A auto-identidade judia e cristã
Toda
sociedade e toda associação, se quer manter a sua personalidade própria frente
ao exterior e não ficar diluída, precisa destacar os traços que a distinguem
das demais. Isto é o que lhe permitirá preservar a sua própria coesão interna e
apresentar uma mensagem nítida e diferente de todas as demais. Toda religião
representa uma cosmovisão do mundo que estrutura a mente das pessoas e, neste
sentido, é também um instrumento ao serviço do poder político que pretende
tornar coesa uma comunidade política frente às demais. É legítimo que toda
religião destaque os seus sinais de identidade, sempre que não colidam com os
direitos humanos universalmente reconhecidos, mas ao mesmo tempo tem que ser
tolerante com as demais. O problema que têm as grandes religiões monoteístas é
que são exclusivistas e cada uma considera que é depositária da verdade
transmitida polo mesmo Deus e concretizada nuns livros que costumam denominar
sagrados. O lógico, nestes casos, é que, se um crê que Deus revelou algo para
ser assumido por toda a humanidade, tenha propensão a colaborar nos desígnios
divinos impondo coativamente a «verdade» aos demais, incluso por meio da
violência, e isto foi o que passou historicamente. Portanto, as religiões
monoteístas têm também tendência a ser belicosas, enquanto cooperadoras com um
poder político no que o recurso à guerra ofensiva e defensiva era a medida
usual. De tal modo que a história também se pode explicar a partir das guerras
de religião, ainda que normalmente eram prioritariamente guerras desencadeadas
por móveis socioeconômicos e políticos. Aliás, os crentes, ao manter a mística
de que lutam pola causa divina, liberam
na guerra a sua agressividade e lavam a sua falsa consciência; o qual explica
que muitas vezes são as pessoas mais insensíveis e agressivas.
Os
denominados Padres da Igreja e Escritores Eclesiásticos, no seu afã de
preservar os dogmas transmitidos por Deus, tiveram sempre uma atitude de defesa
frente ao exterior, praticamente todos eles foram apologistas, e uma obsessão
pola condena do discrepante, quer exterior, como a religião pagã, quer
interior, como as diversas fações que foram surgindo no seio da Igreja. É
excepcional encontrar algum autor que não tenha algum livro titulado «Contra
...» Confrontando-a com uma religião como o hinduísmo, que não tem dogmas nem
emite condenas por questões doutrinais e onde cada um pensa o que crê
conveniente, o cristianismo é a religião dos dogmas, das condenas, da exclusão
do discrepante, inclusive dos que se confessavam cristãos. Seria prolixo
enumerar os grupos e pessoas condenados pola Igreja, e só vou citar as lutas
cainitas entre as duas principais facões
da Igreja dos primeiros séculos: os que logo receberiam o título de
católicos e arianos, com um Santo Atanásio atiçando o ódio inter-cristão. Um
pode consultar uma parte relevante destas condenas eclesiásticas em DENZINGER,
HENRIQUE, Magistério da Igreja, e, a respeito da condena de livros, o
Índice de livros proibidos, tanto geral como da Inquisição espanhola. No ano
1054 produziu-se o chamado Cisma de Oriente, pola obsessão do Papa de Roma a
impor a sua disciplina e ritual litúrgico a toda a comunidade cristã, incluído
o Patriarcado de Constantinopla, quando somente tinha reconhecida, até o século
V, uma primazia honorífica, dum primus inter pares, e não uma primazia
doutrinal, disciplinaria e real.
