Os adversários da normalização das línguas
minoradas periféricas costumam aduzir como justificação do estado destas
línguas que a sua situação de declínio obedece a um processo de evolução
natural em que é abandonada pelos próprios utentes da língua para passar a
línguas mais vigorosas e perfeitas. Este processo de decaimento seria
inevitável e converte em vãos e inúteis todos os esforços que se façam para evitá-lo.
Deste modo acalmam a sua responsabilidade e justificam as medidas que se põem
em prática para continuar erosando estas línguas e impedindo que agomem e se
recuperem.
Eu não vou falar de todas as medidas que se
podem pôr ou de facto se adotam para perverter a situação do galego. Somente
vou falar de dous casos que me aconteceram na minha experiência quotidiana, que
considero como sintomáticos do que está a acontecer com a nossa língua.
O primeiro caso tem como representante á
empresa concessionária do serviço de áuga em várias localidades galegas e
espanholas, entre elas Santiago. Trata-se de Viaqua. O martes desta semana telefonei
ao número 900 201 230 para transmitir-lhe a leitura do contador de áuga, e fui
introduzindo os dados tal como me pedia a máquina, que como é boba, só entende
e fala o espanhol. Diz-me que a leitura não pôde ser registrada e que me passa co um agente, e ao constatar
que se me falava sempre em espanhol, manifestei-lhe que deviam ter pessoal
preparado para atender em galego por tratar-se duma empresa radicada também na
nossa terra da que extrai parte dos seus benefícios. Retrucou-me que si têm
pessoal que fala em galego e que se queria me passava com ele. Respondi-lhe que
si queria sempre que, como já me passou com esta empresa em vezes anteriores,
não tivesse uma demora importante na resposta. Disse-me que não me preocupasse
que era rápido, e passou-me, mais a demora em colher-me o telefone foi
demasiado longa para a minha paciência e, já cansado de ouvir: “em breves
momentos Le atenderemos”, colguei o telefone.
Creio que deveriam, como mínimo, oferecer-nos a
opção de eleger a língua em que também a máquina se dirigisse a nós, e ter suficiente
pessoal preparado para atender na nossa língua sem ser penalizado com demoras
na atenção por falar em galego. Evidentemente, um cidadão galego optará por
falar em espanhol para solucionar o problema antes de suportar essa delonga. Já
faz uns meses lhe chamei á oficina do BNG do Concelho de Santiago para
advertir-lhe o que estava a passar, e disseram-me que lhe enviasse os dados
para poder intervir. Como ando metido em mais cousas das que podo fui
deixando-o, e aproveito agora para que os diversos grupos políticos conheçam a
situação e podam tomar as medidas que considerem oportunas.
O seguinte caso refere-se á empresa elétrica
EDP, Energia de Portugal, da que sou cliente desde que faz uns anos me cansei
dos abusos de Gas Natural Fenosa. Qualquer que telefone a esta empresa pode
observar que lhe dão a opção de falar em espanhol, basco, catalão e inglês, mas
não oferecem a opção de ser atendido em galego. Reclamei já várias vezes por
considerar que esta política constitui um agravo comparativo importante para
qualquer cidadão galego, mas limitam-se a tomar nota, e assim desde faz tempo. O
País Basco tem perto de meio milhão menos de habitantes que a Galiza, mas tem
uma melhor consideração para esta empresa que o nosso país. Pode ser devido a que o País Basco tenha mais
clientes que a Galiza, mas é impossível que tenham mais clientes ingleses que
galegos.
Como vemos, a patranha do maior vigor do
espanhol reduz-se ao apoio e as políticas obstrutivas do conglomerado
oligárquico econômico-financeiro que, com esta política pode incrementar os
seus benefícios porque aforra em pessoal preparado para falar e responder
noutras línguas que o espanhol. Como dizia Castelao, o citado conglomerado
levam a pátria na sola dos zapatos, ou melhor, “levam a pátria na carteira, e
isso não se aplica só ao galego senão, com a globalização, também ao mesmo
espanhol, como se vê agora com o mimetismo que se produz no caso do inglês.
Como o conglomerado econômico-financeiro está
ligado também á classe social, neste caso de direitas, isso explica por que os
partidos liberal-conservadores sejam menos respeitosos com as línguas que os da
esquerda. No caso galego, a pouca identificação do próprio governo galego com a
sua língua diminuiu a auto-estima dos cidadãos para com o próprio idioma, e, de
acordo com um axioma que se cumpre inexoravelmente, quando um se despreza a si
mesmo tampouco vai ser respeitado pelos demais.
O problema não é só de língua senão que também
é de inter-comunicação, de tal modo que se pode observar como na época da
comunicação a gente pode comunicar-se pessoalmente muito menos com as empresas
e com os organismos públicos. Hoje vemo-nos obrigados a comunicar-nos a través
de máquinas ou com interlocutores cada vez menos facultados para resolver
problemas, salvo os rotineiros, de modo que muitas vezes um cidadão não tem
mais alternativa que apresentar reclamações ante os organismos competentes. Sirva
como exponente do que dizemos o facto de que não fui capaz de lograr que uma
empresa elétrica me faturasse corretamente o consumo de gás do período 20/12/2015
a 12/02/2016, apesar de reconhecer todos os empregados tanto presencialmente
como por telefone que tinha razão. Como a diferença não era mais que dum euro e
pico aproximadamente, não considerei oportuno apresentar reclamação ante o
Instituto Galego de Consumo. Esta factura não somente véu mal para mim senão
para todos os espanhóis aos que se lhe faturou por este período, mas não vou
entrar em explicações porque seria prolixo.
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