Ontem pudemos
presenciar o primeiro debate entre os chefes de fila dos dous partidos
emergentes, Ciudadanos e Podemos, promovido por uma cadeia estatal de televisão
e como primeiro passo para publicitar a dicotomia esquerda-direta e nível
estatal para modelar o voto cidadão por uma ou outra destas alternativas, em
detrimento das opções nacionalistas periféricas. Foi um debate pouco dirigista
e no qual os interlocutores podiam interromper-se mutuamente, o qual tem a
vantagem do seu frescor e flexibilidade mas também o inconveniente de que o que
mais interrompa ganha porque molesta mais a emissão da mensagem do
interlocutor, e também de que muitos temas ficaram sem tocar.
Se tivesse que
emitir um veredicto em termos de marketing, diria que Rivera foi um vendedor
mais hábil dum produto trucado, o qual também indica que tem maior facilidade
para vender gato político por lebre a compradores inexpertos, ao tempo que
Iglesias parece que preparou menos a sua intervenção, acudiu muito a mensagens
sorvadas e foi um vendedor dum produto de melhor qualidade, mas com defeitos
importantes de terminação, de posta em funcionamento e de marketing.
Pretenderei provar estas conclusões.
Rivera é o vendedor
do conceito da Espanha tradicional no pior sentido da palavra, uma,
intransigente, que submete os povos e cidadãos por meio da lei “madrilenha” e
deficientemente democrática. Tanto o seu partido como UPyD caracterizam-se por
ressuscitar o centralismo mais absorvente; um centralismo que agora se
apresenta como federalismo cooperativo, como se um câmbio de nome mudasse de
por si a realidade. Por muito que digamos que as dezassete autonomias se chamam
estados federados, isso não muda a situação, porque no fundo empiora ainda o do
café igual para todos, como se põe de manifesto com a sua declarada intenção de
eliminar a quota vasca, e o seu alinhamento constante com as medidas
centralistas e repressivas do PP em contra dos nacionalistas. O pretexto
aduzido é o de sempre, o cumprimento da lei, como se a lei não tivesse uma
paternidade destinada para afogar o que não interessa, como a recente do
Tribunal Constitucional para castigar a Mas; como se não fosse um corpete
sacro-santo para coartar as aspirações populares e não a converteram num
fetiche ao que todos devamos adorar, em vez de ser um instrumento ao serviço do
ser humano e dos povos em que se insere. Esta Espanha tradicional não é capaz
de entender que os indivíduos em si são uma abstração e somente são seres autênticos
como membros dos povos e que estes têm direito á vida e a liberdade, ao igual
que os indivíduos. Como dizia Castelao, não pode haver indivíduos livres em
povos que careçam de liberdade. A posta em prática desta política, que
normalmente rende mui bons resultados no resto do Estado, não poderá mais que
produzir tensões, principalmente, com as denominadas nacionalidades históricas:
Catalunya, Euskadi e Galiza. Pretendem que afirmando que há que seduzir os
povos de Espanha para que aceitem um sistema de dominação que nega a sua
personalidade própria, já convencerão aos destinatários, mas este pretendido
encantamento não deixa de ser mais que uma nova fraude, que dificilmente vai
ser aceitada. Que indivíduo aceitaria ver anulada a sua liberdade pessoal como
fruto dum encantamento e dum adubo? Uma democracia que não reconheça os
direitos dos povos, entre eles o de autodeterminação, não pode ser mais que uma
democracia imperfeita.
