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Angela Merkel |
Diz um adágio latino que não
há efeito sem causa, e podemos completá-lo afirmando que toda causa tem um
efeito. Num contexto social, a causa é o ato dum agente e o efeito é a reação
do receptor. Todo agente deve calcular a ação e a eventual reação do
interlocutor de tal modo que procure incrementar os ganhos e diminuir as
perdas, efeitos que dependerão duma série de fatores como a percepção do evento
polo receptor, o dano recebido, a capacidade de reação, ... Os bons políticos
são aqueles que são capazes de analisar a realidade para lograr o melhor
resultado em conjunto numa situação dada. Quando se quer procurar a adesão
social democrática do interlocutor cumpre propor-lhe um projeto sugestivo de
vida em comum, que, segundo Ortega era o que constitui uma nação, na que ambas
partes saiam ganhando, pois em caso contrário, uma das partes pode intentar
romper as regras de jogo estabelecidas.
A nível do Estado espanhol a
ação de fustigação do PP, contra os sinais de identidade dos povos e contra os
seu direito de decisão, está a produzir uma convulsão no país. Atacou a língua
e cultura catalães, pretendendo espanholizá-los, invalidou os seus desejos de
estabelecer uma nova relação com o Estado espanhol, invalidando o aprovado
polas Cortes espanholas e o votado polos cidadãos de Catalunya, e pretender
fiar toda solução do problema catalão á repressão das leis promulgadas ao
efeito, e á decisão de tribunais de justiça «colaboradores», equiparando
torpemente estado de direito e democracia. O resultado está claro: a adesão
voluntária fracassou totalmente, e o problema catalão não tem fácil solução.
Em Europa sucede algo
parecido. A política praticada pola UE foi a de favorecer o predomínio do
capital oligárquico e a deterioração da vida dos seus cidadãos. Põe-se em
pratica um modelo europeu que deixou os países inermes ante a crise econômica,
que os cidadão não produziram mas que devem carregar com todo o seu peso.
Ninguém é capaz de explicar como num contexto mais rico que nunca, os cidadãos estão
passando-o pior que nunca. Adotam-se determinadas políticas mui nocivas para a
cidadania, mas pretende-se, por outra parte, que não reaja ante a perda de
direitos democráticos e sociais.
Numa intervenção ante o
Parlamento Europeu, Merkel e Holande alertam de que o nacionalismo e o
populismo ameaçam com destruir Europa. Quando li a notícia por primeira vez nos
titulares dum jornal num quiosque, pensei que se referiam aos nacionalismos
periféricos ou defensivos: vasco, catalão, galego, corso, bretão, escocês,
etc., se bem considerava um despropósito que se lhe desse tanto poder a um
político como Artur Mas, mas a minha surpresa, quando pude ler os artigos com
mais detimento, foi comprovar que se referia aos nacionalismos dominantes, aos
nacionalismos de estado, que foram os favorecidos por todas as políticas dos
membros da UE. Quando todos pensávamos que os Estados estavam em crise,
produziu-se, inexplicavelmente, a sua maior consolidação, debilitando na
prática o próprio projeto europeu, que, ao carecer de poder de sugestão para os
cidadãos aderem a novas formações políticas que lhe oferecem novas saídas. É
uma reação normal de pessoas agredidas socialmente.
Éu não podo por menos de
dar-lhe a razão neste pronunciamento a Merkel e a Hollande, ainda que dissinto
profundamente das premissas que o fundamentam. A União Européia não funciona
democraticamente polo peso que têm nela os nacionalismos de Estado, que os
líderes destes países fomentam, que são os que provocam a carência de autêntica
democracia e que são os que podem fazer colapsar o projeto. Tanto o desenho
como as políticas praticadas em Europa estão orientadas a fortalecer os
nacionalismos dominantes nos diversos países membros, em vez de fomentar uma
Europa dos povos e dos cidadãos numa autêntica comunidade democrática.
Os cidadãos europeus elegem os
membros do Parlamento Europeu, instituição carente dum poder real e que
somente tem atribuições em políticas de menor calado. Participa também
indiretamente, na eleição do Presidente da Comissão Européia, que
denominam governo da UE, mas não é um órgão decisório nas políticas importantes
européias senão um órgão mais bem de caráter administrativo, com um orçamento
raquítico, que gere o pouco que lhe deixam ou encomendam os prebostes
comunitários. A Instituição que tem o poder real na Europa é o Conselho
Europeu, formado polos Chefes de Estado e de Governo dos países aderidos.
Alguém pode pensar que dado que estes foram elegidos polos seus cidadãos, logo,
em resumidas contas, as medidas adotadas por eles foram legitimadas
mediatamente da cidadania; mas nada mais longe da realidade. Isto somente seria
assim se os cidadãos europeus participassem na eleição destes dirigentes
europeus como tales, mas somente participa na eleição dos dirigentes do próprio
estado, que devem depois obter o beneplácito de dirigentes doutros países em
cuja eleição eles não têm arte nem parte. As políticas dos estados membros da
UE estão subordinadas aos interesses dos nacionalismos dominantes nos países
mais fortes da UE, principalmente Alemanha. Um exemplo bem eloqüente é o que
passa no Estado espanhol. Um dirigente, como Mariano Rajoy, foi elegido pola
cidadania espanhola, á que lhe apresentou um programa, que dizia ser como um
contrato com ela. Mas, uma vez elegido, converteu-se no discípulo avantajado da
Chanceler e pôs em prática todas e cada uma das medidas que ela lhe indicou,
fazendo caso omisso dos seus compromissos com os cidadãos, atuação que
justificou dizendo que não estava cumprindo o seu programa mas si com o seu dever.
