27 jun 2020

05.- Eunucos polo reino dos céus e dos poderosos


       Ramom Varela Punhal

5.- A mutilação sexual em Pérsia

5.1.- Império aquemênida
5.1.1.- Os eunucos no reinado de Ciro II
5.1.2.- O eunucos no reinado de Cambises II
5.1.3.- Os eunucos no reinado de Dario I e Xerxes I
5.1.4.- Intercessão de Esther em favor dos judeus
5.1.5.- Reinado de Artaxerxes I, Xerxes II e Dario II
5.1.6.- Declínio do império. Morte de Ciro o Novo
5.2.- O Império sassânida


            Em Pérsia também era habitual contar com escravos e eunucos às ordens do rei. Segundo  Donato “Os eunucos, foram instituídos polos persas dos cativos. Mas Helânico susteve que o inventor foram os babilônios1. Platão compara os reis de Pérsia e Lacedemônia para saber quem deles destaca mais polo seu nascimento, inclinando-se polos de Pérsia, porque ali os persas remontam até Zeus por uma série ininterrompida de reis, e quando nasce um herdeiro do trono é celebrado com festas e sacrifícios.  “A seguir, o menino é confiado às mãos, não duma mulher, duma nutriz de pouco valor, senão dos mais virtuosos eunucos da corte, que, entre outros cuidados que lhes estão encomendados, têm o de formar e modelar os seus membros, a fim de que tenham a talha mais bela possível, e este emprego procura-lhes a mais alta consideração2.


5.1.- Império aquemênida

            O império aquemênida recebe este nome da dinastia aquemênida, fundada por uma personagem semi-lendária de nome Aquemenes. Estendia-se, na época do seu máximo esplendor,  por Irã, Iraque, o norte da Arábia Saudita, Turquia, parte de Rússia, Chipre, Síria, Líbano, Israel, Palestina, Grécia, Trácia e Macedônia, Turquia, Paquistão, Afeganistão, Jordânia e os centros populacionais importantes do Egito Antigo até às fronteiras da Líbia.

            Ciro I (600-580 a.e.c.), neto do fundador da dinastia aquemênida, Aquemenes, e filho de Teispes, foi sucedido polo seu filho Cambises I (580-559 a.e.c.).


            5.1.1.- Os eunucos no reinado de Ciro II

            Ciro II, o Grande (559-529 a.e.c.), filho de Cambises I e fundador do Império Aquemênida, destronou ao seu avó materno3, rei medo Astiages (585-550 a.C.), e integrou no seu seio todos os impérios anteriores, convertendo-se, assim, em rei de Pérsia, Assíria,  Anshan, Média, Lídia, Babilônia, Sumer e Akkad, rei das quatro esquinas do mundo. Foi criado polo eunuco Artembares, inspetor dos copeiros do último rei medo Astiages, que, segundo informação transmitida por Ctésias, recolhida de Nicolau Damasceno, o adotou, com autorização de Astiages, não obstante ser eunuco4: “Ciro então foi junto ao rei (Astiages) e perguntou-lhe ao mais fidedigno dos eunucos, quando teria a oportunidade de fazer-lhe uma petição antes da sua marcha. E assim, quando viu ao rei borracho e alegre, indicou-lhe ao eunuco que se dirigisse ao rei com estas palavras: «Ciro, o vosso escravo, suplica que lhe conceda o seu permisso para fazer o sacrifício que ele deseja para o seu proveito e para cuidar ao seu pai doente5.

            O marido duma babilônia interpretou um sonho que Ciro lhe contou como um sinal de que Ciro se converteria em rei de Pérsia. Esta mulher, morto o seu marido casou com o seu irmão e esta contou-lhe a interpretação do sonho por parte do seu marido. “Às primeiras horas  na próxima amanhã, este homem pediu corajosamente uma audiência com o rei e, usando um eunuco como intermediário, revelou-lhe como ele ouviu da sua mulher que o seu defunto marido, um profeta, interpretou a visão de Ciro como um sinal de que ele seria rei, e, por isto, estava agora em viagem para Pérsia6. Astiages enviou 300 ginetes de cavalaria em pôs de Ciro com a ordem de fazê-lo retroceder e se recusa, devem retornar com a sua cabeça. Ciro declara que aceita volver, mas prepara uma festa para os emissários do rei na que terminam borrachos, período que aproveita para pedir reforços ao seu pai Cambises I, rei persa de Anxam e Susa, e logra derrotar e deter a Astiages.  

            Arredor do ano 550, Ciro toma Ecbatana, a capital do império meda e no ano 547 entrou em Sardes, capital de Lídia. Ciro era neto de Astiages e, apesar de que intentara matá-lo e da sua rivalidade político-militar, considerava-o como um pai e Amitis, além de ser filha de Astiages, era esposa de Ciro II, que cumpre não confundir com a filha de Xerxes I. “Ctésias relata como Ciro enviou o eunuco Petesacas, que era muito influente com o rei, a Pérsia para fazer retornar a Astiages desde os barcânios, porque ele e a filha de Astiages, Amitis, estavam intranquilos por ver ao seu pai; porém, Oibaras, conspirou com o eunuco Petesacas abandonar a Astiages num lugar desolado e deixá-lo morrer de fame e de sede, que é exatamente o que passou. Após que o crime foi revelado num sonho, Amitis exigiu repetidamente que Petesacas lhe fosse entregado para castigá-lo e finalmente Ciro acedeu e entregou-lho. Foram-lhe arrancados os olhos e a sua pele esfolada antes de ser empalado. Oibaras temeu que sofreria o mesmo destino (ainda que Ciro lhe assegurou que não seria entregado à mesma sorte) e passou fame por dez dias antes de sucumbir à morte. Astiages foi enterrado com suntuosas honras7.

            Ciro também tomou pacificamente Judeia, região de Síria a esta altura, e permitiu que os judeus deportados a Babilônia pudessem regressar ao seu país. O Segundo Isaias considera que Javé lhe devolveu o seu reino a través do Messias, que é Ciro II. Um dos aliados de Ciro foi o eunuco assírio Gadatas, que fora castrado polo rei assírio como vingança contra ele porque uma das suas concubinas se fixara nele. Quando a sua província foi invadida polo Assírio, Ciro II vai acudir na sua ajuda e ele vai-lhe entregar a satrapia a Ciro e entrar no seu exército. Quando foi tomada Babilônia, trás vencer ao seu rei Nabônido na batalha dee Opis do ano 539, Gadatas junto com Góbrias serão quem lhe dêem morte ao rei.

            Num momento em que Ciro pretende atacar Assíria, junto com o ancião Góbrias, desertor do Assírio e general seu que o ajudou a conquistar Babilônia; e o Hicarnio, Góbrias expõe as violências arbitrárias que o governante de Assíria exerce sobre a população recorrendo à prática da mutilação sexual de pessoas como Gadatas. “O filho dum homem, muito mais poderoso do que eu são, era o seu amigo ao mesmo nível que o meu filho. Um dia que bebiam juntos, fez-lo deter e mutilar somente porque, se diz, que uma amante do príncipe louvara a beleza deste moço e gabou a felicidade daquela que seria a sua esposa. Alega agora como escusa que o outro quisera seduzir a sua amante. Seja o que for, este moço é eunuco e governa os seus estados depois da morte do seu pai8. Ciro decide fazer uma incursão em território assírio e repartir o botim. Ordenou que parte da cavalaria fosse recorrer o terreno e matar a todos os que portassem armas e que lhe trouxessem os demais e o gado. Provoca, por meio de Góbrias, aos assírios ao combate mas eles não respondem às suas provocações. Então, ele intenta atrair o príncipe castrado, em referência a Gadatas, e diz-lhe a Góbrias, em referência a este: “Diz-me, disse-lhe ele, não me disseste que segundo ti, o príncipe eunuco se uniria a nós?9. E, depois de manifestar-lhe Góbrias que ele não tem dúvida alguma, pergunta-lhe de novo: “esta praça forte que há em Babilônia e que foi fortificada neste lugar como defesa contra os hicárnios e os sacas, crês que, em caso de guerra, o seu comandante deixaria entrar ao eunuco se for lá com um contingente?10

. Gobrias responde que sim, mas sempre que se faça sem que ele chegue a suspeitar que está confabulado com Ciro. Com esta finalidade, este expõe um plano para apoderar-se da praça forte que consistiria em aproveitar a profunda inimizade de Gadatas contra o Assírio por tê-lo castrado, com objeto de lograr que seja admitido nela polo seu governante sem levantar suspeitas perante este, fingindo que o eunuco e Ciro são inimigos. Expõem-lhe os planos a Gadatas e negociam a aliança com ele. Gobrias “encantado de vê-lo, convém em todo com ele, e formalizam o acordo. Quando Gobrias lhe comunica que todo está arranjado perfeitamente com o eunuco, Ciro, amanhã mesmo, começa o ataque; Gadatas resiste; mas Ciro toma a praza indicada por Gadatas mesmo11. Gadatas já governador da praça, diz-lhe a Ciro: “Alegra-te, Ciro. É isto, responde Ciro, o que faço, dado que, de acordo com os deuses, não somente me convidas a alegrar-me, senão que me impôs o dever de fazê-lo. Está te seguro que me é dum grande valor deixar esta praça a aliados. Para ti, Gadatas, se, como parece, o Assírio te privou da faculdade de ter filhos, não te privou dos meios de ter amigos; está te persuadido que criaste em nós pola tua ação amigos que, se podemos, esforçar-se-ão não menos na tua ajuda que a que receberias dos filhos e netos que tivesses12. Ciro encarrega-lhe a Hicárnio que tome possessão da praça e que a governe de modo que “esta conquista seja preciosa para o teu país, para os nossos aliados, e, sobre todo, para Gadatas, que a conquistou e no-la entregou13.

            Perante esta situação, os assírios decidem atacar para recuperar a praça, defendida por Gadatas com a ajuda de Ciro e os seus aliados, mas deve também enfrentar-se à traição dum dos seus principais homens de cavalaria que lhe propõe ao rei assírio que tenda uma emboscada para capturar a Gadatas e à sua gente, mas Ciro, junto com os seus aliados: persas, medos, hicárnios, armênios, sacas, cadúsios,  logrou desbaratá-la. Gadatas oferece-lhe diversos presentes a Ciro ao tempo que lamenta a sua mutilação. “Ciro, dou-che estes presentes desde este momento; usa deles como teus se tens necessidade. Considera que todo o resto que tenho che pertence. Eu não tenho, não terei nunca um descendente a quem possa deixar os meus bens, mas é preciso que comigo pereçam a minha estirpe e o meu nome. Porém, Ciro, ponho por testemunhas os deuses, que vêem e ouvem todo, não mereci a minha sorte nem por uma palavra nem por uma ação injusta ou vergonhosa. Dizendo estas palavras, pôs-se a chorar a sua desgraça, e não pudo seguir falando”14.
           
