Um ano da
letras passa
Outro novo passa
e
Todos para lá
vão
E Carvalho
votos não tem
Para que a
RAG da Galiza
O festeje
como convém
A RAG decidiu dedicar o Dia das Letras Galegas
2017 ao escritor ourensão Carlos Casares Mourinho (1941-2002), uma pessoa para
mim cordial, em todos as ocasiões em que tratei com ele. Enviou-me uma
colaboração para um librinho que publiquei em 1980 titulado Galiza, um povo, uma língua. Também
aceitou um convite meu para lecionar uma conferência no Instituto Pontepedrinha
de Santiago de compostela. No transcurso da mesma, eu defendi que o
reintegracionismo facilitaria grandemente a projeção dos nossos criadores na
grande comunidade de países lusófonos, e muito especialmente os literatos. Ele
retrucou que não creia que isso tivesse um efeito significativo na difusão da
nossa cultura. Eu considerei que não era pertinente ensilvar-nos em nenhuma
discusão e deixei que aparecessem ante os estudantes como dous posicionamentos
dispares quee não têm que coincidir. Ao cabo de seis meses estava defendendo um
posicionamento próximo ao meu, que nunca atribui a nenhuma conversão como
resultado da nossa charla, mas si quiçá como um elemento mais que lhe ajudou a
matiçar a sua primeira posição. Pela minha parte, não acho nenhum reparo em que
se lhe dedique o próximo ano o magno dia das letras á sua honra.
Carvalho Calero era uma figura para mim grande
e entranhável a um tempo. Também participou com uma colaboração no livro acima
citado, com uma pontualidade e um rigor invejáveis. Acudiu também a lecionar
alguma conferência programada pelo nosso Seminário de Filosofia no Instituto de
Melide, a proposta minha, lá pelos anos 1982-1984. Pude charlar em privado
detidamente com ele após a conferência e
isso permitiu-me comprovar a sua amplissima erudição, o seu rigor expositivo e
a amenidade da sua exposição. Não tratamos do tema do reintegracionismo, do
qual ele era o seu máximo representante na Galiza, e, neste tema, eu considerava-me como o seu discípulo. Ele foi
o principal artífice da primeira normativa do galego, de tendência eclética e integradora,
que facilitava a via a uma de tendência mais declaradamente reintegracionista.
Mas uma vez mais, os setores mais declaradamente hostis á nossa língua decidiram
impor a sua solução: a via «isolacionista» ou seja, a mais próxima ao espanhol, que Filgueira Valverde justificava em
base a que isso permitiria-lhe aos meninos galegos aprender o galego a partir
do espanhol. Tratei com Carvalho alguns pontos conflictivos da normativa que os
isolacionistas queriam impor num texto de filosofia para COU, editado pela
Xunta da Galiza no que participamos vários autores; lembro-me em concreto o
relativo á palavra fogo, como um dos quatro elementos que compõem a realidade,
que os corretores oficiais queriam desterrar para substitui-la por lume.
Carvalho opinava que o termo fogo era autenticamente galego e que tem usos que
não estão cobertos por lume, como quando dizemos armas de fogo e não armas de
lume.
A essa altura já estava mui estendida a idéia
de que Carvalho era objeto duma manifesta animalversão por parte do setor
isolacionista dominante na Real Academia Galega, em especial por parte do diretor
do ILGA, o asturiano Constantino González, que tinha poder sobrado na Academia
para impor o seu critério. Inclusive correu a notícia de que Constantino lhe
fizera uma proposta a Carvalho Calero de fazer-lhe uma grande homenagem a
câmbio de renunciar ao reintegracionismo, que Carvalho não aceitara. Desconheço
o grão de veracidade desta informação, que somente podo oferecer como um relato
que estava no ambiente, mas o que si é certo é que traduzia uma certa
hostilidade cara a RAG por uma praxe que não se corresponde com a enorme valia
desta personagem, que constitui um orgulho para a nossa nação.
Quando presidia a RAG Domingos Garcia Sabell
exercia nela um férreo controle que impedia que acedesse a numerário nenhum
aspirante que se sinalasse pela sua ideologia marxista e esquerdista, que si
tiveram via livre a partir da presidência de Francisco Fernández del Riego. Mas
os autores de tendência reintegracionista continuaram a estar proscritos nesta
instituição, e de ai que somente se manifestassem pronunciamentos favoráveis a
esta tendência por parte de acadêmicos que experimentaram uma certa evolução
nos seus posicionamentos, porque a entrada de pessoas reintegracionistas sempre
se considerou um tema tabú e continua e continuará sendo-o por muitos tempo.
Considera-se que estas pessoas não são autenticamente galegas e de ai que devam
purgar a sua culpa mediante o ostracismo institucional. Ojalá que a minha
profecia não se cumpra e que a situação se normalice e se evolua cara ao que
foi o decurso normal em liberdade da nossa língua na Galiza do Sul.
Parece que a RAG não tem mui bem delineado o
critério de acesso á instituição por parte dos candidatos a ser festejados o
Dia das Letras Galegas. Por vezes pareceria que se guia por um puro critério
têcnico, como sucedeu com Filgueira Valverde, e outras opta por modelos sociais
mais integradores, únicos que podem alcançar uma certa popularidade. Mas,
segundo o meu critério creio que Carvalho Calero não mrece o trato que está a
receber por parte da RAG por ser uma pessoalidade das mais sobresalentes no
panorama cultural galego que pode e deveria servir como referente para as
gerações futuras.
19/07/2016
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