Quer dizer, que o cumprimento dum suposto dever pessoal, mui subjetivo por
certo, antepõe-se ao que em democracia é o autêntico dever, que é o ser fiel ao
mandado das urnas, e nunca um mandado de Deus nem da própria consciência, que a
ninguém lhe interessam nem que foram aduzidos por ele quando demandou o voto da
cidadania. Por outra parte, o bipartito PP-PSOE procedem á modificação da
Constituição por pressão do BCE, sem contar para nada com os outros partidos
nem com a cidadania. O país é patrimônio deles e podem fazer da sua capa um
saio, ad majorem gloriam do nacionalismo espanhol.
Antes da celebração das
eleições européias, o nacionalismo espanhol procurou a legitimação da sua
política com Catalunya demandando o pronunciamento, em contra da independência,
de grandes líderes mundiais, para
lecionar as hostes indígenas catalãs sobre a orientação do seu voto, ao tempo
que, segundo acusações, torpedeou o voto dos ausentes. Todo com o claro
propósito de reforçar o nacionalismo espanhol, que se nega em redondo a que os
povos sejam consultados sobre o seu futuro. O nacionalismo dominante é sagrado
e instaurado polas leis intangíveis da natureza e da história, que somente
loucos ou perversos se atrevem a pôr em questão.
A gestão da crise grega
demonstrou até a saciedade que se subordinara o pronunciamento democrático do
povo grego aos interesses das oligarquias, alegando que o cumprimento dos
compromissos não pode ver-se condicionado por decisões dos povos, chamando
compromissos ao que são imposições troikaianas, fracassadas na prática, e
negando-se a estabelecer um plano sério que permita que o país heleno poda
pagar solventemente a sua dívida, sem auto-imolar-se. Aproveitando-se da
debilidade do povo grego e da falta de políticas alternativas de Tsipras,
impõem-lhe a este país um resgate ainda mais duro que os anteriores. O pouco
compromisso como o projeto europeu pôs-se de manifesto quando se noticia que os
países mais intransigentes na negociação eram os que tinham pendentes contendas
eleitorais. Quer dizer, que o nacionalismo dominante de cada um desses países
subordinou os resultados da negociação ao temor de que os seus interesses
partidários se vissem prejudicados pola irrupção de partidos emergentes.
Quando se iniciou esta crise
perene, com a que os líderes europeu não foram capazes de lidar, e que
conduziram a uma situação limite de empobrecimento da cidadania, em benefício
das oligarquias e dos seus paraísos fiscais, a chanceler Merkel atreveu-se a
ferir o orgulho dos cidadãos dos países surenhos, acusando-os de preguiçosos,
pouco sérios, que trabalhavam poucas horas e se jubilavam pronto. O tempo veu
demonstrar que estas acusações eram infundadas, ou polo menos, exageradas, e,
por outra parte, que em todas partes cozem favas, como se patenteou polas
práticas turbas e irresponsáveis do Deutsche Bank e a falsificação das emissões
da Volkswagem, que nos enche de vergonha e de preocupação de cara ao futuro
desta fábrica. A solução da crise por parte dos máximos hierarcas europeus foi
um fracasso soado. Nada de políticas de mutualização da dívida, que cada estado
agüente da sua vela, nada de reforma do BCE para que atue como um autêntico
banco central e não seja meramente o valedor da oligarquia financeira, nada de
autêntica reforma bancária. Os países que têm problemas, e Alemanha vaia se os
teve!, só lhes queda desvaliar os salários, por certo não acompanhada da
desvaliação dos preços, obrigar a trabalhar mais horas por salários de miséria,
incapacidade para os nosso moços de programar o seu futuro pola precariedade
laboral, ... Isto si que denigra o projeto europeu, mas não que um minúsculo
país como Eslováquia se resista a botar-lhe uma mão neste momento ao país com
uma economia mais boiante, como é Alemanha, que ante a avalancha de imigrantes
que desejam dirigir-se ali, quer obrigar aos demais a que compartem
obrigatoriamente parte do esforço de acolhida.
.
As politicas na UE estão
determinadas polos líderes políticos dos grandes países da UE, Alemanha, em
primeiro e destacado lugar, e em segundo lugar, França, que atua mais bem
de comparsa. Durante a presidência de
Sarkosy, a direção recaia em Merkosy, e na atualidade em Merkollande. Na
crise de Ucrânia, quem representou a Europa foi Merkollande, sem que aparecesse
por nenhuma parte, a alta representante da União para Assuntos Exteriores e
Política de Segurança da UE, a italiana Federica Mogherini. O Presidente da
Comissão Européia, polo que eu sei, não se pronunciou ao respeito. Em realidade
não deixa de ser um acólito do papa Merkollande, que, á sua vez, somente
trabalha para favorecer os interesses partidários do nacionalismo dominante nos
seus países. Merkel sobe em Alemanha cada vez que castiga e pôe á raia aos
países surenhos. As instituições comunitárias foram vaziadas de contido por
dirigentes europeus que, segundo o grande chanceler Helmut Kohl, não têm um
projeto de Europa, um projeto sugestivo que lhes iluda e não a Europa dos
minijobs, da precariedade e da falta de futuro.
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