            Xenofonte expõe a necessidade que tem um governante como Ciro de dispor duma guarda para a sua segurança, e como sabe que onde se está mais exposto é na mesa e na cama, matina sobre qual é o meio no que mais pode confiar. Julga que não se pode fiar num homem que quer mais a outra pessoa que ao que tem que guardar, e os que têm mulheres, filhos  e favoritos, com os que vive em boa concórdia, são proclives a querer-lhe mais que a todos os outros, enquanto que os eunucos, privados destes afetos, entregam-se sem reserva a quem os pode enriquecer15, e ajudar se são oprimidos por alguém mais forte. Por outra parte, como normalmente são desprezados, têm necessidade dum chefe que os defenda16, e não está demonstrado que sejam lasos17. Privados da força do desejo, são mais calmos, mas não são por isso menos prontos a executar as ordens recebidas nem menos destros em montar a cavalo ou tirar dardos, nem menos ávidos de glória. ̋Mostram, polo contrário, todos os dias, polo seu ardor, seja na guerra, seja na caçada, que a emulação não está extinguida nas suas almas. A respeito da sua fidelidade, é sobre todo à morte dos seus chefes que deram disto as provas: nunca ninguém se mostrou mais fiel que os eunucos às desgraças dos seus chefes. E se parecem dever perder algo da sua força física, a espada, numa batalha, iguala os débeis aos mais vigorosos. De acordo com estas considerações, Ciro, começando polos porteiros, não admite mais que eunucos para os seus guardas de corpo18. Como podemos observar, muitas destas razões seriam válidas e foram aduzidas para justificar o celibato sacerdotal.

            O amigo de Ciro, o medo Araspes presumia de que não se deixava dominar polo amor, mas pronto teve que retratar-se ao namorar-se de Pantea e ousar propor-lhe relações íntimas. “Ela rejeitou-o e permaneceu fiel ao seu marido ausente que ela amava de todo coração. Porém, não acusara a Araspes perante Ciro para não dividir os dous amigos. Araspes, que se tinha vangloriado de ver os seus desejos cumpridos, ameaça esta mulher que, se não cede voluntariamente, vai conseui-lo pola força. Esta, temendo a violência, não guarda o secreto senão que envia a Ciro um eunuco com o ordem de revelar-lhe todo. Ciro, ao ouvi-lo, ri do fracasso deste homem que se vangloriava de ser mais forte que o amor, e envia-lhe a Artabazes com o eunuco, para proibir-lhe de violentar a uma mulher deste rango, mas não lhe proíbe, se ele pode, pola persuasão19.

            Insere-se no seu reinado o relato da morte de Abradatas, rei quiçá fictício de Susa, que decidiu unir-se às tropas de Ciro II como consequência do trato favorável que lhe dispensara à sua esposa Pantea. Uma vez que esta se informa da morte do seu marido, decide suicidar-se, e o seu ato é imitado polos eunucos. Ainda que este relato sobre Abradato for fictício, igual que o seu reinado, deixa ver claramente que na sociedade deste tempo o eunuquismo era uma prática habitual. “Ali, entretanto que os eunucos e os seus servidores cavam baixo uma elevação vizinha uma tomba para o morto, diz-se que a sua mulher, sentada na terra, sustém nos seus joelhos a cabeça do seu marido, que ela vestira com os mais belos vestidos20. Pantea fez afastar os eunucos pretextando que queria abandonar-se, como ela queria à sua dor, e ordena-lhe à sua ama-de-leite que permaneça com ela. “Ato seguido saca um punhal do que se provera fazia tempo, cravou-o na gorja e pousando a cabeça sobre o peito do seu marido, expirou... Os eunucos, vendo o que aconteceu, sacam os três os seus punhais, e cravam-se no mesmo lugar em que ela lhe ordenara permanecer21. Ciro fez levantar um grande monumento aos esposos e aos eunucos22.


            5. 1.2.- Os eunucos no reinado de Cambises II

            Ciro II foi sucedido polo seu filho Cambises II (528-522), que uma vez convertido em rei “enviou o corpo do seu pai com o eunuco Bagapates a Pérsia para ser sepultado e arranjado o resto das cousas tal como ordenara o seu pai. Durante o seu reinado, Artasiras, o hircânio, exerceu um grande poder, e entre os eunucos Izabates, Aspadates, e Bagapates que ganharam grande influência sob o pai de rei após a morte de Petesakas. 23. Petesakas conspirara com Oibaras abandonar a Astiages para que morresse de fame. Ciro enviou a Petesakas para recuperar o corpo de Astiages, seu avó materno. Mais tarde seria castigado desapiedadamente por Amitis, filha de Astiages, por ter participado na conjura com Oibaras. Foram-lhe arrancados os olhos, foi esfolado e prendido a uma cruz.

            Cambises II fez campanhas contra os egípcios, reis que também tinham eunucos às suas ordens entre o pessoal de máxima influência. “Cambises tomou parte na campanha contra os egípcios e derrotou a Amirteo, o rei dos egípcios, quando Combafis, o eunuco que teve a maior influência sobre o rei dos egípcios, revelou as pontes e outros assuntos egípcios de jeito que pode converter-se no seu governador. Isto é exatamente o que passou, devido a que Cambises fez um acordo com ele com a ajuda de Izabates, o coirmão de Combafis, e posterior em pessoa24. Portanto, o Egito, que já possuía eunucos em tempos de José (s. XX a.e.c.), seguia-os mantendo a esta altura e também com grande influência na Corte. Segundo Heródoto, a quem derrotou Cambises II foi a Psaménito III (526-525), último faraó da XXVI dinastia de Egito, filho e sucessor de Amosis II (570-526), também chamado Amasis à sua morte. Cambises II, morto no 522 a.e.c. não pudo derrotar a Amirteo, pois este reinou no período 404-398, sendo contemporâneo de Artaxerxes II em Pérsia (404-358). Durante o reinado de Amasis, um oficial das tropas auxiliares, Fanés de Halicarnaso, descontento com Amasis, escapou por mar para ter uma entrevista com Cambises, mas foi perseguido polo mais fiel dos eunucos de Amasis, que o deteve em Lícia e fez-lo prisioneiro, ainda que logrou escapar e chegar à Corte de Pérsia25.   

            Segundo Platão, Ciro II o Grande, ocupado constantemente na guerra, teve que confiar a formação dos seus filhos a eunucos e mulheres e Cambises II (530-523) foi um desenfreado.  Ciro confiou-lhe “a educação dos seus filhos às mulheres e aos eunucos, ao estilo dos medos, no sentido dos prazeres que são considerados como felicidade. Assim esta educação dissoluta teve as consequências que eram de esperar. Nada mais ascender ao trono os filhos de Ciro, após a sua morte, com os seus hábitos de moleza e dissolução, um dos dous irmãos matou o outro, ciumento de ter nele um igual. A seguir, Cambises, volto furioso polo excesso de vinho e falto de toda espécie de luzes, foi despossuído dos seus estados polos medos e polo eunuco (o mago Gaumata que fazia as vezes de Esmerdis), como se lhe chamava, para quem se convertera em objeto de desprezo polas suas extravagâncias26.

            O filho mais novo de Ciro II o Grande e irmão ou meio irmão de Cambises II chamava-se Esmerdis e também Bardiia e Taniogarces, e foi nomeado polo seu pai sátrapa dos bátrios antes de morrer. Mas quem sucedeu realmente a Cambises II foi um usurpador que se fez passar por Esmerdis, que, segundo Dario, se chamava Gaumata, se bem o historiador Justino afirma que o usurpador foi o irmão de Gaumata, de nome, segundo Heródoto, Oropastes e, segundo Ctésias, Esfendádates (522-522 que usurpou a identidade do verdadeiro Taniogarces. Ninguém noticiou isto durante longo tempo, salvo Artasiras, Bagapates e Izabates que foram os úniscos aos que Cambises lhe confiou este assunto27. O autêntico Taniogarces, executado materialmente por Prexaspes, por ordem de Cambises II, por instigação do mago Esfendedates (Oropastes), que depois usurparia a sua identidade , rodeou-se de eunucos para os cargos de confiança, que tinham por chefe a Labizo. “Então Cambises, tendo convocado a Labizo, chefe dos eunucos de Taniogarces, e aos outros eunucos, amostrou-lhes ao Mago sentado e vestido com a aparência do seu irmão, e perguntou-lhes se eles pensavam que ele era Taniogarces. Labizo, assombrado, contestou: «Quem outro devemos pensar que é?» sendo a semelhança tão grande que foi enganado. O Mago foi enviado, por conseguinte, a Bátria onde desempenhou o papel de Taniogarces. Cinco anos mais tarde, Amitis, tendo conhecido a verdade polo eunuco Tibetis, a quem o Mago açoutara, exigiu a Cambises que lhe entregasse a Esfendadates, mas ele negou-se. Após do qual Amitis, logo de colmá-lo de maldições, envenenou-se28. A intriga do mago foi revelada, como se disse, a Amitis, filha de Astiages, por outro eunuco, Tibetis, e ao exército polo eunuco Izabates, o que propiciou a sua captura e execução, pola conjura dos sete persas, liderados por Otanes e Dario I, que para executá-la tiveram que enfrentar-se aos magos e aos eunucos de que se rodeou também o falso Esmerdis, segundo a narração de Heródoto: “Quando tiveram penetrado no pátio do palácio, encontraram os eunucos encarregados de apresentar ao rei as demandas. Estes eunucos perguntaram-lhes polo motivo da sua visita; e, ameaçando ao mesmo tempo os guardas por tê-los deixado entrar, fizeram todos os esforços para impedir-lhes passar. Estes sete senhores, encorajando-se mutuamente, atacaram com o punhal na mão, aos que queriam retê-los, e, tendo-os matado, correram rapidamente ao apartamento dos homens. Os dous magos estavam nesse momento a deliberar sobre a ação de Prexaspes. O tumulto e os gritos dos eunucos tendo chegado até eles, acorreram e, vendo o que passava, puseram-se à defensiva29.


            5.1.3.- Os eunucos no reinado de Dario I e Xerxes I

            O falso Esmerdis foi sucedido por Dario I o Grande (522-486), que teve como cargo de confiança ao eunuco Artasiras, pai de Artapano, o qual indica que podia não estar emasculado, ou tratar-se duma castração parcial, ou que for emasculado após ter o citado filho, ou que este fosse adotado. Durante o seu reinado recebia tributos dos vinte satrapias em que estava dividido o seu reino. “De Babilônia e do resto de Assíria, chegavam-lhe mil talentos de prata e quinhentos moços para ser feitos eunucos30. É provável que fossem emasculados também os cinco moços que lhe enviavam os etíopes cada três anos e os cem que lhe enviavam os colcídios e povos vizinhos cada cinco anos31. No ano 494, após a revolta dos jônios contra os persas, estes juntam os dirigentes exilados para propor-lhe que convençam os seus vassalos de que se afastem da liga dos conjurados jônios e que os ameacem dos males que os espreitam se não o fazem. Se não aceitam as suas propostas de rendição, se “querem ir a um combate, ameaçai-os de todas as desgraças que não deixarão de cair sobre eles, em caso que sejam vencidos; assegurai-lhes que serão reduzidos a escravidão, que os seus filhos varões serão feitos eunucos, que as suas filhas serão transportadas a Bactres, e que se lhe dará o país a outros povos32. Como as ameaças não surtiram efeito, uma vez que os persas se fizeram donos da situação, trás a vitória na batalha de Lade, vão pôr em práticas as medidas com que ameaçaram a população. “Uma vez que se fizeram donos das suas vilas, escolheram os rapazes mais belos para fazê-los eunucos, arrancaram as meninas dos braços das suas mães para enviá-las ao rei, e, não contentos disto, prenderam fogo às suas cidades e aos seus templos33. Quando Dario se torceu um pé, numa sessão de caçada, foi curado polo médico Democedes, a quem o colmaria de regalos, que lhe seriam entregados polas mulheres do rei. “Os eunucos que o conduziam disseram-lhe que fora quem lhe devolvera a vida ao rei34. Quando morre, aos 92 anos de idade, depois de reinar 31 anos, “Bagapates sentou-se perto do sepulcro de Dario durante sete anos antes de morrer35.