Os
judeus destacam, entre as suas caraterística próprias, o facto de aderir à
única religião que se iniciou com uma revelação do Deus dos hebreus a uma nação
inteira, contida no livro que lhe entregou a Moisés, a Tora, que corresponde ao
Pentateuco. Este Deus encomendou-lhe uma missão divina: “Agora, pois, se
atentamente ouvirdes a minha voz e guardardes o meu pacto, então sereis a minha
possessão peculiar dentre todos os povos, porque minha é toda a terra; e vós
sereis para mim reino sacerdotal e nação santa”1. Noutras palavras, o povo hebreu converte-se
numa possessão divina e no povo elegido entre todos os demais e deus rebaixa-se
a um deus tribal que faz aceção de pessoas e perde o seu caráter de divindade
universalista que se guia por uma justiça baseada na igualdade entre todas as
pessoas e todos os povos. Este pronunciamento opõe-se ao que diz muitas vezes a
Bíblia referente a que não se deve fazer aceção de pessoas, como tampouco Deus
as faz. “Não fareis aceção de pessoas em juízo; de um mesmo modo ouvireis o
pequeno e o grande; não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus”2. E um pouco mais adiante diz o livro do
Deuteronômio: “Pois Javé vosso Deus, é o Deus dos deuses, e o Senhor dos
senhores, o Deus grande, poderoso e terrível, que não faz aceção de pessoas”3. Javé é o deus superior, mas também se
reconhece que existem outros deuses de natureza inferior. Logo, se a justiça se
baseia na não aceção de pessoas e Deus não faz aceção de pessoas, não pode
discriminar positivamente a um povo a respeito dos demais, porque então
indiretamente estaria fazendo aceção de pessoas. Se Castelao:dizia que “Não há indivíduos livres em povos
escravos”, igualmente aqui podemos dizer que não há indivíduos sem aceção
de pessoas em povos discriminados negativamente. Segundo os judeus, esta
revelação divina, única e exclusiva do povo judeu, foi ouvida por todo o povo
hebreu no deserto do monte Sinai, se bem na realidade esta afirmação não é mais
que um invento de mentes angustiadas, vítimas de situações de penúria e medo
ante a situação socioeconômica adversa do deserto, que as faz sonhar com terras
que manam leite e mel e num estado de segurança como fruto da proteção especial
divina.
O
povo hebreu foi nos seus inícios um povo politeísta, como os demais povos do
seu entorno, mas, uma vez desaparecido o reino do Norte, ou reino de Israel,
que sempre defendeu e praticou a liberdade de cultos, no reino de Judá, durante
a época exílio babilônico (586-537), os sacerdotes de Jerusalém lograram impor
o culto de Javé e a sua unicidade, passando de ser o deus tribal de Jerusalém a
Deus nacional. Deste período datam os seguintes textos: “A ti te foi
mostrado para que soubesses que Javé é Deus; nenhum outro há senão ele... Polo
que hoje deves saber e considerar no teu coração que só Javé é Deus, em cima no
céu e embaixo na terra; não há nenhum outro” (Dt. 4, 35-39): “Portanto
és grandioso, ó Senhor Javé, porque ninguém há semelhante a ti, e não há Deus
senão tu só, segundo tudo o que temos ouvido com os nossos ouvidos”. Isto
não significa que antes desta data não houver pronunciamentos em prol da
unicidade de Deus, mas somente lograram impor-se mais tarde a toda a
comunidade. “Javé dos exércitos, Deus de Israel, tu que estás sentado sobre
os querubins; ti, só ti, és o Deus de todos os reinos da terra; ti fizeste o
céu e a terra... Agora, pois, Javé nosso Deus, livra-nos da sua mão, para que
todos os reinos da terra saibam que só ti és Javé”4. Como vemos, Javé é o deus da guerra, que
responde às necessidades dos povos que mantém uma relação persistente de
conflito com os seus vizinhos. Em Israel já defendiam a noção de guerra santa,
segundo a versão da Bíblia de Jerusalém. Je. 6, 4: «Declarai-lhe a guerra santa! Em pé e subamos
contra ela a meio-dia!... ¡Ai de nós,
que o dia vai caindo, e se alongam as sombras da tarde!”. Igualmente Miq.
3, 5: “Assim diz Javé contra os profetas que extraviam o meu povo, os que,
enquanto mascam com os seus dentes, gritam: «paz»!, mas a quem não põe nada na
sua boca declaram-lhe a guerra santa”.
A
religião serviu para fomentar o fervor bélico e a coragem nas tropas para
enfrentar os inimigos, e, portanto, atende uma necessidade social, que consiste
em salvar o povo da ameaça dos seus inimigos. “Quando saíres à peleja,
contra teus inimigos, e vires cavalos, e carros, e povo mais numeroso do que
ti, deles não terás temor, pois contigo está Javé, o teu Deus que te fez subir
da terra do Egito. Quando estiveres para entrar na peleja, o sacerdote se
chegará e falará ao povo, e lhe dirá: Ouvi, é Israel; vós estais hoje para
entrar na peleja contra os vossos inimigos; não se amoleça o vosso coração; não
temais nem tremais, nem vos aterrorizeis diante deles; pois Javé, o vosso Deus,
é o que vai convosco, a pelejar por vós contra os vossos inimigos, para vos
salvar” (Dt. 20. 1-4). O autor sagrado não duvida em pôr em boca de
Javé os maiores crimes de guerra, que lhe permitirá aos combatentes purificar a
sua falsa consciência, porque atuando assim, atendem um preceito divino. “Logo
que Javé, o teu Deus, a entregar nas tuas mãos, passarás ao fio da espada todos
os homens que nela houver; porém as mulheres, os pequeninos, os animais e tudo
o que houver na cidade, todo o seu despojo, tomarás por presa; e comerás o
despojo dos teus inimigos, que Javé, teu Deus, te deu. Assim farás a todas as
cidades que estiverem mais longe de ti, que não são das cidades destas nações.