A Espanha de Rivera
é a Espanha do capital, que, nalguns sentidos, inclusive empiora as políticas
do PP. Necessitamos cambiar a uma política que esteja prioritariamente ao
serviço da gente e não só das oligarquias e dos seus oligopólios. Dá mágoa
contemplar o espetáculo atual e constatar que os nossos moços e moças não podem
planificar o seu futuro, formar uma família, ter meios para contribuir criar a
progênie, a perpectiva duma pensão suficiente, ... por carecer de estabilidade laboral, por ter
salários insuficientes, por ter soldos mui baixos, e isto não se soluciona com
medidas como a do contrato único para converter todos os trabalhadores em
indefinidos com indenizações de 12 dias o primeiro ano e 13, o segundo, ...
porque isso equivale a converter todos os contratos em precários. Nalguma
justificação desta medida Rivera tem aduzido, em intervenções anteriores ante
os meios, que os empresários com esta medida não teriam medo a contratar,
apresentando aos empresários como uns acolhoadinhos que sentem vertigem de
pagar trinta e três dias por ano trabalhado quando em tempos da ditadura a
indenização estava num mínimo de seis meses. Empiora também as políticas do PP
querer rebaixar ainda mais o tipo máximo do IRPF do 43 ao 42 por cento, quando
antes da reforma do PP estava no cinqüenta e dous por cento, dez pontos nada
menos por acima, que pretendem vender afirmando que vão obrigar os possuidores
das SICAV a que paguem mais a Fazenda. Os que mais ganham têm menos problemas
em contribuir com o 52 por cento que um trabalhador que ganha mil euros ao mês
com o dez, quinze por cento ou vinte por cento, porque praticamente todo o que
ganha tem que investi-lo em gastos inescusáveis de mantimento, criança e abrigo
tanto próprio como da prole. Corrobora isto também a negativa deste político a
subir o salário mínimo, quando é um dos mais baixos da Europa, e a decisão de
completar com fundos públicos os salários que não cheguem a um tope, obrigando
ao sofrido contribuinte, já atossicado de impostos, a complementar os soldos
que pagam os empresários, abrindo a via de rebaixa dos salários ou do pagamento
de complementos em negro.
Esta medida somente se justificaria no caso de empresas de
escassíssimos trabalhadores e com uns ingressos mínimos dos seus titulares.
Nega-se a criar uma banca pública sem argumento nenhum convincente, somente
pretextando que se meteriam nela os políticos, quando a regulação que se faça
não tem porque ser essa senão que devem ser bons gestores que tenham que dar
conta dos seus resultados, garantindo desta arte ao setor financeiro que não
terá competência do setor público. Já, para terminar com este apartado, creio
que é indicativo que a política econômica deste partido seja a louvada polas
empresas do IBEX, e não vale dizer que há que falar com todos, o qual é certo,
senão de que outros expressam publicamente as suas preferências. Os louvores do
presidente do BBVA são bem significativas.
Pablo Iglesias
apresenta um programa em princípio mais democrático. Reconhece publicamente que
não se podem sobrecarregar, com medidas penalizadoras administrativas, as penas
jurídicas, impedindo-lhe aos presos acercar-se ao País Vasco e incrementando a
dor das famílias. Reconhece que o encarceramento de Otegui é um sem sentido;
manifesta a sua disposição a solucionar os temas políticos politicamente e não
somente por meio da ameaça e o submetimento a leis repressivas e
antidemocráticas; compreende melhor a pluralidade real existente no Estado
espanhol, e poderia contribuir exitosamente a solucionar as tensões
territoriais existentes.
No eido econômico,
subiria o salário mínimo, ainda que com dúvidas sobre a sua quantia; ao igual
que Ciudadanos, subiria as pensões de acordo como o IPC; subiria os salários e
incrementaria o gasto público para acercá-lo ao existente noutros países do
Norte de Europa; criaria uma banca pública, á que tanto Ciudadanos como o PP
têm urticária, com um funcionamento despolitizado e com critérios de solvência
econômica. O problema mais grave que lhe observei, á parte das inconcreções
nalguns pontos, é que ele mesmo reconhece que o acusam de que não sabem quadrar
as contas, e isto é sumamente grave. Não basta reconhecer publicamente
deficiências, há que solucioná-las. Não vale prometer o ouro e o mouro e que,
pro falta de rigor nas contas públicas se conduza novamente ao país á ruína,
repetindo o enorme fracasso do PP e do PSOE de Zapatero. A política não deve
ser a arte do encantamento senão a do rigor, disciplina e seriedade. Não se
podem criar leis semelhantes ás de dependência, mui conveniente sem dúvida, se
não se é capaz de dizer-nos se se podem pagar e de onde vão sair o dinheiro.