            Xerxes I o Grande (486-465), filho e sucessor de Dario I teve como tutor principal a Artapano, mas também teve grande influência sobre ele o eunuco Matacas ou Natacas: “O seu filho Xerxes converteu-se em rei, e Artapano, o filho de Artasiras, chegou a ter tanto poder como o teve seu pai sob o reinado de Dario I e o velho Mardônio era igualmente muito influente; O mais influente dos eunucos foi Matacas36. Os eunucos do rei eram muito numerosos, ainda que Heródoto não se atreve a dar uma cifra a este respeito. “Tal foi o total do inventário do exército de Xerxes. Tocante às mulheres que preparam o pão, concubinas, eunucos, ninguém poderia dizer o número com certeza, nem o de carros de bagagens, bestas de carga, e de cães indianos que seguiam o exército, tão grande é o seu número37.  Xerxes I tinha como aliada a Artemísia I (s. V. a.e.c.), rainha de Halicarnasso, cidade de gregos dórios, sita em Cária, satrapia do império aquemênida, que lutava a favor de Xerxes I contra as cidades gregas, na segunda guerra médica. Aconselhou-lhe ao monarca persa de retornar a Pérsia e deixar a Mardônio ao mando das tropas. “Depois de ter feito grandes louvores a Artemisa, reenviou-a com alguns dos seus filhos naturais que a seguiram nesta expedição, e que ela tinha a ordem de conduzir a Éfeso. Hermotimo de Pedasas, que tinha o primeiro rango entre os eunucos do rei, acompanhava-os para custodiá-los”38. Antes de cruzar de novo para Ásia e retornar a Sardes, enviou a Megabizos a saquear o templo de Delfos, mas como este rejeitou, enviou a Natacas (ou Matacas) a insultar Apolo e saquear todo39. Megabizos espalhou os rumores da infidelidade da sua esposa e filha do rei, Amitis, que foi censurada por este e prometeu corrigir-se. Segundo Ctésias, Artapano (artabano) conspirou com o eunuco Aspamitres para matar o rei e amparar-se do trono, enquanto que Diodoro Sículo afirma que conspirou com o eunuco Mitridates. A morte de Xerxes I teve lugar o ano 465 a.e.c. “Artapano que tinha grande influência com Xerxes, conspirou com também poderoso eunuco Aspamitres para matar o rei, plano que executaram. Persuadiu a Artaxerxes, o filho do rei, que Dario, o outro filho do rei foi quem o matou. Dario chegou e foi levado à casa de Artaxerxes por Artapano onde entre gritos e desmentidos do assassino do seu pai, ele foi condenado a morte40. Eis o relato de Diodoro Sículo: “Neste ano, Artabano, hicarniano de origem, e gozando de muito grande crédito para com Xerxes, que o fizera comandante dos seus guardas, concebeu o projeto de assassinar a Xerxes e de amparar-se do trono. Comunicou este projeto ao eunuco Mitridates, intendente do rei, e no que Artabano tinha toda confiança, porque era ao mesmo tempo o seu parente e o seu amigo. Mitridates, tendo recebido esta confidência, introduziu durante a noite a Artabano no dormitório de Xerxes41 e matou-o e diz-lhe a Artaxerxes que o seu irmão Dario matou a Xerxes para ocupar o seu trono. Aristóteles relata na Política que Artapano matou a Dario antes de dar morte de Xerxes I. “Artabano colgou a Dario, o filho de Xerxes, quem era suspeitoso de ter conspirado contra o seu pai; pode-se ter em mente que o colgou ou que não o colgou; mas pensou que Xerxes nas suas taças o perdoaria, que foi o que precisamente ocorreu”42. Mais tarde, Artaxerxes executaria os autênticos culpáveis da morte de Xerxes e Dario.

            Mardônio (   - ca. 479 a.e.c.), general do exército aquemênida, filho de Góbrias, seria quem dirigiu a expedição contra os lacedemônios, sendo derrotado na batalha de Platea; ao tempo que o eunuco Matacas foi enviado a insultar a Apolo e saquear o seu templo43.  Xerxes aceita marchar para Ásia e ordena-lhe conduzir a alguns dos seus filhos naturais a Éfeso, acompanhados do eunuco Hermotimo de Pedasa, que gozava da maior confiança perante o rei. Este eunuco fora emasculado por Paniônio, da ilha de Quios, que o comprara depois de ter sido capturado por inimigos, igual que fez com muitos outros moços que comprara para eviscerá-los e vendê-los muito caros como eunucos em Sardes ou em Éfeso, por ser muito apreçados entre os bárbaros pola sua fidelidade. Como vingança, Hermotimo convidou-o a vir à sua casa com toda a sua família e uma vez ali, obrigou o pai a emascular os quatro filhos e os filhos ao pai44.


            1.4.- Intercessão de Esther em prol dos judeus

            Segundo o livro de Esther, o rei também tinha como guardas de palácio aos eunucos Gabata e Tarra45. Este rei parece coincidir com a personagem que na Bíblia se chama Asuero, com poder desde a Índia até Etiopia, a quem lhe  atribui vários eunucos46. Neste livro bíblico de Esther citam-se nominalmente, no capítulo I, os seguintes eunucos: Mahuman, Bizta, Harbona, Bigta, Abagta, Zetar e Carcas, aos que o rei lhe ordena que lhe traiam à rainha Vasti para exibir a sua beleza perante os povos47, enquanto que Flávio Josefo fala de «eunucos» em plural sem precisar o nome, e identifica a Asuero com Artaxerxes II48, igual que farão mais tarde Eusébio e São Jerome, ainda que hoje se aceita muito majoritariamente que se trata de Xerxes I. Flávio Josefo justifica a desobediência da rainha a atender a chamada do rei, apesar dos seus reiterados chamamentos por mediação dos eunucos, polo feito de que nas leis persas está proibido que as mulheres se mostrem a estrangeiros, e por ter que exibir-se perante uma concorrência de borrachos. “A resolução consistiu em expulsar a Vasti e dar-lhe a sua dignidade a outra mulher”49.

            O harém real também estava controlado por eunucos, dos que, segundo a Bíblia, Hegue, era o guarda das mulheres50 e Saasgaz, guarda das concubinas51. Uma vez que Esther foi elegida concubina do rei  entre quatrocentas candidatas, “Foi entregada a um dos eunucos para que se fizesse cargo dela, e foi provida muito exatamente com doces odores, em grande abundância, e com unguentos suntuosos, como o seu corpo precisava; e este regime foi usado durante seis meses com as virgens, que eram quatrocentas. E quando o eunuco considerou que as virgens estavam suficientemente purificadas, no citado tempo, e estavam agora preparadas para ir à cama do rei, enviou uma para estar com o rei cada dia. Assim, quando ele foi acompanhado por ela, devolvia-a ao eunuco; e quando Esther chegou a ele, ele estava contente com ela, e namorou-se da donzela, casou-se com ela, fez-la a sua esposa legítima e realizou uma festa de casamento para ela no duodécimo mês do ano sete do seu reinado, que se denomina Adar”52.

            No livro de Esther e nas  Antigüidades judaicas de Flávio Josefo citam-se dous eunucos: Birgám (Gabata) e Teres (Tarra), que pretenderam atentar contra o rei, mas foram descobertos e delatados a Esther polo seu tio Mardoqueo53, ou Mordecai segundo Flávio Josefo. “Algum tempo depois (estes dous eunucos), Birgam e Teres, conspiraram contra o rei; e Barnabaza, o servente dum dos eunucos, que era um judeu de nascimento, estava ao corrente da sua conspiração, e descobriu-lha ao tio da rainha; e Mordecai, por mediação de Esther, pôs os conspiradores em conhecimento do rei. Isto turbou o rei; mas descobriu a verdade, e colgou os eunucos sobre uma cruz, mas neste momento não deu recompensa a Mordecai, que foi quem lhe salvou a vida. Ele só ordenou os escribas que inscrevessem o seu nome nos documentos oficiais e ordenou-lhe que permanecesse no palácio, como um amigo íntimo do rei”54.

            O primeiro ministro do rei Asuero (Xerxes I), o amalecita Hamã, molesto com a delação dos eunucos por parte de Mardoqueo, pola negativa deste a prosternar-se na sua presença e pola destruição da  raça amalecita polos judeus, pretendia aniquilar este povo, e, com esta finalidade, emitiu um decreto em nome do rei, que previamente lhe autorizou fazer o que quiser, que estabelecia: “E dado que fui amavelmente informado por Hamã, quem, em consideração da sua prudência e justiça, é o primeiro no meu apreço, e em dignidade, e somente o segundo depois de mim, pola sua fidelidade e constante boa vontade para comigo, que existe uma nação malévola misturada com toda a humanidade, que é adversa às nossas leis, e não sujeita ao rei, e com diferente conduta vital a respeito dos outros, que odeia a monarquia, e duma disposição que é perniciosa para os nossos assuntos, ordeno que todos estes homens, de que Hamã o nosso segundo pai me informou, sejam destruídos, com as suas mulheres e filhos, e que nenhum deles seja respeitado, e que ninguém prefira piedade para eles de preferência a este decreto. E isto quero que seja executado o dia catorze do duodécimo mês do presente ano, que assim quando os que mantêm inimizade com nós sejam destruídos, e isto num dia, ser-nos-á permitido levar o resto das nossas vidas em paz ulteriormente55. A reação da comunidade judia não se fez esperar. Mordecai “rasgou as suas vestes, vestiu uma serapilheira, espalhou cinzas sobre a sua cabeça, e passeou pola cidade gritando que «uma nação que não foi nociva contra ninguém, ia ser destruída»56. Também quer implicar a Esther nesta luta contra o decreto, o qual lhe cria a esta uma situação ambivalente: “Mas tão pronto como certas pessoas lhe comunicaram à rainha que esteve perante a corte num hábito lutuoso, ela turbou-se perante esta informação, e espalhou que devia cambiar a sua roupa; mas quando ele não pudo ser induzido a sacar a sua serapilheira, porque a lamentável ocasião que o forçou a vesti-la ainda não teve cessado, ela chamou o eunuco Acrateo (Hatac), que estava então presente, e enviou-lho a Mordecai, para saber que lamentável acidente lhe aconteceu, polo que ele estava de luto, e não queria sacar o hábito que vestira como era o seu desejo. Então Mordecai informou o eunuco do motivo do seu luto, e do decreto que foi enviado polo rei a todas partes, e da promessa de dinheiro polo que Hamã acometeria a destruição da sua nação”57. O eunuco transmite-lhe esta mensagem a Esther e esta decide reenviá-lo de novo a Mordecai para lhe fazer presente que o rei promulgou uma lei que estabelece que não quer que o molestem salvo quando ele chama a alguém, penalizando com a morte a quem o faça. “Agora quando o eunuco leva esta mensagem de Esther a Mordecai, ele anunciou-lhe que também lhe diga a ela que não só deve preocupar-se pola sua preservação, senão pola comum preservação de toda a nação; por esta razão se ela descuida esta oportunidade, conseguir-se-ia ajuda de Deus por alguma outra via, mas ela e a casa de seus pais seria destruída por estes aos que ela agora despreza”58  Esta nova mensagem começa a dar resultados a respeito da disposição de Esther, pois “ reenviou o mesmo eunuco a Mordecai para desejar-lhe que fosse a Susa, e reunisse os judeus que houver ali numa assembleia, e jejuassem e se abstivessem de toda classe de comida, por consideração a ela, e que lhe transmitissem que ela com as suas donzelas fariam o mesmo: e então ela prometeu que iria ao rei, ainda que fosse em contra da lei, e se tiver que morrer por isto, não o recusaria59.