Mas, das cidades destes povos, que Javé, teu Deus, che dá em herança, nada que
tem fôlego deixarás com vida; antes destruí-los-ás totalmente: aos heteus, aos
amorreus, aos cananeus, aos perizeus, aos heveus, e aos jebuseus; como Senhor
teu Deus che ordenou” (Dt. 20, 13-17).
A
situação de dependência política suscita os sonhos dum Messias libertador do
povo de Israel que deve reinar uma teocracia para procurar a paz e a segurança
dos seus súbditos, que pouco tem que ver com a figura do Cristo histórico. O
vocábulo Messias vem do hebreu Meshiach, que significa "ungido"; é
equivalente ao termo grego Christós. Deveria ser descendente de David que seria
ungido por Deus para libertar o povo de Israel. Era um caudilho
político-militar que libertaria o povo hebreu do jugo da dominação estrangeira.
O Messias devia ser filho de David porque este era o rei amado, o rei elegido
em pessoa por Deus para governar Israel, e não filho de Deus, ele mesmo Deus, e
segunda pessoa da trindade divina, pois esta figura de Messias opõe-se ao
monoteísmo estrito do judaísmo da época contemporânea e posterior ao exílio. “Ouve,
ó Israel; o Senhor nosso Deus é o único Senhor”5. Adorar ao Messias como Deus seria, para um
judeu, um ato de idolatria, que constituiria uma separação definitiva de Deus.
O
Messias ostentará o poder político-militar neste mundo e relevará o domínio que
ostentava a tribo de Judá: “O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de
autoridade dentre seus pés, até que venha aquele (O Messias) a quem
pertence; e a ele obedecerão os povos”6. Segundo a Misdrash o Messias será da tribo
de Judá. “Por que te louvam os teus irmãos, Judá (Gen. 49, 8). Porque todo
Israel seria chamado ‘judeus’ por ti; e não só por esta razão, senão porque o
Messias será o teu descendente, o que salvará a Israel; como está escrito: ‘Um
rebento brotará do tronco de Isai”7. Trata-se dum Messias rei que governará
sobre todas as nações. Os judeus não aceitam a Jesus como o
Messias, pois, ainda que procurou constituir-se em líder político que
libertasse o seu povo frente a Roma, fracassou no seu intento, igual que não
cumpriu profecias messiânicas como:
1ª.-
Reunificar os dous reinos em que estava dividido o povo hebreu num único reino
regido por David, e construir o Terceiro Templo (Ezequiel 37, 21-28).
2ª.-
Reunir a todos os judeus de regresso à Terra de Israel (Isaías 43, 5-8).
3ª.-
Constituir uma teocracia única sob o reinado de Javé, ante quem se prostrarão
todos os seus atuais inimigos, sobre os quais não virá a chuva em caso de
resistência. (Zacarías 14, 9-18). Ou seja, que um povo pequeno, sempre dominado
por potências estrangeiras mais poderosas, fundamentalmente Egito, Babilônia e
Roma, recreia mentalmente o sonho de erigir-se em reitora de todo o mundo e
impor-lhe o seu Deus apesar de que nunca logrou o assentimento dos dous reinos
em que esteve dividido o povo hebreu historicamente.
Muitos
dos sinais de identidade do judaísmo são também compartidos polo cristianismo,
que a maiores incrementa a adesão incondicional e exclusiva que reclamou para
si Jesus de Nazaré: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno
de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim”8.
Adesão e exclusivismo que justificaram historicamente a marginação e a
repressão dos dissidentes. “Quem não permanece em mim é lançado fora, como a
vara, e seca; tais varas são recolhidas, lançadas no fogo e queimadas”9. “Se alguém vem a vós, e não traz este
ensino, não o recebais em casa, nem tampouco o saudeis”10.
