um grandeiro homaxe», em  ANT, nº. 429 (25/07/1944), p. 6.

125.   SG , p. 341.

126.   SG , p. 341.

127.   SG , p. 360.

128.    «12 de xuño de 1944, A José Antonio Aguirre», em CA, p. 29.

129.   «Festa em honor do Presidente do Conselho de Galiza», em  ANT, nº. 433 (00/12/1944), p. 6.

130.   «Verbas de Chumbo», em  ANT, nº. 433 (00/12/1944), p. 5. Cf. «Verbas de Chumbo (II)», em PE, p. 84.

131.   ««Galeuzca» de Montevideo, celebrou um acto lembrando o 8º ano domarteiro de Guernica», em  ANT, nº. 437 (00/04/1945), p. 5.

132.   «12 de xuño de 1944, A José Antonio Aguirre», em  CA p. 26. Cf. p. 29.

133.   «12 de xuño de 1944, A José Antonio Aguirre», em  CA p. 26.

134.   «12 de xuño de 1944, A José Antonio Aguirre», em  CA p. 26.

135.   «12 de xuño de 1944, A José Antonio Aguirre», em  CA  pp. 26-28.

136.   SG , p. 459.

137.   SG ,  pp. 460-461.

138.   «12 de Xuño do 1944. A José Antonio Aguirre», em CA, p. 26.


139.   «Carta de Castelao a Manuel de Irujo», de 6/10/1947, em  CA p. 49.

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