            Esther decide expor-se e afrontar o perigo de apresentar-se ante o rei sem ser chamada, desmaia-se na sua presença e isto aplacou a fúria do rei e predispô-lo favoravelmente e promete-lhe dar-lhe a metade do seu reino, se o deseja. Ela pede-lhe que assista com Hamã a um banquete e nele vai-lhe pedir que salve a sua vida e a do seu povo: “Os eunucos de Esther rogam-lhe a Hamã que se dê pressa para ir à ceia; mas um dos eunucos, chamado Sabushadas (Harbona), viu a forca que estava preparada na casa de Hamã, e perguntou a um dos serventes com que finalidade a prepararam. Assim ele soube que era para o tio da rainha, porque Hamã estava ocupado com a petição ao rei para que fosse castigado, mas de momento manteve-se quieto. Agora quando o rei, com Hamã, estava no banquete, ele desejava que a rainha lhe dissesse que dons ela desejava obter, e assegurou-lhe que ela teria todo o que quiser. …E quando Hamã estava atônito por isto, e não era capaz de falar uma palavra mais, Sabushadas o eunuco veu e acusou Hamã, e disse: «Ele encontrou uma forca na sua casa, preparada para Mordecai, porque o servente lho disse a uma pergunta sua, quando foi enviado para chamá-lo para a ceia». Disse também que a forca era de cinquenta côvados de alto. Quando o rei o ouviu, determinou que Hamã devia receber o mesmo castigo que o que ele previu para Mordecai; assim ele deu a ordem imediatamente que deveria ser colgado nessa forca, e devia morrer dessa maneira60.

            Durante o reinado de Xerxes I, o navegante e explorador, Sataspes, filho da irmã de Dario I, foi castigado a circundar Líbia, até chegar ao golfo de Arábia, para evitar ser empalado, acusado da violação da filha de Zopiro, filho de Megabizo. Pretextou que não pudo terminar a volta de África porque a embarcação se parara e não pudera avançar. “Xerxes, persuadido de que não dizia a verdade, fez executar a primeira sentença; foi posto em cruz, porque não terminara os trabalhos que lhe foram impostos. Um eunuco de Sataspes uma vez que conheceu a morte do seu senhor, escapou-se a Samos com grandes riquezas, das que se apoderou um certo samiano61.


            5.1.5.- Reinado de Artaxerxes I, Xerxes II e Dario II

            O nobre persa e filho de Xerxes I, Artário, sátrapa de Babilônia (465-424), participou nas negociações que conduziram à reconciliação do rebelde Megabizos II, filho de Zopiro e neto de Megabizos I, que derrotara o filho de Artário Menostanes, com o rei Artaxerxes (465-424). Amestris era a esposa de Xerxes I e mãe de Artaxerxes. “Artário acercou-se a Megabizos e aconselhou-lhe fazer as pazes com o rei. Megabizos manifestou que ele também desejava a paz, se bem somente com a condição de que lhe seja permitido permanecer no seu território visto que não queria ir junto ao rei. Quando o rei foi informado desta proposta foi-lhe aconselhado, por Artoxares, o eunuco paflagônio, e a mesma Amestris, de acordar a paz rapidamente. Artários partiu com Amitis, a sua mulher, Artoxares que tinha vinte anos a esta altura, Petesas, o filho de Ousiris e pai de Espitamas. Todos eles tranquilizaram a Megabizos com juramentos e garantias e, com alguma dificuldade, convenceram-no de ir junto ao rei. Finalmente, o rei mesmo mandou-o chamar para que vinhesse e foi perdoado polo seu incorreto proceder62. Tanto os altos cargos como os eunucos de confiança eram vítimas muitas vezes da arbitrariedade do monarca, como se revela no seguinte texto que nos transmite Ctesias no que se expõe o castigo por faltas referentes ao protocolo contra o rei por não lhe permitir luzir os seus dotes cinegéticos. “Algum tempo mais tarde, o rei foi a uma caçada quando foi atacado por um leão e quando o animal estava no ar Megabizos bateu-lhe com uma lança e matou-o. Este ato irou a Artaxerxes porque Megabizos fez uma morte exitosa antes que ele o fizesse e assim ordenou que Megabizos fosse decapitado. Mercê aos rogos de Amestris, Amitis e outros foi-lhe perdoada a sua vida e foi removido a uma cidade próxima ao mar de Eritrea chamado Kirta enquanto que o eunuco Artoxares (465-d. 424 a.e.c) era banido a Armênia porque falava frequentemente a favor de Megabizos63.

            O general Megabizo II (ca. 516-ca. 440), acusou a sua mulher Amitis, filha de Xerxes I e irmã de Artaxerxes I, de ter cometido adultério, facto que ela negava terminantemente. O eunuco “Artapano que tinha grande influência com Xerxes, conjurou com o também muito poderoso eunuco Aspamitres matar o rei, plano que executaram”64, passando a reinar o filho de Xerxes I e de Amestris, Artaxerxes I Longuimano (465-424). Artapano acusou a Dario, filho de Xerxes I e irmão de Artaxerxes, de ser o assassino do seu pai; prendeu-o e levou-o a palácio onde foi executado a pesar de que ele negou categoricamente a sua participação no crime. O ano 444, durante o reinado de Artaxerxes I, desempenhou o cargo de copeiro do rei o judeu Neemias, posto usualmente encomendado a eunucos que suplica a Javé que mova o rei para que o autorize a reedificar Judá65, Neemias é apresentado como solteiro e reza a Deus para que o recorde, o qual se explica muito bem polo feito de que ao não ter descendência não tem ninguém mais que se lembre dele66.

            O irmão do rei Artaxerxes I, Artário, sátrapa de Babilônia, ambos os dous filhos de Xerxes I, “contatou com Megabizo e aconselhou-lhe pactuar com o rei. Megabizo respondeu que ele também desejava uma trégua, mas com a condição de que não fosse obrigado a aparecer na corte outra vez, e lhe fosse permitido permanecer no seu território porque não queria ir junto ao rei. Quando o rei foi informado da sua proposta, o eunuco paflagônio Artoxares e Amestris impulsaram o rei a fazer a paz sem tardança. Em consequência, Artário, a sua esposa Amitis, Artojares, então de vinte anos de idade, e Petisas, o filho de Usiris e pai de Spitamas, foram enviados com esse objetivo a Megabizo67. Á morte de Artaxerxes, Artoxares apoiou a Dario II, em contra do seu irmão Sogdiano, convertendo-se numa das pessoas mais influentes da Corte. Mas não tardou em liderar uma conspiração contra o novo rei, que, descoberta por Dario II, ordenou executá-lo.

            A Artaxerxes I sucedeu-lhe o seu único filho legítimo, Xerxes II (424 a.C.), que tinha ademais outros 17 ilegítimos, entres os que se encontravam Sogdiano e Oco. Sogdiano (424-423), com a cumplicidade do eunuco Farnácias, que tinha grande influência ante o rei, assassinou a Xerxes II, junto com os também quiçá eunucos Bagorazos, Menospates e alguns outros, quando estava num estado de embriaguez, e proclamou-se rei de Pérsia e faraó de Egito. “Quando o seu pai ainda estava vivo, nomeou a Oco sátrapa de Hicárnia e deu-lhe uma mulher a Parisatis, a filha de Artaxerxes e a sua própria irmã. Sogdiano (ou Secundiano) convenceu o eunuco Farnácias, junto com Bagorazo, Menostanes e alguns outros. Estraram no palácio depois de Xerxes que se emborrachara no festival e quedou dormido no quarto real, e eles mataram-no. Foi quarenta e cinco dias depois da morte do seu pai e assim os dous homens foram levados de volta a Pérsia juntos”68. Sogdiano foi assassinado uns meses depois por Dario e este converteu-se no governante único do império persa.

            Sogdiano convocou a Dario II à corte, mas este em vez de acudir, reuniu um grande exército para proclamar-se rei.  Arbário, chefe da cavalaria, Arxanes, sátrapa de Egito e o eunuco Artoxares, uníram-se a Oco, pondo Artoxares a coroa na sua cabeça contra a sua vontade69, que foi proclamado rei de Pérsia e faraó de Egito, com o nome de Dario II Oco ou Noto (bastardo) (423-405), filho de Artaxerxes I e da babilônia Cosmartidene, casado com a sua meia irmã Parisatis, filha de Artaxerxes I e a babilônia Andia, mãe de Artaxerxes II Mnemão e do irmão menor deste Ciro o mais novo. “Oco, que prometeu que viria, mas que repetidamente não chegou a obrar assim até que ele finalmente reuniu um amplo exército para apoiar a sua ambição para ser rei ele próprio. Arbários, o comandante de cavalaria sob Sogdiano, desertou para Oco e foi seguido por Arxanes o sátrapa de Egito e Artoxares o eunuco que se uniu a eles desde Armênia. Apesar destas objeções, colocaram o toucado real sobre ele- Oco converteu-se em rei, cambiou o seu nome por Dario, e, por conselho de Parisatis, atraiu a Sogdiano com intenção traiçoeira e juramentos70. Por conselho de Parisatis, Dario II logrou, com artes torticeiras, atrair a Sogdiano e eliminá-lo depois dum breve reinado de seis meses e meio.
                                  
            Dario II Oco considerava que, para consolidar-se no poder, devia desfazer-se dos seus oponentes, Ariaspes, único filho legítimo do rei, e Arsames. Ao primeiro enviava-lhe continuamente eunucos para contar-lhe ameaças terríveis da parte do rei, e convenceu-o de que o rei duvidava dele e terminou por suicidar-se, e  o segundo foi assassinado. Helanico alude a Atossa como uma provável filha do rei de Assíria, Ariaspes, da que diz que “educada polo seu pai como um menino, recebeu a dignidade régia. Ocultando-se por quem pudesse ser conhecida como mulher, foi a primeira que cobriu a cabeça com a tiara, e inventou as calças e o ministério dos eunucos e respondia por cartas. Submeteu muitos povos, e, portanto, mostrou-se como belicosíssima e fortíssima em todas as cousas71.