Auto-identidade muçulmana
A
revelaç4ao de Alá a Maomé não pretende rachar com a tradição judeu-cristã,
senão que forma parte da revelação já transmitida a Abraão, Moisés e Jesus. Alá
“prescreveu-vos a mesma religião que havia instituído para Noé, a qual te
revelamos, a qual havíamos recomendado a Abraão, a Moisés e a Jesus,
(dizendo-lhes): Observai a religião e não discrepeis acerca disso; em verdade,
os idólatras se ressentiram daquilo a que os convocaste, Deus elege quem lhe
apraz e encaminha para Si o contrito” (Surata. 42, 13). 2, 62 No dia
do juízo final tanto os fiéis, como os judeus, cristãos e sabeus, habitantes de
Saba, serão recompensados por Deus, se obraram retamente. “Os fieis, os
judeus, os cristãos e os sabeus, enfim todos os que crêem em Alá, no Dia do
Juízo Final e praticam o bem, receberão a sua recompensa do seu Senhor e não serão
presas do temor nem se atribularão” (Su. 2, 62). Mas, isto não
significa que para os muçulmanos todos sejam iguais, senão que os islamistas
têm a revelação autêntica, e, neste sentido, são superiores. “Nem os judeus,
nem os cristãos, jamais estão satisfeitos contigo, a menos que abraces os seus
credos. Dize-lhes: «Por certo que a orientação de Deus é a Orientação!» Se te
renderes aos seus desejos, depois de te ter chegado o conhecimento, fica
sabendo que não terás, em Deus, Protetor, nem Defensor” (Su, 2,
120)..
O
Alcorão sublinha o estrito monoteísmo divino que não respeitam nem os judeus
nem os cristãos. “Deus! Não há mais divindade além de Ele, o Vivente, o que
Subsiste por si mesmo” (Su, 3,2). Esta unicidade é acentuada em
Su, 7, 158. “Dize: Ó humanos, sou o Mensageiro de Alá, para todos vós;
Seu é o reino dos céus e da terra. Não há mais divindades além de Ele. Ele é
Quem dá a vida e a morte! Crede, pois, em Alá e em Seu Mensageiro, o Profeta
iletrado, que crê em Alá e nas Suas palavras; segui-o, para que vos encaminheis”.
Alá intima a Maomé a que pregue a revelação aos maometanos, e lhes manifeste
que é o único Deus e a Ele retornará. “Assim te enviamos a um povo, ao qual
precederam outros, para que lhes recites o que temos revelado, apesar de negarem
o Clemente. Dize-lhes: Ele é o meu Senhor! Não há mais divindade além de Ele! A
Ele me encomendo e a Ele será o meu retorno!” (Su. 13, 30). Antes
enviou mensageiros a outros povos, como os judeus e cristãos, mas foram
desviados por Satanás. “Por Deus! Antes de ti enviamos mensageiros e outros
povos; porém, Satanás abrilhantou as próprias obras (a esse povo) e hoje é o
seu amo; mas sofrerão um doloroso castigo!”(Su. 16, 63).
Os
muçulmanos criticam os judeus e os cristãos; aos primeiros porque adoraram os
ídolos e aos segundos por inventar o dogma da Trindade, enquanto que eles
pretendem conservar a doutrina pura de Abraão.
Alá não pode ser parte de nenhuma trindade porque isso atentaria contra
a sua unicidade e, consequentemente contra a sua supremacia sobre todos os
demais seres. “São blasfemos aqueles que dizem: «Alá é o terceiro de três»,
portanto não existe divindade alguma além do Deus Único. Se não desistirem de
tudo quanto afirmam, um doloroso castigo açoitará os incrédulos entre eles”
(Sur. 5, 73). Além da trindade, os muçulmanos não aceitam que Jesus seja o
filho unigénito de Deus. “As doutrinas da Trindade (iguais com Deus) e da
unigenicidade (filho único de Deus) são repudiadas como blasfêmias” (Su.
114, 320). Segundo o Alcorão, os cristãos não respeitam o estrito monoteísmo,
porque dizem que Deus é somente um deus duma trindade, ainda que concordam com
eles em afirmar que Maria é virgem e concebeu por obra do Espírito Santo. “Ó
adeptos do Livro, não exagereis em vossa religião e não digais de Deus senão a
verdade. O Messias, Jesus, filho de Maria, foi tão-somente um mensageiro de
Deus e Seu Verbo, com o qual Ele agraciou Maria por intermédio do Seu Espírito.
Crede, pois, em Deus e em Seus mensageiros e não digais: Trindade! Abstende-vos
disso, que será melhor para vós; sabei que Deus é Uno. Glorificado seja! Longe
está a hipótese de ter tido um filho” (Su. 4, 171).
