O
bispo de Alcalá de Henares quer quadrar o círculo no tema da sexualidade e
pede-lhe às moças que «se vistam à moda, mas não provocativas» para «salvar-se
do inferno». Com este conselho manifesta uma vez mais a misossexualidade, o
desprezo do sexo, dos clérigos cristãos, sempre onipresente ao longo da
história. Ele quer que as moças vistam à moda, mas a moda é criada polas moças
ou polas grandes modistas e modistos com os seus desenhos de temporada? Acaso
João Antonio Reig Pla viu as moças desenhando e cosendo os seus modelitos ou
reduzem-se a comprar os modelitos que lhe vêm impostos por outros?
O cristianismo teve problemas com o sexo desde os seus
inícios. Jesus dizia: “Eu, porém, vos
digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração
cometeu adultério com ela”. Isto singelamente vai contra as tendências
inerentes à própria natureza humana que se sente atraída pola beleza e por todo
aquilo que satisfaz as pulsões humanas fundamentais, como são a fame, a sede e o
sexo. Acaso quem deseja uns apetitosos mariscos das nossas rias, comete pecado?
Cometerá pecado, ou seja, uma infração moral, se deseja saciar a sua pulsão
roubando-o ou praticando o intrusismo, mas nunca desejando-o. Igualmente,
podemos dizer que desejar praticar sexo com uma mulher provocativa é algo
natural e isso nunca pode estar mal. O que está mal é forçá-la, drogá-la ou
enganá-la para conseguir os seus objetivos, faltar à fidelidade com outra
pessoa, etc. O que está mal é o que faz a igreja obrigando à mulher a prestar o
dévito conjugal sempre que o pida o varão e vice-versa, e que converte a um
membro da parelha em escravo sexual do outro, pretextando que o corpo da mulher
pertence ao marido e vice-versa.
Jesus também recomendou
a castração polo reino dos céus, que levou a que muitos se castrassem
fisicamente, como o próprio Orígenes, o grupo dos valesianos, que castravam a
todo aquele que caia nas suas mãos, e muitos bispos e patriarcas, além dos
meninos da capela Sixtina. Isto conduziu a que a igreja decretasse que a
virgindade, ligada a uma suposta pureza angelical e a uma entrega total a Deus,
é um estado mais perfeito e superior ao matrimônio, associado com a impureza e
a sujidade, elevando-se deste jeito eles mesmos na escala social e denigrando
aos que praticam sexo, sem fundamento absolutamente nenhum. Esta impureza e
sujidade do sexo é a que induziu o judaísmo e o cristianismo a estabelecer a
festa da purificação, dia no que as mulheres vão à igreja para purificar-se da
impureza associada à prática do sexo, ao parto e à prenhez.
O cristianismo manteve
uma luta sem quartel em prol da imposição coativa do celibato, que foi, sem
dúvida alguma o tema mais recorrente tratados nos concílios eclesiais a partir
do século IV, o qual indica que, se em tantos concílios se tem que impor tão
reiteradamente, é porque a imposição anterior foi um fracasso. O celibato é
também um tema onipresente nas reflexões morais dos teólogos cristãos, tendo
como adais, seguindo ao misógino e misossexual Paulo de Tarso, aos grandes teólogos
repressores das tendências sexuais deste século, Santo Jerônimo e Santo
Agostinho, mas todos eles seriam superados polo papa Gregório I o Grande, que,
alem de proibir o estudo da gramática, afirmou que o todo sexo, portanto também
no matrimônio, não pode dar-se sem pecado. Ou seja que uma tendência profundamente
inserida na natureza humana, que, segundo eles, foi criada por Deus, só pode
exercitar-se pecando. Já podemos adivinhar os remorsos de consciência e o
neuroticismo que isto provocaria em pessoas crentes e bem intencionadas que
desejam agradar à divindade e aos seus gerentes na terra.
Os clérigos costumam ameaçar
com o inferno as pessoas que dissentem dos seus posicionamentos, como se eles
tivessem a chave do seu futuro, mas isto não é mais que uma treta para atemorizar
e conseguir pessoas obedientes e submissas aos seus desígnios, além de ser um meio
que lhes reporta pingues benefícios econômicos na modalidade de inferno
temporal que é o purgatório. Já Castelao pedia sarcasticamente que lhe
deixassem usufrutuar o purgatório.
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