            Dario II “reinou durante dez e nove anos; mas todo o período não foi quase algo distinto que uma contínua revolta nas províncias; e intrigas de homens traiçoeiros, mulheres assassinas, e eunucos na corte72. Durante o seu mandado o eunuco Artoxares exerceu o maior poder, seguido por Artibarzanes e Atos, ainda que a que teve maior influência sobre ele foi a sua esposa Parisatis73, com a que teve dous filhos antes de converter-se em rei: uma filha, Amestris e um filho Arsaces, que depois seria chamado Artaxerxes. Depois de converter-se em rei, teve outro filho: Ciro o Novo. Artoxares planeou matar a Dario II, mas o seu plano foi descoberto e teve que sofrer uma morte ignominiosa74. “Artoxares o eunuco, que era mui influente com o rei, conspirou contra ele com a intenção do trono para si próprio. Ordenou à sua esposa que lhe fizesse uma falsa barba e bigode para ele, assim poderia aparecer como um homem. Não obstante, ela revelou a conspiração e foi arrestado, entregado a Parisatis e condenado a morte75. Farnácias foi lapidado até a morte e Menostanes, filho de Artário e vizir sob o mando de Sogdiano, suicidou-se.


         1.6.-   Declínio do império. Morte de Ciro o Novo

            Artaxerxes II Mnemão (404-358), sucedeu ao seu pai Darío II Oco, e, durante o seu reinado, enfrentou-se à rebelião contra ele do seu irmão Ciro o Novo, no ano 401, na batalha de Cunaxa, na que este último saiu vitorioso, mas perdeu a vida por descuidar o conselho de Clearco. O seu corpo foi mutilado por Artajerjes que ordenou que a sua cabeça e a mão com a que o golpeara foram cortadas e levadas em triunfo. O relato da morte na citada batalha, foi escrito por Plutarco abreviando dados de Ctesias. Segundo este “o rei soltou a sua lança e não conseguiu alcançar a Ciro, mas feriu a Satifernes, um fiel e nobre amigo de Ciro, batendo-o em baixo morto. Ciro então atirou a sua lança ao rei e bateu-lhe no peito a través da couraça infligindo-lhe uma ferida profunda em dous dedos e  derrubando-o do cavalo76. Mas a Ciro foi-lhe pior porque perdeu a vida a mãos de Mitridates. ”Então a gorra caiu da cabeça de Ciro e um moço persa chamado Mitridates correu cara a ele e bateu-lhe na fonte cerca do olho sem saber a quem feria. A ferida sangrou profusamente causando que Ciro caísse, confundido e aturdido... Ciro estava lutando para recobrar-se do choque quando alguns eunucos se ofereceram para montá-lo e cavalgar para a segurança77. Depois de afirmar que Ciro foi ferido polo moço persa Mitridates na fonte detrás do olho, continua: “Ciro, tendo-se recuperado com dificuldade do seu desvanecimento, alguns dos seus eunucos, que permaneceram ao seu lado em pequena quantidade, quiseram colocá-lo num cabalo, a fim de salvá-lo; não tendo força de suster-se nele, intentou ir a pé, sustido polos seus eunucos que o ajudavam a caminhar; mas ele tinha a cabeça tão aturdida do golpe, que não podia suster-se e parava a cada passo. Porém ele creia ter alcançado a vitória, porque ouvia os fugitivos chamar a Ciro o seu rei, e pedir-lhe perdão. Neste momento, alguns caunianos, pessoas pobres e miseráveis, que seguiam o exército do rei para prestar os serviços mais baixos, vão misturar-se, como amigos, entre os eunucos de Ciro; mas tendo reconhecido com muita dificuldade, polas suas cotas de armas cor púrpura, que eram inimigos, porque as tropas do rei tinham-nas brancas, um deles vai por detrás para golpear com o seu dardo a Ciro, que não o conhecia, e corta-lhe o nervo do jarrete. Ciro caiu imediatamente; e na sua caída deu com a fonte onde se ferira contra uma pedra, e expirou de repente”78. Um dos seus eunucos, Artapates, suicidou-se sobre o seu cadáver e o eunuco mais fiel de Ciro chamado Pariscas, chorou desconsoladamente. “Quando Ciro morreu, Artasiar, o olho do rei, aconteceu que passava no seu cavalo e viu os eunucos lamentando-se . Perguntou-lhe a mais digno de confiança deles, «Pariscas, por quem estás triste?» O eunuco replicou, «Não vês que Ciro morreu». Assombrado por isto, Artasiar ordenou ao eunuco sobrepor-se e guardar o corpo enquanto ele pessoalmente foi a Artaxerxes, quem se rendia e estava sofrendo de sede e a agonia da sua ferida79. A preocupação dos eunucos era, neste momento, salvar o rei, que estava a ponto de morrer de sede. “Dado que o rei estava quase a ponto da morte de sede, Satibarzanes o eunuco foi polos arredores em busca de auga,mas ali não havia nenhuma no entorno e o acampamento estava longe. Então chegou a través um desses humildes caunianos que tinha arredor de oito kotilai (ânforas) de auga suja e poluída num odre de vinho de má qualidade que ele confiscou e levou ao rei. Quando ele bebeu, o eunuco perguntou-lhe se achou a bebida desgostante, mas ele jurou polos deuses que nunca gostou vinho ou auga mais pura e encontrou-a tão agradável: «Se não podo encontrar o homem que che deu esta auga e recompensá-lo convenientemente, rogo que os deuses o façam mais bem-aventurado e rico»”80.

            O eunuco que lhe procurou auga ao rei sedento, após o seu enfrentamento com Ciro o Novo, tinha por nome Satibarzanes. Artaxerxes teve como amante ao eunuco Teridates, morto na flor da idade, ocasião em que desempenhou um rol de alívio da sua pena a filha de Hermotimo de Fócea, Aspásia, anteriormente concubina de Ciro o Novo. A partir desse momento, Aspásia vai devir a amante preferida do rei Artaxerxes pola sua beleza natural e as suas relevantes qualidades morais. “Algum tempo depois, aconteceu que o eunuco Teridates, o mais belo e o mais amável que existiu em toda Ásia, morreu na primavera da sua idade, quando entrava quase na adolescência. Dizia-se que o rei o amara muito. As bágoas que ele verteu, a dor profunda à que se entregou, não deixavam lugar à dúvida. Ásia inteira tomou parte à sua aflição: foi um dó universal, Apressando-se cada um em dar ao rei o sinal de pêsame. Ninguém se atrevia a acercar-se a Artaxerxes, e menos ainda arriscar de consolá-lo. Estava-se persuadido que não seria possível livrá-lo da pena na que estava sumido. Depois de três dias passados neste estado, Aspásia, em veste de dó, aproveitou o momento em que o rei ia ao banho e plantou-se sobre a sua passagem, os olhos baixos e vertendo bágoas. Artaxerxes surpreendido de encontrá-la neste lugar, perguntou-lhe que podia tê-la levado ali. «Príncipe, respondeu ela, estais triste, estais afligido e venho intentar consolar-vos, se isto pode ser-vos agradável; se a minha oferta é importuna, retiro-me». O rei, vivamente surpreendido do tenro desvelo de Aspásia, diz-lhe que suba ao seu apartamento e que o espere ali; ela obedeceu. Artaxerxes, de volta do banho, fez-la vestir-se com a roupa do eunuco, por cima das vestes de dó que ela levava. Esta maneira de vestir dava-lhe novos encantos e volvia a sua beleza mais provocativa aos olhos do seu amante; no excesso do seu arrebatamento, o rei pediu-lhe não ter jamais outra quando ela aparecesse diante dele, até que ele não chegasse a aplacar a sua dor. Aspásia não descuidou esta maneira de agradar-lhe; ela teve a glória em toda Ásia, não só entre as mulheres de Artaxerxes, senão também entre os meninos e os seus pais, de poder acalmar a sua pena e curar a chaga do seu coração. O príncipe, sensível aos cuidados que ela lhe prestava, escutou-a e prestou-se insensivelmente a todo o que ela lhe disse para consolá-lo81.

            A sorte que correram os que mataram a Ciro, e que queriam ver recompensada a sua ação polo rei por cima do que este estava disposto a dispensar, e, sobre todo, por dizer a verdade do ocorrido, apropriando-se uma ação que o rei queria ventar como própria, foi espantosa. Também influiu na atrocidade do castigo, o feito de que Pasisatis, a mãe de Artaxerxes II, o rei, também o era de Ciro o Novo, e quis vingar desapiedadamente a morte do seu filho nos seus executores. Vejamos como expõe Plutarco a ação do eunuco Mitridates, que vai levar à sua morte. “Pouco depois, Mitridates perdeu-se igualmente pola sua imprudência. Foi convidado a um festim onde se encontravam os eunucos do rei e os de Parisatis a sua mãe, e ele apresentou-se vestido com a vestimenta e as jóias que lhe foram regaladas por Artaxerxes. Ao final da comida, quando se pôs a beber, o mais importante dos eunucos de Parisatis, Esparamices, diz-lhe a Mitridates: «Que roupa mais bonita che deu o rei, Mitridates! Que braceletes! Que colares! Que rica cimitarra! não há ninguém que não te admire e enveje a tua felicidade». Já quente polo vinho, Mitridates respondeu: «Ei! que é isto, meu querido Esparamies, comparado com os prêmios das recompensas das que me mostrei digno o dia da batalha»? O eunuco respondeu sorrindo: «Eu estou longe de invejar-te, Mitridates; mas, dado que a verdade está no vinho, segundo o provérbio dos gregos, que grande façanha é essa de ter recolhido a túnica dum cabalo, e de tê-la levado ao rei?». Ainda que ele falasse assim, o eunuco conhecia a verdade; mas queria que Mitridates se manifestasse ante testemunhas: ele provocava a ligeireza dum homem que o vinho tinha volto indiscreto, e que não era mestre da sua língua, «Podeis falar à vossa comodidade da túnica do cavalo e de tontices semelhantes, replicou Mitridates; mas eu declaro-vos, sem nenhum rodeio, que esta mão matou a Ciro. Eu não lhe dei, como Artaxerxes, um golpe inútil e sem efeito; eu golpeei-o na fonte, muito cerca do olho; e, furando-lhe a cabeça dum lado a outro, deitei-o ao chão e morreu desta ferida»82. O eunuco transmite-lhe esta conversação a Parisatis e esta ao rei, que se põe furioso por restar-lhe a ele o protagonismo da morte do seu irmão. O rei ordenou que lhe cortassem a cabeça, mas Parisatis disse que não era ele quem se dê por satisfeito a respeito do que fez este abominável cária, e deixou o castigo em mãos da sua mãe.
            Mitridates foi submetido ao suplicio atroz das tinas que mesmo produz repulsão expõe-lo, por se apropriar duma ação que o rei queria acaparar para si com objeto de espalhar o seu valor entre os seus súbditos. A tortura à que se submeteu a Mitridates foi a seguinte: “duas bacias são fabricadas exatamente para ajustar-se e responder uma à outra, e o condenado é colocado sobre as suas costas numa delas enquanto que a outra é colocada na parte superior e unida à primeira de tal jeito que só a cabeça, mãos, e pés estão expostos enquanto que o resto do corpo está coberto. Ao condenado se lhe dão alimentos e se rejeita comer, então se lhe força alfinetando os seus olhos. Depois de comer é forçado a beber leite misturado com mel que é derramado não só dentro da sua boca senão também em toda a sua cara. A sua cabeça é então volta de tal maneira que os seus olhos sempre olham o sol e enxames de moscas colocam-se ali, a sua cara inteira é coberta por elas. Desde que faz o que cumpre fazer quando um tem comido e bebido, bichos rastreiros e insetos nascem da corrupção e putrefação do excremento, e estes entrando no seu intestino, o seu corpo é consumido”83. Assim é como Mitridates morreu depois de consumir-se lentamente durante 17 dias”84.