A
umma é a comunidade de crentes do Islame, que, segundo o Alcorão, se converte
no novo povo elegido por Deus, com preferência aos demais crentes do livro. Os
muçulmanos são os preferidos de Alá, por ser o povo melhor por razões morais e
religiosas. Dos crentes do livro, ou seja, os judeus e cristãos, somente alguns
crêem, mas a maioria é perversa. “Sois a melhor comunidade que surgiu na
humanidade, porque recomendais o bem, proibis o ilícito e credes em Deus. Se os
adeptos do Livro cressem, melhor seria para eles. Entre eles há fiéis; porém, a
sua maioria é depravada” (Su. 3, 110). Alá revelou-lhe a Maomé o
Alcorão, que confirma tanto a Bíblia hebreia como os Evangelhos. Em verdade,
revelamos-te (a Maomé) o Livro corroborante e preservador dos anteriores, que
servirá de guia para julgar os demais, sempre sem desviar do caminho reto, ao
tempo que os insta a superar-se na benevolência porque todos eles retornarão a
Deus. “Julga-os, pois, conforme o que Deus revelou e não sigas os seus
caprichos, desviando-te da verdade que te chegou. A cada um de vós temos ditado
uma lei e uma norma; e se Deus quisesse, teria feito de vós uma só nação;
porém, fez-vos como sois, para testar-vos quanto àquilo que vos concedeu.
Emulai-vos, pois, na benevolência, porque todos vós retornareis a Deus, o Qual
vos inteirará das vossas divergências” (Su. 5, 48). Os judeus também
se regem pola verdade com a que julgam. “Entre o povo de Moisés existe uma
comunidade que se rege pola verdade, com a qual julga” (Su. 5, 159 e 181).
Alá
elegeu um novo povo, os muçulmanos e, em consequência, de acordo com esta
eleição divina devem lutar por Alá. “E combatei com denodo pola causa de
Alá; Ele vos elegeu. E não vos impôs dificuldade alguma na religião, porque é o
credo de vosso pai, Abraão. Ele vos denominou muçulmanos, antes deste e neste
(Alcorão), para que o Mensageiro seja testemunha vossa, e para que sejais
testemunhas dos humanos. Observai, pois, a oração, pagai o zakat (esmola) e
apegai-vos a Deus, Que é vosso Protetor. E que excelente Protetor! E que
excelente Socorredor!” (Su. 22, 78). Além dos três citados (a
oração, zakat e apego a Alá), os outros dous pilares do Islame são o jejum e a
peregrinação à Meca. Como proibições rituais “Ele (o Alcorão) só vos
vedou a carne dum animal morto, o sangue, a carne de porco e tudo o que for
sacrificado sob invocação de outro nome que não seja Alá. Porém, quem, sem
intenção nem abuso, for impelido a isso, não será recriminado, porque Deus é
Indulgente e misericordioso” (Su. 2, 173).
A
respeito da guerra, o Alcorão alenta alenta-a em casos determinados, como são a
legítima defesa e o proselitismo. “Combatei pola causa de Deus, aqueles que
vos combatem; porém, não pratiques a agressão, porque Deus não estima os
agressores” (Su. 2, 190). Alguns entendem que neste texto o Alcorão
somente aceita a guerra defensiva, mas ainda que fica, neste texto, muito
indeterminado, noutros prescreve a guerra contra o infiel. A guerra deve
continuar até que termine a perseguição e prevaleça a religião de Deus “E
combatei-os até terminar a perseguição e prevalecer a religião de Deus. Porém,
se desistirem, não haverá mais hostilidades, senão contra os iníquos” (Su.
2, 193). Obriga-se, portanto, ao submetimento, e, neste caso, proíbe-se a
aniquilação. Durante certos dias está proscrito fazer a guerra, o mesmo
conceito que no cristianismo se chamou a trégua de Deus. “Mas quando os
meses sagrados houverem transcorrido, matai os idólatras (os cristãos), onde
quer que os acheis; capturai-os, acossai-os e espreitai-os; porém, caso se
arrependam, observem a oração e paguem o zakat, abri-lhes o caminho. Sabei que
Deus é Indulgente e misericordioso” (Su. 9, 5). Os idólatras são
impuros e, portanto, devem ser combatidos. “Combatei aqueles que não crêem
em Deus e no Dia do Juízo Final, nem abstêm do que Deus e Seu Mensageiro
proibiram, nem professam a verdadeira religião daqueles que receberam o Livro,
até que, submissos, paguem o Jizya” (Su. 9, 29). A Jizya era a
compensação exigida por não aceitar o Islame.
A
partir destas conceções, creio que já é possível entender as perseguições
empreendidas por estas religiões contra os não aderentes, e no fundo do que se
trata é duma luta para acrescentar o controlo das consciências e assim poder
incrementar a sua massa de crentes, que se traduz também num aumento dos seus
ingressos.
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