Creio que é uma aspiração legítima estabelecer uma renda básica para os que não
têm trabalho contem com uns ingressos
mínimos suficientes, e a isto terá que chegar-se porque não se pode deixar que
a gente careça dum mínimo vital, mas há que fazê-lo progressivamente e quando a
situação o vaia permitindo. Numa situação de dívida pública tão elevada como a
atual, creio que é inviável.
Eu que vivo num
povo com personalidade de seu, com os seus defeitos e as suas virtudes, tive e
tenho o convencimento firme de que se os integrantes de qualquer coletivo não
são capazes de defender os seus direitos como coletividade, ninguém o fará por
eles. O feminismo é bem eloqüente; quando na Revolução Francesa se arvorou o
princípio da egalité, dele ficaram excluído as mulheres, era somente uma
igualdade entre o homes, e ninguém faria nada se a francesa Flora Tristan não
defendesse a igualdade de gênero. Isto passa igualmente com os povos; um povo
que não se defende a si mesmo é um povo sem porvir, um povo decadente, um povo
morto.
Seguindo este
critério, eu não quero que o meu povo morra, quero que os meus filhos tenham
porvir na nossa terra, quero que sejamos um povo que se sinta orgulhoso de si
mesmo, um povo que se sinta também orgulhoso dos seus antepassados que aqui
viveram, aqui sofreram, aqui se sentiram enganados e decepcionados. Consoante
com isto, apoiarei sempre uma opção política que assuma os nossos direitos e a
nossa personalidade coletiva como princípio reitor da sua atuação. Sempre defendi
e defenderei uma alternativa que lute por recuperar a vitalidade agora
esmorecida da nossa personalidade coletiva, que defenda e propugne os direitos
dos povos: o direito de decisão ou autodeterminação, o direito ao cultivo dos
nossos sinais de identidade, o direito a controlar os nossos recursos; uma
alternativa que defenda uma economia centrada no país e não em servir ás
oligarquias forasteiras. Temos que ter uma economia adaptada á nossa realidade,
que nos permita produzir, que seja capaz de lutar contra as constrições que se
nos impuseram e as que nos querem impor com os novos tratados TTIP, CETA, TPP,
TISA, - quanto trabalham os setores oligárquicos para incrementar a drenagem
cara a si de recurso da cidadania!- que parecem destinados a fechar o estrangulamento
dos setores produtivos autóctones e das massas trabalhadoras, iniciado com
tanto êxito pola globalização da economia, responsável da deslocação das
empresas, o fortalecimento das multinacionais, a diminuição dos salários dos
trabalhadores europeus para fazer frente aos competidores de países menos
desenvolvidos e o declive do setor camponês. Com a globalização, quem ganho foi
a capitalismo transnacional e perderam os autônomos, pequenos empresários, os
agricultores e os trabalhadores em geral. Para mim, defender esta opção significa
defender Galiza, defender Sempre em Galiza.
Tenho a total segurança de que
uma alternativa galega genuína ajudará muito mais ao câmbio no Estado, e que
esse câmbio repercuta em interesse do nosso país, que o que podem fazer as
Mareas, que venderam a sua alma aos reitores forasteiros com objeto de lograr
resultados fáceis ainda que sejam efêmeros. Alguns dos dirigentes deste grupo,
que, por certo, conhecem bem as artes de marear, criaram-lhe o maior dano até o
momento ao nacionalismo galego, do que mesmo se envergonham, segundo me
reconheceram mesmo expressamente membros do PP. Quando este valor “galego” se
minimiza na prática, seguro que se incrementará na propaganda. Tempo ao tempo.
No hay comentarios:
Publicar un comentario