            A seguinte vítima da vingança de Parisatis, esposa de Dario II, pola morte do seu filho Ciro o Novo foi o eunuco do rei Mesabates, que lhe cortara a cabeça e a mão de Ciro, mas como não lhe dava motivo para fazê-lo, decidiu urdir um plano que consistiu em jogar aos dados com o rei, -ao que lhe servia também nas suas aventuras amorosas mediante a sua cooperação e presença, que deixava muito marginada à esposa deste, Estatira, que ela odiava profundamente-, um dos eunucos, que o vencedor podia eleger entre os do perdedor excetuados os cinco mais fieis que cada um deles se reservava. A rainha ganhou e escolheu a Mesabates, que não estava entre os que o rei reservara. “Ela não o teve de melhor hora no seu poder, que antes que o rei pudesse ter alguma suspeita do seu desígnio, entrega-lho aos carrascos e ordena-lhe esfolá-lo vivo, amarrar a seguir o seu corpo sobre três cruzes e estender a sua pele em estacas”85.

            Clearco era um general espartano, muito severo que se converteu em governador de Bizâncio, e que foi honrado pola sanguinária Parisatis quem, para completar a sua vingança, matou a Estatira oferecendo-lhe um alimento envenenado que preparou da seguinte maneira : "untou um lado dum cutelo com veneno enquanto que o outro foi deixado limpo e ela usou-o para cortar um pássaro pequeno que os persas chamam Rindake. Parisatis cortou o pássaro polo meio e tomou a porção livre de veneno para si mesma e comeu-a. Depois ofereceu a metade envenenada a Estatira que não teve maneira de pressentir o perigo depois de ver a Parisatis comer a sua porção e assim ela comeu o veneno e morreu. Muito angustiado pola ação da sua mãe, o rei arrestou os seus eunucos, torturou-nos, e entregou-nos à morte. Também arrestou a Ginge, companheira de Parisatis, e submeteu-a a juízo. Ainda que foi absolta polos juízes, foi condenada polo rei que a fez torturar e executar... Depois de oito anos o túmulo de Clearco foi visto circundado por tamareiras que Parisatis plantou secretamente por meio dos seus eunucos quando morreu"86.

            A esta altura, os magos desempenhavam um rol importante na sociedade persa, e entre estes roles estava o conhecimento do futuro, que intentaram aplicar ao novo rei Oco. “Quando depois da morte de Artaxerxes, Oco, o seu filho, subiu ao trono de Pérsia, os magos ordenaram a um eunuco, dos que formavam o entorno mais estreito do rei, observar, quando se tivesse servido, a qual dos pratos Oco estenderia primeiro a mão. O eunuco que olhava com atenção, observou que o rei estendendo à vez as suas mão, tomou com a direita um dos cutelos, que estava sobre a mesa, e com a esquerda um pão muito grande, sobre o qual pôs a carne, e depois de tê-la cortado comeu com avidez. Os magos, sobre o cálculo que lhes foi formulado, fizeram esta dobre predição: que o ano seria fértil em todas as estações, e que as colheitas seriam abundantes durante todo o reinado de Oco, mas que se verteria muito sangue. As sua predições foram cumpridas87.

            A Dario II sucedeu-lhe Artaxerxes II, e a este Artaxerxes III Oco (358-338), que tinha  como grande vizir ou responsável do governo ao eunuco egípcio Bágoas (?  - 336). No ano 350, o rei Oco, depois de conquistar Egito e reduzir as revoltas das províncias do império,  abandonou-se a uma vida de prazeres e fausto o resto da sua vida, e deixou a gestão dos assuntos totalmente em mãos dos seus ministros. Os dous principais destes eram o eunuco Bágoas e Mentor, o rodiano, que dividiram o poder entre eles; e depois de ter reinado vinte e três anos, Oco morreu de veneno subministrado por Bágoas88. Cumpre não confundir este eunuco com o homônimo amante de Alexandre Magno, que terminaria por assassinar ao próprio rei polo sacrilégio cometido por Artaxerxes III de sacrificar ao boi Apis ao igual que Cambises. “O eunuco Bágoas, egípcio de nascimento, depois de ter executado o projeto que formara de fazer perecer a Artaxerxes Oco, cortou o seu corpo em pedaços e deu-lho a comer aos gatos. Enterrou-se no seu lugar outro cadáver, que foi depositado no túmulo dos reis. Reprochava-se a Oco um grande número de sacrilégios, sobre todo os que cometera em Egito. Bágoas, não contento de ter-lhe quitado a vida, mandou fazer empunhaduras de espadas dos ossos das suas coxas, para significar a crueldade mortífera deste príncipe. O ódio do eunuco procedia de que Artaxerxes, estando em Egito, tinha matado, a exemplo de Cambises, o boi Apis89.

            Artaxerxes III foi sucedido polo seu filho menor, Artaxerxes IV Arses (338-336), que foi eliminado também por Bágoas, que ajudou a Darío III Codomano (338-330), último rei persa, a alcançar o poder, mas não tardou em intentar envenená-lo; descoberto foi obrigado a beber ele mesmo o veneno. Segundo Diodoro Sículo, Artaxerxes II tratou os seus súbditos com soma crueldade. “Pola sua conduta violenta converteu-se em objeto de ódio, um eunuco fisicamente, mas um velhaco em disposição, matou-o com um veneno administrado por um médico e colocou no trono o mais novo dos seus filhos, Arsés. Fez igual com os irmãos do novo rei, que eram de poucos anos,  a fim de tê-lo sob a sua dependência e no isolamento um monarca quase não adolescente. Este jovem monarca, indignado por estes crimes, manifestara a intenção de castigar o autor destes crimes, mas Bágoas antecipou-se as suas intenções e fez morrer a Arsés com todos os seus filhos, no terceiro ano do seu reinado. Estando a família real quase extinta e não se apresentando ninguém na ordem natural de sucessão, Bágoas ascendeu ao trono a um dos seus amigos, chamado Dario. Este Dario era filho de Arsanés e neto de Ostanes que era irmão de Artaxerxes, rei dos persas. O fim de Bágoas apresenta alguma cousa de singular e digna de memória. Acostumado a emporcalhar-se de assassínios, concebera o projeto de envenenar também a Dario. Este projeto, tendo sido descoberto, o rei fez vir a Bágoas junto a ele, como para conceder-lhe um favor; apresenta-lhe uma copa e forçou-o a beber o veneno90,

            Durante o reinado de Dario III Codomano, o eunuco e escravo persa Bágoas (s. IV a.e.c.), foi castrado muito novo, e converter-se-ia em objeto sexual com Darío III e Alexandre Magno. Outro dos seus eunucos levava por nome Tiriotes.

            O filósofo cínico-estoico, historiador, orador e escritor grego Dião Crisóstomo (ca. 40 - 120 e.c.), ou Dião de Prusa, hoje conhecida como Bursa, província romana de Bitínia, ao noroeste de Turquia, polo lugar de nascimento, faz uma valoração da beleza tal como é vista polos persas e polos gregos numa conversação com um moço mais novo e provavelmente grego também, na que Dião expõe a sua  conceção ao respeito, que difere nos persas e nos gregos, salvo em Crítias, um dos Trinta Tiranos: 
            Int.Devemos, pois, adotar a frequente prática dos atenienses e do mesmo jeito recordar que o tempo presente é um interregno porque não tem um homem fermoso?
            Dião. Sim certamente, devemos, polo menos como os persas consideram a beleza, mas ninguém dos gregos a considera assim, salvo um do Trinta. Ou não conheces a história sobre isto de Crítias, que era membro dos Trinta? Ele disse que a mais fermosa figura entre os machos era o efeminado, mas entre as fêmeas, por outra parte, o oposto. Por isso os atenienses estavam justificados escolhendo-o a ele como legislador porque podia cambiar a velha lei, porque de facto não deixou nenhuma sem cambiar.
            Int. Muito bem. Mas, como consideram os persas a beleza?
            Dio. Por que?, necessita alguma explicação, visto que fazem eunucos de machos fermosos para que possam tê-los tão fermosos como possível? Os bárbaros tratam-nos do mesmo modo, como fazem com os animais - porque a única cousa na que eles pensavam era o prazer da carne. Então, como se diz que Dédalo atuou quando iludiu o touro estirando um coiro de vaca sobre uma armação de madeira, assim procuram conseguir pôr uma aparência efeminada nos machos, sendo incapazes de amá-los em nenhum outro sentido. Mas quiçá no caso dos persas a maneira como os rapazes são educados é a causa; eu penso que durante muito tempo são educados por mulheres e velhos eunucos, e estes moços novos não se associam com outros moços novos, nem os adolescentes com outros da sua idade, e que não vão despidos nas escolas de luta e ginástica. Esta é a razão pola que, na minha opinião, ocorreram casos nos que têm intercâmbios sexuais com as suas mães; como os potros, quando ainda seguem as suas mães embora completamente adultos, tratam de cobri-las... Nos seres humanos um poder ilimitado é uma classe de cousa sem lei. Toma a Nerão, por exemplo: todos nós sabemos como no nosso próprio tempo que não somente castrou ao moço ao que queria, mas também cambiou o seu nome por um de mulher, o da rapariga a qual amava e a sua subsequente esposa, à qual estava já casado quando deveu imperador.
            Int. E qual era o nome de mulher que davam aos eunucos?
            Dio. Por que che preocupa isto? Em qualquer caso ela não se chamava Rodogune. Mas esse jovem de Nerão atualmente traia o seu cabelo penteado, atendiam-no moças quando ia  passear, levava roupa de mulher, e era obrigado a fazer qualquer outra cousa como a mulher faz no mesmo caso. E para alcançar o clímax, atualmente eram oferecidos grandes honras e e ilimitadas somas de dinheiro a alguém que o fizesse a sua esposa.”91
           

5.2.- O império sassânida

            O império sassânida foi fundado por Artaxes ou Ardacher (224-241), que derrota o império parto e assume o poder em Pérsia. Recebe o seu nome do seu avó paterno Sasano, grande sacerdote do templo de Anaíta.

            Ardascher foi sucedido polo seu filho Sapor I o Grande (240-270), que apoiou o zoroastrismo, se bem a sua política de tolerância religiosa favoreceu a introdução do cristianismo, judaísmo e maniqueísmo no império persa sassânida.

             Durante o reinado do imperador Sapor II de Pérsia (309-379) foi submetido a tortura o bispo Simeão de Pérsia, acusado de colaborar com o imperador dos romanos. O rei obrigou-o a apresentar-se ante ele e ordenou-lhe adorar o sol, ao que Simeão se negou. “O rei Sapor II que quase em todo o tempo do seu dilatado império esteve em guerra com os romanos, chegou a crer que os cristãos vassalos seus tinham correspondência com o imperador, e escreviam as cousas de Pérsia. Irritado, pois, contra eles, começou a persegui-los. Os persas e os judeus acusaram o arcebispo de Seléucia, Simeão, de confabular com o imperador dos romanos92. O ano 326 o rei Sapor II obrigou a Simeão apresentar-se perante ele e ordenou-lhe adorar o sol, ao que Simeão se negou.”Ustazade que era um velho eunuco, que educara a Sapor, e que tinha a intendência da sua casa, tendo-o apercebido, levantou-se para saudá-lo profundamente. Simeão não tendo-o quase mirado, repreendeu-o com veemência pola lassitude com a qual, após ter feito profissão da fé cristã, adorara depois o sol. No momento mesmo, o eunuco botando a chorar, sacou o hábito branco, com o que se vestira, tomou um negro, que é o hábito de dó, e pôs-se à porta do Palácio: « Que desgraçado sou, que trato podo esperar de Deus, ao que renunciei, porque Simeão que era noutro tempo o meu amigo íntimo, abandona-me, sem querer falar-me?”93. O rei mando chamá-lo para perguntar-lhe polas razões da seus choros e se tivera algum percalço familiar, ao que ele respondeu negativamente. A seguir Ustazade “jurou no nome do Deus criador do céu e da terra, que não cambiaria mais de opinião. A conversão tão pouco esperada do eunuco, pôs o rei num estado de extrema cólera contra os cristãos, aos que acusava de tê-lo conseguido por encantamentos. Contudo, tendo algum resquício de afeto por este velho, fez todo o que pode polas boas ou por rigor para abalar a confiança. Mas quando viu que todo o que fazia não servia de nada, e que Ustazade reafirmava que não seria jamais tão insensato que adorasse as criaturas, no lugar do criador, mandou cortar-lhe a cabeça. Quando os executores o levavam ao suplício, ele pediu-lhes um pouco de tempo para declarar alguma cousa ao rei; nesse momento ele lhe enviou dizer o que segue por um eunuco de quem conhecia a fidelidade. «Eu não tenho necessidade de testemunho de ninguém para assegurar-vos da fidelidade inviolável com a qual vos servi desde a minha juventude, e o rei vosso pai, dado que estais melhor informado que ninguém outro. Não vos pido outra recompensa polos meus serviços que a de não permitir que os que não saibam o motivo da minha morte, creiam que a sofro por vos ter atraiçoado, ou por ter sido convicto dalgum outro crime. Por isto suplico-vos de fazer público por um arauto, que se corta a cabeça a Ustazade, não por ter cometido nenhum crime, mas por ser cristão, e que não quis renunciar ao seu Deus». Sapor fez publicar por um arauto que o que Ustazade desejava, na crença que ninguém mais quereria ser cristão, quando se visse que não perdoava a um velho que tinha sido noutro tempo o seu governador, e que lhe tinha guardado sempre uma inviolável fidelidade; e Ustazade desejava-o para levantar dalgum modo o escândalo da sua idolatria, e para excitar os cristãos a morrer constantemente, ao seu exemplo, em vez dele que removera a fé de muitos adorando o sol94
            Também publicou um edito condenando a morte a todos os que se confessem cristãos. “Manteve-se em secreto que um grande número de cristãos sofreu pola espada; porque os magos buscaram diligentemente em cidades e vilas polos que se esconderam; e muitos entregaram-se, com a finalidade de que não aparecesse, polo seu silêncio, que negavam a Cristo. Dos cristãos que foram assim implacavelmente sacrificados, muitos que estavam ligados ao Palácio foram assassinados, e entre estes estava Azades, um eunuco que era especialmente querido polo rei. Quando ouviu da sua morte, Sapor estava dominado por uma grande dor, e deteve a matança geral de cristãos, e indicou que somente fossem assassinados os mestres da religião95.

            Segundo Gibbon, Artaxerxes legou-lhe o seu novo império e os seus ambiciosos desígnios a Sapor, um filho não indigno do seu grande pai. Mas aqueles desígnios eram demasiado extensivos para o poder de Pérsia, e serviram unicamente para envolver ambas nações numa longa série de guerras destrutivas e calamidades recíprocas. Tinham uma excelente cavalaria, uma infantaria desprezível. “As suas operações militares eram impedidas por um trem de mulheres, eunucos, cavalos, e camelos, e no meio duma exitosa campanha o hospedeiro persa era frequentemente separado ou destruído por uma inesperada fame96. Gibbon confronta os inconvenientes do luxo dos persas com a pobreza das mulheres dos bárbaros. “A elegância do vestido, do movimento, e dos modais da um lustre à beleza e inflama os sentidos pola imaginaç4ao. Luxuosos divertimentos, danças a meia noite, e espetáculos licenciosos, apresenta de repente tentações e oportunidades para a debilidade feminina. Deste perigo, as mulheres não polidas dos bárbaros estavam asseguradas pola pobreza, soedade, e os cuidados dolorosos da vida doméstica. As cabanas germanas, abertas por todos lados aos olhos da indiscrição ou ciúmes, estavam melhor salvaguardadas da fidelidade conjugal que as paredes, ferrolhos e os eunucos dum harém persa. A esta razão pode acrescentar-se outra duma natureza mais honorável. Os germanos tratam as suas mulheres com consideração e confidência, consultam-nas em cada ocasião de importância, e crêem ternamente que nos seus seios reside uma santidade e sabedoria mais que humana97.

            No reinado de Sapor II, contemporâneo parcial do de Constantino, situa-se a história lendária de Hormisdas, persa de sangue real, que se refugiou com Constantino, depois de ter-se enfadado com os assistentes a uma festa do aniversário real não se levantaram para saudá-lo quando ele retornou duma caçada com grande quantidade de peças. Perante este desplante ele ameaçou-nos com o suplício de Marsias, ao que responderam elevando ao trono, ao morrer o rei, ao seu irmão e encarcerando-o a ele. A sua esposa urde uma estratagema para libertá-lo. “Algum tempo depois a sua mulher encontrou o meio de salvá-lo. Pôs uma lima no ventre dum grande peixe, e enviou-lho por um eunuco duma fidelidade contrastada, ordenando-lhe que não abrisse o peixe em presença de ninguém, e que se servisse do que encontraria no ventre. Ela enviou ao mesmo tempo aos soldados que guardavam ao seu marido camelos carregados de vinho e doutras provisões. Entretanto estes soldados comiam o manjar saboroso, Hormisdas abriu o peixe, colheu a lima que estava dentro, limou os ferros que tinha nos pés, passou com o hábito de eunuco a través dos guardas que estavam completamente borrachos. Tomando um dos eunucos com ele, fugiu junto ao rei de Armênia, que era o seu amigo particular. Por estes meios chegou salvo junto a Constantino que lhe mostrou toda a sua amabilidade e respeito98.

              Num momento de enfrentamento entre o exército de Constâncio II e o persa Sapor II, o membro das tropas de cavalaria Antonino, deserta  e une-se a este, favorecendo o início da guerra com os romanos, que daria lugar à batalha de Amida, que provocaria a demissão do mestre de cavalaria Ursicino. “As cousas estavam assim em Mesopotâmia, quando a turva do palácio, sempre cantando no mesmo tom contra o bravo Ursicino, encontrou por fim a maneira de prejudicá-lo. Ela foi inspirada uma vez mais nisto e secundada pola banda dos eunucos, espécie que nada domestica nem adoça, e que, privada de todo afeto humano, se entrega às riquezas, e abraça-as com a ternura apaixonada que um pai teria pola sua filha99.  No ano 358, o rei do império persa sassânida, Sapor II, preparou-se para atacar os romanos, reforçado por países dos que se assegurara o concurso, com a finalidade de incrementar o seu domínio, semeando o temor nas hostes imperiais de Constâncio II, que tinha ao mando do exército o general Ursicino, que se converteu para ele no dispositivo que arreda o mal conhecido como Gorgoneion, amuleto que induzia ao horror ao mostrar a cabeça do monstro feminino e deidade protetora, Gorgona. “E quando o imperador se inteirou disto, ao princípio por rumores, e depois por notícias certas, e enquanto todos estavam tremendo de medo polos perigos que se acercavam, as intrigas dos cortesãos repetiam-se dia e noite, como se diz, guiados polo arbítrio dos eunucos, e para o suspicaz e tímido imperador, Ursicino convertera-se na cabeça de medusa100, mas com pouco êxito pois os romanos não foram capazes de resistir ante o empurrão dos persas. Depois da tomada de Amida por parte dos sassânidas, Ursicino retomou o seu serviço ao lado do imperador, como chefe de infantaria, mas os seus inimigos não o deixavam em paz e urdem contra ele calúnia tras calúnia, que o imperador assumiu e que o obrigam a demitir. 

            Depois da morte de Juliano, e do seu sucessor como imperador Joviano (363-364), o velho Sapor II (309-379), rei de Pérsia, que derrotara a Juliano, rompe o tratado de paz que assinara com este, e intenta aproveitar a ocasião para estender os seus domínios disputando-lhe aos romanos a possessão de Armênia e do reino de Ibéria, situado ao norte de Pérsia. Obrigou a suicidar-se a Arsaces II, aliado dos romanos, destronou a Sauromaces, a quem os romanos lhe concederam a diarquia de Ibéria, e, “realizadas estas operações por um desígnio nefando, conferiu-lhe a autoridade sobre Armênia a dous trânsfugas, o eunuco Cilaces e Arrabano (um dizia-se que tinha sido prefeito ali e o outro chefe das forças armadas), e ordenou-lhes que com íntimo cuidado destruíssem Artoxerasa, vila muito forte, dotada duma boa guarnição, onde estava encerrado o tesouro de Arsaces com a sua viúva e o seu filho. Os generais começaram o cerco, como se ordenou. Mas como a posição elevada da fortificação numa aspereza montuosa, com neves e escarcha no céu nesse momento, não permitiam que fosse abordada, o eunuco Cilaces, apto para o trato mulheril, ao que se agregou  Artabano, recebida garantia de que não se atentaria contra a sua saúde, veu junto às muralhas, e admitido junto com o seu sócio no interior como pediu, persuadia dum modo ameaçante os defensores e a rainha, de aplacar o caráter muito cruel de Sapor, com uma rendição rápida101.

            Na descrição que faz Amiano Marcelino das dez e oito províncias de Pérsia, as suas cidades e os seus habitantes, cita que na região de Assíria “Existe um poço do que escapa um mefitismo mortal para todo aquele que se aproxima. A infecção concentra-se felizmente no rádio do precipício que o exala. Pois em caso contrário todos os lugares circunvizinhos deviriam inabitáveis. Via-se um semelhante, dizia-se, noutros tempos perto de Hierápolis, em Frígia. Todo aquele que se acercava, a exceção dos eunucos, encontrava ali a morte, fenômeno do que deixo aos físicos a explicação102. No livro 31 da História de Roma, descreve os costumes dos hunos, e outras tribos da Escítia asiática. A respeito dos primeiros, afirma que os hunos desde o nascimento dos meninos varões, “sulcam-lhe a face com um ferro, para que o vigor emergente no momento oportuno seja cegado polas enrugadas cicatrizes. Envelhecem imberbes, sem nenhuma beleza, semelhantes aos eunucos103.






1.  Donatus ad Terent. Eun. 1,2, 87, em Fragmenta Historicorum Griecorum,:Ambrosio Firmin Didot, Paris, 1842, 169, p. 68.
2.  PLATÃO, Alcibíades I, 121 d-e.
3.  HERODOTO 1.91; JENOFONTE, Ciropedia, 1iv I, cap. .2.1. Cf. Ctésias, F. 9 § 1.
4.  The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, p. 83.
5.  CTÉSIAS, F8d) Nic. Damas. (Exc. de Insid. p.23.23 de Boor = FGrH 90 F66) [L], in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 22. p. 86.
6.  CTÉSIAS, F8d) Nic. Damas. (Exc. de Insid. p.23.23 de Boor = FGrH 90 F66) [L], in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 25. p. 86.
7.  F9) Phot. Bibl. 72 p. 36a 9 – 37a 25:  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 6. p. 90. Cf. ● 9a) Tzetz. Chil.I.82-100. Ibid., p. 90.
8.  Ciropédia,  Liv. V, cap. 2, 28.
9.  Ciropédia,  Liv. V, cap. 3, 8.
10.  Ciropédia,  Liv. V, cap. 3, 11.
11.  Ciropédia,  Liv. V, cap. 3, 15-16.
12.  Ciropédia,  Liv. V, cap. 3, 18-19.
13.  Ciropédia,  Liv. V, cap. 3, 21.
14.  Ciropédia,  Liv. V, cap. 4, 30-31.
15.  Ciropédia,  Liv. VII, cap. 5, 60.
16.  Ciropédia,  Liv. VII, cap. 5, 61.
17.  Ciropédia,  Liv. VII, cap. 5, 62.
18.  Ciropédia,  Liv. VII, cap. 5, 64-65.
19.  Ciropédia,  Liv. VI , cap. 1 33-34.
20.  Ciropédia,  Liv. VII, cap. 3, 5.
21.  Ciropédia,  Liv. VII, cap. 3, 14.15.
22.  Ciropédia,  Liv. VII, cap. 3, 16.
23.  CTESIAS,  F13) Phot. Bibl. 72 p. 37a 26 – 40a 5: (9) :  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 9. p. 90.
24.  CTESIAS,  F13) Phot. Bibl. 72 p. 37a 26 – 40a 5: (9) :  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 10. p. 91.
25.  HERÓDOTO, História, Liv. III, 4.
26.  PLATÃO, As leis, Liv. III, 695b-c.
27.  CTESIAS,  F13) Phot. Bibl. 72 p. 37a 26 – 40a 5: (9) :  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 13. p. 92.
28.  CTESIAS, F13) Phot. Bibl. 72 p. 37a 26 – 40a 5: (9) :  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 13. p. 92.
29.  HERÓDOTO, História, Liv. III, 77.
30.  HERÓDOTO, História, Liv. III, 92. Cf. GROOTE, GEORGE, History of Greece, Boston, 1852, Vol.. 4, p. 233.
31.  HERÓDOTO, História, Liv. III, 97.
32.  HERÓDOTO, História, Liv. VI,  9.
33.  HERÓDOTO, História, Liv. VI,  32. Cf. GROOTE, GEORGE, History of Greece, Boston, 1852, Vol.. 4, p. 308.
34.  HERÓDOTO, História, Liv. III, 130.
35.  CTESIAS, F13) Phot. Bibl. 72 p. 37a 26 – 40a 5: (9) :  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 23. p. 93.
36.  CTESIAS, F13) Phot. Bibl. 72 p. 37a 26 – 40a 5: (9) :  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 24. p. 93.
37.  HERÓDOTO, Histórias, Liv. VII, 187
38.  HERÓDOTO, Histórias, Liv. VIII, 103.
39.  CTESIAS, F13) Phot. Bibl. 72 p. 37a 26 – 40a 5: (9) :  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 31. p. 94.
40.  CTESIAS, F13) Phot. Bibl. 72 p. 37a 26 – 40a 5: (9) :  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 33. pp. 93-94.
41.  DIODORO SÍCULO, Biblioteca histórica, XI.69.2.
42.  Política, liv. 5.8 12. 1311 b.
43.  CTESIAS, Persica, Liv. XII, 31.
44.  HERÓDOTO, Histórias, Liv. VIII, 106
45.  Est. 12,1
46.  Est. 6,14.
47.  Est. 1,10, 12, 15.
48.  Antigüidades Judaicas, liv. 11, 6.5.
49.  FLÁVIO JOSEFO, TITO, Antigüidades Xudaicas, ,liv. XI, cap. VI, 1
50.  Est. 2,3.
51.  Est. 2,14
52.  FLÁVIO JOSEFO, TITO, Antigüidades Judaicas, ,liv. XI, cap. VI, 2.
53.   Est. 2:22; 6,2. Cf. Est. 12,1-6.
54.  FLÁVIO JOSEFO, TITO, Antigüidades Judaicas, liv. XI, cap. VI, 4.
55.  FLÁVIO JOSEFO, TITO, Antigüidades Judaicas, liv. XI, cap. VI, 6.  Cf. SULPÍCIO SEVERO, Chronicorum,, liv. 2.13.
56.  FLÁVIO JOSEFO, TITO, Antigüidades Judaicas, liv. XI, cap. VI, 7.
57.  FLÁVIO JOSEFO, TITO, Antigüidades Judaicas, liv. XI, cap. VI, 7. Est. 4,1.
58.  FLÁVIO JOSEFO, TITO, Antigüidades Judaicas, liv. XI, cap. VI, 7.
59.  FLÁVIO JOSEFO, TITO, Antigüidades Judaicas, liv. XI, cap. VI, 7.
60.  FLÁVIO JOSEFO, TITO, Antigüidades Judaicas, Liv. XI, cap.VI, 11. Cf. Est. 7,9.
61.  HERÓDOTO, Histórias, Liv. IV, 43.                                                 
62.  CTÉSIAS, F14) Phot. Bibl. 72 p. 40a 5 – 41b 37, in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 42. p. 97.
63.  CTÉSIAS, F14) Phot. Bibl. 72 p. 40a 5 – 41b 37, in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 43. p. 97.
64.  CTESIAS, Persica, Liv. XII, 33.
65.  Nee, 1, 11. V¡Cf. Nee. 2,1.
66.  Nee, 5, 19; 13, 14.22.31.
67.  CTESIAS, Persica, Liv. XII, 42.
68.  CTÉSIAS, F15) Phot. Bibl. 72 p. 41b 38 – 43b 2:  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 48. p. 98.
69.  CTESIAS, Persica, Liv. XII, 50.
70.  CTÉSIAS, F15) Phot. Bibl. 72 p. 41b 38 – 43b 2:  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 50. p. 98.
71.  Donatus ad Terent. Eun. 1,2, 87, em Fragmenta Historicorum Griecorum,:Ambrosio Firmin Didot, Paris, 1842, 163, p. 68.
72.  TREVIER JONES, ALONZO. The Great empire of Prophecy, Battle Crek, Michigan, 1898, p. 132.
73.  CTÉSIAS, F15) Phot. Bibl. 72 p. 41b 38 – 43b 2:  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 52. p. 98. .
74.  Catecismo de historia de los impérios antiguos, Londres, 1925, p. 138.
75.  CTÉSIAS, F15) Phot. Bibl. 72 p. 41b 38 – 43b 2:  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 54. p. 99. .
76.  CTÉSIAS, F20) Plut. Artox. 11:  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 2. p. 102.
77.  CTÉSIAS, F20) Plut. Artox. 11:  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 7. p. 102.
78.  PLUTARCO, Vida de Artaxerxes, Cap. 11. CTÉSIAS, F20) Plut. Artox. 11:  in The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 10. p. 102.
79.  CTÉSIAS, F20) Plut. Artox. 11, in  The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 12, 1-2,. p. 102.
80.  CTÉSIAS, F20) Plut. Artox. 11, in  The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 12, 4-6,. p. 103.
81.  ELIANO, CLÁUDIO, Histórias diversas, liv. 12.1.
82.  PLUTARCO, Vida de Artaxerxes, Cap. 15. Cf. CTÉSIAS, ● F26) Plut. Artox. 14,  in  The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 15, 1-7 e 16, 1-7, p. 105.
83.  PLUTARCO, Artaxerxes, 16.
84.  CTESIAS, F 26, Plut. Artox. 14, 16,3-7, p. 104.
85.  PLUTARCO, Vida de Artaxerxes, Cap. 17.  Cf. CTÉSIAS, ● F26) Plut. Artox. 14,  in  The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, 17, 1-8,  pp. 105-106.
86.  CTESIAS, Lib  XXI-XXII, F27) Phot. Bibl. 72 p. 44a 20 – b,  in  The complete fragments of ctesias of cnidus: translatiom and commentary with am introductiom por ANDREW NICHOLS, University of Florida, cap. 2, cap. 2, 19, 70-71, pp. 106-107.
87.  ELIANO, CLÁUDIO, Histórias diversas, liv. 2.17.
88.  TREVIER JONES, ALONZO. The Great empire of Prophecy, Battle Crek, Michigan, 1898, p. 139.43. Cf. SULPÍCIO SEVERO, Chronicorum, 2.14 2.16.
89.  ELIANO, CLÁUDIO, Histoires diverses, liv. 6.8.
90.  DIODORO SÍCUJLO, Biblioteca histórica, 17.5.3-6.
91.  DIÃO CRISOSTOMO, Discursos, 21.2-5. 6-7.
92.  AMAT, FELIX, Tratado de la Iglesia de Jesucristo, Madrid, 1798, p. 341.
93.  SOZOMENO, História eclesiástica, liv. II, Cap. IX.
94.  SOZOMENO, História eclesiástica, liv. II, Cap. IX.
95.  SOZOMENO, História eclesiástica, liv. II, Cap. XI.
96.  GIBBÃO, History of the declin and fall of the roman empiera, vol. 1, cap. 8.
97.  GIBBÃO, History of the declin and fall of the roman empiera, vol. 1, cap. 9
98.  ZOSIMO, História nova, 2.27.3-4.
99.  AMIANO MARCELINO, Historia de Roma, liv. 18.4.4.
100.  AMIANO MARCELINO, História de Roma, liv. 18.4.2.
101.  AMIANO MARCELINO, História de Roma, liv. 27.12.5-6. 
102.  AMIANO MARCELINO, Historia romana, Liv. 23.16.16.
103.  AMIANO MARCELINO, Historia romana, Liv. 31.2.2.

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